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1 Tutorial 3 – Vitor Benincá DEFINIÇÃO A doença cardíaca isquêmica é mais comumente causada por obstrução ou estenose de uma ou mais das artérias coronárias por placas ateromatosas. A obstrução pode resultar em isquemia e infarto do miocárdio com sintomas associados de angina, isquemia, remodelação miocárdica, insuficiência cardíaca, complicações arrítmicas e, por fim, morte. A angina pectoris geralmente é uma consequência de um desbalanço oferta/consumo entre uma atividade que aumenta a carga de trabalho ou “consumo”, o que resulta em um aumento na frequência cardíaca, pressão arterial ou ambos e na incapacidade de as artérias coronárias epicárdicas estreitadas aumentarem o fluxo anterógrado ou “oferta” em resposta a este aumento no consumo. Isso causa um desconforto torácico. A angina pectoris é geralmente definida como um desconforto no tórax ou áreas adjacentes causadas por isquemia miocárdica. CLASSIFICAÇÃO DA ANGINA PECTORIS A escala de gradação da angina da Canadian Cardiovascular Society (CCS) é uma escala ordinal de quatro pontos amplamente usada que classifica a angina pectoris de branda a grave Classe 1: angina ocorrendo apenas durante a atividade física excessiva ou prolongada Classe 2: Discreta limitação para atividades habituais. A angina ocorre ao caminhar ou subir escadas rapidamente, caminhar em aclives, caminhar ou subir escadas após refeições, ou no frio, ou ao vento, ou sob estresse emocional, ou apenas durante poucas horas após o despertar. A angina ocorre após caminhar dois quarteirões planos ou subir mais de um lance de escada em condições normais Classe 3: Limitação com atividades habituais. A angina ocorre ao caminhar um quarteirão plano ou subir um lance de escada Classe 4: incapacidade de realizar qualquer atividade sem angina, ou angina em repouso As classes 1 e 2 são caracterizados como estáveis, já as classes 3 e 4 são instáveis. EPIDEMIOLOGIA Atualmente, estima-se que 17.600.000 adultos nos Estados Unidos tenham doença cardíaca, 10.200.000 dos quais têm angina pectoris e 8.500.000 dos quais tiveram infarto agudo do miocárdio (IAM). Em 2006 a cardiopatia isquêmica foi responsável por mais de uma a cada seis mortes. Apesar do declínio mantido em taxas de fatalidade específicas da idade da doença arterial coronária ao longo das últimas décadas, a cardiopatia isquêmica é, atualmente, a principal causa de morte em todo o mundo e espera-se que essa taxa de aumento continue a se acelerar durante a próxima década como consequência do aumento epidêmico da obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica, que podem dar origem a um maior risco de desenvolver doença arterial coronária precoce em gerações mais novas. Embora mulheres possam ter angina típica menos frequentemente do que os homens, mais mulheres do que homens morrem anualmente de cardiopatia isquêmica ou suas complicações nos Estados Unidos e a doença cardíaca isquêmica é a causa de morte mais comum em mulheres. Tutorial 3 2 Tutorial 3 – Vitor Benincá FISIOPATOLOGIA A angina é a expressão clínica mais frequente da isquemia miocárdica. A isquemia, que rapidamente se desenvolve quando surge um desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio do miocárdio, pode se manifestar clinicamente de muitas maneiras diferentes além de angina, desde ser assintomático (isquemia silenciosa) até angina instável, IAM ou morte súbita. Ela pode permanecer estável por muitos anos em pacientes selecionados ou pode ser rapidamente progressiva com uma mudança abrupta na frequência e intensidade ao longo de dias a semanas. A aterosclerose, a causa mais comum de isquemia miocárdica, pode evoluir durante anos sem manifestações de isquemia. A patogênese da angina estável envolve o desbalanço oferta/consumo de oxigênio do miocárdio. Na maioria dos pacientes comcardiopatia isquêmica estável, o processo da aterosclerose envolve uma histopatologia com pequenos núcleos lipídicos com uma capa fibrosa espessa ou muito espessa e uma baixa tendência à ruptura Há dois mecanismos patogênicos que podem causar isquemia miocárdica no cenário crônico: 1. Angina de consumo: causada por um aumento no consumo miocárdico de oxigênio e da carga de trabalho. Esse aumento do consumo de O2 ocorre durante o exercício físico, emoção ou estresse. 