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ARTIGO 3
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Rev Saúde Pública 2008;42(2):279-86 Leila Posenato Garcia Vera Lúcia Guimarães Blank Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Departamento de Saúde Pública. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, Brasil Correspondência | Correspondence: Leila Posenato Garcia Departamento de Saúde Pública, Centro de Ciências da Saúde Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário Trindade 88040-900 Florianópolis, SC, Brasil E-mail: leilapg@matrix.com.br Recebido: 20/3/2007 Revisado: 30/8/2007 Aprovado: 31/10/2008 Condutas pós-exposição ocupacional a material biológico na odontologia Management of occupational exposures to potentially infectious materials in dentistry RESUMO OBJETIVO: Avaliar a conformidade das condutas pós-exposição ocupacional a material biológico relatadas por cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório dentário com aquelas preconizadas pelas autoridades de saúde do Brasil. MÉTODOS: Foi realizado inquérito epidemiológico no município de Florianópolis, Santa Catarina, em 2003. Os participantes (289 cirurgiões- dentistas e 104 auxiliares de consultório dentário) foram selecionados por meio de amostragem probabilística sistemática. Os dados foram coletados utilizando questionários auto-aplicáveis. RESULTADOS: A lavagem do local afetado foi a conduta mais adotada pelos dentistas (98,5%) e auxiliares (89,2%) após sofrerem lesão percutânea. Perguntar a situação sorológica ao paciente-fonte foi mais freqüente entre os dentistas que sofreram lesão percutânea (44,6%) do que entre aqueles que sofreram respingo (14,3%). A realização de quimioprofi laxia, a notifi cação do acidente e a solicitação de exames para os pacientes foram os procedimentos menos lembrados e adotados. Após sofrerem exposição ocupacional a material biológico, 10,8% dos dentistas e 2,7% dos auxiliares buscaram atendimento médico. CONCLUSÕES: Com base nas recomendações do Ministério da Saúde do Brasil, as condutas pós-exposição ocupacional a material biológico na população estudada foram consideradas insufi cientes, especialmente entre os auxiliares. DESCRITORES: Recursos Humanos em Odontologia. Exposição Ocupacional, prevenção e controle. Acidentes de Trabalho. Levantamentos Epidemiológicos. 280 Condutas pós-exposição a material biológico Garcia LP & Blank VLG Os acidentes com exposição ocupacional a material biológico são freqüentes na odontologia em decorrên- cia do trabalho com instrumentos perfurocortantes em um campo de visão restrito e sujeito à movimentação do paciente.10 As exposições ocupacionais a material biológico podem ocorrer através de lesões percutâne- as (p. ex., perfuração ou corte da pele íntegra) e do contato de sangue, tecidos ou fl uidos corporais poten- cialmente infectantes com as mucosas ocular, nasal, bucal ou pele não íntegra. Existe risco de transmissão de patógenos sangüíneos como os vírus da hepatite B (HBV), da hepatite C (HCV) e da imunodefi ciência humana (HIV).7 Para evitar a transmissão de infecções ocupacionais, o meio mais efi caz é a utilização de todos os recursos para reduzir as exposições a material biológico, que incluem uma combinação de precauções-padrão, medidas de engenharia, práticas de trabalho e controles admi- nistrativos.7 Quando as exposições ocupacionais não puderem ser evitadas, são as condutas pós-exposição que podem evitar infecções. Essas condutas incluem os cuidados imediatos, o tratamento e o acompanhamento pós-exposição. Os acidentes com exposição a material biológico devem ser tratados como casos de emergência médica,2 já que a profi laxia, quando indicada, deve ser iniciada logo ABSTRACT OBJECTIVE: To evaluate whether post-exposure measures referred by dentists and dental assistants are in line with those recommended by Brazilian health authorities. METHODS: An epidemiological survey was carried out in a city of Southern Brazil, in 2003. Subjects (289 dentists and 104 dental assistants) were selected through random systematic sampling. Data were collected through self-reported questionnaires. RESULTS: Washing the exposure site was the most common measure taken by dentists (98.5%) and assistants (89.2%) after sustaining a percutaneous injury. More dentists asked the patients if they carried blood-borne viruses after sustaining a percutaneous injury (44.6%) than a splash to a mucous membrane (14.3%). Taking post-exposure prophylaxis, notifying the accident and requesting blood tests to patients were the least remembered and taken measures by dentists and assistants. After sustaining an occupational exposure to potentially infectious materials, 10.8% of dentists and 2.7% of dental assistants sought medical care. CONCLUSIONS: Based on the Brazilian Ministry of Health recommendations, post-exposure management among the study population was considered, in general, inadequate, especially among dental assistants. DESCRIPTORS: Dental Staff. Occupational Exposure, prevention & control. Accidents, Occupational. Health Surveys. INTRODUÇÃO após o acidente para obter melhor efetividade. Dessa forma, é fundamental que haja planejamento prévio à ocorrência de exposições, para que a avaliação seja feita o mais breve possível. Embora o risco de transmissão do HIV, HBV e HCV no atendimento odontológico seja baixo, suas conseqüências podem ser sérias e geralmente estressantes.11 A exposição em si e a espera dos resultados de exames sorológicos podem provocar um abalo emocional im- portante. Além disso, durante o período de acompanha- mento – quando ainda não está descartada a aquisição de infecção ocupacional, deve ser feita a prevenção secundária, para evitar a possível transmissão para outras pessoas. Outras condutas devem ser tomadas, como: uso de preservativos durante as relações sexu- ais; contra-indicação da doação de sangue, órgãos ou esperma; da gravidez e, em alguns casos, interrupção da amamentação.10 Dessa forma, a exposição também pode alterar as relações pessoais e sociais do acidentado. O presente trabalho teve por objetivo avaliar a con- formidade das condutas pós-exposição ocupacional a material biológico relatadas por cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório dentário com aquelas preco- nizadas pelo Ministério da Saúde do Brasil. 281Rev Saúde Pública 2008;42(2):279-86 MÉTODOS A pesquisa é parte de inquérito epidemiológico mais abrangente4 realizado com dentistas e seus auxiliares domiciliados no município de Florianópolis, estado de Santa Catarina. Em 2003, a população de referên- cia do município constituía-se de 1.272 cirurgiões dentistas e seus auxiliares. O tamanho da amostra foi dimensionado em função de prevalência de 60% de acidentes com exposição a material biológico nos 12 meses anteriores ao momento da coleta de dados, com margem de erro de 5%, no programa EpiInfo 6.0,3 totalizando 286 cirurgiões dentistas. O número amostral foi aumentado para 360 para compensar possíveis perdas e recusas. Não foi possível estimar o tamanho da amostra de auxiliares a partir do tamanho desta população, pois era desconhecido uma vez que nem todos os auxiliares estão registrados no Conselho Regional de Odontologia (CRO/SC). Em função disso, a amostra de auxiliares foi formada por aqueles que trabalhavam com os dentistas selecionados. Foi realizada amostragem probabilística sistemática de 360 dentistas, a partir da listagem de nomes de registro no CRO/SC, em ordem alfabética e solicitados seus endereços. Trinta e quatro foram excluídos da amostra por um dos motivos: não realizavam atividade clínica, haviam se aposentado, não atuavam no município de Florianópolis ou se encontravam em período de licença. O questionário auto-aplicável, anônimo e padronizado havia sido previamente testado com dentistas e auxi- liares que não faziam parte da amostra. O questionário foi composto por três partes: a primeira referia-se às características demográfi cas e de formação profi