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Vanessa Martins Giroto O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO: UMA ÓTICA SOBRE A IMPLANTAÇÃO E ADAPTAÇÃO DA TECNOLOGIA NO DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO Uberlândia, 30 de Setembro de 2021 Resenha resumo apresentada na disciplina de Processo Civil I no curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia, para avaliação de nota no semestre 2020-2. Professora: Alice Ribeiro de Sousa O Processo Judicial Eletrônico: uma ótica sobre a implantação e adaptação da tecnologia no direito processual brasileiro ALMEIDA FILHO, Jose Carlos de Araujo. A teoria geral dos atos processuais praticados por meios eletrônicos, a partir de um novo CPC: Uma nova ideia acerca da instrumentalidade das formas no procedimento eletrônico. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 48, ed. 190, p. 267-278, 2011. A obra – Este artigo, publicado em 2011 pela Revista de Informação Legislativa, foi escrita pelo autor Jose Carlos de Araujo Almeida Filho e traz em seus títulos um panorama geral da evolução dos atos processuais no procedimento eletrônico de acordo com os princípios basilares do processo brasileiro. Ele é composto pela introdução e mais cinco títulos em um total de 12 páginas. O autor – Jose Carlos de Araujo Almeida Filho é graduado em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, mestre pela Universidade Gama Filho e doutor pelo Programa de Pós Graduação de Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). No que concerne a obra em questão, o autor é presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eletrônico e membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Ele fundou o Laboratório Fluminense de Estudos Processuais na UFF e foi nomeado pela Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) como consulente da Comissão de Direito e Tecnologia. O autor também é membro do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal e do Instituto dos Advogados Brasileiros, atuando no Direito Processual Civil, com ênfase no tema de direito eletrônico e processos. Resumo – O artigo faz uma análise da implantação da informatização judicial no que tange o direito processual civil antes e durante a elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil de 2015. O objetivo do texto, bem como do autor, é mostrar o surgimento do processo eletrônico no Brasil e como os princípios da publicidade e da instrumentalidade das formas devem ser observados com cautela no que tange a este novo meio tecnológico no direito. Para o autor, os atos processuais nos meios eletrônicos ganharam importância no Brasil em 1991 através da Lei do Inquilinato, pois ela prevê a citação por meio de fac-símile, sendo, assim, a primeira norma que autoriza adotar um ato processual por um meio diferente dos convencionais. Posteriormente, a Lei do Fax em 1999, também segue o mesmo ideal onde os atos processuais são praticados pelo fac-símile, contudo, exigindo a juntada dos originais. O ressaltado é que, no mesmo ano, inicia-se um debate nos tribunais sobre a possibilidade de enviar peças processuais através de e-mail. O primeiro avanço se deu em 2001 com a Lei nº 10.259 que dispôs em seu art. 8º a possibilidade de praticar todos os atos por meios eletrônicos dentro dos Juizados Especiais Federais. Ainda, neste ano, surgiu a tentativa de incluir no Código de Processo Civil a tramitação dos atos processuais de forma eletrônica através da Lei nº 10.358, contudo, o art. 154 que previa tal questão foi vetado pelo presidente por não haver de forma expressa uma previsão de que seria adotada uma estrutura de certificação digital. No mesmo ano, a Associação dos Juízes Federais através da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados propõe a implantação do processo eletrônico que originou no Projeto de Lei nº 5828/2001 e, posteriormente, foi convertido em Projeto de Lei do Senado nº 71 no ano de 2002. Em 2006 a Lei nº 11.419 dispôs sobre a informatização do processo judicial, porém, foi somente no ano de 2010, após inúmeros debates e teorias que, com a elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil (CPC), a Comissão de Juristas por ato do Sr. Dr. José Sarney, até então Presidente do Senado Federal, falou-se da informatização em todo o texto normativo. Após a introdução que analisa de forma cronológica os atos processuais no novo Código de Processo Civil, o artigo destaca, em seu primeiro título, os demais projetos de leis e os atos processuais através dos meios eletrônicos durante a elaboração do anteprojeto do CPC/15. O Projeto de