2. Angina de oferta: causada pela diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos do miocárdio. Pode ser causada por obstrução por ateroma Outros fatores precipitantes extracardíacos da angina incluem as demandas metabólicas excessivas impostas por febre, tireotoxicose, anemia grave por perda sanguínea, taquicardia por qualquer causa e hipoglicemia. Na presença de estreitamento luminal coronariano devido à aterosclerose, trombos de plaquetas superpostas e leucócitos podem produzir substâncias vasoconstritoras, tais como a serotonina e o tromboxano A2, enquanto o dano endotelial em artérias coronárias doentes pode diminuir a produção de substâncias vasodilatadoras, como o óxido nítrico e a adenosina. O resultado é uma resposta vasoconstritora anormal ao exercício e outros estímulos. A base fisiopatológica para a angina e isquemia em pacientes com doença cardíaca isquêmica estável tem implicações importantes para a seleção de agentes antiisquêmicos. Quanto maior a contribuição de demandas miocárdicas de O2 aumentadas para o desbalanço oferta/consumo de oxigênio, maior a probabilidade de que agentes, tais como β- bloqueadores ou antagonistas do cálcio que reduzem a frequência cardíaca propiciarão benefício clínico, enquanto os nitratos e os antagonistas do cálcio com propriedades vasodilatadoras mais potentes (principalmente as di-hidropiridinas) serão mais benéficos para aliviar a angina e a isquemia mediadas por vasoconstrição coronariana. Embora a causa mais comum de cardiopatia isquêmica seja o estreitamento aterosclerótico das artérias coronárias epicárdicas resultando em obstrução limitante de fluxo ao fluxo sanguíneo, a doença arterial coronariana obstrutiva também pode terncausas não ateroscleróticas, tais como anormalidades congênitas das artérias coronárias, vasoespasmo, ponte miocárdica, arterite coronária em associação comnvasculites sistêmicas e doença coronariana induzida por radiação. Isquemia miocárdica e angina pectoris também podem ocorrer na ausência de doença arterial coronariana obstrutiva, como no caso de doença da valva aórtica, miocardiopatia hipertrófica e cardiomiopatia dilatada idiopática MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Histórico É importante reconhecer que há muitas causas de dor torácica, que a dor torácica semelhante à angina pode não representar doença cardíaca isquêmica, que a cardiopatia isquêmica provoca outros sintomas além de dor anginosa e que anormalidades não ateroscleróticas da artéria coronariana podem causar dor torácica isquêmica 3 Tutorial 3 – Vitor Benincá A angina pectoris apresenta quatro características clínicas cardinais: o caráter do desconforto, seu local e distribuição, sua provocação e sua duração. O caráter de desconforto anginoso é tipicamente descrito como uma pressão que transmite uma sensação de estrangulamento e ansiedade O local e a distribuição do desconforto anginoso são predominantemente médioesternais ou retroesternais, mas podem ser precordiais. Radiação é comum, geralmente para o pescoço e ombro esquerdo e para baixo na superfície ulnar do braço esquerdo. A angina, que ocorre em repouso ou noturnamente, prenuncia muitas vezes uma mudança no padrão de estável para instável e pode indicar que há uma ruptura incipiente da placa que leva à síndrome coronariana aguda (SCA) A duração típica de um episódio de angina pectoris é breve. Um episódiogeralmente começa gradualmente e atinge sua intensidade máxima ao longo de um período de minutos antes de regredir. É incomum que a angina pectoris atinja sua