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Genoma Humano e Conceitos de Genética

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Os Conceitos Básicos de Genética na Era Genômica 
Élgion Lúcio da Silva Loreto & Lenira Maria Nunes Sepel 
Caderno Didático de Biologia 
Programa de Ações Pedagógicas e de Formação do Aluno-Cidadão do PElES 
Universidade Federal de Santa Maria / ano 2000 
 
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As principais informações que já obtivemos com relação ao Genoma Humano estão resumidas na Tabela 
1. O Genoma humano completo. por exemplo, é composto por uma seqüência de bases do tipo 
TCCTGGTCAATGC.... que daria para preencher 200 guias telefônicos, correspondendo a aproximadamente 3,2 
bilhões dessas “letras”. A informação para as proteínas (genes) tem em geral, de lOa 100 mil “letras” (27 mil em 
média). 
O Genoma humano é composto por 46 pares de cromossomos nucleares e um cromossomo mitocondrial. 
O número de genes encontrado no genoma humano é de 30.000. 
Estima-se que. dos 3.2 bilhões de pares de bases existentes no nosso genoma, apenas 890 milhões 
servem de molde para a síntese de RNA (porção do genoma que é transcrita = 
28%). 
Nem todo o RNA que é transcrito contém informação para síntese de proteínas. Antes de sair do núcleo 
da célula para o citoplasma onde será traduzida, a molécula de mRNA sofre algumas modificações. Uma das 
modificações mais notáveis é a redução de tamanho. O mRNA produzido na transcrição é, em geral, bem maior do 
que o mRNA que será traduzido. Isso ocorre porque os genes de eucariontes contêm regiões que são codificantes e 
regiões que não são codificantes. O termo codificante significa conter informação para a construção da cadeia de 
polipeptídios e corresponde apenas ás regiões que são traduzidas. Na maioria dos genes de eucariontes. as regiões 
codificantes vêm intercaladas com regiões não codificantes. Assim a informação para a produção de uma proteína 
completa pode estar separada em várias partes e por isso os genes de eucariontes são chamados de “genes 
interrompidos”. 
As regiões do DNA que correspondem às partes traduzidas do mRNA são as regiões codificantes do 
gene. também denominadas de exons. (regiões do gene que contém a informação que será exportada do núcleo 
para o citoplasma). As partes do mRNA que são removidas no núcleo corrrespondem às regiões do gene que não 
contém informação para a síntese da proteína. Essas regiões não codificantes dos genes recebem o nome de 
introns (seqüências de DNA cujas cópias de mRNA jamais devem sair do núcleo). 
Uma fita de mRNA só estará pronta para tradução depois que as regiões não codificantes, 
correspondentes aos íntrons, forem removidas e as regiões que correspondem aos exons estiverem reunidas. 
Estima-se que apenas 1.1 a 1.4% do RNA transcrito será traduzido. O que também significa que apenas uma 
pequena parte do genoma humano realmente codifica para proteínas. 
A maior parte do Genoma corresponde a DNAs repetitivos. seqüências de nucleotídeos que podem 
aparecer repetidas centenas de milhares de vezes. Uma dessas repetições. por exemplo, é a seqüência ALU que 
corresponde a um conjunto de 300 pares de bases que aparecem em muitos locais do nosso genoma (em milhares 
de posições. em todos os nossos cromossomos). Estima-se que, somadas todas as repetições. existam em torno de 
750.000 cópias de ALU no nosso genoma. Isso corresponde a aproximadamente 3% de todo nosso DNA. 
A maioria das seqüências repetitivas corresponde a elementos transponíveis ou elementos genéticos 
móveis - seqüências de DNA que em determinadas condições são capazes de gerar cópias de si mesmas e de 
mudar de local e/ou inserir novas cópias suas em outras posições do DNA. Muitos pesquisadores consideram os 
DNA repetitivos como parasitas dos genomas. por não terem função biológica na célula (são não codificantes e não 
têm função reguladora) essas seqüências de nucleotídeos apenas usam o genoma alheio para se reproduzir. Outra 
denominação para os DNAs repetitivos é a de ‘DNA lixo” uma vez que não tem função conhecida e provavelmente 
não terão nunca. 
