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Rev Saúde Pública 2008;42(2):191-9
José Leopoldo Ferreira AntunesI
Marco Aurélio PeresII
Antonio Carlos FriasI
Edgard Michel CrosatoI
Maria Gabriela Haye BiazevicIII
I Departamento de Odontologia Social. 
Faculdade de Odontologia (FO). 
Universidade de São Paulo (USP). São 
Paulo, SP, Brasil
II Centro de Ciências da Saúde. 
Departamento de Saúde Pública. 
Universidade Federal de Santa Catarina. 
Florianópolis, SC, Brasil
III Programa de Pós-graduação do 
Departamento de Odontologia Social. 
FO/USP. São Paulo, SP, Brasil
Correspondência | Correspondence:
José Leopoldo Ferreira Antunes
Faculdade de Odontologia da USP
Av. Prof. Lineu Prestes, 2227
05508-900 São Paulo, SP, Brasil
E-mail: leopoldo@usp.br
Recebido: 16/2/2007
Revisado: 10/9/2007
Aprovado: 15/10/2007
Saúde gengival de adolescentes 
e a utilização de serviços 
odontológicos, Estado de São 
Paulo
Gingival health of adolescents and 
the utilization of dental services, 
state of São Paulo, Brazil
RESUMO
OBJETIVO: Avaliar a associação de condições de saúde gengival com a 
utilização de serviço odontológico.
MÉTODOS: Realizou-se levantamento epidemiológico de saúde bucal de 
1.799 adolescentes, em 35 cidades do Estado de São Paulo, em 2002. A saúde 
gengival foi avaliada pela prevalência de sangramento na gengiva à sondagem 
e cálculo dentário (índice periodontal comunitário) e oclusão dentária (índice 
de estética dentária). A utilização de serviços odontológicos foi medida pelo 
índice de cuidado (O/CPO) para cada cidade. Análise multinível de regressão 
logística ajustou modelos explicativos para fatores associados aos desfechos 
de interesse.
RESULTADOS: A prevalência de sangramento gengival à sondagem foi 21,5%; 
de cálculo dentário foi 19,4%. Os participantes do sexo masculino, negros e 
pardos, moradores em áreas rurais, residentes em domicílios aglomerados 
e com atraso escolar apresentaram chance signifi cantemente mais elevada 
para os agravos que seus respectivos pares de comparação. Características de 
oclusão dentária também associaram com gengiva não-saudável: apinhamento 
dos segmentos incisais, mordida aberta vertical anterior, relação molar antero-
posterior. Cidades com maior utilização de serviço odontológico tiveram menor 
proporção de adolescentes com sangramento gengival e cálculo. 
CONCLUSÕES: A utilização de serviços odontológicos foi signifi cativamente 
associada a melhores condições de saúde gengival (sangramento e cálculo). 
Essa associação independeu das características sociodemográfi cas individuais 
e contextuais, e de oclusão dentária.
DESCRITORES: Adolescente. Gengivite, epidemiologia. Índice 
Periodontal. Má Oclusão. Fatores Socioeconômicos. Levantamentos de 
Saúde Bucal. Serviços de Odontologia Escolar. 
192 Saúde gengival e serviços odontológicos Antunes JLF et al
Uma questão de interesse para a saúde coletiva é a pos-
sível contribuição do atendimento odontológico para a 
prevenção de doenças bucais. Uma revisão sistemática16 
da literatura apontou, na maioria dos estudos, melhorias 
de condições gengivais obtidas em curto prazo por 
iniciativas de promoção da saúde bucal. Embora os 
estudos que integraram a revisão sistemática tenham se 
centrado em ações educativas conduzidas em escolas e 
na comunidade, seus resultados suscitaram a hipótese 
de que o atendimento odontológico público e privado 
possa ter incorporado elementos de promoção da saúde 
bucal à prática clínica. Tais medidas teriam contribuin-
do para a redução de condições gengivais adversas em 
adolescentes, como a presença de cálculo dentário ou 
o sangramento gengival à sondagem.