intensidade máxima e mínima em menos de um minuto e é comum que os pacientes com angina ao esforço geralmente prefiram repousar, sentar ou parar de andar durante os episódios precipitados pela atividade física. Desconforto torácico que persiste por mais de 15 a 20 minutos, especialmente em repouso ou à noite, provavelmente representa SCA ou IAM. A angina pectoris típica geralmente é aliviada dentro de minutos com repouso ou uso de nitroglicerina sublingual, oral ou cutânea. A resposta à nitroglicerina sublingual geralmente é uma ferramenta diagnóstica útil, embora deva ser enfatizado que algumas dores não cardíacas (p. ex., espasmo esofágico) também podem responder à nitroglicerina. Apesar de o desconforto torácico ser geralmente o sintoma predominante na angina (estável) crônica, em alguns pacientes, o desconforto torácico está ausente, é atípico ou não proeminente Exame Físico Muitos pacientes com doença cardíaca isquêmica estável apresentam exame físico normal, mas um exame físico diligente pode revelar achados que representem as consequências da isquemia miocárdica ou evidências de fatores de risco para doença arterial coronária. A inspeção dos olhos pode revelar um arco corneano e o exame da pele pode mostrar xantomas Muitos pacientes com doença cardíaca isquêmica estável apresentam exame físico normal, mas um exame físico diligente pode revelar achados que representem as consequências da isquemia miocárdica ou evidências de fatores de risco para doença arterial coronária. A inspeção dos olhos pode revelar um arco corneano e o exame da pele pode mostrar xantomas 4 Tutorial 3 – Vitor Benincá Durante um episódio de desconforto torácico, a isquemia miocárdica pode produzir uma terceira ou quarta bulha cardíaca. Se o paciente apresentar insuficiência cardíaca concomitante, podem estar presentes o aumento da pressão venosa jugular, estertores pulmonares e edema periférico. DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO Além de uma cuidadosa anamnese e exame físico, a avaliação de pacientes com cardiopatia isquêmica estável inclui o ECG de 12 derivações, a mensuração de marcadores inflamatórios e bioquímicos e testes diagnósticos não invasivos. O primeiro objetivo é avaliar a probabilidade de isquemia, de modo que uma avaliação adequada pode agilizar a terapia eficaz TESTES NÃO INVASIVOS A avaliação inicial dos pacientes com dor torácica ou angina inclui história clínica detalhada, exame físico para descartar causas não cardíacas para a dor torácica, realização de testes e procedimentos úteis para o diagnóstico e avaliação da gravidade da DAC. Os testes adicionais na angina estável são baseados na probabilidade de DAC significativa, sendo tal probabilidade decorrente do tipo de dor, do sexo, da comorbidade e da idade do paciente. Fatores como tabagismo (mínimo de meio maço ao dia por 5 anos ou 25 maços ao ano), colesterol total (> 250 mg/dL) e glicemia de jejum (> 140 mg/dL) aumentam também a chance de DAC.. Após a probabilidade ter sido estimada, ela é categorizada como baixa, intermediária e alta, de acordo com valores estabelecidos: 10 a 90% nos casos intermediários, < 10% nos casos de baixa probabilidade e > 90% nos casos de alta probabilidade. Nos pacientes com baixa probabilidade de DAC, testes adicionais baseiam- se na pesquisa de causas não cardíacas para a dor torácica. Nos casos de alta probabilidade, deve-se seguir com a investigação diagnóstica, para determinar o risco individual de o paciente ter um evento cardíaco, como o infarto do miocárdio fatal ou não fatal, ou seja, a estratificação do risco cardíaco. Dentre os testes adicionais, encontra-se uma variedade de métodos hoje disponíveis, como Eletrocardiograma (ECG) de esforço, ecocardiograma com estresse, cintilografia miocárdica com estresse, tomografia e Ressonância Magnética Cardiovascular (RMC) e Cineangiocoronariografia (CATE). A realização de testes não invasivos para avaliação de isquemia