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MEDINA - Revolução Mexicana

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Historiadores divergem quando se fala da periodização da Revolução Mexicana. A grande maioria considera que transcorreu entre 1910 – 1920, mas alguns consideram que o fim da revolução veio com a proclamação da constituição em 1917, enquanto para outros a morte de Zapata é o fim desse marco temporal. Começamos por um primeiro momento estabelecendo uma breve cronologia que será utilizada como uma ferramenta. 
Diferentes grupos sociais lutam isolados, mas se somava, entrelaçando esses movimentos sociais e dando um novo perfil a essas lutas. Os camponeses na sua disputa por terras; o movimento operário reivindicando justiça social e condições mais humanas de trabalho; e uma pequena e média burguesia latente que era representada por um setor da elite política - essa mesma elite que buscava estabelecer um sistema democrático liberal, que permitisse a alternância política, algo inviável durante o Porfiriato; Nesse sentido, seus interesses eram diferentes das outras duas facções antes mencionadas; Dessa forma, a Revolução Mexicana não foi homogênea, e nem teve um programa único com o qual todos os grupos sociais se identificassem. Pelo contrário, cada setor social tinha seus objetivos e interesses, e em momentos convergiam ou contrapor. 
De 1900 a 1910 houve uma crescente industrialização do país, estimulada pelo governo de Porfírio Díaz, acarretando em um incremento das mobilizações operárias e camponesas. O auge da industrialização trouxe sérias repercussões para o campo, levando mais miséria para camponeses que já viviam uma situação insuportável; Nesse contexto a nascente pequena burguesia vai tomar como bandeira o respeito à legalidade e a aplicação imparcial da justiça. Não era necessária apenas uma reforma política – uma verdadeira concorrência eleitoral e respeito a aplicação equitativa da lei – mas uma reforma social que implicasse em uma melhor distribuição da renda nacional; 
Em 1910, o descontentamento popular foi canalizado, reivindicando, apropriado, amansado e, em certa medida, organizado pela nascente burguesia liderado pelo liberal Francisco Madero; O movimento tinha como objetivo impedir a reeleição de Porfírio Díaz, mas sua luta era manter e defender o Estado democrático-burguês e para isso, recorria fundamentalmente à denuncia e às manifestações. A forte candidatura de Madero somado ao desgaste do governo de Porfírio Diaz, fez com que ele recorresse à fraude eleitora. Isso desencadeou a ira das grandes massas; Depois que ficou evidente a fraude em junho do mesmo ano, foi lançado por Madero em outubro o Plano de San Luís Potosí, que convocava o povo a pegar em armas. Mas muito antes a Revolução, já explodira em muitos povoados o surgimento de movimentos armados dirigidos por líderes regionais: No sul levantarem-se os pobres do campo liderados por Zapata, e o norte liderado por Pancho Villa: fizeram sua parte em sua região e assim sucessivamente outros pontos do país foram desencadeando múltiplos levantes armados. 
No final de 1911, Madero assumiu a presidência. Sua primeira intenção era apaziguar e acabar com a luta armada. Mas 1912 mostrou que a revolta social era mais poderosa que seu desejo de paz e de conciliação. Em março Orozco sublevou-se com o plano Empacadora, enquanto Zapata negava-se a entregar as armas enquanto não visse as autoridades devolverem as terras usurpadas aos camponeses; a essa causa uniu-se a Orozco. 
Em 1913, Vitoriano Huerta, um velho general da era porfirista, que momentaneamente foi um aliado na causa anti-reeleicionista, conspirou contra Madero até assassinar o mesmo e seu vice em fevereiro. Paralelo a isso ocorre a sublevação do Félix Diaz, que se aquartelou em uma fortaleza militar da Cidade do México dando tempo para Huerta negociar acordos entre as forças políticas reacionárias e a embaixada estadunidense. Imediatamente após a morte de Madeiro e a tomada de poder de Huerta, houve protestos de todos os chefes revolucionários que mantinham ação no país: Álvaro Óbregon; Pancho Villa; e em março, o governador Venustiano Carranza lança o plano de Guadalupe, ignorando Huerta e exigindo sua renúncia em respeito à constituição. Daí que surge o nome do Movimento Constitucionalista; 
Em 1914, Pancho Villa tinha formado o exército mais temido da época, a famosa Divisão do Norte. Cruzou até o centro do país, ao lado de Álvaro Obregón, general de Carraza. Villa e Carranza foram desenvolvendo uma rivalidade ao longo do tempo. Em julho do mesmo ano Huerta é derrotado e parte para o exílio, enquanto a capital já estava nas mãos do exército constitucionalista. Em outubro reuniu-se todos os chefes revolucionários em uma convenção que ficou conhecida como Convenção de Aguascalientes. Buscou-se chegar a um acordo sobre as diretrizes que deveriam orientar o novo regime Mexicano. Carranza nos dias seguintes ignorou a convecção e se retirou. Óbregon abandonou a capital que por sua vez foi tomada por forças Zapatistas. Em dezembro ocorre o encontro entre Zapata e Villa, e desse encontro surgiu o pacto verbal, chamado de Pacto de Xochimilco, no qual se confirmava a continuação da luta camponesa pela terra. 
Em 1915 houve uma série de enfrentamentos armados entre diversos grupos. A luta entre os exércitos constitucionalistas e as forças aliadas de Villa e Zapata seriam decisivas no curso que tomaria a revolução. Em fevereiro Carranza fez um pacto com a organização operária mais importante do México naquele momento: a Casa do Operário Mundial. Marcando a aliança do movimento operário e a causa constitucionalista contra o movimento camponês. Nesse mesmo ano, Obregón derrotou a Divisão do Norte em três batalhas que selariam a derrota da grande divisão do norte e a marca de Óbregon como líder e gênio militar mais importante do período entre 1915-1920.