Tabela 1: Um quadro (foto 3x4) do GENOMA HUMANO (Baltimore, 2001) 
Número de cromossomos: 46 + DNA mitocondrial 
Tamanho do genoma: 3.2 bilhões de pares de bases 
Número de genes: 30.000 
Porção que é transcrita para RNA: 28% 
Porção que á traduzida: 1. 1 a 1 .4% 
Proporção de DNA repetitivo (DNA que não é gene) 45% (consistindo basicamente de elementos transponíveis) 
 
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O término do seqüenciamento do Genoma Humano foi, para muitos. ‘a façanha do século”. Como se deu 
essa façanha? Herdamos do Século XIX a noção de que a unidade de funcionamento dos seres vivos é a célula. 
Pela metade do Século XX. a Citologia e a Bioquímica já mostravam que as células são estruturas muito 
organizadas cujo funcionamento é promovido, basicamente, por uma classe de moléculas, as proteínas. 
Paralelo aos estudos bioquímicos. outro campo de pesquisa se desenvolvia, a Genética. O ano de 1900 
foi um ano importante para esta Ciência, pois os pesquisadores De Vries, Correns e Tschermak redescobriram e 
confirmaram, os trabalhos de Mendel (1865). Esses pesquisadores divulgaram as idéias de que as heranças são 
transmitidas por fatores independentes (herança particulada). não-missíveis e também. que existem regras claras de 
transmissão dos “fatores” hereditários de pais para filhos. Em 1902, Sutton demonstrou que existem estruturas nas 
células, os cromossomos, que ocorrem aos pares e se separam na formação das células sexuais. Tal processo 
estava em perfeita concordância com as regras da herança estipuladas pelas “leis de Mendel”. Portanto, concluiu-se 
que. provavelmente, os cromossomos deveriam conter os “fatores hereditários’. Logo a seguir (1909) o geneticista 
Thomas Morgan criou a palavra GENE e estabeleceu que os cromossomos contêm uma coleção de genes 
“enfileirados como contas em um colar”. A partir dessa descoberta começa a construção dos primeiros mapas 
posicionando os genes nos cromossomos. Estes mapas, que estabelecem a ordem e a distância entre genes nos 
cromossomos empregam. para sua realização, apenas o cruzamento entre mutantes e um tanto de engenharia 
matemática’. Em 1926, Hermann Muller. aplicando Raios X nas moscas-das-frutas (Drosophila), mostra que os 
genes podem sofrer alterações, inicia-se o estudo das mutações. Com a possibilidade de produzir mutações 
artificiais a Genética ganha um grande impulso. Em 1940 Beadle e Tatum produzem mutantes de fungos que 
carecem de certas enzimas e criam a teoria que prediz que um gene especifica uma enzima. Três anos depois, 
Linus Pauling demonstra que um tipo de anemia de origem genéticá era causada pela troca de um aminoácido na 
proteína hemoglobina. Assim, pela metade do século XX, estava claro que os genes coordenavam a construção das 
proteínas. Mas de que forma? A natureza e o funcionamento dos genes mantinha-se um mistério! 
Em 1953 Watson e Crick propõem um modelo para a estrutura da molécula do DNA e começa-se a 
desvendar o mistério. O DNA é uma molécula muito longa composta por quatro diferentes nucleotídeos. A.T.C e G. 
A molécula têm uma estrutura em dupla hélice, com capacidade de auto-duplicação e de conter a informação de 
como fazer proteínas. Esta informação está escrita na seqüência das bases do DNA. Nos anos seguintes 
desvendou-se o código genético, cada 3 bases no DNA correspondem a um aminoácido na proteína. Esse processo 
se faz com o auxílio de uma outra classe de moléculas, o RNA. 
No final da década de 60. início dos anos 70. surge a “engenharia genética”. Arber, Nathans e Smith 
descobriram as enzimas de restrição que são capazes de cortar o DNA em pontos específicos. Utilizando-se essas 
enzimas foi possível desenvolver a técnica chamada de DNA recombinante. Mesmo o genoma de um vírus, que é 
pequeno se comparado ao de outros organismos. contém, geralmente, muitos genes e, até então, eraimpossível 
pensar em estudar um genoma completo. Não existiam meios de fragmentar e guardar os genomas (mesmo os 
menores), o que dificultava o estudo mais detalhado das seqüências de nucleotídeos. Com a técnica do DNA 
recombinante foi possível isolar a partir de um genoma, pedaços menores, com poucos genes e estudá-los 
isoladamente. 
