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Beneficiamento do Leite Fluido Introdução O leite a ser consumido na forma fluida é classificado de acordo com o tratamento térmico a que ele é submetido: - leite pasteurizado - leite UHT Leite pasteurizado Por definição, é o leite fluido, elaborado a partir de leite cru refrigerado na propriedade rural e submetido a tratamento térmico de pasteurização, envasado automaticamente em circuito fechado, armazenado sob refrigeração e destinado ao consumo humano direto. A pasteurização é um tratamento térmico que tem como objetivo reduzir o número de microrganismos deterioradores e patogênicos, se estiverem presentes, ao nível que o consumo do produto não configure risco para a saúde do consumidor. Na elaboração do leite pasteurizado fluido, é utilizado o processo HTST, que, traduzido para o portugues, quer dizer alta temperatura por curto tempo. Nessa condição, o produto é aquecido em um trocador de calor e então é posteriormente mantido em um tubo de retenção pelo tempo necessário para atingir a pasteurização. Industrialmente, é utilizado o binômio tempo/temperatura de 72ºC a 75ªC por 15 segundos. De fato, o binômio tempo/temperatura para pasteurização de leite determinado cientificamente é 71,8ºC por 15 segundos, chamado de processo contínuo. Esse binômio foi determinado quando se atingiu a redução de 5 ciclos logarítmicos da Coxiella burnetii no leite cru. Então, esse é o microrganismo alvo da pasteurização. É o microrganismo patogênico não esporulante mais resistente ao calor que pode estar presente no leite. É utilizado a temperatura de 72ºC a 75ºC por 15 segundos, para aumentar a segurança do procedimento, considerando a possibilidade de haver alguma pequena falha no equipamento. O leite pasteurizado deve ser armazenado sob refrigeração. Isso tem relação direta com o grau de eliminação de microrganismos, em especial de microrganismos deteriorantes. E, mesmo sob refrigeração, esse produto apresenta uma curta vida de prateleira (3 a 5 dias). Leite esterilizado em embalagem O processo é feito em batelada ou descontínuo. O leite é envasado em latas (outros materiais podem ser utilizados, mas o mais propício são as latas). O leite é mantido a 106ºC por 20 minutos e só depois é resfriado, por isso ele apresenta mais alterações que o leite UHT. Leite esterilizado UHT (Longa Vida) É definido como um leite homogeneizado, submetido a tratamento térmico (normalmente de 120ºC a 130ºC por 2 a 4 segundos), em fluxo contínuo, imediatamente resfriado em uma temperatura inferior a 32ºC e envasado sob condições assépticas em embalagens hermeticamente fechadas. Diferente do leite pasteurizado, o leite UHT é armazenado e comercializado em temperatura ambiente, e isso ocorre porque as condições de processamento garantem que os microrganismos que são capazes de se desenvolver nessa condição de temperatura ambiental são destruídos. O tratamento térmico pode ser feito por sistema direto ou indireto. No sistema direto, o leite entra em contato diretamente com a fonte de calor, ou seja, o leite e o valor são misturados, e por isso o vapor deve ser estéril. No sistema indireto, são utilizados trocadores de calor. O tratamento térmico UHT tem como objetivo a aplicação de binômio tempo/temperatura necessário para obter um produto comercialmente estéril. São ainda projetados para resultar, preferencialmente, em redução de 12 logs de esporos de Bacillus subtilis ou 8 esporos de Bacillus stearothermophilus. Nesse sentido, o que se objetiva com o tratamento UHT é a ausência de microrganismos viáveis e também os seus esporos capazes de se desenvolver e multiplicar nas condições de armazenamento do produto final. Por isso é considerado que esse leite atinge a esterilidade comercial. Os tratamentos térmicos que são aplicados na produção dos mais diversos produtos lácteos podem apresentar objetivos diferentes, sendo a escolha do binômio tempo/temperatura dependente dos objetivos que se deseja atingir. Considerando o objetivo de produzir leite fluido (de consumo) o tratamento térmico de pasteurização e UHT tem como objetivo principal garantir a segurança do consumidor e a conservação do produto, através da eliminação de microrganismos patogênicos e deterioradores, além da inativação de enzimas endógenas. Alterações causadas pelo calor Porém, quando o leite é submetido a algum tratamento térmico, algumas alterações importantes podem ocorrer nos diferentes constituintes do leite e algumas dessas alterações podem ser indesejáveis. Algumas das alterações que podem ocorrer podem ser alterações mais ou menos intensas, dependendo do tratamento térmico aplicado e essas alterações podem ser reversíveis ou não (a maior parte é irreversível). Algumas alterações causadas pelo calor que podem ter influência nas características do leite fluido: - desnaturação de algumas proteínas séricas, o que as torna insolúveis - pode influenciar na textura do produto - exposição de grupos sulfidrílicos, que podem se decompor com formação de compostos com sabor de cozido - reação entre proteínas e lactose (reação de Maillard) - pode envolver perda nutricional, em função da redução de lisina, e também pode causar alteração da cor do produto (leve escurecimento) - algumas vitaminas são termosensíveis, como é o caso da tiamina e vitamina C, podendo ser degradadas pelo calor - diminuição do valor nutricional Processo produtivo do leite