Sangramento gengival e presença de cálculo dentário 
em crianças e adolescentes têm sido apontados como 
associados a condições sociodemográfi cas; com piores 
condições sendo aferidas para as categorias de sexo 
masculino, negros e pardos, e condições socioeconô-
ABSTRACT
OBJECTIVE: To evaluate the association between gingival health conditions 
and dental service utilization.
METHODS: An epidemiological survey of the oral health of 1,799 adolescents 
was carried out in 35 cities of the state of São Paulo, in 2002. Gingival health 
was assessed through the prevalence of gingival bleeding on probing and 
dental calculus (community periodontal index), and dental occlusion was 
assessed through the dental aesthetic index. The utilization of dental services 
was measured by means of the dental care index (F/DMFT) for each city. 
Multilevel logistic regression analysis was used to adjust explanatory models 
to factors associated with the outcome variables of interest.
RESULTS: The prevalence of gingival bleeding on probing was 21.5%, 
whereas dental calculus was prevalent in 19.4%. Male participants, who 
were either black or dark-skinned, lived in crowded homes, in rural areas, 
and showed schooling delay, were at a signifi cantly higher risk than their 
respective counterparts. The following dental occlusion characteristics were 
also associated with unhealthy gum: incisor segment crowding, vertical 
anterior open bite, and antero-posterior molar relationship. Cities with a higher 
utilization of dental services showed a smaller proportion of adolescents with 
gingival bleeding and dental calculus.
CONCLUSIONS: The utilization of dental services was significantly 
associated with better gingival health conditions (gingival bleeding and 
dental calculus). This association did not depend on contextual and individual 
sociodemographic characteristics or dental occlusion.
DESCRIPTORS: Adolescent. Gingivitis, epidemiology. Periodontal 
Index. Malocclusion. Socioeconomic Factors. Dental Health Surveys. 
School Dentistry.
INTRODUÇÃO
micas menos favoráveis.4 Nesse sentido, é necessário 
mensurar características sociodemográfi cas dos indi-
víduos examinados e do contexto em que vivem para 
avaliar de maneira apropriada o estudo de associação 
entre desfechos de saúde gengival e uso de serviços 
odontológicos.
Além de aspectos sociodemográficos, a condição 
gengival pode ser infl uenciada por aspectos relativos 
à oclusão dentária. Geiger7 sintetizou evidências e ar-
gumentos relativos ao papel etiológico da má-oclusão 
na infl amação gengival e doença periodontal. Nos anos 
1950 e 1960, poucos estudos avaliaram a contribuição 
anatômica e funcional das anomalias dentofaciais para a 
manutenção da saúde gengival; suas conclusões foram 
limitadas pelo reduzido número de pessoas examinadas 
e a difi culdade em controlar as muitas variáveis envol-
vidas na avaliação de ambas as condições. A posterior 
proposição de novas formas de avaliação, em especial 
o índice periodontal comunitário17 e o índice de estética 
dentária17 motivaram estudos testando hipóteses de 
193Rev Saúde Pública 2008;42(2):191-9
associação entre essas variáveis.13 Essas observações 
reforçam a importância de também aferir a prevalência 
de anomalias dentofaciais dos indivíduos examinados 
no âmbito do estudo de associação entre condição 
gengival e uso de serviços odontológicos.
O objetivo do presente estudo foi analisar as condições 
de saúde bucal – como a prevalência de sangramento 
gengival à sondagem e cálculo dentário – em adoles-
centes e sua associação com um índice de utilização 
do serviço odontológico local.
MÉTODOS
De maio a julho de 2002, a Secretaria de Estado da 
Saúde de São Paulo realizou amplo levantamento 
epidemiológico de saúde bucal, seguindo critérios 
diagnósticos estabelecidos pela Organização Mundial 
da Saúde (OMS).17 Embora o levantamento incluísse 
diferentes grupos etários, o presente estudo concen-
trou-se em adolescentes de 15-19 anos, residentes 
em 35 cidades do Estado. Os exames bucais foram 
realizados nos domicílios, seguindo planejamento 
de amostra para garantir representatividade de dados 
relativos à cárie dentária por macrorregião do estado e 
por porte populacional das cidades envolvidas. Para as 
cidades participantes do levantamento, as observações 
sobre condição gengival dos adolescentes são apenas 
indicativas e representaminformação relevante para o 
planejamento de serviços de saúde bucal.