1916 a luta continuou na frente Zapatista, enquanto Villa voltava à luta guerrilheira que começara; Nesse momento, Carranza vai romper com a Casa do Operário Mundial, reprimindo violentamente as greves. Um ano depois, em 1917, a revolta zapatista estava confinada no Sul do país, enquanto os constitucionalistas tinham em seu poder o centro político do país. E em janeiro foi aprovada a constituição política que continua vigente no México. Durante o ano de 1918, as forças constitucionalistas continuaram perseguindo os zapatistas, agindo com a mesma brutalidade com que combatera o exército porifirista. Obregón naquele momento se retira da vida política e militar. 
Em dezembro de 1919, Zapata foi covardemente assassinado, foi emboscado em uma armadilha onde fora ofertado um acordo. Com a morte de Zapata, morre a revolução. Em meados desse ano, Obregón havia lançado sua candidatura a presidente da República. Carranza tentou impedir sua candidatura, mas ele conseguiu escapar, e em abril lançava o Plano de Agua Pietra. Em dezembro de 1920 Obregón tomou posse. 
Da não reeleição à revolução
Nas eleições para presidente de 1910, Porfírio Díaz faltando com sua palavra, voltara a lançar sua candidatura. Na época, a propaganda da não eleição estava na mente das camadas médias e da pequena burguesia latente. Essa pequena burguesia era formada principalmente por racheiros e fazendeiros do norte, e a velha oligarquia no poder freava os impulsos de suas ambições econômicas e politicas. Um ano antes, Madero fundava o Clube Central Anti-releicionistas, onde adquiriu fama do apóstolo da revolução democrático-burguesa. Nesse um ano Madero fez um intenso trabalho de propaganda. Quando se candidatou seu slogan era ‘’Não-reeleição’’. As características de mudança propostas por Madero atraíam fortemente essas classes sociais, que viam o governo de Porfírio como uma trava às suas ambições particulares. No entanto, essa mesma classe não desejavam uma mudança radical ao contrário dos movimentos camponeses. Dessa forma esses grupos buscavam uma saída para sua iniciativa, sem que isso implicasse uma mudança de todo o sistema. A revolução de Madero pode ser resumida em uma de suas ideias expostas: ‘’O povo não quer pão e sim liberdade’’. Essa palavra mágica de liberdadeencerrava um projeto conservador e reacionário. A última coisa que Madero propunha era mudar radicalmente a sociedade, sem mudanças no sistema, nem nas instituições legadas pelo porfirismo, Ele só queria mudar quem estava sentado na cadeira presidencial, fazer algumas reformas políticas e deixar tudo como estava. Mas no fim as eleições de 1910 foram uma fraude total, Porfírio conseguiu se reeleger, desencadeando ira e o descontentamento popular.
Em 5 de outubro foi proclamado o plano San Luis de Potosí, convocando a tomada de armas contra Porfírio. Esse plano iria se transformar no discurso que englobaria um conjunto de demandas sociais apresentadas em diferentes estados da república, sob a liderança de vários chefes regionais e locais. Esses líderes locais começaram as primeiras incursões camponesas que iam causando estragos entre as tropas federais de Huerta, criando o movimento guerrilheiro que depois daria origem aos exércitos constitucionalistas, Finalmente em maio de 1911 eram assinados os tratados que colocavam um fim temporário ao enfretamento bélico: Porfírio renunciava e se exilava.
O fracasso de Madero
Desde o inicio de seu governo, Madero deixou claro que a política do Estado em relação às reivindicações camponesas e operárias não diferiria em muito da anterior, adotada por Díaz. Manteve no governo, representantes do velho regime, esquecendo por completo as promessas feitas no princípio de sua campanha, especialmente as que diziam respeito aos problemas agrários. Paralelo a isso, apesar de terem sido as forças irregulares, as guerrilhas operário-camponesas em todo país, que tinham feito a revolução, Madero ordenou seu licenciamento, exigindo a entrega das armas. Ele deixava intacta a estrutura burocrática do Estado porfirista, incluindo o próprio exército e seus generais. A ideia de Madero era que o país necessitava de uma simples mudança política e não de uma reforma social foi o que levou a sua morte.
O movimento camponês revolucionário
Embora as leis de desamortização de 1856-57 tenham causado estragos nas propriedades dos camponeses e indígenas do país, na época da revolução ainda existiam povoados livres: comunidades de camponeses e indígenas que ainda conservavam suas formas de organização de tempos anteriores e concomitantes à colônia, baseadas na propriedade comunal da terra e na tomada de decisões coletivas. Em 1910, 20% ou 30% das comunidades rurais existentes faziam parte dos chamados povoados livres. A luta dos fazendeiros e industriais contra esses povoados não eram guiadas apenas por motivações econômicas, mas também políticos e culturais. Os princípios individualistas do liberalismo político econômico, e os ideais de progresso e de modernidade, que estavam na base do governo mexicano da segunda metade do século 19, sustentavam a espoliação da terra e de seus antigos e autênticos donos. E foi justamente essa defesa do povoado, da comunidade como sistema ancestral, a característica mais notória da resistência popular, tanto durante o Porfiriato, quanto ao longo da luta revolucionário. 