Em 1973 Gilbert e Maxam e logo após Frederick Sanger (1974) desenvolveram metodologias de 
seqüenciamento de DNA que permitiram determinar a ordem precisa de nucleotídeos que estão presentes em um 
fragmento de DNA. Com a capacidade de clivar o DNA em sítios conhecidos, clonar fragmentos de DNA e identificar 
as sequências de nucleotídos presentes em um gene, a Biologia Molecular passou a ter um crescimento vertiginoso. 
As mutações que os geneticistas colecionavam, em animais. plantas e humanos agora podiam ser caracterizadas 
em nível molecular. Após se isolar e seqüenciar um gene é possível deduzir qual é a sequência de aminoácidos da 
proteína que esse gene codifica e essa informação pode ser usada para identificar qual a função do gene, corno ele 
atua no organismo e como a sua expressão pode ser modificada. Muitos genes vêm sendo estudados desta forma 
e, para organizar essas informações, foi criado um banco de dados que armazena tais informações. o “GeneBank” 
(www.ncbi.nlm.nih.gov). 
Há. no entanto, um problema com a abordagem descrita acima. É preciso que se conheça um mutante 
para, a partir dele, se localizar o gene responsável pelo fenótipo. Dessa forma, fica muito difícil (impossível) estudar 
genes que ainda não tenham sido associados a um fenótipo mutante. é necessário informações prévias obtidas 
através dos métodos da “genética clássica”(descrição de fenótipos. cruzamentos, observação de progênies. etc). A 
descoberta de genes fundamentais ao funcionamento do organismo seria muito difícil usando esta metodologia. pois 
os mutantes para esses genes são geralmente inviáveis (dependendo do gene, os embriões não sobrevivem às 
primeiras semanas do desenvolvimento!). 
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A melhoria das técnicas de manipulação do DNA, a automatização e robotização do processo de se obter 
seqüências de DNA. permitiram que se pensasse uma forma mais sistemática e eficiente de se compreender os 
seres vivos, através da determinação da seqüência total do DNA dos genomas. 
Primeiramente os genomas de vírus, por serem menores, é que foram estudados. O primeiro genoma viral 
foi analisado em 1982 e tinha 46 kb (um kb ou kilobases corresponde a 1000 nucleotídeos de uma fita do DNA). 
Somente em 1994, o genoma de um ser celular, a bactéria Haeinopohilus influenzae, foi completamente 
seqüenciado. O genoma dessa bactéria é bem maior que o de qualquer vírus, sendo formado por 1 .8 Mb (1 Mb ou 
megabase. corresponde a mil kb). 
Um consórcio internacional, liderado pelos Estados Unidos e Inglaterra trataram de determinar o genoma 
de nossa espécie. Assim, no ano de 1989 teve início o “Projeto Genoma Humano”, envolvendo laboratórios de 18 
países com um gasto de US$ 3 bilhões. A meta inicial era terminar o seqüenciamento de todo o genoma humano no 
ano de 2005, mas 5 anos antes esse objetivo foi atingido. Em 1998 entrou em cena uma companhia privada. 
CELERA, que anunciou uma estratégia diferente para seqüenciar o genoma humano. A competição promovida pela 
entrada desse novo grupo foi importante para acelerar os trabalhos e se obter a seqüência dos 3.200 Mb do 
genoma humano. 
 
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Qual foi a importância de se ter determinado as 3,2 bilhões de bases do genoma humano? As principais 
implicações desse feito serão sentidas em um futuro não muito distante. De fato ainda não sabemos precisamente 
quantos e quais os genes fazem parte do nosso genoma. Tomando como exemplo o que aconteceu após a 
obtenção da seqüência completa de nucleotídeos do cromossomo 21, podemos ter uma idéia do que se passa com 
o genoma humano completo. Após uma exaustiva análise da seqüência obtida para o cromossomo 21, foi 
demonstrado que dos 225 genes existentes, 127 já eram conhecidos (alguns já haviam sido identificados em outros 
organismos, alguns já estavam sendo estudados em humanos). Portanto. em relação a esses genes já se sabe 
alguma coisa sobre suas funções. Os outros 98 genes do cromossomo 21 são completamente novos, a existência 
deles era completamente desconhecida, não se sabe nada sobre suas funções e hoje se investiga quais são as 
proteínas que eles devem produzir. 
Uma análise rápida do conjunto de cromossornos humanos aponta para a existência de aproximadamente 
30.000 genes. Logo saberemos quais são todas as proteínas que podem ser produzidas pelos seres humanos. 