miocárdica utilizando o teste ergométrico (em esteira ou bicicleta), a cintilografia de perfusão miocárdica com estresse, o ecocardiograma com estresse ou outras modalidades de diagnóstico mais recentes, como a ressonância magnética cardíaca ou tomografia com emissão de pósitrons é uma abordagem útil e clinicamente importante para o estabelecimento do diagnóstico e prognóstico em pacientes com cardiopatia isquêmica estável. Os testes não invasivos devem ser realizados somente se as informações adicionais forem alterar a estratégia de tratamento planejada. PET = tomografia de emissão de pósitrons SPECT = TC de emissão de fótons isolados 5 Tutorial 3 – Vitor Benincá ECG EM REPOUSO O ECG tem utilidade limitada na DAC crônica, já que alterações da repolarização não implicam obrigatoriamente em DAC, além de poderem estar relacionadas a outras causas (sobrecarga ventricular esquerda, distúrbios eletrolíticos, Bloqueio do Ramo Esquerdo (BRE), onda T cerebral, entre outras). Entretanto, o ECG apresenta importância diagnóstica: 1. As alterações indicativas da presença de área sinativas prévias (ondas QS ou Qr, acompanhadas de ondas T negativas nas derivações que exploram a necrose) permitem o diagnóstico de DAC; 2. as alterações da repolarização ventricular são sugestivas de isquemia subepicárdica (onda T negativa, pontiaguda e simétrica), em determinada área (conforme a derivação exploradora/parede miocárdica): anterosseptal (VI,V2, V3, V4), anterolateral (V4, V5, V6, DI e A VL), lateral alta (DI e A VL), anterior extensa (VI a V6 em DI e A VL), inferior (D2, D3 e A VF) e dorsal (V7 e V8 com imagem recíproca em VI, V2 e V3) 3. as alterações da repolarização ventricular são sugestivas de isquemia subendocárdica (onda T positiva, pontiaguda e simétrica) em determinada área (anterosseptal, anterolateral, lateral alta, anterior extensa, inferior e dorsal) 4. as alterações da repolarização ventricular são sugestivas de lesão subendocárdica (infradesnivelamento do ponto J e do segmento ST, com concavidade superior desse segmento nas derivações que exploram a lesão) em determinada área (antero-septal, anterolateral, lateral alta, anterior extensa, inferior e dorsal). Embora possam ser encontradas alterações focais com depressão do segmento ST e inversão de onda T no ECG em repouso de pacientes com doença cardíaca isquêmica crônica, mesmo pacientes com doença arterial coronariana anatômica extensa podem ter um traçado normal em repouso. Além da isquemia miocárdica, outras condições que podem produzir alterações de ST–onda T incluem hipertrofia e dilatação ventricular esquerda devidas à hipertensão de longa duração e doença valvar cardíaca (p. ex., estenose aórtica, miocardiopatia hipertrófica), anormalidades eletrolíticas, efeitos neurogênicos e drogas antiarrítmicas. Além de alterações de ST–onda T focais, o ECG pode revelar vários distúrbios de condução, mais frequentemente de bloqueio de ramo esquerdo e bloqueio fascicular anterior esquerdo (Capítulo 54). O achado de ondas Q anormais é relativamente específico para a presença de IAM prévio, mas pode não ajudar a determinar quando este ocorreu. Arritmias, especialmente extrassístoles ventriculares, podem estar presentes no ECG, mas têm baixa sensibilidade e especificidade para doença arterial coronária. Durante um episódio de angina pectoris espontâneo ou durante esforço ou estresse, o ECG se torna anormal em 50% ou mais dos pacientes com ECGs de repouso normais. A anormalidade mais comum observada é o infradesnivelamento do segmento ST em uma ou mais derivações do ECG que representam amesma parede, o que significa a presença de isquemia subendocárdica. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax normalmente representa a primeira modalidade de imagem realizada nos pacientes com dor torácica, com a principal finalidade do diagnóstico diferencial com a angina, e pode ser diagnosticada nos pacientes com pneumotórax, pneumomediastino, fraturas de costela e infecções agudas. Outras condições que produzem dor torácica aguda com etiologia não cardiogênica, como o aneurisma de aorta, as dissecções da aorta e o tromboembolismo pulmonar, podem ser suspeitados pela telerradiografia de Tórax 6 Tutorial 3 – Vitor Benincá TESTE ERGOMÉTRICO O Teste Ergométrico (TE) é o método não invasivo utilizado com maior frequência na angina estável, visando especialmente à confirmação diagnóstica, à determinação prognóstica e à definição de conduta terapêutica. Para interpretação do TE, devem ser consideradas as respostas clínicas relacionadas aos sintomas e à capacidade funcional, as eletrocardiográficas e as hemodinâmicas. As variáveis mais preditivas relacionadas ao diagnóstico de obstrução coronariana são depressão do segmento ST ≥ 1 mm com configuração horizontal ou descendente, e a presença da dor anginosa ECOCARDIOGRAFIA O ecocardiograma pode fornecer auxílio diagnóstico importante, especialmente quando a história clínica e o ECG não são conclusivos, ao demonstrar anormalidades, reversíveis ou não, da motilidade segmentar em pacientes com quadro clínico de DAC. Como a ecocardiografia possibilita a avaliação em tempo real da motilidade ventricular esquerda, técnicas que utilizam estresse pelo esforço físico ou farmacológico, seja ele inotrópico ou vasodilatador, permitem a documentação da extensão e da gravidade das alterações transitórias da motilidade ventricular esquerda. A ecocardiografia com contraste ultrassônico à base de microbolhas representa um avanço no diagnóstico desses pacientes ANGIOGRAFIA CORONARIANA As lesões coronarianas são significativas quando há obstrução de uma ou mais artérias epicárdicas, com, no mínimo, 70% de estenose. Alguns pacientes devem ser submetidos ao estudo invasivo, por ser o método mais acurado para diagnóstico de lesões coronarianas obstrutivas e também, em casos incomuns, causas não ateroscleróticas para angina, como espasmo coronariano, anomalia coronariana, doença de Kawasaki e dissecção primária da coronária. ANGIOTOMOGRAFIA CORONARIANA A Angiotomografia Computadorizada das Artérias Coronárias (angio-TC) permite a avaliação da luz das artérias coronárias de maneira não invasiva. Os equipamentos são capazes de adquirir tais imagens com alta qualidade, permitindo a visualização detalhada da luz das artérias coronárias com alta acurácia diagnóstica quando comparada ao cateterismo cardíaco (o padrão- ouro), porém de maneira não invasiva, rápida e segura. EXAMES LABORATORIAIS Em pacientes com angina de início recente, ou agravamento dos sintomas, a dosagem de troponina pode distinguir IAM e SCA de doença cardíaca isquêmica estável Uma concentração plasmática elevada de BNP (Brain natriuretic peptide) não ajuda a diagnosticar a doença cardíaca isquêmica estável, mas é sugestiva de insuficiência cardíaca e está associada a um maior risco de eventos cardiovasculares futuros. A proteína-C reativa ultrassensível, um reagente de fase aguda da inflamação, tem uma correlação forte e consistente com o risco de eventos cardiovasculares futuros, e um nível elevado pode justificar avaliação diagnóstica e tratamento mais agressivos. Todos os pacientes com angina crônica devem ter avaliação bioquímica de colesterol total, lipoproteína de baixa densidade (LDL) do colesterol, lipoproteína de alta densidade (HDL) do colesterol, triglicerídeos, creatinina sérica (filtração glomerular estimada) e glicemia em jejum. As mesmas estratégias e métodos utilizados no diagnóstico da DAC também provêm informações sobre a gravidade da doença, com implicações na estratégia da realização dos métodos complementares invasivos, como coronariografia, e decisão terapêutica. 