Buscar

Atuação do Psicólogo Escolar na Universidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

ENTRE A DOR E A DELÍCIA DE SER O QUE É: UMA ANÁLISE 
ERGONÔMICA DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR NA 
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 
 
Letícia Cirqueira de Oliveira1 
 
RESUMO 
 O presente trabalho tem por objetivo analisar, com base na Ergonomia da 
Atividade, a atuação do psicólogo escolar na Universidade de Brasília, no Serviço de 
Orientação Universitária (SOU). A importância de se investigar a atuação do psicólogo 
escolar na universidade, a luz da ergonomia, se faz necessária, pois essa abordagem nos 
permite olhar para o trabalho real e prescrito do psicólogo, para as suas expectativas em 
relação a sua atividade, bem como as expectativas da instituição e demais atores; a 
relação afetiva desses profissionais com seu desempenho: as vivências de bem-estar 
e/ou mal-estar, as contradições e estratégias individuais e/ou coletivas utilizadas para 
superá-las. O psicólogo é aquele que toma decisões sobre as melhores formas de agir no 
seu cotidiano, faz gestão das exigências não se submetendo passivamente sobre elas. 
Cabe a esse profissional construir, juntamente com a equipe e instituição, valores e 
modos de atuar, conhecer e discutir as concepções e expectativas, desconstruir 
representações sociais de uma atuação clínica na escola, em situações de não-adaptação 
do aluno e problemas de aprendizagem. Este trabalho se justifica pelo fato de ter poucas 
referências tanto no âmbito da psicologia escolar e atuação no Ensino Superior, quanto 
na Ergonomia da Atividade. Foi realizado um grupo de discussão com quatro 
psicólogos e observações no Estágio Supervisionado em Psicologia Escolar, no SOU, na 
UnB. 
Palavras-chave: Psicologia Escolar, Atuação do Psicólogo Escolar no Ensino Superior, 
Ergonomia da Atividade. 
 
 
                                                            