Para o controle de reprodutibilidade das observações 
efetuadas, empregou-se a estatística kappa para concor-
dância inter e intra-observadores, conforme diretrizes 
padronizadas internacionalmente e descritas no relató-
rio originala do levantamento. Em estudo específi co de 
avaliação desse procedimento, os indicadores apresen-
tados foram considerados elevados e satisfatórios para 
as fi nalidades do levantamento.6
Dos dados originais do levantamento foram revisadas 
as fi chas de exame bucal relativas a adolescentes 
brancos, negros e pardos (1.799 indivíduos); cerca 
de 1% da amostra global foi excluída (adolescentes 
classifi cados nas categorias de “amarelos” e “indíge-
nas”). Outras condições gengivais e periodontais não 
foram estudadas.
A condição gengival foi avaliada pelo índice perio-
dontal comunitário (IPC), classifi cando: cada sextante 
da boca como saudável (IPC=0); apresentação de 
sangramento gengival à sondagem (IPC=1); ou cálculo 
dentário (IPC=2). Com base nesse índice, calculou-se a 
prevalência de sangramento gengival, considerando os 
adolescentes que apresentaram ao menos um sextante 
com IPC=1. De modo correspondente, a prevalência de 
cálculo dentário refere-se à manifestação de ao menos 
um sextante com IPC=2.
A oclusão dentária dos adolescentes foi avaliada pelo 
índice de estética dentária (dental aesthetic index – 
DAI), que compreende as seguintes condições: ausência 
de dentes anteriores, apinhamento e espaçamento nos 
segmentos incisais, diastema, irregularidade maxilar e 
mandibular nos dentes anteriores, sobressaliência ou 
overjet maxilar e mandibular, mordida aberta vertical 
anterior, e relação molar antero-posterior.17
A fi cha de exame bucal foi associada a questionário (en-
trevista domiciliar) respondido pelos adolescentes sobre 
suas características sociodemográfi cas. Além de sexo, 
idade e cor da pele, foram incluídas outras condições 
de interesse para o estudo. Moradores de zona urbana 
e rural foram comparados. Aglomeração domiciliar 
foi calculada com base na razão entre o número de 
moradores e de cômodos no domicílio; essas medidas 
– têm sido utilizadas em estudos epidemiológicos 
como indicadores de condição socioeconômica. Atraso 
escolar (número de anos de estudo em relação à idade) 
é uma das variáveis incorporadas à base de cálculo do 
índice de desenvolvimento humano no Brasil. Para fi ns 
de análise comparativa, o “atraso escolar” diferenciou 
os adolescentes com ao menos um ano de atraso; e 
“aglomeração domiciliar”, aqueles que residiam em 
domicílios cuja razão de moradores por cômodo foi 
maior ou igual a um.
Para a caracterização contextual de condição social, uti-
lizou-se o índice de desenvolvimento humano, medida 
que congrega informações sobre longevidade, renda e 
escolaridade, aferido para os municípios brasileiros pelo 
escritório regional no Brasil do Programa das Nações 
Unidas para o Desenvolvimento.
O índice de cuidado odontológico2 foi empregado 
para mensurar a utilização de serviços odontológicos 
nas cidades participantes. Tradicionalmente usado em 
avaliações e análises comparativas de efetividade dos 
programas de atendimento odontológico, este índice é 
calculado pela proporção do número de dentes restau-
rados em relação ao total de dentes com experiência 
de cárie (cariados, extraídos ou restaurados), com base 
em dados fornecidos pelo exame de condição de coroa 
dentária no mesmo levantamento. Esse índice somente 
se aplica a estudos de dados agregados; isto é, não é 
defi nido para avaliação individual.