Os Estados de Morelos chegaram a ser a terceira região açucareira do mundo, onde foram desenvolvidos engenhos inovadores. A ampliação dessas terras foi feita à custa das comunidades, e seus membros expulsos alimentaram as fileiras do exército Libertador do Sul. Foi uma revolução feita em defesa própria: ‘’abaixo as fazendas, vivam os povoados’’. Em fevereiro de 1911 a luta Zapatista já fazia parte oficial do movimento anti-reeleicionista, e isso significava que a luta dos camponeses do sul já estava articulada ao movimento, em escala nacional. Com a morte de Torres Burgo, designado por Madero para liderar a revolta do Sul, e o fato de Zapata ter assumido a liderança, mudou completamente o perfil daquela organização. Zapata havia sido eleito de acordo com os antigos costumes, sendo reconhecido pelos mais respeitados da comunidade. Nesse sentido o exército zapatista era verdadeiramente popular e democrático. Zapata era descendente de uma família camponesa e ligada a antigas lutas travadas contra o partido conservador que existia no México do século 19 e seus aliados estrangeiros: os franceses. Seu pai e avô haviam lutado ao lado de Porfírio Díaz contra os franceses, e tinham uma longa tradição da defesa da comunidade. Junto a sua personalidade vale destacar algumas características do exército Libertador do Sul: era composta por sua maioria de camponeses indígenas sem terra, boa parte assalariados dos engenhos, camponeses sem terra ou proletários camponeses. 
Embora as atividades do Exército Libertador do Sul tenha se estendido por vários Estados do Sudeste mexicano, seus líderes nunca buscaram estabelecer centros de poder e de tomadas de decisões. Muitas vezes desenvolvendo uma genuína guerra de guerrilha, o zapatismo nunca teve uma visão nacional da revolução; suas pretensões sociais eram regionais ou locais, seu foco e seu olhar não iam além daqueles que constituíam seus territórios ancestrais. A divisão do norte compartilhava essa mesma característica, mas com bases sociais e culturais diferentes. Esses grupos vale ressaltar, sobreviveram nas montanhas das regiões, preservando sua cultura, histórias, tradições sociais etc. E foi o implemento da máquina para a exploração do açúcar e a desamortização das terras pela Lei Lerdo que esses grupos e comunidades começaram a ser praticamente devorados pela voracidade capitalista. Até antes das leis de reforma, as leis da colônia tinham assegurado aos indígenas a posse de seus antigos territórios, reforçando a coerção interna, o que permitiu que esses grupos desenvolvessem em sua organização um sistema político interno inspirado em seus costumes e trabalho coletivo. Isso marcou a cara das forças zapatistas, todos seus combatentes tinham um forte vínculo com a terra. Por tais motivos que a luta jamais se viu além do âmbito regional, por conta dos limites que a sua própria visão de mundo em que se inspirava o movimento. 
Quando Madero assumiu o poder, os zapatistas já estavam fazendo o que consideravam justificadamente o fruto de sua luta. Não esperavam que o governo repartisse as terras, tomaram-nas pela força, dividiram-nas e começaram a cultivá-las, sob a proteção das armas do Exército Libertador do Sul. Esse seria o inicio da ruptura total com o madeirismo, que havia exigido a deposição das armas e que esperassem a divisão das terras feita pelas autoridades (as mesmas que haviam despojados de suas terras). Em resposta a traição de Madeiro, Zapata proclamou o Plano de Villa de Ayala. 
Por seu conteúdo radicalmente revolucionário e pelo momento histórico que surgiu, o Plano de Ayala merece atenção especial, pois estabeleceu as bases do agrarismo no México, deixando um precedente quanto à nova forma como se deveria ver a propriedade da terra. Zapata sentia a necessidade de ter um plano que definisse seu lugar na revolução, nas palavras de um de seus generais, ele quis ‘’que fizesse este Plano de Ayala para que fosse a sua bandeira. ‘’ Os artigos 6°, 7° e 8° são os que condensam a essência das reivindicações indígenas e camponesas, e que reúnem a força agrária e revolucionária do Plano Ayala. Em parte, uma revolução se caracteriza pelo rompimento com o regime jurídico anterior, as velhas leis. O plano San Luís de Potosí não era revolucionário, o de Ayala sim, posto que esse último exigia a restituição imediata das terras e a criação de tribunais revolucionários. Ao mesmo tempo, a obrigação de esclarecer ou justificar a propriedade das terras caberia aos fazendeiros e latifundiários, e não aos camponeses, como propunha o plano de San Luís de Potosí. E sobretudo, situava o bem-estar coletivo acima do individual. O plano de Ayala era revolucionário porque estabelecia a defesa com as armas do que fora conquistado, e marcava uma ruptura entre a velha ordem, suas leis e defensores, e o novo, que o povo em armas tentava instaurar. 
No entanto, o Plano de Ayala não dava a solução do problema do poder em si, não propunha a forma de ser adotada pelo novo Estadoque emanado da revolução. A visão local e regional impedia os zapatistas de verem a questão numa perspectiva nacional. Essa carência do zapatismo facilitou que no final, outros grupos econômicos, políticos e sociais, encabeçados pelos constitucionalistas, tomassem o poder e a direção final da revolução. Apesar dos pesares, o plano serviu de bandeira à revolução agrária do sul, que se prolongou durante muitos anos. Essas ideias representam a facção mais autentica e radical da revolução social de 1910. Mas enquanto os zapatistas continuavam com a sua luta, no centro da ação política gestava-se outras etapas da revolução. Em fevereiro de 1913, Victoriano Huerta derrubou o frágil governo de Madero, assassinando o mesmo e seu vice. Quase que imediatamente começaram a surgir declarações condenando o golpe de Estado. E no mês seguinte, em março, Venustiniano Carranza, proclamou o Plano de Guadalupe, que buscava dar a revolta local encabeçada por ele um caráter nacional, propondo que esse plano fosse comum a todos os levantes armados do país, contra o governo inconstitucional de Victoriano Huerta. De Porfírio Díaz a Madero, de Madero a Huerta e até o final da revolução, os agraristas de Zapata mantiveram-se em armas, e as tropas federais que defendem o status quo, sempre agiram por meio da repressão contra o zapatismo.