1 Aluna de graduação em Psicologia na Universidade de Brasília. E-mail: leticiacirqueira@hotmail.com 
  2
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Abordagem Ergonômica do Trabalho 
 Diante das transformações no mundo do trabalho, a inserção de novas 
tecnologias e modos de fazer para garantir a competitividade, as organizações têm 
buscado oferecer serviços de qualidade e contam com trabalhadores comprometidos 
com suas crenças, valores e normas. Há uma expectativa tanto da instituição quanto do 
trabalhador em relação à atividade a ser realizada. Nesse cenário, trabalhadores de um 
modo geral se deparam cotidianamente com regras, procedimentos, rotinas que tomam a 
forma, principalmente, de códigos de conduta e de inventário de tarefas (formais e/ou 
informais). Segundo Mario César Ferreira (2004), a vida em sociedade, da qual a 
produção econômica é parte integrante, parece ser inseparável da existência de normas 
formais e informais. Entretanto os comportamentos dos trabalhadores nas situações de 
trabalho mostram um universo de atividades que transcende aquilo que previamente foi 
estabelecido pelas tarefas. O exame da inter-relação tarefa-atividade se apresenta, 
portanto, como um objeto privilegiado para a análise de práticas, valores, crenças que 
colocam em confronto os modelos de gestão do trabalho e os modos de fazer e pensar 
dos trabalhadores (Ferreira, 2004). O autor aponta dois conceitos em ergonomia 
importantes para analisar o contexto de produção de bens e serviços, a saber: 1) 
definição de uma cultura do trabalho prescrito: “Diferentes serviços da empresa 
definem, previamente, uma produção, um trabalho, os meios para realizá-los: estes são 
determinados por meio de regras, de normas e avaliações empíricas”(Daniellou, 
Laville & Teiger, 1989, citados em Ferreira, 2004) desse modo, o trabalho prescrito é o 
modo de como uma tarefa deve ser executada, como se utiliza as ferramentas e as 
máquinas, em determinado espaço de tempo, e como se respeita as ordens. 
Características: a) caráter reducionista da análise do trabalho em termos de tempo e 
movimentos, negligenciando o custo cognitivo; b) as características e a diversidade dos 
trabalhadores não são levadas em consideração, prevalecendo a ideia de trabalhador 
médio (média aritmética); c) objetividade do tempo, (conceito ilusório já que o tempo 
  3
pode ser objeto de julgamento), com o passar do tempo há um automatismo e a 
necessidade de novos ajustamentos; d) fragilidade científica, por se basear no caráter 
coercitivo da racionalização. Em contrapartida, no trabalho prescrito, a prescrição é um 
quadro indispensável para que se possa operar a atividade, ou seja, estrutura o modus 
operandi do trabalho, o que é discutível é uma cultura de prescrição em demasia; 2) 
definição de uma cultura de trabalho real: o trabalho real implica em uma atividade 
no qual o sujeito da ação opera em três dimensões independentes- uma relação 
econômica de compromisso com a produção de bens e serviços, uma relação sócio-
profissional com outros sujeitos envolvidos no contexto do trabalho, uma relação 
consigo mesmo para gerir as necessidades de mudanças que operam no nível do corpo, 
da razão e do afeto. Nesse sentido o trabalhador não é um mero executante, mas um 
operador que toma decisões sobre as melhores formas de agir faz gestão das exigências 
não se submetendo passivamente sobre elas. Ele aprende agindo e adapta seu 
comportamento às variações ambientais. 
 Estudos evidenciam que a discrepância entre o trabalho real e o trabalho 
prescrito são geradores de mal-estar nas organizações (Ferreira, 2004). Para tal, os 
trabalhadores desenvolvem estratégias de mediação individual e coletiva com o objetivo 
de amenizar os efeitos desse mal-estar. 
 Conforme destaca Ferreira (2002), a Ergonomia tem sido chamada para atender 
a múltiplas demandas do mundo produtivo como a melhoria das condições materiais e 
instrumentais de trabalho dos assalariados; a identificação de agentes nocivos à saúde 
dos trabalhadores; o aprimoramento da competência profissional; transformações na 
organização sociotécnica do trabalho; os impactos do uso de novas tecnologias; 
concepção de ambientes de trabalho e produtos de consumo (Ferreira, 2002), muito 
embora tenha sido uma abordagem que ganhou ao longo dos anos o estereotipo de 
“cadeirologia”. No geral, a análise do contexto sociotécnico em ergonomia da atividade 
tem como horizonte conhecer o funcionamento da empresa ou da instituição onde se 
realiza a intervenção. O objetivo central é identificar os fatores (econômicos, sociais, 
técnicos, jurídicos) que podem ajudar a compreender ou "decodificar" a situação-
problema investigada (Ferreira, 2002). 
 