A análise estatística foi realizada utilizando o aplicativo 
SPSS 8.0 1997. A avaliação de fatores associados à 
prevalência de sangramento gengival e cálculo dentá-
rio usou o odds ratio (OR) e respectivos intervalos de 
a São Paulo. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Centro Técnico de Saúde Bucal. Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde 
Pública. Núcleo de Estudos e Pesquisas de Sistemas de Saúde. Condições de saúde bucal no Estado de São Paulo em 2002: relatório fi nal. São 
Paulo; 2002.
194 Saúde gengival e serviços odontológicos Antunes JLF et al
confi ança de 95%, conforme estimados por análise de 
regressão logística não-condicional9 e sem ajuste para 
as demais variáveis do estudo.
O posterior ajuste das estimativas de associação em-
pregou modelos multivariados de análise de regressão 
logística não-condicional: modelo vazio (sem fatores 
associados); modelo 1 (incluindo características 
sociodemográficas dos indivíduos); modelo 2 (in-
cluindo características sociodemográfi cas e anomalias 
dentofaciais dos indivíduos); modelo completo, com-
preendendo a avaliação multinível das características 
individuais (primeiro nível), índice de cuidado odonto-
lógico e índice de desenvolvimento humano das cidades 
participantes (segundo nível). A seleção de variáveis 
explicativas para os modelos multivariados empregou 
critérios de plausibilidade biológica e ajuste estatístico. 
Para a avaliação da qualidade de ajuste dos diferentes 
modelos, usou-se o teste de -2loglikelihood.10
Correspondendo ao quarto modelo multivariado, a 
análise multinível empregou o esquema de efeitos 
fi xos / intercepto randômico, conforme descrita por 
Sniders & Bosker,15 e seguindo rotina descrita em 
outro trabalho.3
O levantamento de saúde bucal que forneceu os 
dados para esse estudo foi aprovado pelo Conselho 
Nacional de Ética em Pesquisa (Processo CONEP n. 
581/2000).
RESULTADOS
Pouco mais de um terço (34,3%) dos adolescentes apre-
sentaram condição gengival não-saudável em um ou 
mais sextantes da boca; 21.5% da amostra apresentou 
sangramento gengival à sondagem em ao menos um 
sextante, proporção próxima à dos que apresentaram 
cálculo dentário (19,4%) em ao menos um sextante (Ta-
bela 1). Não houve manifestação de bolsa periodontal 
profunda (6 mm ou mais); menos de 1% apresentou 
bolsa periodontal rasa (4-5 mm). Apesar desse registro, 
as bolsas periodontais não foram avaliadas.
A análise estatística não ajustada pelos demais fatores 
considerados identifi cou características sociodemográ-
fi cas individuais associadas ao sangramento gengival 
e cálculo dentário (Tabela 2). Adolescentes do sexo 
masculino, negros e pardos, e residentes em área rural 
tiveram maior chance para ambos os desfechos. O mes-
mo se verifi cou para adolescentes com atraso escolar 
e residentes em domicílios com maior aglomeração. 
Várias anomalias dentofaciais também associaram 
com condição gengival não-saudável: apinhamento 
nos segmentos incisais; desalinhamento dos dentes 
anteriores na maxila e mandíbula; overjet maxilar e 
mandibular; mordida aberta vertical anterior; e relação 
molar de meia cúspide ou cúspide inteira. Os grupos de 
adolescentes com sangramento gengival à sondagem e 
com cálculo dentário tiveram pior perfi l de atendimento 
de suas necessidades de tratamento dentário, conforme 
indicado por valores menos elevados do índice de cui-
dado odontológico do que o apresentado pelos grupos 
de adolescentes com condição gengival saudável.
O estudo multinível apresentou resultados análogos 
para ambos os desfechos de saúde gengival. Caracterís-
ticas sociodemográfi cas (sexo, idade e aglomeração do-
miciliar) e de oclusão dentária (apinhamento, mordida 
aberta e relação molar) foram incluídas como controle 
da associação entre as medidas de condição gengival 
e o índice de utilização dos serviços odontológicos nas 
cidades. O modelo relativo ao sangramento incluiu 
ainda associações signifi cantes com moradia em área 
rural, atraso escolar e cor da pele. Visando a controlar 
por condições socioeconômicas contextuais a hipótese 
de associação entre saúde gengival e utilização de servi-
ço odontológico, ambos os modelos incluíram o índice 
de desenvolvimento humano, apesar de sua associação 
com os desfechos não ter sido signifi cante.