Antes do Projeto Genoma nem seria possível imaginar a existência da maioria delas, foi dado portanto o primeiro 
passo para poder estudar e compreender as funções de novas proteínas e o conjunto completo deve explicar de 
uma forma mais satisfatória ainda como ocorre o funcionamento de nossas células. 
No entanto, não é necessário que se complete a investigação de todas as proteínas para que os 
resultados do Projeto Genoma Humano sejam apresentados à sociedade. Já estamos assistindo ao começo de uma 
medicina genômica. Diabetes, câncer, mal de Alzheimer além de doenças infecto-contagiosas apresentam hoje em 
dia um diagnóstico mais rápido e preciso, decorrente da aplicação dos conhecimentos adquiridos com a 
identificação de gene específicos. No futuro, até doenças que têm uma base genética complexa, em que vários 
locos gênicos estão associados determinando uma predisposição ou tendência para a doença, como por exemplo a 
arteriosclerose, poderão ser melhor compreendidas e tratadas graças as pesquisas genômicas. Como? 
Identificando quais as proteínas específicas que o indivíduo produz com base na seqüência de nucleotídeos que ele 
herdou de pai e mãe, determinando quais as drogas que terão melhor efeito sobre o organismo com base no defeito 
específico que estiver presente, prevendo antes de qualquer manifestação inicial (pré-sintomas) que um indivíduo 
tem um risco maior de ser acometido por uma determinada disfunção metabólica .. .Por exemplo, quando 
soubermos quais são todas as proteínas envolvidas no metabolismo do colesterol e como elas interagem no 
organismo, poderemos. com um simples exame. saber quais os tipos dessas proteínas herdamos dos nossos pais e 
quais as características do nosso metabolismo de colesterol. Assim, poderemos ficar sabendo se podemos ter uma 
dieta livre de cuidados ou se teremos que tomar algumas precauções... 
A idéia é que no futuro muitas doenças poderão ser previstas com antecedência. A medicina se tornará 
gradativamente mais preventiva do que curativa. Também haverá alterações com relação à industria farmacêutica. 
Conhecendo-se o genoma de urna pessoa. pode-se prever quais os medicamentos são mais adaptados ao tipo de 
metabolismo do indivíduo, de modo a obtermos o máximo de eficiência com o mínimo de efeitos colaterais. Outra 
área importante será a terapia gênica. Em doenças causadas por mutações nos genes. poderemos introduzir nas 
células uma cópia do gene “normal” e reverter o quadro clínico. Em outros tipos de doenças, como o câncer, células 
geneticamente modificadas poderão ativar mecanismos de naturais de defesa do organismo, levando a cura. 
 
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Com o interesse voltado para esse mercado futuro, companhias como Merk. Bayer. Eh Lilly, Pharmacia. 
Novartis, Roche, Schering. Glaxo Wellcome. SrnithKline e muitas outras vem patenteando as seqüênciasde genes. 
As 16 principais detentoras de patentes de genes humanos somavam algo em torno de duas mil propriedades em 
maio deste ano. Outras 20 mil novas seqüências de DNA aguardam na fila do Escritório de Patentes do governo 
norte-americano. Estas patentes representam um mercado multimilionário. Uma vez aceitas e reconhecidas, essas 
patentes fazem com que toda e qualquer pesquisa e/ou produto derivado do conhecimento da seqüência de 
nucleotídeos de um gene também seja, de certo modo. propriedade da empresa detentora do gene. Isso não 
significa que o ritmo das pesquisas se tornará mais lento, apenas ficará mais caro, pois para estudar os genes 
patenteados será necessário pagar para as empresas detentoras da patente. 
 
 
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Devemos ter claro que a obtenção da seqüência completa de nucleotídeos que compõem o genoma 
humano é apenas um passo no caminho para um melhor entendimento da biologia do ser humano. Estamos agora 
encontrando os genes (o texto com informações) dentro de páginas e páginas ocupadas por A. T, C, e Gs. Para isto 
contamos com programas de computador que estão auxiliando a localizar dentro das grandes seqüências de 
nucleotídeos. onde podem estar regiões reguladoras, onde iniciam as possíveis regiões codificantes, etc... Ao 
mesmo tempo que as informações sobre novos genes vão sendo acumuladas, grupos de pesquisa avançam para 
as fases seguintes: saber quando, como e onde estes genes são expressos. A próxima fase nessa busca é a 
compreensão do funcionamento do genoma humano como um todo, de modo integrado — o genoma funcional. 