Contexto da Atuação do Psicólogo Escolar no Ensino Superior 
  4
Segundo Clayse Marinho-Araújo (2009, citado em Corrêa, 2011), a literatura 
nacional no que se refere à atuação do psicólogo escolar na educação superior é bastante 
limitada, pois, tradicionalmente, a psicologia escolar tem se ocupado com questões 
relacionadas ao ensino básico, em especial ao fracasso escolar, atuação e formação do 
psicólogo escolar. Na literatura internacional, encontram-se trabalhos voltados para a 
vertente clínica-terapêutica, de acolhimento, de escuta e acompanhamento de 
estudantes, professores e corpo administrativo da instituição em prol de uma maior 
efetividade educacional (Corrêa, 2011). 
Pensando no contexto educacional, com as mudanças ocorridas na Educação 
Superior no Brasil, passou-se a exigir mais dos profissionais que atuam nessa área, no 
que tange a atualização e a qualificação, no sentido de prover aos alunos um ensino 
integral, que atenda às demandas sociais (Corrêa, 2011). A expectativa que se tem em 
relação à atuação do psicólogo escolar é que o mesmo deva apresentar uma contribuição 
mais eficaz dentro da variedade de problemas escolares que se apresentam, em especial, 
aos processos de aprendizagem. O que se tem notado é que as práticas no espaço escolar 
estão voltadas para a estruturação de programas para alunos com dificuldades e a 
preparação e treinamento de professores. Historicamente,a função desempenhada por 
um psicólogo escolar dizia respeito ao fracasso escolar, seguindo uma orientação clínica 
individual, com elaboração de diagnósticos e tratamento de distúrbios, amparado no 
paradigma psicopatologizante da educação. Entretanto, com as mudanças sociais e 
histórico-culturais, a instituição escola ganha outras funções como formação de uma 
consciência crítica, voltada para o coletivo, conectada com o contexto social e 
desenvolvimento contínuo dos indivíduos participantes. O antigo modelo de atuação 
não é mais suficiente para atender a essas demandas. Segundo Jobim e Souza (1991, 
citados em Serpa e Santos, 2001), o que se espera de um psicólogo escolar hoje é que 
ele trabalhe aliado ao educador, integrando aprendizado e ensino aos conhecimentos 
pedagógicos e de desenvolvimento, valorizando a diversidade cultural, bem como 
divulgando esses conhecimentos para que ocorra o progresso da própria Psicologia 
Escolar. O psicólogo escolar tem o potencial para fortalecer práticas que priorizem a 
conscientização, a reflexão, o trabalho coletivo e a ética, bem como mediar a 
compreensão do sistema educacional e dos processos de aprendizagem pelos indivíduos 
que nele atuam (Corrêa, 2011); procurando atuar com o corpo docente e discente, assim 
  5
também junto à coordenação e à equipe técnica, tentando ao máximo conscientizar a 
realidade da universidade. 
Sobre a justificativa do trabalho do psicólogo escolar no Ensino Superior, Serpa 
e Santos (2001) dizem que: 
Estudos sobre universitários têm apontado para existência de 
fenômenos, tais como a evasão e a reprovação, entre outros, 
que requerem atenção especial dos estudiosos da psicologia e 
áreas afins. Fica evidente que uma instituição de ensino 
superior não pode contentar-se apenas com o desempenho 
acadêmico, a freqüência escolar e a formação profissional dos 
seus estudantes, tendo em vista que é de sua responsabilidade 
a formação integral do ser humano (Cabrera e cols., 1992; 
Polydoro,1995 e 2001; 
Sbardelini, 1997, Almeida, Soares e Ferreira, 1999). 
 
 A partir dessa afirmação fica claro o papel social do psicólogo frente ao status 
quo, cabe a ele tomar consciência e entender a dinâmica do que está posto e possibilitar 
mudanças. 
Este estudo se justifica no âmbito da produção acadêmica devido ao ainda baixo 
número de trabalhos publicados sobre a atuação do psicólogo escolar no Ensino 
Superior. 
METODOLOGIA 
 Método 
 Foi realizado um grupo de discussão com quatro psicólogos do SOU no campus 
Darcy Ribeiro, na UnB, gravado em MP3, com duração de 57 minutos; bem como 
observações de campo, realizadas no estágio supervisionado de psicólogo escolar. A 
abordagem foi qualitativa dos resultados, vistos a luz da Análise Ergonômica do 
Trabalho (EAC). 
 Sujeitos 
 Três participantes mulheres (M1, M2 e M3), que fazem parte do quadro de 
servidores técnicos de nível superior, no cargo de psicólogo escolar da universidade, 
efetivadas nos anos de 2008 e 2009; e um participante homem (H1), contratado com 
vínculo celetista desde 2007, no cargo de estagiário técnico. 
  6
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
1. Contexto de Produção de Bens e Serviços (CPBS): 
O contexto de produção de bens e serviços (CPBS) designa o meio físico, 
instrumental e social onde se realiza a atividade de trabalho. Na pesquisa em questão, o 
contexto de trabalho analisado foi o Serviço de Orientação ao Universitário, Na 
Universidade de Brasília. 
A Universidade de Brasília 
A Universidade de Brasília (UnB) foi inaugurada em 21 de abril de 1962. 
Atualmente, possui mais de 2 mil professores, 2.512 servidores e cerca de 28 mil 
estudantes. É constituída por 25 institutos e faculdades e 25 centros de pesquisa 
especializados. Oferece 103 cursos de graduação, sendo 24 noturnos e 14 a distância. 
Os cursos estão divididos em quatro campi espalhados pelo Distrito Federal: Plano 
Piloto, Planaltina, Ceilândia e Gama. A produção de conhecimento na UnB obedece ao 
modelo tridimensional de ensino, pesquisa e extensão, o que favorece a uma formação 
universitária de qualidade, respeitosa com todas as formas de saber e comprometida 
com a cidadania (Universidade de Brasília, 2011). 
 
