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1 2 > Conceito analítico da infração penal: FATO TÍPICO + ILÍCITO + CULPÁVEL Analisados no sentido da esquerda para direita ✔ Ilicitude/Antijuricidade: - Recapitulando o que estudamos no começo da matéria: estaremos diante de uma infração penal quando existir um Fato Típico + Ilícito + Culpável (Conceito analítico da infração penal). - A existência de um Fato Típico gera presunção (relativa) da Ilicitude ou Antijuricidade. ↪ (teoria da indiciariedade → ratio cognoscendi) - No entanto, existem 4 hipóteses que excluem a antijuricidade do fato, tornando lícita a conduta do agente (por isso a presunção é relativa), sendo que cabe ao réu demonstrar essas causas de exclusão (inversão do ônus da prova). É o que veremos a seguir. > O Código Penal introduz esse tópico no seu artigo 23: Exclusão de ilicitude Art. 23 – NÃO HÁ CRIME quando o agente pratica o fato I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. ↪ Apesar do legislador ter permitido as condutas típicas nas hipóteses dos incisos do art. 23, ele ainda proíbe os excessos como enunciado no parágrafo único do mesmo artigo. ⁂ CUIDADO: note que o artigo 23 fala “NÃO HÁ CRIME”. Algumas questões tentam te enganar referindo-se a causas de exclusão da ilicitude escrevendo “É isento de pena...”. No entanto, não há que se falar em pena se o fato é lícito, por isso é errado usar essa afirmação. Veremos sobre isenção de pena no tópico “Culpabilidade”. Exemplo: (FEPESE - 2019 - SAP-SC - Agente Penit.) De acordo com o Código Penal Brasileiro, é correto afirmar: A) É isento de pena o agente que comete um crime em estado de necessidade. B) A legítima defesa estará caracterizada quando o agente pratica fato para salvar de perigo atual, direito próprio ou alheio, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar. C) Será isento de pena aquele que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato em razão de emoção ou paixão, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. D) A embriaguez, quando completa e proveniente de caso fortuito, é considerada como uma excludente de ilicitude. E) Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Gabarito correto: E) ➔ Requisitos para excludente de ilicitude, comum às quatro hipóteses: - Para todas as causas de exclusão de ilicitude, deve estar presente a seguinte combinação de requisitos subjetivos: 3 → É necessário que o agente conheça a situação do fato justificante E que atue em razão da existência desse fato justificante. Imagine esta situação: Pessoa A, em público, está secretamente mantendo Pessoa B como refém e ameaçando-a de morte com uma arma que está escondida. Chega Pessoa C, desafeto da Pessoa A, desfere um tiro que o mata. A princípio pode até parecer que C agiu em legítima defesa de terceiro, mas ele não sabia da situação de perigo atual de B, então deverá responder por homicídio doloso de A. A seguir abordaremos requisitos específicos para cada hipótese de excludente de ilicitude. ➔ ESTADO DE NECESSIDADE - Conduta lesiva praticada para afastar uma situação de perigo. - No estado de necessidade, um bem jurídico é sacrificado para salvar outro ameaçado por situação de perigo. - Assim, temos dois direitos em choque → um está em perigo e para protegê-lo não há outra alternativa senão sacrificar o bem jurídico alheio. Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. ⁕ Importantes: PERIGO ATUAL + que não provocou voluntariamente. ↪ se o risco foi gerado por culpa, aí poderá agir em estado de necessidade. - O excesso é doloso ou consciente quando o agente atua com dolo em relação ao excesso. Nesse caso, responderá dolosamente pelo resultado produzido. Pode ainda ser culposo ou inconsciente, quando o excesso deriva de equivocada apreciação da situação de fato, motivada por erro evitável. Responderá o agente pelo resultado a título de culpa. > Espécies de estado de necessidade 1. Próprio ou de terceiro: é próprio quando há o sacrifício de um bem jurídico para salvar outro que é do próprio agente. É de terceiro quando o sacrifício visa a salvar bem jurídico de terceiro. 2. Real ou putativo: é real quando se verificam todos os requisitos da situação de perigo. É putativo quando não subsistem, de fato, todos os requisitos legais da situação de necessidade, mas o agente erroneamente os julga presentes (Art. 20, § 1º do CP). 3. Defensivo ou agressivo: é defensivo, quando a agressão se dirige contra aquele que provocou os fatos, e agressivo na situação em que o agente destrói bem de terceiro que nada fez, ou seja, inocente. 4 ➔ LEGÍTIMA DEFESA Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.1 > Requisitos para legítima defesa: 1. Agressão injusta - Conduta humana contrária ao direito e que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos de alguém. Esta conduta é direcionada, ou seja, tem um destinatário certo e determinado, ao contrário do estado de necessidade onde o risco é generalizado. - Pode ser dolosa ou culposa. - Não se exige que o agredido fuja, se for possível. - Agressão injusta ≠ provocação injusta → Toda agressão injusta é uma provocação injusta, mas nem toda provocação é agressão. A simples provocação não permite reação em legítima defesa. Obs.: Como classificar a conduta daquele que repele o ataque de um animal? Dependerá se o animal foi ou não provocado por seu dono. Se for um ataque espontâneo, é caso de perigo atual e haverá, então, o estado de necessidade. Já se for o caso de um ataque provocado pelo dono do animal, haverá legítima defesa. Isto, porque a reação se dará contra um ataque humano, onde o animal é mero instrumento do dono. 2. Agressão atual ou iminente - Atual é a agressão que está acontecendo e iminente é a que está prestes a acontecer. Não vale agressão passada. 