Lei do Senado para a reforma do Código de Processo Civil, em seu art. 163, procura sanar questões de acordo com a pauta do Supremo Tribunal Federal (STF), contudo, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), através de ações diretas de inconstitucionalidade, destaca a pratica dos atos processuais pela adoção da Infraestrutura de Chaves Públicas do Brasil (ICP-Brasil), considerando que o art. 18 da Lei nº 11.419/2006 permitia que o Poder Judiciário regulamentasse a prática dos atos. Tal art. dispõe sobre o principio da instrumentalidade das formas, que prevê que “os atos e os termos processuais não dependem de forma determinada, senão quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.” Contudo, de acordo com o autor, o parágrafo primeiro supre a inconstitucionalidade apontada pela OAB. A partir disso, entende-se que o art. 163 adéqua e contempla a matéria de teoria geral dos atos processuais por meios eletrônicos, contudo, o texto legal dispõe sobre a necessidade de adotar medidas que garante autenticidade, integridade e validade jurídica, o que se refere à certificação digital, sendo, este, o tema do segundo título do texto acadêmico. Para tal, Almeida Filho destaca o principio da publicidade, vez que o art. 164 fala sobre os autos que tramitam em segredo de justiça, sobre os atos que possuem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade e sobre o sigilo que deve ser assegurado pelo processo eletrônico. O autor traz para o artigo o conceito do Prof. Luiz Rodrigues Wambier sobre o princípio da publicidade, que diz que ele “existe para vedar o obstáculo ao conhecimento. Todos têm direito de acesso aos atos do processo, exatamente como meio de se dar transparência à atividade jurisdicional”. Contudo, o ressaltado no texto é a comunhão do princípio da publicidade com o princípio da dignidade da pessoa humana. Considerando que o principio da publicidade veda julgamentos por tribunais de exceção e impede os abusos das autoridades, é importante verificar a forma com que esse princípio deve ser visto em uma sociedade informatizada, já que com a inserção do conteúdo na Internet, pode haver casos em que a honra, a privacidade e a intimidade podem ser violadas. Infelizmente, a Lei da Informatização do Processo Judicial não se preocupa com o respeito ao tratamento de dados processuais, dessa forma, para Pellegrini, Dinamarco e Cintra, toda precaução deve ser tomada para evitar as exasperas do principio da publicidade, já que a publicidade excessiva – que, inclusive, é ampliada com a inserção do processo eletrônico – viola os princípios mais relevantes da Constituição Federal. A partir disso, a Resolução 121 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) dispõe sobre a divulgação de dados processuais eletrônicos na rede mundial de computadores, expedição de certidões judiciais e de outras providências, a qual foi apreciada pela Comissão de Juristas do anteprojeto, analisando-a acerca do principio da instrumentalidade das formas. No terceiro título, o autor, de imediato, já determina que não seja possível admitir a aplicação da teoria fundada na instrumentalidade das formas no parágrafo primeiro do art. 163 do PLS. Contudo, ele ressalta é admitida uma nova concepção sobre a produçãoe concretização dos atos processuais por meios eletrônicos. Baseado nos pensamentos de Francesco Carnelutti, ressaltados por Jônatas Luiz Moreira de Paula, “o ato processual é espécie de ato jurídico e é praticado em razão de uma relação processual. A processualidade do ato não se deve ao seu cumprimento no processo, mas por criar efeitos no processo.” Deste modo, o ato processual tem por objetivo adquirir, extinguir ou modificar os direitos no processo. É importante tal distinção, vez que no processo eletrônico, os atos processuais devem ser revestidos de autenticidade, integridade e segurança, já que são praticados a partir da infraestrutura de chaves públicas. A Medida Provisória nº 2.200-2/2001 destaca que os documentos, sejam eles públicos ou particulares, presumem-se verdadeiros em relação aos signatários desde que produzidos em forma eletrônica com a utilização de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil. Ainda, tal MP não se Poe a utilização de outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma eletrônica, bem como da utilização de outros certificados, contudo, deve ser admitido pelas partes como válido ou aceito a quem for oposto o documento. Dessa forma, como os atos processuais são praticados pelos sujeitos do processo, todos os atos, sejam eles das partes, do juiz ou dos auxiliares da justiça, devem