O Serviço de Orientação ao Universitário 
O Serviço de Orientação ao Universitário (SOU) iniciou suas atividades em 
1987 como uma coordenação pertencente ao Centro de Acompanhamento e 
Desenvolvimento Educacional (CADE) que fazia parte do Decanato de Ensino e 
Graduação (DEG). Nesse período tinha como principal função orientar estudantes da 
UnB e servia como um canal de comunicação entre a administração acadêmica e os 
alunos de graduação. Além dos atendimentos individuais, eram realizados trabalhos de 
sensibilização dos coordenadores de curso frente aos problemas dos alunos. Suas 
atribuições foram regulamentadas pelo AR 640/87, no qual constavam: (a) recepcionar 
os calouros e identificar suas necessidades e expectativas; (b) identificar obstáculos da 
estrutura e funcionamento da instituição, informar aos órgãos competentes, solicitando e 
sugerindo mudanças; (c) programar canais de comunicação entre o corpo discente, 
docente, técnico-administrativo e a comunidade para favorecer o desenvolvimento de 
  7
ações integradas; (d) orientação profissional; (e) informação, orientação e apoio a 
grupos minoritários; (f) orientação e apoio aos alunos estrangeiros. A partir de 1990, o 
SOU passou a focar os seus trabalhos de modo que a atuação fosse preventiva, devendo 
identificar os obstáculos da estrutura acadêmica que dificultassem ou impedissem o 
desenvolvimento e acompanhamento acadêmico do aluno, informando-lhes sobre os 
órgãos competentes a tomar providências necessárias para resolução de problemas; com 
a AR 442/90 outros itens foram acrescentados no que se refere à atuação como 
orientação acadêmica do aluno, integração entre os coordenadores dos cursos e 
comissões de orientação para criar política conjunta de atendimento ao aluno, fazer 
encaminhamentos quando necessário. Atualmente, o SOU pertence à Diretoria de 
Acompanhamento e Integração Acadêmica (DAIA) que faz parte do Decanato de 
Graduação (DEG), na Universidade de Brasília (Corrêa, 2011). 
A Equipe 
A equipe é composta por sete psicólogos (entre eles, uma coordenadora), duas 
pedagogas, uma técnica em assuntos educacionais, duas estagiárias do curso de 
psicologia e uma estagiária do curso de pedagogia, no campus Darcy Ribeiro. Uma 
pedagoga e uma psicóloga no campus da Ceilândia. Uma pedagoga e uma psicóloga no 
campus do Gama. Um Psicólogo no campus de Planaltina. Totalizando em dez 
psicólogos, cinco pedagogos e três estagiários. 
Condições de Trabalho 
 Comparando entre os setores da UnB, alguns consideram que o espaço 
concedido para realização das atividades no campus Darcy Ribeiro é razoável, tendo em 
vista que possuem dois banheiros, duas salas de atendimento individual, um espaço com 
mesa para cinco computadores, geladeira, ventiladores, armário para arquivo e outro 
espaço de recepção. Entretanto, se comparado as condições ideais o espaço está muito 
aquém do esperado, as salas de atendimento individual não tem isolamento acústico, o 
espaço é pequeno e não comporta todos os membros da equipe, de forma que o trabalho 
é organizado em turnos, dois psicólogos e uma estagiária no diurno, duas psicólogas e 
uma estagiária no noturno. 
Organização do trabalho 
  8
 No campus Darcy Ribeiro, a equipe se divide da seguinte forma: dois psicólogos 
trabalham de 08 horas da manhã até as 12 horas, pausam para o almoço, e das 14 horas 
às 17h; a outra equipe entra às 15h30min horas e sai às 21h30min horas, contabilizando 
oito horas diárias e quarenta horas semanais. O SOU funciona de forma ininterrupta. O 
aluno interessado precisa ligar para marcar o atendimento individual ou comparecer ao 
local para uma conversa com os psicólogos presentes. No setor não pode ausentar o 
profissional,quando há algum evento na Universidade, que julgar importante a presença 
de algum profissional do SOU, a equipe faz revezamento para que todos possam 
participar. Existem núcleos temáticos de atuação, no qual cada um escolhe a área de 
mais afinidade para trabalhar e desenvolver projetos, são eles: a) formação de 
professores; b) orientação profissional; e c) acolhimento a diversidade. Esses núcleos 
temáticos surgiram de reuniões periódicas entre a equipe, chefia imediata e reuniões 
intersetoriais. O SOU também forma parcerias com outros setores quando é 
convocado. 
2. Atividade Prescrita do Psicólogo Escolar na UnB 
 O edital para provimentos de cargos para Psicólogo Escolar da Fundação 
Universidade de Brasília (FUB), nos anos de 2008 e 2009, utilizou como referência a 
CBO, para descrever as atividades dos servidores psicólogos escolares a serem 
efetivados, entretanto acrescentaram a atividade de assessorar nas atividades de ensino, 
pesquisa e extensão. O edital não pontua a diferença das atividades do psicólogo escolar 
e do psicólogo clínico apesar de serem cargos diferentes. Segundo a Classificação 
Brasileira de Profissões (CBO), a descrição sumária das atividades dos psicólogos 
escolares é estudar, pesquisar e avaliar o desenvolvimento emocional e os processos 
mentais e sociais de indivíduos, grupos e instituições, com a finalidade de análise, 
tratamento, orientação e educação; diagnosticar e avaliar distúrbios emocionais e 
mentais e de adaptação social, elucidando conflitos e questões e acompanhando o(s) 
paciente(s) durante o processo de tratamento ou cura; investigam os fatores 
inconscientes do comportamento individual e grupal, tornando-os conscientes; 
desenvolver pesquisas experimentais, teóricas e clínicas e coordenam equipes e 
atividades de área e afins. 
De acordo com o sítio da Universidade de Brasília, o SOU se propõem a orientar 
na transição do ensino médio para o superior, entre elas as de acolhimento e inserção do 
estudante na UnB e no próprio curso; 
  9
informar quanto às especificidades do curso como currículo, disciplinas, créditos, tempo 
de permanência para se formar em um dado curso, seus professores, outros setores de 
atendimento e apoio ao estudante na UnB, e, ainda, aquelas relativas à sistemática de 
avaliação adotada na graduação; fazer reflexões quanto aos vínculos e as relações 
interpessoais que são estabelecidas no decorrer da vida acadêmica; informar sobre 
normas e procedimentos vigentes na graduação e solicitações delas decorrentes 
(trancamentos de matrícula, mudança de curso, aproveitamento de créditos, 
transferência, dupla opção, mínimo de créditos do curso por semestre, tempo máximo 
de permanência, situação de risco de desligamento, desligamento, reintegração), e dar 
encaminhamentos; fazer ponte entre a instituição e o aluno, no que se refere à 
participação em atividades complementares à formação Acadêmica: estágios, bolsas de 
graduação, mobilidade acadêmica, intercâmbios, monitoria, tutorias, culturais, entre 
outras; orientar os estudantes nos estudos, por exemplo, o desempenho acadêmico, a 
elaboração do plano de estudos que contemple as horas extras de estudo nas disciplinas 
- com o apoio para o desenvolvimento de novas estratégias de estudos, adequadas às 
exigências e realidade do ensino superior; 
 o acompanhamento individual em momentos de decisões importantes da vida 
universitária, entre elas as relativas ao acompanhamento e à permanência no curso, à 
própria escolha do curso, à formatura, ao início da vida profissional; 
O acompanhamento aos estudantes com necessidades especiais juntamente com o 
PPNE, o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UnB; o SOU 
propõem reflexões acerca dos direitos e dos deveres no contexto universitário; bem 
como orientar em situações de ordem pessoal e familiar que possam interferir nos 
estudos (problemas de saúde pessoal ou na família, saída da casa dos pais, mudança de 
cidade, de país, problemas de ordem financeira e de apoio familiar, envolvimento com 
drogas lícitas e ilícitas); situações dos estudantes trabalhadores e dos estudantes pai e 
mãe, os estudantes cuidadores; situações outras que possam interferir no 
acompanhamento regular dos estudos e aproveitamento acadêmico; entre outras. 
3. Atividade Real do Psicólogo Escolar na UnB 
 Prevalecem os atendimentos individuais, entretanto a equipe participa de grupos 
de trabalhos intersetoriais, como suplentes em comissões e colegiados no que tange as 
decisões referentes a alunos de graduação. São raros os atendimentos aos professores e 
coordenadores de curso, mas esses, no geral, comparecem para tirar dúvidas com o 
  10
objetivo de orientar seus alunos. No início de cada semestre são convocados para 
recepcionar os calouros e ambienta-los na vida acadêmica. São chamados para explicar 
os direitos e deveres do universitário, bem como as regras de desligamento e 
reintegração à universidade. 
Foi consenso entre o grupo que ao chegar à UnB, mesmo com todas as normas 
prescritas, as atividades a serem executadas não eram muito claras. Alguns apontaram 
falhas no que tange a ambientação do servidor em termos de estrutura organizacional, 
serviços prestados pela universidade e a diferenciação de atividades, como 
exemplificam as falas: 
“Olha quando eu cheguei, eu esperava encontrar tudo 
pronto, o que eu tinha que fazer, eu chegaria e cumpria tudo 
o que me seria demandado... quando eu cheguei, o meu 
chefe na época não fazia parte da psicologia, ele era um 
engenheiro, então ele me foi passando algumas demandas de 
trabalho dele que era nada menos que elaborar o plano 
político pedagógico do curso de engenharia, e eu não sabia 
como fazer, eu tinha especialização na área clínica, não 
sabia nada de escolar, com o tempo eu fui estudar e percebi 
o quão absurdo era aquela demanda.. A primeira impressão 
foi bem assustadora, fiquei assim sem chão. Com o tempo fui 
percebendo que a gente não tinha um trabalho fixo, não 
tinha uma definição ora a gente fazia atendimentos com os 
alunos, ora um trabalho em equipe” (M2) 
“Os cargos de psicólogos, pedagogos e técnicos em assuntos 
educacionais são a mesma coisa ou se complementam? Se 
não sabemos, não temos regras, cada um decide por si só o 
que fazer e vai associando o serviço a várias funções, vários 
trabalhos sem nenhuma reflexão crítica? Precisamos definir 
as atividades e competências do serviço e dentro disso como 
será a participação de cada profissional do SOU” (M1) 
 