pasteurizado Filtração: consiste em fazer o leite passar por um filtro de linha (filtro acoplado à linha de processamento), para a retirada de impurezas maiores. O filtro é de aço inoxidável, que possui uma malha com orifícios em um diâmetro que consegue reter as impurezas. Esse filtro deve ser limpo periodicamente, a frequência de limpeza depende do fluxo de produção, mas normalmente é entre 2 a 10 horas de funcionamento do equipamento. Centrifugação: é realizada com o objetivo de separar os constituintes em função da diferença de densidade. As centrífugas podem ser utilizadas para diferentes objetivos, como desnate ou padronização do teor de gordura, clarificação do leite e também para bactofugação. No desnate, o objetivo é a separação do creme de leite do restante do leite. Quando o objetivo é a padronização do teor de gordura, é utilizada uma centrífuga padronizadora, que separa o creme de leite do leite e depois retorna parte do creme de leite, possibilitando a fixação de um teor de gordura do leite fluido. Na clarificação, a centrífuga pode ser uma padronizadora ou não, mas ela deve realizar a separação de partículas mais densas, que ficam retidas na parte inferior do equipamento (essas partículas podem ser sujidades que não ficaram retidas na filtração). Homogeneização: é feita com o objetivo de reduzir o tamanho dos glóbulos de gordura, para evitar a separação de fases durante o armazenamento. O leite é forçado a passar por um orifício em alta pressão, o que faz com que ele se choque na parede do equipamento. Isso força um fenômeno físico chamado cavitação, que faz com que os glóbulos de gordura se rompam, diminuindo seus tamanhos. Tratamento térmico e resfriamento: quando falamos de tratamento térmico, precisamos falar de trocadores de calor, que são equipamentos utilizados para realizar a troca de calor entre dois fluidos que apresentam temperaturas diferentes. É muito comum a utilização de trocadores de calor a placas na produção de leite pasteurizado. Nesse tipo de equipamento, ocorre um aquecimento indireto, porque o leite circula de um lado da placa e o meio de aquecimento circula do outro lado da placa (não há contato direto entre o leite e o meio de aquecimento). Nesse sistema de aquecimento ocorre a transferência de calor por condução ou por convecção. Dentro desse equipamento, não acontece apenas a etapa de tratamento térmico, mas também a etapa de resfriamento. O trocador de calor é dividido nas seguintes seções: 1- seção de regeneração, 2- seção de aquecimento e 3- seção de resfriamento, além do tubo de retenção. Na primeira seção, o leite que está entrando no sistema troca calorcom o leite aquecido que está saindo do sistema. Na sequência, o leite é enviado para a seção de aquecimento, onde é aquecido até a temperatura de pasteurização, e esse aquecimento se dá por troca de calor com água quente que passa do outro lado da placa. Depois o leite é transferido para o tubo de retenção, que é dimensionado para que o leite permaneça dentro dele pelo tempo necessário para se atingir a pasteurização. Em seguida, o leite retorna à seção de regeneração, para trocar calor com o leite que está entrando e depois vai para a seção de resfriamento, onde troca calor com água fria e é resfriado até 5ºC. Se, após passar pelo tubo de retenção, for identificado que o leite está abaixo da temperatura de pasteurização, ele é direcionado novamente ao início do sistema (tanque de equilíbrio, onde ele se mistura com o leite cru que está entrando e passa novamente por todo o sistema). Envase: nessa etapa o leite é acondicionado em embalagem própria, que deve ser sanitizada no equipamento de envase. Em seguida, o leite é armazenado em câmara fria, com temperatura de 5ºC, até a comercialização. Obs: na pasteurização, a peroxidase deve estar positiva pois o aquecimento do leite não deve chegar à temperatura necessária para inativar essa enzima. A fosfatase alcalina deve estar negativa. Processo produtivo do leite UHT Método indireto A homogeneização ocorre antes do tratamento térmico pois, para que fosse feita depois, o aparelho homogeneizador teria que ser asséptico. O sistema utilizado para tratamento térmico é tubular, onde o vapor e o leite não entram em contato um com o outro. Método direto Normalmente, nesse método, a homogeneização é feita após o tratamento térmico. A homogeneização feita após o tratamento térmico ajuda a desfazer alguns aglomerados de proteínas que podem se formar durante o tratamento térmico. O tratamento térmico pode ser feito por infusão ou infusão de vapor. Envase asséptico É importante garantir que o ambiente do equipamento seja asséptico, pois o leite nesse caso é considerado em estado de esterilidade comercial. A embalagem é formada por diversas camadas de diferentes materiais, o que confere segurança de que o leite não vai entrar em contato com o ambiente externo. É por isso que a validade desse leite é maior e pode ser armazenado em temperatura ambiente. Obs: no leite UHT tanto a peroxidase quanto a fosfatase alcalina devem estar negativas. O leite UHT não possui conservantes. Os estabilizantes que constam na lista de ingredientes do leite UHT possuem a função de manter o equilíbrio dos íons de cálcio, para que não haja instabilidade das micelas de caseínas (isso é necessário pois o tratamento térmico causa certa instabilidade no leite).
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