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1 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 TROMBO EMBOLISMO PULMONAR Tromboembolismo pulmonar é uma síndrome clinica caracterizada pela obstrução de vasos da circulação arterial pulmonar causada pela impactação de partículas – formadas por qualquer material insolúvel (sólido, liquido ou gasoso), cujo diâmetro seja maior do que o vaso acometido. Na pratica, a maioria dos casos de Tromboembolismo Pulmonar (TEP) são complicações de uma Trombose Venosa Profunda (TVP) de MMII. Nessa topografia, a TVP com maior risco de embolia significativa é a ílio-femoral (50% cursam com TEP), ao passo que o risco de TEP com manifestações clínicas na TVP de panturrilha é considerado extremamente baixa (visto que esses êmbolos são muito pequenos). AS outras causas menos comuns de EP são: bolhas de gás (descuido da manipulação de equipos), corpos estranhos, gotículas de gordura, liquido amniótico, células neoplásicas e êmbolos sépticos. Portanto, em todo paciente com fatores de risco que apresente qualquer alteração cardiorrespiratória aguda, devemos pensar em TEP. EPIDEMIOLOGIA A TEP apresenta elevada prevalência e uma alta taxa de mortalidade, motivo que legitima o início da terapêutica quando existe um elevado grau de suspeita. Além disso, a incidência da TEP aumenta com a idade, principalmente em mulheres A TEP é a principal complicação pulmonar aguda em paciente hospitalizados. No entanto, a mortalidade do TEP é subestimada, uma vez que a maioria das mortes por TEP ocorrem sem diagnostico, sendo descoberto apenas com os estudos post mortem. FATORES DE RISCO Os fatores de risco são todos aqueles relacionados com a ocorrência de trombose, que nada mais é do que a Tríade de Virchow: estase venosa, hipercoagubilidade e lesão endotelial. Qualquer situação que envolva um desses 3 elementos da tríade aumenta a chance de ocorrência do tromboembolismo pulmonar. Pacientes com TEP prévio, principalmente de causa idiopática ou associada a fatores permanentes como paraplegia tem uma taxa de recorrência de até 30% nos próximos 10 anos. O tabagismo potencializa o risco oferecido por outras condições. Ex: mulheres tabagistas em uso de ACO aumenta em quase 9x o risco de TEP. Tromboembolismo pulmonar 2 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 A frequência de grandes traumas relacionados a ocorrência de TVP e TEP é altíssima, explicado pela estase devido a imobilização, a lesão endotelial causado pelo próprio trauma e a hipercoagubilidade devido a uma resposta inflamatória sistêmica. Pacientes com outros fatores de risco (obesidade, tabagismo, trombofilias) são propensos a desenvolver TVP após viagens prolongadas, geralmente superiores a 8h, devido a imobilização. A TEP ocorre em cerca de 1 a cada 500 gestações, sendo mais comum no puerpério. O risco é ainda maior em pacientes submetidas a cesariana, devido ao maior período de restrição no leito. Seus fatores causais são: estase – compressão da veia cava inferior pelo útero gravídico; lesão endotelial – traumatismo da superfície uteroplacentária durante o parto e hipercoagubilidade devido ao aumento de alguns fatores. O uso de ACO leva a uma hipercoagubilidade em resposta natural ao excesso de hormônios femininos. FISIOPATOLOGIA A patogênese da TEP envolve os fatores que predispõe à ocorrência de trombose venosa profunda, ou seja, os elementos da tríade de Virchow e migração dos êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos, há formação de trombos nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo- femoral, que se movimentam em direção à circulação pulmonar, ocluindo vasos arteriais pulmonares. Os trombos podem também ter sido originados em membros superiores, entretanto é mais raro. O trombo ascende dos MMII pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré-carga e a liberação de mediadores inflamatórios, como o tromboxano que age promovendo a vasoconstricção e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantem o devido cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência, as fibras cardíacas podem se esgarçar levando a dilatação da câmera direita que pode deslocar o septo interventricular (visualizado no eco). Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar. Isso se relaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração da relação ventilação/perfusão (V/Q), que contribui para o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia, hipoxemia e alcalose respiratória. CLASSIFICAÇÃO REPERCUSSÃO HEMODINÂMICA TEP maciço ou de alto risco: apresenta instabilidade hemodinâmica com pressão sistólica <90mmHg ou queda de PAS em mais de 40mmHg em um intervalo de 40 minutos. Esses pacientes apresentam altas taxas de mortalidades nas primeiras 72 horas e precisam ser trombolizadas. TEP submaciço: paciente está estável, porem apresenta disfunções miocárdicas no eco ou eletro, como sobrecarga de VD. TEP não maciço ou de baixo risco: paciente estável e sem alterações miocárdicas. LOCAL DE OBSTRUÇÃO 3 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 Obstrução na bifurcação das artérias pulmonares principais (esquerda ou direita) são classificadas como TEP em sela. Além disso, pode ser classificada como TEP lobar, segmentar ou subsegmentar a depender de quão grande é a área de irrigação da artéria obstruída. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O sintoma mais prevalente nos pacientes com TEP é a dispneia, seguida pela dor torácica de caráter pleurítico e tosse, que pode ser seca ou hemoptoica. Alterações hemodinâmicas como hipotensão e até mesmo choque obstrutivo são observados nos pacientes com TEP de alto risco. Os sinais que estão presente nos pacientes com TEP são: Taquicardia (visto no ECG na forma sinusal) Taquipneia Sinais de instabilidade (hipotensão/ PAS <90) Distensão jugular Hiperfonese de B2 na ausculta (sugere existência de hipertensão pulmonar) Sibilos na ausculta respiratória Murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência de atelectasias) Sinais de TVP como edema assimétrico em MMII que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor. DIAGNÓSTICO Em decorrência da inespecificidade do quadro clinico são necessários exames complementares para fechar o diagnóstico de TEP. Para facilitar na propedêutica utilizamos pré-testes diagnósticos par determinar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação. Estudos nos respalda quanto a iniciar o tratamento (anticoagulação) em casos de alta probabilidade em que o resultado dos exames complementares postergaria a terapêutica. O escore mais amplamente usado é o Escore de Wells: Portanto, em um paciente em que a probabilidade seja moderada/alta e você está com aquela “pulga atrás da orelha”, não tenha dúvida e peca exame de imagem na hora. E se não houver contraindicação já comece a anticoagular o doente. EXAMES COMPLEMENTARES 1. RX DE TÓRAX Até pouco tempo acreditava-se que o achado radiográfico mais comum o TEP fosse um exame normal. No entanto, alguns estudos demonstraram que a maioria dos casos evolui com: cardiomegalia, atelectasia, derrame pleural, infiltrados no parênquima. Porem esses achadossão bastante inespecíficos e são vistos com frequência em outras doenças. 4 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 Entretanto, existem duas situações onde o raio x reforça a hipótese de TEP: (1) Paciente com fatores de risco e início súbito de dispneia, cujo exame é normal. (2) Presença de sinais clássicos de TEP Os sinais clássicos de TEP são raramente encontrados, e, portanto, são muito pouco sensíveis. 1. ECG O ECG vai ser útil para afastar a possibilidade de um IAM. A alteração mais comum, porém, bastante inespecífica é a taquicardia sinusal, além de anormalidade de ST. O padrão S1Q3T3 é altamente sugestivo de sobrecarga de câmara direita. 2. GASOMETRIA ARTERIAL A maioria dos pacientes com embolia para os pulmões apresenta hipoxemia no sangue arterial, bem como hipocapnia (alcalose respiratória pela taquipneia). No entanto é comum que pacientes jovens com boa reserva cardiopulmonar não apresente alterações na gasometria. No TEP maciço, com choque cardiogênico, é comum encontrarmos acidose mista (respiratória + lática, por causa do choque). 3. ECOCARDIOGRAMA A disfunção de VD no ecocardiograma é um marcador de mau prognóstico. Já o eco-transesofágico pode ser usado para demonstrar a presença de trombos tanto no tronco quanto nos principais ramos da artéria pulmonar. Sinais típicos de sobrecarga aguda do VD como dilatação de sua cavidade (com paredes finas), hipocinesia e regurgitação tricúspide são observados em cerca de 30-40% dos casos, sendo ainda mais frequentes no TEP maciço. 4. D-DÍMERO O D-dímero é um produto de degradação da fibrina (gerado pela atividade fibrinolítica endógena) que se eleva em todas as vezes que houver um trombo no interior do organismo. Porem devido ao seu valor preditivo negativo, ele não é utilizado como diagnóstico, mas ajuda na exclusão de diagnósticos diferenciais. 5. CINTILOGRAFIA O exame consiste na inalação de albumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. 5 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 O exame compara a perfusão com a inalação: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar em diagnóstico de TEP. 6. ANGIOTOMOGRAFIA DE TÓRAX É considerado o exame padrão- ouro. Apresenta como vantagens ser um exame não invasivo, acessível, com aquisição rápida de imagens, avaliando a presença de TEP com alta sensibilidade e especificidade. Permite também avaliar o parênquima pulmonar, pleura e mediastino. 7. ARTERIOGRAFIA PULMONAR É um exame invasivo considerado padrão ouro para o diagnóstico de TEP. O uso do contraste iodado permite avaliar a circulação pulmonar. Esse exame vai ser reservado aos casos em que outros métodos não confirmem a TEP e a suspeita clinica permanece. 