  11
“Eu diria que o nosso trabalho é algo muito novo, não existe 
um padrão, ainda está sendo construído e mistura muita 
coisa como psicologia escolar, clínica, psicologia do 
trabalho e assim vai. Eu trabalho com outros setores da 
UnB, na verdade, grupos de trabalho como a INT, que é a 
assessoria internacional, voltado para o atendimento desses 
alunos também, junto com as reuniões de trabalho do 
PROMISAES, que é uma bolsa que o Brasil fornece aos 
melhores alunos (estrangeiros), tem uma série de critérios 
para isso e eu participo dessa comissão que avalia isso. Um 
GT que reúne periodicamente, que é responsável por 
quantificar esses alunos, criar metodologias para avaliar, 
julgar cada caso junto ao MEC.” (H1) 
 Em todas as atividades acima mencionadas, os psicólogos aprendem na sua 
realidade prática, com a interação com o ambiente de trabalho. As resoluções existentes 
na UnB não falam especificamente como o psicólogo escolar deva atuar, no geral, ele 
fica com atribuições mais burocráticas, participando de Grupos de Trabalho, 
elaborando planilhas estatísticas de atendimentos por semestre, além dos atendimentos 
aos alunos em situação de risco acadêmico, que, aliás, o orientador pedagogo também 
realiza essa atividade. O que gera muita preocupação, clima de insegurança e 
ansiedade, principalmente em termos éticos sobre o compartilhamento de informações 
sobreo aluno, exposto no atendimento individual, como exemplifica a fala de M1 e H1: 
“Eu fico preocupada e penso que deveríamos ter um sistema 
integrado intracampos com acesso restrito no que se refere 
aos registros de atendimento e geração de relatório, se a 
gente pensar nos computadores do SOU partilhados em 
rede, devemos verificar no CRP como devem ser feitos esses 
registros e compartilhamento dos mesmos numa equipe 
interdisciplinar” (M1). 
“Algumas informações aqui eu não passo, só para nossa 
coordenadora que é psicóloga, mas tem questões que 
devemos manter sigilo e simplesmente não dá para fornecer 
  12
a outros profissionais. Eu sempre guardo comigo os meus 
relatórios. Procuro me resguardar. Se o CRP vier aqui eu 
nem sei.” (H1) 
 