A guerra dos nortenhos
Enquanto no Sul do país a revolução era realizada por camponeses e indígenas filhos da terra, gente arraigada a seus territórios, com seus costumes, história e identidade, a luta no Norte foi assumida por um grupo cultural e socialmente muito heterogêneo e irregular. Pode se distinguir dois grupos relevantes: aqueles que aderiram e foram leais a causa camponesa, e o outro que representava os interesses opostos ao dos pobres que reivindicavam terra; ao contrário dos pobres, esse grupo lutava com o objetivo de tomar o poder político, e pela força, conquistar o poder, que até aquele momento era controlado por um reduzido grupo da classe dominante mexicana e alguns estrangeiros. Essa facção é conhecida como os constitucionalistas.
Se no Sul do país foram as comunidades, os povos com uma longa história de grupo, que tomaram em suas mão a responsabilidade de fazer a revolução, no Norte não existiam, em 1910, conjuntos humanos arraigados à terra, com costumes e tradições que os identificassem com um todo mais ou menos homogêneo. Em 1910, o Norte do México era povoado em sua maioria por rancheiros, que constituíam um grupo heterogêneo de pequenos proprietários cujo número aumentou durante o século 19. Durante o século 19, as colônias de trabalhadores alemãs, chineses e estadunidenses foram adquirindo terras, por concessão do governo ou comprando eles mesmos. Os rancheiros se viriam afetados pela concentração de terras e de poder nas mãos de poucos fazendeiros, que ocorreu durante a ditadura de Porfírio Díaz. Foram os membros deste grupo de rancheiros que formaram grande parte dos exércitos camponeses do norte.
Dessa forma o contingente revolucionário formado no Norte do país tinham motivos e origens diferentes do Sul. Os camponeses do norte eram nômades que iam de um trabalho a outro, enquanto os zapatistas tinham forte vínculo com a terra. Foi este setor de rancheiros pobres e deserdados, que não possuíam nada além de seu trabalho e de sua pessoa, liderados por um dos ladrões sociais mais famosos da revolução. Uma das provas irrefutáveis da grande vaidade que no final fez Villa um ser inapto e incapaz de ouvir os demais, defeiro que o levaria à derrota social, político e militar, é a sedução que exerceu sobre a sua mente a indústria dos sonhos: o cinema de Hollywood. Em 1914 ele firmaria um contrato com uma empresa que iria gravar suas batalhas e simular combates. Quando Madero lançou o plano de San Luís Potosí, em 1910, Villa já comandava alguns contingentes camponeses e imediatamente uniu-se a rebelião madeirista, incorporando-se a divisão do norte que existia até então, e depois, em 1913, Villa aderiu à rebelião constitucionalista encabeçada por Venustiano Carranza.
Os constitucionalistas;
No tempo que Victor Huerta assassinou Madero, Carranza era governador do Estado de Coahuila; fizera parte do movimento anti-reeleicionista e era um defensor da causa madeirista. Quando Madero foi assassinado e começaram as denúncias de traição e ilegalidade que vários governadores e líderes militares faziam cais sobre Huerta, foi que a figura de Carranza ocupou o centro da cena política mexicana. Carranza transformou-se subitamente na figura central do constitucionalismo, movimento político que, como seu nome indica, lutava pelo retorno à via constitucional, pelo respeito à constituição de 1856. No noroeste do país, a organização dos velhos chefes madeiristas aposentados representava a organização de um grupo social que via na revolução uma oportunidade de melhorar sua posição política e econômica.
Enquanto Villa queria regressar a um mundo simples, rude e estimulante dos acampamentos de soldados e trabalhadores que chegaram ao norte no século 19, criando uma colônia militar habitada por veteranos da revolução. Ao contrário o grupo liderado por Carranza, que naquele momento já era chamado de primeiro chefe, era formado por famílias de antiga ascendência, caciques juaristas – isto é, seguidores do pensamento liberal de Benito Juárez – que, durante o Porfiriato, no final de 1880, foram deslocados para dar lugar a apoiadores do Porfiriato e seus aliados estrangeiros. Quando começou o século 20, o Porfiriato consolidara seus apoios políticos em todos os estados da república mexicana. Os filhos e netos dos caciques leais aos princípios liberais de Juárez estavam ansiosos por abrir um novo caminho no sentido de uma nova hegemonia econômica, social e política ou, pelo menos, uma participação mais ativa nos assuntos locais e nacionais. Madero e Carranza pertenciam a essa classe social, compartilhavam com os porfiristas a doutrina liberal burguesa, mas não estavam de acordo em permanecerem excluídos do poder. No fundo era uma luta pela repartição de poder no seio da classe dominante. Com a morte de Madero, Villa aderiu ao movimento constitucionalista. 
Carranza ao assumir de fato o comando do exército constitucionalista, sentiu-se livre para determinar quem faria parte do seleto grupo que ele representava, não atribuiu lugar especial nem aos membros da família de Madero, nem a alguns dos mais velhos madeiristas – todos rancheiros do norte. Ao sentirem-se relegados a um segundo plano, buscaram uma nova guarida para seus interesses: Pancho Villa. Mas enquanto estavam juntos, ambos – Carranza e Villa – constituíram o exército constitucionalista frente a Huerta.