Tanto para sangramento (Tabela 3), como para presença 
de cálculo (Tabela 4), o modelocompleto apresentou 
melhor qualidade de ajuste (-2loglikelihood signifi can-
temente menos elevado) que os modelos parciais prece-
dentes. Os mesmos fatores associados ao sangramento 
gengival à sondagem foram associados à variação da 
prevalência de cálculo dentário.
DISCUSSÃO
Condições gengivais não-saudáveis afetaram proporção 
relativamente elevada de adolescentes. Mais de um 
terço dos participantes do estudo apresentaram sangra-
mento gengival ou cálculo dentário em ao menos um 
sextante da boca. Esse número é ainda mais elevado 
que a proporção relativa a crianças de 12 anos de idade 
no mesmo contexto geográfi co.3
Tabela 1. Prevalência de condições periodontais, segundo o 
índice periodontal comunitário de adolescentes (15-19 anos 
de idade). Estado de São Paulo, 2002. (N=1.799)
Valor 
do 
índice
Condição 
periodontal
N %
Intervalo de 
confi ança 
(95%)
IPC = 0
Todos os sextantes 
saudáveis
1.182 65,7 63,5; 67,9
IPC = 1
Sangramento 
gengival em 
ao menos um 
sextante
388 21,6 19,7; 23,6
IPC = 2
Cálculo dentário 
em ao menos um 
sextante
349 19,4 17,6; 21,3
IPC = Índice periodontal comunitário
195Rev Saúde Pública 2008;42(2):191-9
Tabela 2. Avaliação não ajustada de fatores associados ao sangramento gengival e cálculo dentário em adolescentes. Estado 
de São Paulo, 2002. (N=1.799)
Condição
Sangramento gengival Cálculo dentário
IPC=1 IPC≠1 OR não ajustado (IC 95%) IPC=2 IPC≠2 OR não ajustado (IC 95%)
Sociodemográfi ca
Sexo
Feminino 208 856 186 878
Masculino 180 555 1,33 (1,06; 1,67) 163 572 1,35 (1,06; 1,70)
Cor da pele
Brancos 242 1.032 225 1.049
Negros e pardos 146 379 1,64 (1,30; 2,08) 124 401 1,44 (1,13; 1,85)
Área residencial
Urbana 351 1.359 323 1.387
Rural 37 52 2,75 (1,78 ; 4,27) 26 63 1,77 (1,10; 2,84)
Aglomeração
Não 301 1.213 272 1.242
Sim 87 198 1,77 (1,34; 2,35) 77 208 1,69 (1,26; 2,26)
Atraso escolar
Não 197 950 208 939
Sim 191 461 2,00 (1,59; 2,51) 141 511 2,00 (1,59; 2,51)
Anomalia dentofacial
Apinhamento (segmentos incisais)
Ausente 220 930 182 968
Presente 168 481 1,48 (1,17; 1,86) 167 482 1,84 (1,45; 2,33)
Desalinhamento maxilar anterior
Ausente 224 922 197 949
Presente 164 489 1,38 (1,10; 1,74) 152 501 1,46 (1,15; 1,85)
Desalinhamento mandibular anterior 
Ausente 224 898 180 942
Presente 164 513 1,28 (1,02; 1,61) 169 508 1,74 (1,37; 2,20)
Overjet maxilar anterior
< 3 mm 305 1163 251 1.217
> 4 mm 83 248 1,28 (0,98; 1,69) 98 233 2,04 (1,55; 2,68)
Overjet mandibular Anterior
Ausente 379 1.401 342 1.438
> 1 mm 9 10 3,33 (1,34; 8,25) 7 12 2,45 (0,96; 6,28)
Mordida aberta vertical anterior
Ausente 346 1.343 313 1.376
> 1 mm 42 68 2,40 (1,60; 3,59) 36 74 2,14 (1,41; 3,24)
Relação molar antero-posterior
Normal 213 912 175 950
Meia ou uma cúspide 175 499 1,50 (1,20; 1,89) 174 500 1,89 (1,49; 2,39)
Tratamento dentário p p
Índice de cuidado 57,0% 76,4% < 0,001 56,8% 75,5% < 0,001
196 Saúde gengival e serviços odontológicos Antunes JLF et al
A presente indicação de pior condição gengival para 
adolescentes do sexo masculino é confirmada por 
extensa revisão de literatura.11 Diferenças de gênero 
também têm sido relatadas quanto a comportamento 
e conhecimento em saúde bucal, com adolescentes e 
crianças do sexo feminino apresentando vantagens em 
aspectos como escovação e uso de fi o dental, dieta, 
auto-estima e uso regular de serviço odontológico.14 No 
contexto brasileiro, o perfi l de utilização dos serviços 
odontológicos também tem sido relatado como menos 
favorável aos escolares negros e pardos,1 e aos morado-
res de áreas rurais.12 Esses diferenciais são consistentes 
com as associações indicadas no presente estudo e 
reforçam a necessidade de inclusão das características 
sociodemográfi cas individuais como fatores de controle 
da associação entre condição gengival e utilização de 
serviço odontológico.