 
4. Custo Humano do Trabalho (CH) e Estratégias de Mediação Individual e 
Coletiva (EMC ) 
 O que foi observado em relação ao custo humano do trabalho no SOU é que as 
atividades desempenhadas geram descontentamento por parte dos psicólogos, pois a 
forma como o trabalho é estruturado e os valores da Psicologia Escolar enquanto área 
de atuação parece haver uma contradição. O que se pode perceber é que a dimensão 
afetiva e cognitiva do psicólogo que atua no SOU é o que mais demanda custo humano 
para o desempenho de tais atividades. Segue a fala de M1: 
“No SOU, apresenta muitas dificuldades... e possibilidades 
também, é difícil encontrar e entender brechas em um cargo 
institucionalizado, nessa estrutura controladora, 
burocratizada, demasiadamente hierarquizada, de 
repetição e reprodução para provocar mudanças, 
potencializar instâncias produtivas não institucionalizadas. 
Enfim muitas vezes é necessário ser clandestino e 
infiltrado” (M1). 
 Esse agir “clandestino” e “infiltrado” é uma estratégia utilizada 
por eles para diminuir esse mal-estar. 
 “O que é a universidade? É uma instituição educativa? O 
conhecimento é transmitido, reproduzido, é construído? O 
que percebemos é uma lógica do capitalismo que acaba por 
afetar as relações, as atividades e a postura da 
universidade. Quem sabe mais é quem produz mais e, 
portanto é mais valorizado, a exemplo temos a CAPES, 
como conseqüência, temos a especialização dos saberes e 
  13
divisão social do trabalho. De algum modo a universidade 
está mantendo o status quo a medida que não discutimos 
sobre nós mesmos e apenas construímos conhecimentos 
para os outros, para fora. O que se percebe é uma 
dualização entre a teoria e a prática. Entendo minha 
função aqui relacionada a própria história da UnB, com o 
seu ideal”... “Temos necessidade de projetar nossa 
atuação, criar utopias ligadas a utopias maiores de 
educação e universidade e sociedade, utopia essa que não 
advém de uma inovação, mas talvez do resgate do antigo, 
do ancestral” (M1). 
 Na fala supracitada, percebe-se um forte teor político no que se refere à atuação 
do psicólogo escolar, mas ao ver da psicóloga, existe uma grande contradição da 
universidade no que se refere às práticas cotidianas, uma distância entre teoria e prática 
como bem relatou. 
 Em contrapartida, a resolução dos problemas dos alunos e o reconhecimento dos 
mesmos e dos pares pelo desempenho, bem como o contato com esses estudantes na 
recepção dos calouros é fator de bem-estar para os psicólogos do SOU. Segue a fala de 
M2 que expressa bastante satisfação em realizar o seu trabalho: 
“Eu acho gratificante quando você pode ajudar a pessoa, 
quando você ver uma situação que você recebeu e chegar 
ao fim daquela situação, resolveu e a pessoa ficou bem, isso 
daí não tem preço. È o que reacende as nossas esperanças, 
expectativas, faz a gente sair de um dia aborrecido e triste e 
ficar muito feliz porque o aluno realmente resolveu o seu 
problema que tava incomodando muito. Acompanhar esse 
processo de uma situação muito ruim, muito problemática, 
e ver aos poucos tudo sendo resolvido, de repente encontrar 
uma solução que eles também trazem, que ele foi 
construindo. Isso realmente é gratificante”. (M2) 
 