A herança do impulso industrial que a economia mexicana viveu sob o Porfiriato, tinha mudando radicalmente o panorama social e econômico do país. A grande rede metálica (estradas de ferro) tinha ligado o país, do Sul ao Norte, o que permitiu, entre outras coisas, o nascimento e consequente crescimento do mercado interno, mas também articulou socialmente o país e permitiu os rápidos deslocamentos do exército federal do regime porfirista quando a ditadura assim julgou conveniente. As redes ferroviárias fortaleceram a ação repressiva do Estado, mas paralelo deixou claro as disparidades entre 	as classes sociais: os mexicanos e os estrangeiros. Fato esse responsável pelo desenvolvimento de uma crescente politização das massas e a nascente mobilização das incipientes organizações operárias. Villa percebeu imediatamente a importância que a estrada de ferro teria nas mobilizações armadas. Significava além de uma rápida mobilização nas operações militares, como um meio para conseguir apetrechos militares. Nesse sentido, Villa construiu toda uma máquina bélica sustentada no uso das estradas de ferro: mobilizações de seu exército, planos de retirada, vagões-hospital etc.
Carranza, primeiro chefe constitucionalista, estabelece um governo central e oito dependências governamentais. Na prática, estava se gestando um poder paralelo ao poder oficial.No entanto, entre esses ministérios, não figuravam o do Trabalho nem o da Agricultura; esse fato demonstra que no projeto dos constitucionalistas, as problemáticas das injustas relações de trabalho e da posse de terra que afetava os pobres não eram importantes. Carranza desprezava o movimento operário e camponês, não lhe importando suas reivindicações sociais. Enquanto isso Zapata mantinha-se fora do rebanho constitucionalista, e continuava tratando o ‘’primeiro chefe’’ igual, exigindo dele que aderisse ao Plano de Ayala. 
Um dos incidentes relevantes dessa época foi a intervenção estadunidense, cujo objetivo foi, a partir de então, estabelecer ligações com os constitucionalistas. Os EUA esperavam contar com apoio, mas Carranza respondeu censurando violentamente a intervenção. Esse acontecimento beneficiou momentaneamente a popularidade de Huerta, posto que com sua retórica nacionalista de massas, este incitou as classes médias mexicanas a defenderem a pátria. Mas a luta já estava ganha, e Huerta não era o vencedor. Em julho de 1914 Huerta é derrotado, apresentou sua renúncia e exílio. Em agosto Obregón entrou na cidade do México e iniciou o desmantelamento do exército federal, demolindo assim o ultimo bastião da era porfirista. Apesar das forças federais já terem sido derrotadas pelo exército do Sul, muitos de seus quadros continuaram em seus postos por ordem do ‘’primeiro chefe’’ da revolução, até serem submetidos pelas novas forças constitucionalistas. A luta acabava, mas a revolução continuava. Já então as diferenças entre Carranza e Villa haviam se acentuado, que provinham tanto de questões de orgulho quanto de apreciações diferentes quanto às reformas sociais que deveriam ser realizadas. Carranza protegia a propriedade privada e estrangeira, era um fazendeiro, enquanto Villa um rancheiro de origem camponesa. Era uma visão de Estado que se chocava com a singela e o ímpeto do caráter popular. As responsabilidades que Carranza aceitou davam a seu movimento um caráter reformista; uma verdadeira revolução destrói tudo para construir de novo, uma nova ordem. Os atritos dos dois líderes começaram e terminaram com uma guerra aberta entre dois polos da revolução. 
Parênteses sobre o movimento operário mexicano durante a revolução
Desde o curto período de governo de Madero, a mobilização operária no México adquiria um ímpeto sem precedentes. A aura de liberdade que cercava o processo revolucionário mexicano favoreceu o desenvolvimento de organizações operárias, destacando-se também a livre divulgação da opinião da imprensa. A importância da Casa do Operário Mundial residia em que, no transcorrer da revolução, muitas organizações existentes então se filiaram a ela. A Casa era uma central que agrupava vários sindicatos e líderes operários e, por isso mesmo, mais adiante adquire uma grande importância aos olhos dos dirigentes revolucionários. Muito se falou sobre a importância do fator operário na Revolução Mexicana, principalmente para dizer que sua falta de maturidade como classe foi o que levou ao fracasso todo o processo revolucionário. Desde o inicio do governo madeirista, a Casa criticou o paternalismo e o espírito conservador do regime. O problema que enfrentou em determinado momento foi se desviar ou não apoiar o governo de Madero. As tendências mutualistas e anarcossindicalista dos líderes da Casa orientaram suas ações políticas no sentido de evitar que estar significassem seu reconhecimento da ordem vigente. 
Para Madero, os desajustes entre capital e trabalho deveriam ser solucionados sob as leis do laizzes-faire – ‘’deixar fazer’’, que simboliza o liberalimo puro -, situação que influiria de maneira determinante no protesto e mobilização dos trabalhadores, pois durante o governo madeirista, as greves aumentaram, em vez de diminuir. Durante o mandato de Huerta, as coisas não mudaram muito e, contrariamente ao que consta a história escolar mexicana, até levou mais longe – pelo menos no papel – as tímidas reformas sociais propostas por Madero no Plano de San Luís Potosí. Os próprios colaboradores de Huerta reconheceram que a classe trabalhadora desempenhava uma função social de primeira ordem, admitindo que o Estado tinha a obrigação de ajudá-los mediante a promulgação de novas leis. Como todo velho porfirista, Huerta não via com bons olhos o nascente movimento sindical organizado, mas seu governo compreendeu a necessidade de que o Estado intervisse nas relações entre trabalho e capital.