7 Tutorial 3 – Vitor Benincá RESULTADOS DE TESTES NÃO INVASIVOS E RISCO ANUAL DE MORTE Alto risco (> 3% morte/ano) • Disfunção do ventrículo esquerdo em repouso grave (FE < 0,35). • Escore de risco elevado ao TE (escore de Duke < - 11). • Disfunção ventricular esquerda grave ao teste de imagem com estresse (< 0,35). • Grandes defeitos de perfusão durante teste de imagem com estresse. • Múltiplos defeitos de perfusão de tamanho moderado durante teste de imagem com estresse. • Grandes defeitos fixos de perfusão com dilatação do ventrículo esquerdo ou aumento na captação pulmonar, usando a angiografia com radionuclídeos com tálio. • Moderados defeitos com dilatação do ventrículo esquerdo ou aumento na captação pulmonar durante teste de imagem com estresse, utilizando o tálio. • Defeitos em mais de dois segmentos com baixa frequência cardíaca (< 120 bpm) ou com baixa dose de dobutamina (= 10 µg/kg/minuto) durante teste do ecocardiograma com estresse. • Evidência de isquemia extensa durante ecocardiograma com estresse. Moderado risco (1 a 3% morte/ano) • Leve a moderada disfunção ventricular esquerda em repouso (FE 0,49 a 0,35). • Risco intermediário no TE (escore de Duke entre 4 e -10). • Moderados defeitos de perfusão sem dilatação ventricular esquerda ou captação pulmonar durante teste de imagem com estresse. • Defeitos de perfusão limitados, envolvendo dois segmentos e com doses de dobutamina > 10 µg/kg/min durante teste de ecocardiograma com estresse. Baixo risco (< 1% morte/ano) • Escore baixo ao TE (escore de Duke >5). • Teste normal ou pequenos defeitos de perfusão em repouso ou em teste de imagem com estresse. • Contração miocárdica normal ou nenhuma mudança em limitada porção do miocárdio durante teste do ecocardiograma com estresse. MUDANÇAS DOS HÁBITOS DE VIDA O paciente tem que fazer isso visando reduzir a progressão da aterosclerose. Parar de fumar Fazer dieta com baixo consumo de gorduras saturadas Emagrecer/reduzir obesidade Exercício físico regular → deve ser avaliado caso a caso, focando mais em exercícios aeróbicos. Controlar a pressão arterial Controlar os níveis de LDL-Colesterol Controlar o diabetes mellitus Vacinação contra influenza 8 Tutorial 3 – Vitor Benincá MEDICAMENTOS QUE ALTERAM METABOLISMO LIPÍDICO Cada 1% de aumento no nível de LDL colesterol resulta em 2 a 3% de aumento no risco de eventos coronarianos. Pacientes com angina estável devem ser rotineiramente tratados com estatinas para um LDL colesterol alvo de menos de 70 mg/dL,1 utilizando qualquer uma das estatinas disponíveis. Cada 1 mg/dL de declínio do HDL colesterol está associado a um aumento de 2 a 3% no risco de IAM e morte cardíaca. O ácido nicotínico nas doses de 1 a 2 g/dia eleva os níveis do HDL colesterol em cerca de 25% a 30%, mas a sua utilização tem sido limitada por efeitos colaterais, principalmente rubor INIBIDORES DA ECA A administração de IECAs reduz eventos cardíacos, mortalidade cardiovascular e mortalidade por todas as causas em pacientes com fatores de risco para ou com diagnóstico prévio de doença arterial coronária, incluindo pacientes de alto risco com doença vascular ou diabetes e pacientes com doença arterial coronária estável sem evidência clínica de insuficiência cardíaca. Por outro lado, os inibidores da ECA não parecem impedir futuros eventos cardíacos em pacientes pós-IAM. AGENTES ANTIPLAQUETÁRIOS E ANTICOAGULANTES A aspirina reduz o risco de eventos cardiovasculares adversos em 33% em pacientes com angina estável. Na ausência de contraindicações,a aspirina, de 75 a 325 mg uma vez ao dia, deve ser administrada rotineiramente em todos os pacientes com angina e doença cardíaca isquêmica estável. O clopidogrel, que é a tienopiridina mais amplamente utilizada no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana, é de benefício comprovado quando combinado com a aspirina para reduzir o desfecho composto de morte, IAM ou AVC em pacientes após um evento coronariano agudo. A varfarina geralmente é tão eficaz quanto a aspirina para a prevenção de eventos coronarianos em pacientes com angina e é preferível à aspirina para pacientes com fibrilação atrial concomitante, mas está associada a um maior