  14
CONCLUSÃO 
A insegurança diante de atividades não muito claras ou demandas muito 
discrepantes da realidade do psicólogo escolar; o descontentamento por não atuar como 
acredita que poderia, faz com que o psicólogo escolar na UnB tenha um alto custo 
humano ao realizar o seu trabalho, principalmente no que se refere à dimensão afetiva. 
A “dor” por não realizar seu papel de forma plena e ver tão de perto, nas relações 
cotidianas, o quanto na universidade existem processos de ação contraditórios e 
excludentes; o sentimento de que poderia ser mais aproveitado no seu trabalho, de que 
existe a capacidade de um engajamento político e compromissado com a cidadania, mas 
que, no entanto esse potencial é pouco explorado, esses fatores geram mal-estar. Por 
outro lado, a “delícia” de se ter uma postura ativa, e a possibilidade, ainda que pequena, 
de gerar demandas e não só esperar por elas tem sido a bandeira de alguns profissionais 
no SOU. A alegria de resolver um problema e o reconhecimento por parte dos pares e 
dos alunos; um pequeno movimento de contestação e reflexão que geram mudanças 
positivas são fatores que geram bem-estar e mantém um sentimento de esperança no 
grupo. Muitas são as estratégias desenvolvidas por eles para contornar as situações-
problema do seu dia-a-dia, desde a criação de projetos que abrem espaços para a 
cidadania, responsabilidade social e compromisso para uma universidade mais 
acolhedora. 
 O psicólogo é aquele que toma decisões sobre as melhores formas de agir no seu 
cotidiano, faz gestão das exigências não se submetendo passivamente sobre elas. Cabe 
a esse profissional construir, juntamente com a equipe/instituição, valores e modos de 
atuar, conhecer e discutir as concepções e expectativas, desconstruir representações 
sociais de uma atuação clínica na escola, em situações de não-adaptação do aluno e 
problemas de aprendizagem. 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (2011). Concurso FUB 2009. Disponível 
em 
http://www.cespe.unb.br/concursos/FUB2009/arquivos/ED_1_2009_FUB_ABERTUR
A_FINAL2.PDF. Acessado em 05/05/2011. 
 