Entre 1914-15, começa o período em que o movimento operário passaria a ser considerado por seu justo valor político pelos chefes revolucionários, começando a ser cortejado com o objetivo de ser posto a serviço dos interesses das distintas facções. Depois de sua entrada de na Cidade do México, Obregón mostrou interesse em desenvolver relações amistosas com o movimento operário, reabrindo a Casa do Operário Mundial, que havia sido fechada por Huerta. Enquanto isso, em todo o território da República, os governadores e chefes militares emitiam decretos que favoreciam a causa operária. Num movimento contrário, Carranza já como presidente interino, não tomou nenhuma iniciativa importante que favorecesse os interesses dos operários. No final de 1914, a Casa e associados tinham se mantido acima da luta de facções, e entre Carranza e Huerta havia pouca diferença. Quando as tropas de Zapata e Villa expulsaram as forças carranzistas na Cidade do México, no final de 1915, Carranza e o movimento constitucionalista já partem em busca de apoio da classe operária, dando-se conta de que um conflito entre operários e camponeses traria muitas vantagens para seus interesses. E pouco tempo depois, conseguiram que o movimento operário organizado aderisse à causa constitucionalista. Essa decisão lançou os operários contra os camponeses; A ruptura e dificuldade de reconciliação entre operários e camponeses surgiriam da própria luta. Ironicamente, a falta de visão das duas frentes, favoreceu seu enfraquecimento, debilitou as forças revolucionárias e beneficiou a ascensão dos setores liberais burgueses. 
O fato mais significativo desse processo foi à criação e incorporação dos Batalhões Vermelhos às forças do exército carrancista. Estes eram contingentes militares formados por operários industriais e têxtis, associados à Casa do Operário Mundial. Mais do que valor militar, Carranza buscava, com a mobilização militar dos operários contra os camponeses insurgentes, impedir uma aliança classista que desse a revolução um impulso hegemônico a favor dos pobres, o que conseguiu. A verdade é que nenhum grupo teve a capacidade de ver no outro o aliado necessário para a vitória. É óbvio que os desajustes econômicos causados pela revolta camponesa tiveram uma grande repercussão na mente dos trabalhadores, mas isso por si só não pode explicar a aversão que o movimento sindical mexicano chegou a ter pelo movimento camponês. 
O México que nascia no século 20 estava dominado de ideias positivistas, adotadas acriticamente. Entre elas estava a ideia de que o indígena e a população camponesa – grupos que no México estão estreitamente ligadas – representavam a manifestação de uma sociedade atrasada, que não progrediria até vê-los a sua mínima expressão. Essas ideias permeavam a mente de muitos líderes, tanto pequeno-burgueses de classe média quanto operários; portanto, não é de se estranhar que desprezassem as forças vilistas e zapatistas, considerando indigno lutar ao seu lado. Com relação ao pensamento socialista radical da época, temos por um lado os círculos radicais de corte marxista ortodoxo – muito minoritárias – para os quais somente a vanguarda operária era uma força capaz de dirigir a revolução e conquistar o poder, desprezando a capacidade camponesa/indígena de combate. Por outro lado, a corrente que tinha mais influencia no movimento operário, o anarcossindicalismo, levava em sua veia a semente da derrota, já que, ao negar qualquer forma de organização para tomar o poder e construir um Estado Alternativo, impediu que a força revolucionária secanalizasse em uma ação concreta que a levasse a vitória, deixando no final em mãos da reação as rédeas da luta social e a direção do Estado. Ou seja, sem dúvidas que o aspecto econômico teve significativa importância no desenvolvimento da revolução, mas como vimos, elementos culturais e ideológicos, no sentido amplo da ideologia: como uma visão do mundo e dos homens, desempenharam um papel tão importante quanto, no desenvolvimento dos sujeitos que tornaram realidade a luta pela liberdade, equidade e justiça.
O Crepúsculo Revolucionário
No final de 1914, a ruptura de Villa e Carranza torna-se iminente; Villa e a direção da Divisão do Norte vinham radicalizando com o progresso da luta armada, e cada dia identificavam-se mais com as reivindicações camponeses do zapatismo. Quando Carranza chegou a Cidade do México, no final de 1914 – já deposto Huerta -, encontrava-se diante de uma situação complicada: as circunstâncias exigiam a busca de um equilíbrio entre as distintas facções e forças disseminadas por todo país. As diferentes frentes concordavam em que era necessário um pacto que pusesse fim ao derramamento de sangue, tal foi o objetivo da Convenção de Aguascalientes. O problema seria a dificuldade posterior em cominar interesses opostos e irreconciliáveis. Na longa série de acaloradas discussões, logo se viu que o espírito radical, que inicialmente fora característico apenas do movimento camponês, transmitira-se a muitos outros chefes revolucionários. A urgência de mudanças profundas nas condições sociais em que viviam a maioria do país sobrepôs os interesses mesquinhos de alguns que, como Carranza, queriam que as coisas continuassem quase como até então haviam estado. 
Com o fracasso da convenção, a nação mexicana ficou marcada por uma dupla tragédia, isto é, o movimento revolucionário ficou dividido em dois. Dessa forma, de 10 de outubro de 1914 a 10 de outubro de 1915, quando a convenção já era apenas a tentativa zapatista de legitimar nacionalmente a sua luta, milhares de mexicanos morreram. Mas as ideias expressas na convenção mantiveram-se como princípios e bandeiras de luta para muitos líderes revolucionários que participariam da criação do conjunto de novas leis. No fim, os delegados carranzistas à convecção se retiraram; E no final de 1914, é celebrado o Pacto de Xochimilco, decidindo pela continuação da luta camponesa no país. Mas o que teria acontecido se os exércitos de Zapata e Villa tivessem se unido verdadeiramente? A sua visão regionalista, localista, tanto de Zapata quanto de Villa, levou-os para o fracasso. Em vez de continuar a luta com um exército, e com uma estratégia de Âmbito nacional, únicos e invencíveis, cada um regressou a seu habitual território de ação para continuar a luta por si. Era evidente a falta de visão político-militar por parte deles para conduzir a revolução ao triunfo. Considerava-se incapazes de fazer algo semelhante; seu interesse, limitava-se a seus território originais de ação. 