risco de hemorragia. A terapia combinada de varfarina com aspirina é superior à aspirina isolada DROGAS PARA A REDUÇÃO DA ANGINA E DA ISQUEMIA O objetivo da terapia antianginosa é reduzir os sintomas de isquemia cardíaca e melhorar a qualidade de vida. Os β-bloqueadores, que impedem a ligação de catecolaminas ao receptor β-adrenérgico, reduzem a frequência cardíaca e a contratilidade miocárdica, reduzindo, dessa maneira, a carga de trabalho do miocárdio, a demanda miocárdica de oxigênio, isquemia e sintomas anginosos. Os β-bloqueadores elevam o limiar isquêmico e retardam ou evitam o início da angina com exercício. Os β- bloqueadores também reduzem a taxa de eventos cardíacos secundários e morte cardíaca súbita em pacientes pós-IAM. B1 e B2: propranolol, tomolol, nadolol B1 seletivos: acebutolol, atenolol, metoprolol B1, B2 e A2: Labetalol, carvedilol Os bloqueadores dos canais de cálcio reduzem a pós-carga devido a seus efeitos vasodilatadores periféricos e, portanto, reduzem a carga de trabalho do miocárdio e a demanda miocárdica de oxigênio. Os bloqueadores dos canais de cálcio também reduzem a resistência vascular coronariana e inibem o vasoespasmo coronariano, impedindo a contração do músculo liso arterial coronariano. Os bloqueadores dos canais de cálcio não di- hidropiridínicos, como o verapamil e o diltiazem, também reduzem a frequência cardíaca. Por outro lado, os antagonistas dos canais de cálcio di-hidropiridínicos, como a anlodipina, têm efeito maior sobre o músculo liso vascular, são vasodilatadores periféricos e coronários melhores e, portanto, podem ter vantagens para uso em pacientes hipertensos com angina. Os bloqueadores dos canais de cálcio não di- hidropiridínicos, como o verapamil e o diltiazem, também reduzem a frequência cardíaca. Por outro lado, os antagonistas dos canais de cálcio di-hidropiridínicos, como a anlodipina, têm efeito maior sobre o músculo liso vascular, são vasodilatadores periféricos e coronários melhores 9 Tutorial 3 – Vitor Benincá e, portanto, podem ter vantagens para uso em pacientes hipertensos com angina A ranolazina atua por redução da sobrecarga de cálcio intracelular em miócitos isquêmicos inibindo a entrada da corrente de sódio tardia. O efeito líquido da corrente tardia reduzida de sódio é uma diminuição na tensão da parede do VE e na demanda miocárdica de oxigênio, reduzindo, assim, a angina e a isquemia. A ranolazina aumenta a tolerância ao exercício em pacientes com angina estável, reduz os episódios de isquemia recorrente. REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA A revascularização coronariana com ICP ou RM pode prolongar a vida, reduzir os principais eventos cardiovasculares e melhorar o estado de saúde, a qualidade de vida e a capacidade funcional em pacientes selecionados com doença cardíaca isquêmica estável crônica. Vaso normal Lesão endotelial faz com que o vaso fique mais permeável a lipídios (LDL). Os lipídios da circulação vão para o tec conjuntivo subendotelial. Com essa lesão há a atração de células inflamatórias. O macrófago fagocita o lipídio, englobando o máximo de lipídio (macrófago não tem um feedback para cessar a fagocitose). O macrófago fagocita em excesso e se rompe, liberando os lipídios. O excesso de lipídios e inflamação provoca uma desdiferenciação das cél. Musculares lisas. Essas células musculares se tornam fibroblastos Ocorre a formação de vasos (angiogênese) no local. Isso ocorre uma obstrução local e que pode se romper. O conteúdo no meio desse ateroma é altamente trombogênico Ao se romper, há a formação de trombo em contato com o sangue circulante. Esse trombo pode soltar êmbolos (fragmentos) que pode obstruir vasos. Nos vasos pequenos o trombo pode obstruir o lúmen, em vasos maiores tende a soltar êmbolos devido ao fluxo rápido de sangue, que provoca a liberação de fragmentos (êmbolos) 10 Tutorial 3 – Vitor Benincá
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