3. Uso moderado dos meios necessários - É o meio menos lesivo colocado à disposição do agente no momento da agressão, que seja, capaz, porém, de repelir a injusta agressão. Assim, de todos os meios que estão à sua disposição, você escolhe o menos lesivo. - Verifica-se a intensidade dada pelo agente na utilização dos meios necessários à defesa. A necessidade dos meios, bem como a moderação de sua utilização serão avaliados no caso concreto, não sendo possível exigir escolhas de meios e moderação milimetricamente calculadas. - O excesso será punido a título de dolo ou culpa (CP, art. 23, parágrafo único). Obs.: diferentemente do conflito de interesses (legítimos) no estado de necessidade, não cabe legítima defesa contra legítima defesa, a não ser em caso de excesso. Ademais, se agindo em legítima defesa o agredido venha a cometer um erro na execução e atinja pessoa inocente acidentalmente, não se pode a ele imputar o resultado ali atingindo, pois estavaacobertado pela legítima defesa. No entanto, poderá responder civilmente pelos danos. 4. Defesa de direito próprio ou alheio - Há legítima defesa própria quando o sujeito está se defendendo e legítima defesa alheia quando defende terceiro. 1 Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 – “Pacote Anticrime”. 5 Obs.: Não é possível alegar legítima defesa diante de um estado de necessidade, tendo em vista que este instituto não é agressão injusta. > Espécies de legítima defesa: 1. Real: é a que realmente ocorreu, estando presentes todos os pressupostos de existência da causa justificante. 2. Putativa: é a legítima defesa imaginária. É a errônea suposição da existência da legítima defesa por erro de tipo ou erro de proibição (art. 20, § 1º e 21 do CP). ↪ Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. Descriminantes putativas § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. 3. Sucessiva: hipótese de excesso, que permite a defesa legítima do agressor inicial. O agressor inicial, contra o qual se realiza a legítima defesa, tem o direito de defender-se do excesso, uma vez que o agredido, pelo excesso, transforma-se em agressor injusto. 4. Recíproca: hipótese de legítima defesa contra legítima defesa não é admitida no ordenamento jurídico. Se o agente atua em legítima defesa, é porque há injustiça na agressão. O agressor não pode, em seu favor, alegar legítima defesa se repelir o ataque lícito do agente. ➔ ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL - Ocorre quando alguém atua em cumprimento de dever que lhe é imposto por lei. - Tal conduta deve ser praticada dentro dos limites indicados pelo ordenamento positivo. - Assim, atuam licitamente os agentes estatais que realizam prisões, arrombamentos, busca e apreensões de pessoas ou coisas ou que utilizam de violência, como meio necessário para a realização da prisão. - É necessário que o ato seja legitimo em sua origem e na sua execução, sob pena do agente responder pelo excesso, o qual pode ser doloso ou culposo. ➔ EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO - Ocorre quando alguém atua exercendo um direito que lhe é outorgado por um ramo da ciência jurídica. - Também neste caso o direito há de ser considerado dentro dos limites indicados pela expressão regular. - Ex: prisão em flagrante efetuada por populares (art. 301 do CPP), desforço imediato no esbulho possessório (art. 502 do CC). - Assim como nas demais causas de exclusão de ilicitude poderá o agente responder pelo excesso. 6 ➔ Causas supralegais de exclusão da antijuridicidade 1. Consentimento do ofendido - Consiste na aquiescência pelo titular do bem jurídico à prática do dano contra determinado interesse. - O consentimento do ofendido poderá excluir a tipicidade ou a ilicitude. - Será causa excludente de tipicidade quando a ausência do consentimento do ofendido configurar-se em elemento constitutivo do tipo legal. Ex: arts. 150 e 213 do CPB, assim, o consentimento da vítima exclui a tipicidade do delito de violação de domicilio. - Quando a discordância não for elemento do tipo, ocorre causa supralegal de exclusão da ilicitude. O que pode ocorrer no crime de dano, por exemplo (artigo 163 do Código Penal). E os requisitos são: ↪ disponibilidade do bem: (bens disponíveis são os que cabem na liberdade de decisão e disposição pessoal do titular. Ex: patrimônio, liberdade individual, honra). A vida é um direito individual indisponível, portanto ninguém pode matar outra pessoa, mesmo com o consentimento dela. ↪ capacidade da vítima em dispor do bem. ↪ consentimento prévio ou durante a ocorrência do fato. 2. Costumes - Condutas que tecnicamente são típicas, porém normalizadas pelo costume da sociedade, portanto exclui a tipicidade. Por exemplo, furar a orelha da bebezinha para colocar brinco. 3. Ofendículos e defesa mecânica predisposta - Ofendículos são aparatos visíveis destinados à defesa da propriedade ou de qualquer outro bem jurídico. - O que os caracteriza é a visibilidade, devendo ser perceptíveis por qualquer pessoa (exemplos: lança no portão da casa, caco de vidro no muro etc.). - Existem duas posições sobre sua natureza jurídica: ↪ legítima defesa preordenada, pois o aparato é armado com antecedência, mas só atua no instante da agressão (Damásio de Jesus); ↪ exercício regular de direito (Aníbal Bruno) → PREDOMINANTE - Também há entendimento de que enquanto o ofendículo não é acionado, estamos diante de ERD; quando o ofendículo for acionado, está-se agindo em LD preordenada.
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