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8º), e a cubana (Art. 83), começa a ter destaque junto a um número crescente de publicistas brasileiros. Note-se que, pelo menos na ex-União Soviética, o mandato imperativo não constituiu letra morta, como se poderia pensar. Entre 1965 e 1973, p. ex., os eleitores revogaram nada menos do que 4.000 mandatos de deputados, juntos aos sovietes locais. Entre 1959 e 1975, foram revogados 11 mandatos de deputados do Soviete Supremo e, em 1976, os eleitores do distrito eleitoral de Rustavi, na República SocialistaSoviética da Geórgia, rescindiram o mandato de seu deputado no Soviete Supremo da União Soviética. Eis, portanto, três espécies de democracia: a direta ou clássica, a representativa e a semidireta. Cada uma delas buscou alcançar o ideal democrático. Descartada a primeira hipótese, qual seja, a da democracia direta, por irrealizável no mundo moderno, restaria indagar qual a verdadeira essência do ideal democrático. Guizot, primeiro-ministro de Luís Felipe, costumava dizer que a confusão está a se esconder numa palavra: democracia. Frederico II não fazia por menos e costumava resumir seu pensamento a esse respeito em poucas palavras: tudo para o povo, nada pelo povo... Curiosa esta última posição: será a democracia o governo do povo ou, como querem alguns, o controle do poder político pelo povo, em oposição a arche (governo)? Assegurar os meios da permanente penetração dos governados nas decisões dos governantes, eis o grande desafio. Não foi à toa que Jacques Maritain afirmou, com franqueza e pessimismo, que a tragédia das democracias contemporâneas consiste em que elas não conseguiram, ainda, realizar o ideal democrático. Com efeito, todos os Estados modernos se proclamam ardentemente democráticos, da mesma forma que todos os políticos se proclamam honestos... Ora, a qualificação de um Estado como democrático não se acha vinculada a nenhuma ideologia. Atualmente, é correntio ouvir falar em crise da democracia, quando o que está realmente em crise é uma simples forma histórica da democracia, a liberal-democracia. Comete-se o erro que, em lógica, consiste em tomar a parte pelo todo... Um recente estudo levado a efeito pela UNESCO, revelou a existência de, pelo menos, 250 definições de Democracia, mas o sociólogo norte-americano Robert Dahl catalogou nada menos do que 500 conceituações! Uma coisa é certa: não pode haver Democracia onde não houver uma participação permanente e consciente dos cidadãos organizados em povo político, exigindo dos governantes a melhor orientação. Pela própria etimologia da palavra Democracia (demos = povo e kratos = poder), resta claro que o termo não significa, propriamente, governo do povo (!), mas poder do povo, que os romanos, com seu espírito pragmático, tão bem sintetizaram com esta elegante expressão: popularii potentia. Infelizmente, a liberal-democracia, que nada mais é do que uma espécie entre as inúmeras que buscam alcançar o ideal democrático, transformou-se, para muitos, em tabu. Crise da liberal-democracia é crise do próprio ideal democrático, dizem seus porta-vozes... Num mundo em que as realidades palpáveis se fazem cada vez mais candentes, as abstrações do passado vão, paulatina, mas inexoravelmente, perdendo terreno. Belas ficções, transformadas em dogmas da política, começam a perder o encanto original. O súdito, o cidadão, o homem abstrato vão deixando o seu lugar para um ser totalmente novo, o homem situado, que Georges Burdeau, com muita graça, descreve em seu precioso opúsculo sobre a democracia. Então, o que vem a ser democracia? Democracia é o processo político que autoriza a permanente participação, livre e consciente, direta ou indireta, da comunidade, nas deliberações dos governantes. 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