8. USG DE MMII COM DOPPLER Exame pouco invasivo que demonstra sinais diretos e indiretos de trombo. Pode ser usado quando há contraindicação a angio TC. TRATAMENTO ANTICOAGULAÇÃO Os anticoagulantes não degradam os trombos já formados, na verdade eles atuam impedindo a formação de novos trombos. Ou seja, eles evitam a recorrência do tromboembolismo pulmonar. Portanto, anticoagular é a base do tratamento da TEP. Devemos alcançar o estado de anticoagulação dentro das primeiras 24 horas de terapia. Na TEP é recomendável que o paciente evite a deambulação até estar plenamente anticoagulado. 1. HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR Possuem efeito rápido e menor risco de sangramento e plaquetopenia em relação à HNF. Não é necessário acompanhamento por exames complementares para avaliar sua atividade anticoagulante. Esta medicação deve ser contraindicada ou ajustada em pacientes com disfunção renal grave, já que sua excreção é renal. A Enoxaparina é a droga de escolha em pacientes com câncer e TEP. A grande desvantagem em relação a HNF é que a sua meia vida é maior e com isso a reversão do efeito anticoagulante demora mais. Além disso, o antidoto das heparinas neutraliza o HBPM mais lentamente. 6 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 2. HEPARINA NÃO FRACIONADA A HNF é o anticoagulante de escolha para tratar os pacientes com TEP que apresentem instabilidade hemodinâmica. A HNF deve ser feita em bomba infusora, ajustando-se a taxa de infusão continua de acordo com o tempo de tromboplastina parcial ativada (PTTa). A necessidade de monitorização laboratorial vem do fato de que a HNF se liga de maneira variável a uma serie de moléculas no organismo, o que costuma ser bastante imprevisível. Uma das complicações mais temidas é a trombocitopenia induzida por heparina, que costuma surgir a partir do 5 dia. 3. FONDAPARINUX É um inibidor do fator Xa. Suas principais vantagens são: possui efeito rápido e agudo; é utilizado em pacientes com trombocitopenia induzida por heparina; uso subcutâneo; não precisa de monitorização laboratorial. É contraindicado em casos de disfunção renal. Entretanto, não existe antidoto contra essa droga. 4. CUMARÍNICOS Ex: Marevan (varfarina sódica); É uma das drogas mais utilizadas para anticoagulação dos pacientes após alta hospitalar, no entanto, não pode ser utilizado isoladamente no paciente admitido com TEP, uma vez que os inibidores da vitamina K (como a varfarina) apresenta um efeito pró-trombótico paradoxal, devendo ser combinado ao uso de HNF ou Enoxaparina até atingir os níveis de RNI adequados (2-3) Assim é utilizado como ponte terapêutica, já que seu efeito demora cerca de 3 a 5 dias. Pacientes que desenvolveram um primeiro episódio de TEP na vigência de fatores de risco transitório o tempo de anticoagulação é de 3 a 6 meses. Já em pacientes com TEP idiopático ou TEP recorrente, devem receber anticoagulação de 6 a 12 meses. 5. OS NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS Além do uso oral, outras vantagens são: (1) uso de doses fixas; (2) anticoagulação plena logo após a primeira tomada; (3) não é necessária monitoração laboratorial; (4) não possuem tantas interações medicamentosas como o warfarin. Dividem-se em dois grupos principais: inibidores diretos do fator Xa (rivaroxaban, apixaban e edoxaban) e inibidores diretos da trombina (dabigatran). No entanto, até o momento, apenas o rivaroxaban foi aprovado pelo FDA TROMBOLÍTICOS Os trombolíticos reduzem de maneira efetiva a quantidade, ou melhor dizendo, a “carga” de trombos formados. A uroquinase, a estreptoquinase e o t-PA estão liberadas para uso. Estas drogas atuam ativando o plasminogênio tecidual. Devemos ter em mente que os trombolíticos só podem ser administrados uma vez confirmado o diagnóstico de TEP. A única indicação absoluta para o uso de trombolíticos no TEP é presença de instabilidade hemodinâmica. 7 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 A heparina deve ser suspensa até o término da infusão do trombolítico. Após isso, se o PTT for inferior a duas vezes o limite superior da normalidade, a heparina pode ser reiniciada sem dose de ataque. FILTRO DE VEIA CAVA INFERIOR Caso haja contraindicação ao uso de anticoagulante ou reincidência de quadros de tromboembolismo pulmonar em pacientes anticoagulados corretamente a opção é a utilização do filtro de veia cava inferior. Caso o paciente necessite de uma cirurgia e está anticoagulado, também está indicado a utilização do filtro de VCI. PROFILAXIA Todos os pacientes com risco moderado ou alto devem receber alguma forma de profilaxia FARMACOLÓGICA, a não ser que existam contraindicações. A estratégia de primeira escolha na atualidade consiste no uso de heparina de baixo peso molecular (ex.: enoxaparina 40 mg SC 1x dia). A duração da profilaxia deve acompanhar a duração dos fatores de risco ou da internação.... Cumpre ressaltar que certos pacientes cirúrgicos de ALTO RISCO devem continuar recebendo a profilaxia farmacológica em casa, mantendo-a por ummês após a alta hospitalar, devido ao risco comprovadamente alto de desenvolver TEV neste período... Estes são: Artroplastia total de quadril; Osteossíntese de fratura de quadril; Ressecção de câncer abdominal ou pélvico
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