ser praticados com a devida certificação digital. Partindo para o quarto título, o autor dispõe sobre a impossibilidade de se adotar o principio da instrumentalidade das formas, já que a formalidade excessiva prejudicou a essência processual a partir de teorias fundadas no acesso à justiça e na efetiva aplicação da norma. Considerando que o processo, apesar de não ser um fim em si mesmo, possui a missão de pacificação social, verifica-se que o ato vale mais do que a forma. Dessa maneira, em matéria processual eletrônica, é necessário voltar ao formalismo para apresentar uma posição concreta sobre a necessidade de certificação digital. O autor destaca a faculdade encontrada no parágrafo segundo do art. 172 da PLS que trata sobre a assinatura dos atos dos juízes. Nota-se a permissão de assinatura eletrônica para pratica do ato judicial por meio eletrônico, contudo, se não houver assinatura digital, não é possível dar autenticidade no ato. Dessa forma, não se tem um ato praticado. No que tange a assinatura no processo, não se admite o uso de login e senha, pois se faz necessário a inserção de um token ou smart card, prática baseada na legislação alemã, para que, assim, o documento tenha autenticidade. Tal inadmissão ocorre, pois, a grande maioria das pessoas utilizam uma única senha para todos os serviços e, assim, o computador faz o armazenamento dos dígitos em seu dispositivo, tornando a senha insegura. Deste modo, a solenidade dos atos processuais demonstra a impossibilidade de instrumentalidade das formas nos casos em que não é adotado a ICP-Brasil, sendo, por isso, que o parágrafo primeiro do art. 176 trata de segurança no que concerne a assinatura digital dos sujeitos do processo. Almeida Filho também traz ao texto o fato de que a ação poderá não estar contaminada, contudo, estará a produção do ato. Tal previsão encontra-se no art. 252 do PLS, pois, não é possível desassociar a técnica exigida nos conceitos basilares do processo para a informatização, ou seja, não haverá segurança se os atos forem praticados sem observar os requisitos legais indispensáveis, como é o caso do certificado digital. Assim, não há empecilho no desenvolvimento processual quando se adota a teoria da nulidade dos atos processuais através dos meios eletrônicos em casos de descumprimento dos requisitos legais, em contrapartida, garante-se a eficiência do processo. No que tange a comunicação processual, a citação, nos termos do art. 215 do PLS, determina que esta possa ser realizada por meio eletrônico conforme prevê a legislação, que, no caso, é a Lei da Informatização do Processo Judicial. O art. 8º determina que a citação realizada por meio eletrônico seja considerada pessoal. Deste modo, Almeida Filho destaca no artigo que, apesar das manifestações serem a favor do principio da instrumentalidade das formas e da deformalização do processo, é importante haver exagerada técnica e não transigir com as formas, no que tange a informatização judicial. Contudo, ressalta que o processo eletrônico já é uma forma deformalização, quando comparado ao processo físico. Para concluir, o autor menciona a evolução da palavra de ordem para o direito processual que, inicialmente, era a independência, contudo, passou a ser o acesso à justiça de forma ampla e eficaz, consagrando a instrumentalidade das formas, sendo, esta, o norte do presente artigo. Fazendo uma recapitulação das Leis, artigos, e Projetos de Leis trazidos no texto, o artigo demonstra que com a informatização trazida pelo século XXI, o direito processual brasileiro passou a prever, também, a informatização judicial. Ressalta-se que ainda há preocupações para os estudiosos sobre a matéria do direito processual eletrônico no que concernem os atos processuais, como, por exemplo, a necessidade de relativizar o princípio da publicidade e a posição quanto à instrumentalidade das formas que, de acordo com o autor, deve ser expurgado. Para Almeida Filho, diante de um procedimento eletrônico, é necessária a adoção de certificados digitais para que seja possível garantir a integridade, a autenticidade e a segurança dos atos processuais e, estes, devem obedecer aos mesmos requisitos para que não corra o risco de nulidade absoluta. Assim, o artigo é finalizado destacando que os princípios e normas de convivência social, ressaltando a lealdade processual, a ética e o bom senso, devem vigorar na nova realidade do processo eletrônico, a partir da efetiva implantação do CPC/15, proporcionando, assim, a aceleração judiciária, observando as ressalvas mencionadas.
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