  15
Corrêa, J. R. A. N. (2011). Psicologia escolar e educação superior: investigação em uma 
faculdade de engenharia. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília. Brasília. 
Ferreira, M. C. (2002). O sujeito forja o ambiente, o ambiente “forja” o sujeito: inter-
relação indivíduo-ambiente em Ergonomia da Atividade. In: FERREIRA, M. C.; 
ROSSO, S. D. (Orgs.). A regulação social do trabalho. Brasília: Paralelo 15, 2003. p. 
21-46. Brasília. 
Ferreira, M. C. (2004). Bem-estar: equilíbrio entre a Cultura do Trabalho Prescrito e a 
Cultura do Trabalho Real. In: A. Tamayo (org.) Cultura e Saúde nas Organizações. Ed. 
Artimed, pp 181-207. São Paulo, SP. 
Ferreira, M. C. (2008). A ergonomia da atividade se interessa pela qualidade de vida no 
trabalho?: Reflexões empíricas e teóricas. Cad. psicol. soc. trab., São Paulo, v. 11, 
n.1, jun.2008.Disponível em 
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
37172008000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 11 maio 2011. 
Ministério do Trabalho (2011). Classificação Brasileira de Profissões. Disponível em 
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf. 
Acessado em 05/05/2011. 
Serpa, M.N. F. & Santos, A.A.A. (2001). Atuação no Ensino Superior: um novo campo 
para o psicólogo escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 2001 Volume 5 Número 1 
27-35 . 
 
Universidade de Brasília (2011). Serviço de Orientação ao Universitário. Disponível 
em: http://www.unb.br/administracao/diretorias/daia/sou.htm. Acessado em 05/05/2011. 
Universidade de Brasília (2011). Disponível em: http://www.unb.br/sobre . Acessado em 
05/5/2011.

Outros materiais