Enquanto isso, pretendendo atrair a simpatia popular, no final de 1914, Carranza apegou-se a seu Plano de Guadalupe, ao qual acrescentou algo, umas quantas observações sobre o problema agrário, embora sem muita energia ou entusiasmo. No inicio de 1915 o exército constitucionalista restringia-se às forças dirigidas pro Obregón, contra os exércitos camponeses; os zapatistas enquanto isso continuava retirando-se para seus territórios originais no Sul. Foi ao longo do ano de 1915 que Obregón desferiu as derrotas decisivas que acabaram com a torrente principal das forças vilistas. Quando começou 1916, já não existia mais a Divisão do Norte. E Carranza já era praticamente o presidente interino do México. Obregón foi designado ministro da guerra, e imediatamente depois da derrota de Villa e da tomada de poder, os Batalhões Vermelhos foram dissolvidos, não era mais necessário os operários. Os operários por sua vez, considerando que já tinham afastado o estorvo que os camponeses representavam para seus interesses, acreditavam que tinha chegada a hora de colher os frutos da aliança e apoio ao movimento de Carranza. Essa lua-de-mel acaba três dias depois do inicio da greve geral, quando Carranza decreta a extensiva lei que estipulava a execução para aqueles incitadores das greves. 
Com Villa derrotado e reduzido à sua condição inicial de bandido, e com o exército Libertador do Sul preso em seus territórios, Carranza deu inicio à instauração de um Congresso Constituinte. Desde o primeiro momento, começaram as disputas pelo controle do Congresso, cada facção tentava se impor a seus simpatizantes. No seu interior, haviam duas posições claras: os progressistas de tendências avançadas e os conservadores; Apesar das tentativas de Carranza para conservar quase intacta a Constituição Liberal de 1857, a ala progressista triunfou, deixando sancionada na Carta Magna as principais reivindicações da revolta popular, o que pode ser apreciado nas mudanças e/ou incorporações feitas nos temas vinculados aos problemas de posse de terra, da educação e das relações de trabalho; O projeto de Constituição de Carranza refletia pouco o terremoto que marcara os quatro últimos anos; era, de fato, simplesmente uma nova redação e uma reorganização da Constituição de 1857.
A constituição de 1917 representa o pacto obtido por meios de luta e do diálogo entre os distintos setores sociais: as questões mais relacionadas com a reforma do Estado e os processos eleitorais eram de maior interesse para as classes médias e para pequena burguesia nascente; as reivindicações operárias e dos setores médios de profissionais, integrantes do artigo 123, foram expressão da força da luta sindical levada a cabo pelos trabalhadores das indústrias mexicanas; o artigo 27 era por sua vez, reflexo da luta pela terra travada pelos camponeses ao longo do país.
A Comuna de Morelos e o Fim da Revolução
Terminaremos esse capítulo descrevendo um dos episódios mais inspiradores e louváveis da revolução, a experiência social levado a cabo pelos zapatistas no Sul do país, principalmente no estado de Morelos, experiência conhecida como Comuna de Morelos. – Em 1915, Villa estava praticamente derrotado, sua rendição total ocorre em 1920, mas Obregón já havia dominado e ocupado a zona Norte do país. Mas com os zapatistas, a situação seria diferente. Ao contrário, nesse mesmo ano, o governo da convenção, que já não era mais que uma tentativa zapatista de dar caráter nacional à sua revolta regional, tinha se transferido para o Estado de Morelos, onde Zapata e sua gente começariam a levar à realidade os postulados do Plano de Ayala. A comuna dos zapatistas em Morelo consistia principalmente na restituição das terras, o que incluía a expropriação de uma terça parte das fazendas, além daquelas que seriam expropriadas totalmente por pertencerem a pessoas consideradas inimigas da revolução. Consistia também na criação de governos autônomos, organismos para a tomada de decisão e apoio ao desenvolvimento da região. E, além disso, na participação muitas vezes direta da comunidade na consecução dos objetivos, e, sobretudo, na defesa armada dos triunfos que seriam obtidos. Assim, os zapatistas realizaram distribuições de terras, que defendiam com as armas. Também realizaram um ensaio de autogoverno, emitindo leis e tentando organizar a produção, desenvolvendo seus órgãos de governo nos povoados e comissões, designando e escolhendo líderes no âmbito municipal e local, sempre com a participação ativa dos membros da comunidade. 
Quatro aspectos fundamentais na revolução do Sul, a tornavam profundamente revolucionária: a recusa a entregar as armas; um programa próprio – plasmado no plano Ayala -; o estabelecimento de um poder popular em seu território; desenvolvendo suas próprias formas de autogoverno, tentativa única na história; e por fim, o fato de terem editado leis próprias e radicais, buscando legitimar a sua atuação. A lei agrária do zapatismo, redigida por Manuel Palafox, constitui o texto mais radical da revolução, junto com o Plano de Ayala. Essa lei agrárianão pode ser aplicada em sua totalidade durante o curto período de poder autônomo zapatista. Frente à ameaça do exército constitucionalista, que assediava o Estado de Morelos, os zapatistas quiseram realizar através da promulgação dessa lei, seu sonho de uma sociedade melhor, justa e equitativa, como se, por estar escrito, fosse tornar-se realidade, sem perceber que, já derrotado Villa, estavam cada vez mais e mais isolados. 
Em 1916, o general Carranzista Pablo Gonzáles entrou em Morelos no comando de 30mil homens. Entraram com a mesma brutalidade com que anos atrás levaram a cabo o exército de Porfírio Díaz. Zapata e os homens em armas que sobraram refugiaram-se no alto das montanhas, voltando à guerra das guerrilhas. Outra das ações que Gonzáles buscava desmantelar o apoio popular ao Exército Libertador do Sul consistiu em ordenar a concentração das famílias camponesas do Estado nas cidades principais, a fim de deportá-las. Apesar desse terror imposto pelas tropas carranzistas, a luta dos camponeses para defender o que tinham obtido jamais cessou, a palavra de ordem era defender as conquistas camponesas e a própria existência dos povoados e de suas terras. 