A descrição que fizemos da relação entre gene e proteína é uma simplificação. Dissemos que a um gene 
corresponde um mRNA e que contém a informação para a construção de uma proteína. Às vezes, a realidade é um 
pouco mais complexa. Um gene pode dar origem a mais de um mRNA, utilizando para isso regiões codificantes 
(exons) diferentes. Da mesma forma, uma mesma cadeia polipeptídica recém-sintetizada pode ser processada de 
diferentes maneiras, sofrendo modificações que podem conferir capacidades ou funções diferentes para o produto 
de um único gene. Algumas cadeias polipeptídicas podem ser clivadas em pontos diferentes, dependendo do tipo de 
protease que esteja presente na célula; a adição de grupamentos especiais (glicídios, lipídios, fosfatos) também 
pode ser diferente de acordo com o momento ou com o tecido e assim a partir de um mesmo gene pode-se obter 
mais de um produto final. 
O termo transcriptoma foi criado para designar o conjunto de RNAs que uma célula apresenta em um 
determinado momento e o conjunto de proteínas recebe o nome de proteoma. Entender o funcionamento dos seres 
vivos implica em saber quando e porque os genes são expressos (transcritos), o que o produto codificado por eles 
faz dentro das células e como essas proteínas realizam suas funções. Muitas propriedades dos seres vivos 
dependem da interação de múltiplas proteínas entre si e com outras moléculas. Por isso, para o entendimento dos 
seres vivos, os projetos de pesquisa em trascriptomas e proteomas são a seqüência natural aos estudos 
genômicos,. 
Uma das principais ferramentas para os estudos de transcriptomas e proteomas são os BioChips ou Chips 
de DNA - pequenas lâminas de vidro (quartzo), que. em posições fixas, contém seqüências de DNAs que 
correspondem aos genes (96.000 diferentes genes podem ser ligados em posições pré-determinadas em urna 
lâmina de 2 cm2). Os RNAs extraídos de um determinado tecido são marcados com moléculas fluorescentes e 
aplicados sobre o BioChip. Nos locais onde ocorrer correspondência do RNA com o DNA preso à lâmina. ou seja, 
quando um RNA localizar no BioChip uma seqüência de nucleotídeos que seja complementar às suas bases, 
haverá a formação de ligações pontes de hidrogênio (pareamento) entre RNA e DNA. Quando o BioChip for 
observado em um microscópio. aparecerão regiões ‘brilhantes”. marcando a presença de RNAs ligados aos genes 
presos na lâmina de quartzo. Essa técnica permite portanto identificar quais os genes que estavam ativos (ou seja. 
estavam sendo transcritos) nas células de onde o RNA foi extraído. 
Os chips de DNA também podem ser empregados no diagnóstico molecular de vírus ou doenças 
genéticas. Para o diagnóstico de doenças genéticas. por exemplo, será possível “enfileirar” em um pequeno espaço, 
as várias versões que um gene pode apresentar (alelos normais e mutantes). Ao colocar sobre esse chip uma 
amostra do DNA do indivíduo que esta sendo investigado, haverá o “pareamento” das bases do DNA da amostra 
com o DNA do chip, indicando qual o tipo de alelo que está presente nas células do indivíduo. 
Os chips de proteínas têm aplicação similar aos chips de DNA. e servem para se estudar a presença e a 
interação de diversas proteínas. Uma das primeiras aplicações médica dos chips de proteína foi para o diagnóstico 
inicial do câncer de próstata. que se mostrou mais eficiente que o tradicional que utiliza o nível de PSA (antígeno 
prostático específico, antígeno que geralmente está em níveis elevados no plasma de pessoas com tumor de 
próstata). 
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A meta final dos projetos proteoma seria conhecer a forma estrutural exata de todas as proteínas do corpo 
humano, e a interação dessas proteínas para formar as estruturas e processos celulares. Estes conhecimentos têm 
aplicação garantida, por exemplo, na criação de novas drogas. que tenham ação específica sobre um determinado 
processo celular. 