O presente estudo apontou a prevalência de sangra-
mento gengival e cálculo dentário como associados 
a condições socioeconômicas dos adolescentes exa-
minados. Essa observação também é consistente com 
estudos anteriores aplicados ao contexto brasileiro. 
O exame bucal de jovens por ocasião do alistamento 
militar8 indicou que sangramento e cálculo estavam sig-
nifi cantemente associados com renda familiar e níveis 
de instrução dos adolescentes e de seus pais.
Também características de oclusão dentária dos ado-
lescentes associaram com a prevalência de sangra-
mento e cálculo. Piores condições gengivais têm sido 
apontadas para crianças e adolescentes com anomalias 
dentofaciais;3 e estudos longitudinais indicam que a 
correção ortodôntica colabora para a escovação den-
tária mais efetiva.9
Tabela 3. Modelos multivariados de regressão logística e avaliação multinível de fatores associados ao sangramento gengival em 
adolescentes. Estado de São Paulo, 2002. (N=1.799)
Nível
Modelo vazio Modelo 1 Modelo 2
Coef. EP Coef. EP OR
IC 
95%
p Coef. EP OR
IC 
95%
p
Primeiro nível: indivíduos -1,29 0,06 -1,34 0,67 0,047 -1,52 0,68 0,026
Variável sociodemográfi ca
Idade -0,03 0,04 0,405 -0,04 0,04 0,343
Sexo masculino 0,30 0,12 1,36
1,08; 
1,71
0,010 0,32 0,12 1,38
1,09; 
1,74
0,007
Negros e pardos 0,34 0,13 1,40
1,10; 
1,79
0,007 0,31 0,13 1,36
1,06; 
1,74
0,015
Área rural 0,93 0,23 2,53
1,62; 
3,96
< 0,001 0,87 0,23 2,40
1,52; 
3,78
< 0,001
Aglomeração 0,40 0,15 1,49
1,11; 
2,00
0,008 0,39 0,15 1,48
1,10; 
1,99
0,010
Atraso escolar 0,60 0,12 1,82
1,43; 
2,32
< 0,001 0,58 0,12 1,78
1,39; 
2,28
< 0,001
Anomalia dentofacial
Apinhamento 0,32 0,12 1,38
1,08; 
1,75
0,009
Mordida aberta anterior 0,76 0,21 2,13
1,40; 
3,24
< 0,001
Relação molar 0,25 0,13 1,28
1,01; 
1,63
0,043
-2loglikelihood 1.875,92 1.801,58 1.775,00
Segundo nível: cidades Coef. EP β IC 
95%
p
Constante +0,50 0,53 -
-0,58; 
+1,59
0,353
Índice de cuidado odontológico -0,63 0,19 -0,51
-1,02; 
-0,24
0,002
Índice de desenvolvimento humano -0,04 0,68 -0,01
-1,43; 
+1,35
0,951
-2loglikelihood (modelo completo) 1.736,14
EP = erro-padrão do coefi ciente de regressão
197Rev Saúde Pública 2008;42(2):191-9
A identifi cação de características sociodemográfi cas 
e anomalias dentofaciais associadas à modifi cação da 
condição gengival demandam que esses fatores sejam 
controlados na avaliação de efetividade do uso de 
serviços odontológicos. Os modelos multiníveis deli-
neados indicaram que as cidades com índice de cuidado 
odontológico mais elevado tenderam a apresentar perfi l 
mais favorável de prevalência de sangramento gengival 
e cálculo dentário. Essa associação é ecológica e diz 
respeito à prevalência de condições gengivais e ao nível 
de utilização do serviço odontológico nas cidades par-
ticipantes do levantamento, não sendo possível inferir 
quanto a risco individual dos adolescentes. Como os 
modelos multiníveis compreenderam ajuste multiva-
riado para co-variáveis sociodemográfi cas individuais 
e contextuais, e de oclusão dentária, estima-se que essa 
associação não seja devida a confusão ou ausência de 
controle desses fatores.
