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EUTANÁSIA, MISTANÁSIA, ORTOTANÁSIA
MISTANÁSIA
A mistanásia é também chamada de eutanásia social. Leonard Martin sugeriu o termo mistanásia para denominar a morte miserável, fora e antes da hora. Segundo este autor, "dentro da grande categoria de mistanásia quero focalizar três situações: primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar vítimas de erro médico e, terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas de má-prática por motivos econômicos, científicos ou sociopolíticos. 
A mistanásia é um novo tipo de eutanásia que advém duma nova sociedade em transição. É determinada por uma classe política que cria democracia para si mesma. O seu estatuto é baseado na não ajuda dos mais velhos e mais pobres. O humanismo, a moral, e a solidarieade da sociedade tornam-se algo tido em conta apenas a nível formal, mas não à realidade. Dizem-se respeitar as pessoas, a saúde e a vida, mas na realidade, as pessoas não são tratadas, e mortes desnecessárias ocorrem sem que sejam prevenidas. Isto leva a desconfiança e a não comunicação entre o médico e o doente, o que gera várias tensões que conduzem à morte da medicina numa sociedade em transição
DISTANÁSIA
O termo pode ser empregado como sinônimo de tratamento inútil. Trata-se da atitude médica que, visando salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento. Nesta conduta não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. No mundo europeu fala-se de "obstinação terapêutica", nos Estados Unidos de "futilidade médica" (medical futility). Em termos mais populares a questão seria colocada da seguinte forma: até que ponto se deve prolongar o processo do morrer quando não há mais esperança de reverter o quadro? A opinião pública mundial já discutiu amplamente os casos de pacientes famosos que foram mantidos "vivos" além dos limites naturais, tais como Truman, Franco, Tito, Hirohito e, no Brasil, Tancredo Neves, classificando estas situações como distanásicas.
Num artigo publicado no Washington Post, em maio de 1991, intitulado "Escolhendo morte ou mamba em UTI", o Dr. John Hansen conta uma interessante estória (fictícia certamente) sobre a sina dos pacientes, publicada no jornal do Conselho Federal de Medicina (3), que resumidamente apresentamos a seguir.
Três missionários foram aprisionados por uma tribo de canibais, cujo chefe lhes ofereceu escolherem entre morte ou mamba (mamba é uma serpente africana peçonhenta. Sua picada inflige grande sofrimento antes da morte certa ou quase certa). Dois deles, sem saber do que se tratava, escolheram mamba e aprenderam da maneira mais cruel que mamba significava uma longa e torturante agonia, para só então morrer. Diante disso o terceiro missionário rogou pela morte logo, ao que o chefe respondeu-lhe: "Morte você terá, mas primeiro um pouquinho de mamba".
Não seria isso o que vem ocorrendo nos hospitais da modernidade? Como o missionário não sabia o que era mamba, por sua vez o público em geral e os profissionais da saúde em particular, desconhecem a existência e o significado do termo distanásia, praxe nos hospitais de hoje. Quanto mais de ponta for a instituição de saúde, tanto mais possível e sofisticada pode ser a distanásia. Uma postura assim dita "mais humana", mais sensata, que não prescreva mamba para o paciente, pode ser cunhada pela sociedade e ou família como sendo uma prática de eutanásia, ou então confundida com omissão de socorro.É importante assinalar que nos hospitais dos países mais desenvolvidos existe uma consciência bem mais lúcida de limite, em nível de investimento tecnológico na fase final da vida. Na cabeceira dos leitos dos doentes irrecuperáveis constam indicações tais como DNR (do not ressuscitate), NTBR (not to be ressuscitated), no code, code 4, etc).
Como vemos, a distanásia (obstinação terapêutica), tornou-se problema ético de primeira grandeza na medida em que o progresso técnico-científico passou a interferir de forma decisiva nas fases finais da vida humana. O que ontem era atribuído aos processos aleatórios da natureza ou a "Deus", hoje o ser humano assume essa responsabilidade e inicia o chamado "oitavo dia da criação". A presença da ciência e tecnologia começa a intervir decisivamente na vida humana, e essa novidade exige reflexão ética.