Dezembro de 1916 e as tropas carranzistas estavam desmoralizados, devido ao contato direto com a situação e com os desejos do povo revolucionário de Morelos. Os zapatistas de Morelos buscaram se aproximar, por meio das conversas, com os soldados, no intuito de ganhar a simpatia deles para a causa dos pobres. A força irresistível do povo em armas determinou a ruína do exército carranzista e sua posterior retirada. No entanto, o isolamento crescia. Foi então que Zapata se deu conta que a simples organização militar e a coragem da população eram insuficientes, e ficou clara a necessidade de uma organização política das pessoas. Muitas instituições e associações foram criadas, mas não adiantava muito, já que o movimento estava cada vez mais relegado a certas regiões do Sul e fora da disputa pelo poder no âmbito nacional. O sonho da convenção, de ocupar um lugar importante na vida nacional, fora gradualmente desaparecendo; agora só restava o Exército Libertador do Sul e seus generais, liderados por Zapata. A derrota era iminente, isolados em seu território era só uma questão de tempo. 
Curiosamente, a Constituição de 1917, com seu significativo conteúdo social, transformou-se num dos inimigos da luta camponesa do Sul, na medida em que deu enorme legitimidade ao regime diante dos olhos das grandes massas trabalhadoras, e inclusive camponesa, que viam nos artigos 27 e 123 a resposta às suas reivindicações. Pouco a pouco os zapatistas ficavam mais isolados, ideológica e territorialmente. O desgaste era evidente, alguns líderes e generais iam se desertando diantes das propostas oferecidas. Junto a isso, no interior do exército zapatista começou a haver tensões; E entre os líderes intelectuais, Soto y Gama ganhavam ascendência propondu uma vía conciliatória em relação ao governo de Carranza. Zapata começava a perceber que sua luta permanecia isolada do contexto nacional, e que não poderia manter-se por muito tempo. A desmoralização entre os dirigentes do zapatismo começou a minar sua força; Em jyulho seu irmão é assassinado por um dos chefes intermediários, que depois passaria com seus homens para o lado constitucionalista; o mesmo aconteceria com muitos outros líderes zapatistas. 
Enquanto isso em novembro de 1917, as tropas carranzistas, voltavam a entrar em Morelo. Em fevereiro de 1918, foi oferecido a rendição mediante o reconhecimento da autoridade zapatista no Estado de Morelo. Carranza não respondeu, pare ele era evidente que o zapatismo estava debilitado, e que seu objetivo era aniquilar por completo o movimento camponês, o mais revolucionário da revolução; e sua tática foi correta: o isolamento; Em agosto, Zapata buscou ajuda nos líderes revolucionários que achava que poderiam apoiar sua luta, mas Villa estava acabado, Felipe Ángeles estava no Texas, e Obregón não respondeu a sua carta. O zapatismo afundava ainda mais; os secretários e chefes zapatistas buscavam acordos de maneira independente, muitas vezes sem o conhecimento ou a clara contradição com as disposições de Zapata, que, na prática, estava se tornando um obstáculo para a conciliação com o governo de Carranza; sua morte era iminente. Emiliano Zapata, símbolo da luta camponesa, via fechado o caminho da vitória, mas também o da ‘’pacificação’’ e da conciliação. 
Nos primeiros meses de 1919, Morelos estava tomada pelas forças carranzistas. Zapata buscava a conciliação por meio de um pacto com o setor que, já então, estava apoiando a candidatura de Álvaro Obregón à presidência. Enquanto isso Magaña se encarregava de tornar pública essa posição. Na prática, o zapatismo estava morto politicamente, e todos esses esforços para chegar à negociação da rendição e entrega das armas eram golpes de advogado; Em torno de março, Magaña e Soto y Gama chegaram ao extremo a pedir a Zapata que se afastasse da esfera pública, ordenando ao mesmo tempo um cessar-fogo a fim de não prejudicar as negociações. Essa ação era em si mesma reconhecer a derrota; Enquanto Zapata vivesse, os princípios e a fortaleza moral da luta do Exército Libertador do Sul se manteriam em pé. A retroalimentação entre o líder e seus seguidores impediram que, no final, Zapata aceitasse as propostas vexatórias da independência local que o governo de Carranza podia oferecer. 
No entanto, em abril, numa tentativa de aliança com o oficial Jesús Guajardo. Apesar de seus homens advertirem sobre uma possível traição, mas Zapata aceitou o convite de ir até a casa do homem. Com a morte de Zapata, morreu a verdadeira revolução, a revolução dos pobres do México. Morta à pessoa real, começa uma lenda. Era como se o mito se repetisse, o mito segundo o qual para se fundar uma nova ordem, é necessário que aqueles líderes que o tornaram possível tenham que morrer, desaparecer. Em 1920, Madero, Zapata e Carranza estavam mortos. Em julho desse mesmo ano Villa comprometia-se em depor as armas, e retirar-se para a fazenda de Canutillo, mas três anos depois morreu em uma emboscada. Assim foi o término da Revolução Mexicana. Chegara o momento da etapa seguinte: o estabelecimento de um novo Estado burguês, Chegaria a etapa da chamada ‘’institucionalização da revolução’’, que no fundo subjugaria o descontentamento popular e as lutas camponesas operárias. Também chegaria a construção de um novo projeto econômico, social e cultural, que interromperia o projeto imaginado pelos verdadeiros revolucionários, os pobres, os de baixo.

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