Outros aspectos que podem interferir no risco de infl a-
mação gengival e cálculo dentário são relevantes para 
essa avaliação, como: a presença de placa bacteriana, 
passível de aferição pelo índice de placa; a qualidade 
e freqüência da higiene bucal; o tipo de atendimento 
odontológico realizado; a disponibilidade de produtos 
de higiene bucal; o preparo dos dentistas para as ati-
vidades educativas e de prevenção; a disponibilidade 
de iniciativas específi cas de promoção da saúde bucal. 
Entretanto, esses fatores não são usualmente avalia-
dos nos levantamentos epidemiológicos organizados 
segundo as diretrizes da OMS e não se dispõe dessas 
informações para a base populacional estudada. Nesse 
sentido, a não avaliação desses aspectos é reconhecida 
como limitação do presente estudo.
Outra limitação foi a forma de medida empregada no 
exame de condição gengival. O índice periodontal 
comunitário tem sido criticado por ser um paradigma 
ultrapassado de aferição de doença.11Em especial 
para adolescentes, questiona-se a validade do registro 
Tabela 4. Modelos multivariados de regressão logística e avaliação multinível de fatores associados ao cálculo dentário em 
adolescentes. Estado de São Paulo, 2002. (N=1.799)
Nível
Modelo vazio Modelo 1 Modelo 2
Coef. EP Coef. EP OR
IC 
95%
p Coef. EP OR
IC 
95%
p
Primeiro nível: indivíduos -1,42 0,06 -4,07 0,68 < 0,001 -4,44 0,70 < 0.001
Variável sociodemográfi ca
Idade 0,14 0,04 < 0,001 0,14 0,04 < 0,001
Sexo masculino 0,33 0,12 1,39
1,10; 
1,77
0,007 0,34 0,12 1,40
1,10; 
1,78
0.006
Negros e pardos 0,25 0,13 1,29
1,00; 
1,66
0,050
Área rural 0,50 0,25 1,65
1,02; 
2,66
0,042
Aglomeração 0,48 0,15 1,62
1,20; 
2,18
0,001 0,49 0,15 1,64
1,21; 
2,21
0,001
Anomalia dentofacial
Apinhamento 0,53 0,12 1,70
1,34; 
2,17
< 0.001
Mordida aberta anterior 0,68 0,22 1,97
1,28; 
3,04
0.002
Relação molar 0,48 0,12 1,61
1,26; 
2,06
< 0.001
-2loglikelihood 1.770,10 1.729,91 1.687,50
Segundo nível: cidades Coef. EP β IC 
95%
p
Constante +0,27 0,35 -
-0,44; 
+0,99
0,445
Índice de cuidado odontológico -0,49 0,13 -0,57
-0,74; 
-0,23
0,001
Índice de desenvolvimento humano +0,12 0,45 +0,04
-0,80; 
+1,04
0,792
-2loglikelihood (modelo completo) 1.659,48
198 Saúde gengival e serviços odontológicos Antunes JLF et al
hierárquico das condições de interesse (sangramento, 
cálculo e bolsa periodontal). Estima-se que, quando 
aplicado em populações com baixa prevalência de 
bolsa periodontal, o registro hierárquico das condi-
ções avaliadas pelo IPC não levaria a subestimação da 
prevalência de cálculo dentário. Entretanto, o mesmo 
não ocorre para sangramento, pois o registro de cálculo 
dentário (IPC=2), não permite a identifi cação concomi-
tante de sangramento (IPC=1) no mesmo sextante. Essa 
observação é consistente com o relato de prevalência 
mais elevada para sangramento gengival em outro 
levantamento de adolescentes no contexto brasileiro, 
ao aplicar modifi cações ao critério de diagnóstico es-
tabelecido pela OMS.8
Apesar das limitações apontadas, o levantamento 
epidemiológico realizado em 2002 no Estado de São 
Paulo constitui a base de dados mais recente, de maior 
amplitude e melhor qualidade que se dispõe para o 
diagnóstico populacional das condições de interesse. 