ORTOTANÁSIA
A ortotanásia, opondo-se à Distanásia, defende que se reconheça o momento natural da morte de um indivíduo, não se procedendo a qualquer tipo de meio para manter ou prolongar a sua vida. Significa que se deve deixar o ser humano morrer em paz, sem que se promova e acelere esse processo de deixar a vida. É importante neste caso, distinguir Ortotanásia de Eutanásia Passiva, na medida em que na primeira não são levadas a cabo quaisquer medidas que visem manter ou melhorar o estado de saúde do doente, e na segunda estas são tomadas e interrompidas num determinado momento de sua vida... Vale salientar, também, que na ortotanásia, podem ser adotadas medidas paliativas para aliviar o sofrimento da pessoa em vias de falecer
MEDICINA E TECNOLOGIA DE MÃOS DADAS
A primeira vista, poderíamos ingenuamente pensar que a morte nas mãos da moderna tecnologia médica seria um evento menos sofrido, mais benigno, enfim mais digno do que o foi na antiguidade. Podemos, então, fazer as seguintes perguntas:
Não temos maior conhecimento biológico, que nos capacita a prognósticos precisos da morte? Não temos analgésicos poderosos, que aumentam a possibilidade de controlar a dor? Não temos máquinas mais sofisticadas, capazes de substituir e controlar órgãos que entram em colapso? Não temos maior conhecimento psicológico, que é um instrumental precioso no sentido de aliviar as ansiedades e sofrimento de uma morte antecipada? Não temos tudo nas mãos, exatamente o que necessitamos para tornar realidade a possibilidade de uma morte digna, em paz?
A resposta para cada caso pode ser sim e não. Sim, temos muito mais conhecimento que tínhamos anteriormente, mas este conhecimento não tornou a morte um evento digno. O conhecimento biológico e as destrezas tecnológicas serviram para tornar nosso morrer mais problemático; difícil de prever, mais difícil ainda de lidar, fonte de complicados dilemas éticos e escolhas dificílimas, geradoras de angústia, ambivalência e incertezas.
Não se trata de cultivar uma postura contra a medicina tecnológica, o que seria uma ingenuidade. Questionamos sim a "tecnolatria", e o desafio emergente é refletir como o binômio tecnologia/medicina se relaciona com a mortalidade humana e como pode ajudar, em tornando realidade, o morrer em paz. Uma pergunta se coloca: Não deveria a morte ser integrada nos objetivos da medicina, como ponto final dos cuidados médicos e não ser considerada como uma falha da atuação médica?
Atualmente, a medicina trabalha com vistas ao futuro, procurando promover uma vida boa, saudável, aumentar o tempo de vida e sua qualidade. A morte é admitida com relutância no âmbito da medicina, como o limite para atingir tais objetivos. É sentida como falha...
O que aconteceria se nos perguntássemos como a medicina deveria se portar para promover uma vida saudável e uma morte digna, em paz? Se a medicina aceitasse a morte como um limite que não pode ser vencido e usasse esse limite como um ponto focal indispensável para pensar a respeito da doença? Caso isto ocorresse, a realidade da morte como parte de nossa vida biológica seria vista não como uma nota discordante na busca da saúde e bem-estar, mas como um ponto final previsível de sua atuação. Que tal se a medicina científica não fosse uma luta sem fim contra a morte e nos ajudasse a viver a vida mortal e não imortal? A aceitação e a compreensão da morte seriam parte integrante do objetivo principal da medicina: a busca da saúde.
Se o objetivo primeiro da medicina é a preservação e restauração da saúde, a morte deveria ser entendidae esperada como o último resultado deste esforço, implícito e inerente desde o começo. Por outro lado, ressalte-se que o empenho da medicina em impedir ou retardar a morte é conseqüência lógica do seu legítimo esforço da medicina em lutar em favor da vida. A única questão a ser colocada é quando e como, e não se, vamos morrer. 
Frente a cada doença grave - especialmente com idosos - uma questão deveria ser feita e uma possibilidade entrevista: esta doença é fatal, pode tornar-se fatal, deveríamos permitir que se torne fatal?. Nesta ótica uma estratégia diferente deveria entrar em ação, um esforço para trabalhar em direção a uma morte de paz antes que lutar pela cura.
A medicina, hoje, elege como objetivo somente a busca da saúde, encarando a morte como um resultado acidental de doenças previstas como evitáveis e contingentes. A morte é o que acontece quando a medicina falha, e portanto está fora de seu escopo científico. Nesta perspectiva ocorrem deformações do processo do morrer.
“A medicina e a sociedade brasileira têm hoje diante de si um desafio ético, ao qual é mister responder com urgência - o de humanizar a vida no seu ocaso, devolvendo-lhe a dignidade perdida. Centenas ou talvez milhares de doentes estão hoje jogados a um sofrimento sem perspectivas em hospitais, sobretudo nas suas UTIs e emergências. Não raramente, acham-se submetidos a uma parafernália tecnológica, que não só não consegue minorar-lhes a dor e o sofrer, como ainda os prolonga e os acrescenta inutilmente. Quando a vida física é considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade, o amor natural pela vida se transforma em idolatria. A medicina promove implicitamente esse culto idólatra da vida, organizando a fase terminal como uma luta a todo custo contra a morte" (Horta)
Revista Bioética CFM

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