 
 
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Não só o genoma humano foi decodificado. Alguns milhares de dólares foram gastos para se decifrar os 
genomas de outros organismos. Foram eles: 1) a levedura usada como fermento para o pão (Saccharo,nvces 
cerevisae ) que é formada por uma única célula; 2) um pequeno verme de solo, que mede aproximadamente um 
milímetro e não causa danos a ninguém, chamado de C’aenorhahditis elegans; 3) a também inócua Drosophila 
(moscas-das— frutas). Também o genoma de uma planta a Arabidopsis ilha/lana foi sequenciado, e o outros 
genomas já se encontram em fase avançada de determinação (por exemplo, o genoma do arroz, do camundongo) 
A importância do estudo genômico desses organismos reside no fato de que são organismos modelos,, de 
fácil manutenção em laboratório, são estudados a muito tempo e com eles podemos fazer experiências que não 
seriam possíveis com humanos. Como muitos de nossos genes são similares aos desses organismos, muitas 
conclusões obtidas a partir de estudos com eles podem ser úteis para a compreensão de fenômenos que não 
podem ser pesquisados em seres humanos. 
O conhecimento completo do genoma da levedura evidenciou a presença de 6000 genes e 38% das 
proteínas produzidas por esse microrganismo são similares às proteínas encontradas em mamíferos. Em especial, 
às proteínas do sistema de reparo do DNA são muito semelhantes. Como estas proteínas estão envolvidas no 
processo de desenvolvimento do câncer, as leveduras se mostram bons modelos para se estudar alguns aspectos 
da origem dessa doença. Um exemplo dessa aplicabilidade, foi a descoberta de que o quimioterápico cisplatina é 
efetivo em destruir células cancerosas que tenham um defeito específico no sistema de reparo do DNA. O modo de 
ação dessa droga só foi elucidado graças à facilidade de se estudar as leveduras e ao fato do genoma dessa 
espécie já ser conhecido. 
Caenorhahditis elegans. é um organismo modelo muito útil para o estudo de desenvolvimento 
embriológico. Para esse verme, sabe-se qual será a função de cada célula formada - desde o momento da 
fecundação, até a formação de um organismo adulto (que tem exatamente 959 células). Um terço dos 19.000 genes 
de caenorhahditis são similares aosgenes dos mamíferos. Lançando mão desta similaridade, C. elegans vem sendo 
usado para a busca de novos medicamentos. Por exemplo, vermes que têm um receptor de insulina alterado, como 
ocorre nos diabéticos, são cultivados com várias drogas que podem interferir na passagem da glicose para dentro 
das células. Naquelas culturas em que há crescimento dos vermes, temos um novo medicamento potencial que 
poderá auxiliar no tratamento da diabetes. Esse tipo de pesquisa só é possível porque os genes envolvidos neste 
processo são similares nos vermes e em humanos. 
No começo ano 2000, o genoma da mosca das frutas (a Drosophila), um dos organismos preferidos dos 
geneticistas, teve o seqüenciamento concluído e 13.600 genes foram identificados. Este número, por si só. já 
causou estranheza. Esperava-se que Drosophila, por ser um organismo formado por um número maior de células e 
com um desenvolvimento mais “complexo”. tivesse mais genes que C. elegans. Isto não ocorreu, ao contrário, o 
número de genes em Drosophila foi menor. 
Uma descoberta importante foi que a metade dos genes da mosca apresenta similaridade com os genes 
dos mamíferos. De 289 genes relacionados a doenças humanas atualmente conhecidos, 1 77 (61 %) têm 
equivalentes na Drosophila. Entre estes. o gene supressor de tumor p53 (o “guardião do genoma”). o gene AÍEN 
(envolvido em neoplasia endócrina múltipla), os genes tati e Parkin (relacionados à doença de Parkinson) e muitos 
outros. Estas similaridades tornam Drosophila um modelo para o estudo dessas doenças. 
O genoma da planta Arabdopsis. thaliana possui 120 Mb. e pode ser considerado muito pequeno em 
relação ao genoma da maioria das plantas (geralmente os genomas de vegetais tem várias Gb de DNA — 1 Gb = 
uma gigabase, que corresponde a 1000 Mb). O trigo, por exemplo tem um genoma de 16 Gb (lembrar que o 
genoma humano tem 3.2Gb). No genoma de A. thaliana foram identificados 26.000 genes. 
Comparando os genomas de leveduras, vermes, moscas. e humanos podemos aprender algumas coisas 
interessantes. A primeira delas é que aproximadamente 3000 genes são comuns aos três genomas. Estes devem 
corresponder aos genes que codificam a maquinaria básica para o funcionamento de toda célula eucariótica. Outra 
evidência que podemos ver, é que os genes vão se tornando gradativamente mais complexos, de leveduras para 
humanos. A maior complexidade estrutural e funcional que se observa nos seres humanos (quando comparado com 
leveduras ou vermes) parece refletir mais o aumento da complexidade dos genes do que o aumento no número de 
genes. 
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