Visando atenuar a limitação representada pelo registro 
hierárquico das condições gengivais, o presente estudo 
optou pelo estudo de fatores associados à prevalência 
de sangramento e cálculo dentário, evitando a alterna-
tiva menos precisa da avaliação em conjunto dessas 
condições. Nesse sentido, a categoria de referência 
para a análise comparativa da prevalência de cálculo 
(ausência de cálculo) inclui a manifestação de sangra-
mento, o que também poderia ser questionado como 
limitação do estudo.
Uma extensa reforma no sistema nacional de saúde 
ocorreu no Brasil durante os anos 90, ocasião em que 
o serviço público ampliou a assistência odontológica. 
A partir dessa reforma, foi aumentada a oferta de 
tratamentos preventivos (aplicação de verniz fl uorado 
e selantes), de restauração dentária e de atividades 
coletivas em saúde bucal (educação em saúde bucal, 
bochechos fl uorados, evidenciação de placa bacteriana, 
escovação supervisionada, distribuição de escovas e 
dentifrícios, levantamentos epidemiológicos).
A destinação de recursos públicos para essas fi nalidades 
aumentou consideravelmente a oferta de atendimento 
odontológico principalmente para crianças, e o serviço 
público odontológico foi avaliado como tendo contribuí-
do para reduzir desigualdades em saúde bucal no Estado 
de São Paulo.1 Contudo, a associação entre indicadores 
de saúde gengival e utilização de serviços odontológicos 
não havia sido avaliada para adolescentes.
Nesse sentido, o presente estudo é compatível com 
a hipótese de que o atual sistema de atenção à saúde 
bucal no País tenha propiciado iniciativas de promo-
ção da saúde potencialmente efetivas. Essa hipótese 
também foi apontada por estudos recentes dirigidos 
a outro grupo etário,3 ou empregando outro esquema 
analítico.5 Uma hipótese alternativa consiste em con-
siderar que o índice de cuidados odontológicos nos 
municípios tenha sido mais elevado nos municípios 
em que o grupo examinado teve maior preocupação 
quanto aos cuidados gerais de saúde bucal. Essa hi-
pótese sugere a possibilidade de causalidade reversa, 
inerente a estudos transversais.
Nas cidades estudadas, a maior utilização de serviços 
odontológicos por parte de adolescentes foi associada 
com menor prevalência de sangramento gengival e 
cálculo dentário, controlado por características socio-
demográfi cas e de oclusão dentária. Essa observação 
dá ensejo à hipótese de que a maior capacitação dos 
municípios para atender as necessidades de tratamento 
de restauração dentária possa ter sido acompanhada 
por esforços de promoção de saúde bucal, seja por 
meio de atividades coletivas realizadas em ambiente 
extra-clínico, ou de modifi cações favoráveis na rotina 
do atendimento clínico. Sugere-se que os próximos 
estudos investiguem essa hipótese, avaliando a natu-
reza contemporânea da interação entre o dentista e o 
paciente no serviço público e privado, contribuindo 
para elucidar a relação entre tratamento odontológico 
e promoção da saúde bucal.
199Rev Saúde Pública 2008;42(2):191-9
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REFERÊNCIAS

Outros materiais