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Direito de Família - Resumo Completo (aula Katia Regina)

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Direito de Família
Aula 1 – 03 de Março de 2010
O termo família sofre de plurivalência semântica, ou seja, tem vários significados. Isso decorre de dois fatos. 
	A família sofreu mudanças importantes. A família romana era uma grande família, constituída por parentes descendentes do mesmo tronco ancestral, e a mulher saía de sua família quando casava, perdia inclusive direito sucessório, e ingressava na família do marido. O pater familias, ancestral mais velho vivo homem, congregava filhos, netos, cônjuges dos filhos, empregados, serviçais sobre o seu poder, sua autoridade. Esse poder (pátria potestas) era tão forte que ele o responsável pela distribuição da justiça, era o chefe político, chefe religioso (ele era juiz, padre, tudo). O pater tinha até poder de vida e de morte sobre o filho – podia sentenciar o filho a morte, impor pena corporal ao filho, entregar o filho a vítima na condição de escravo se ele cometesse um ato ilícito, etc.
	A origem do poder família é a patria potestas, mas, se na época romana, o objetivo era fortalecer a autoridade do pater, o objetivo hoje é proteger a pessoa, o patrimônio do menor. Aos poucos, a patria potestas foi diminuindo... A primeira prerrogativa que o pai perdeu foi a de sentenciar o filho à morte.
	Manus era o poder que o pater famílias exercia sobre a mulher e sobre as noras. No primeiro momento, o pater famílias era o único sui iuris, o único que tinha capacidade plena. 
Assim, o pater famílias tinha poder sobre os filhos, sobre as mulheres e sobre o patrimônio – ele era o titular do patrimônio da família. Ele até podia conceder aos filhos uma espécie de procuração para os filhos negociarem, mas eles o faziam em nome do pater famílias.
	Essa unidade patrimonial da família começa a ser quebrada quando se passa a admitir que os patrimônios que os filhos conquistassem com as guerras como soldados do Império tornassem-se seus, e não do pater famílias. 
	A Igreja Católica tem uma importância muito grande nesse processo, porque com a importância do amor cristão, ela acabou introduzindo o elemento afetivo na família, uma vez que esta não era vista como um centro de afeto, de compreensão. Assim, ao longo da Idade Média, a família sofreu uma grande influência cristã. Além disso, a família passou a ir diminuindo por força das circunstancias históricas, e hoje evoluímos pela família nuclear, que aquela composta basicamente pelos genitores e seus filhos, e que tem características completamente diferentes da família antiga. Essa era grande, o poder se concentrava nas mãos do ancestral mais velho vivo e ela era economicamente suficiente. Hoje a principal função da família é de afeto e de criação dos filhos.
Aula 2 – 05 de Março de 2010-03-05
	A Constituição de 1824 só tratava da família imperial, da sucessão e do seu aspecto de dotação – como devíamos contribuir para o sustento da família imperial. A de 1891 – primeira Constituição republicana – continha um art. que dizia que o casamento reconhecido pelo Estado é o civil e sua celebração será gratuita. Ou seja, o casamento estava previsto na Constituição como A forma de constituição de família como um vinculo absoluto. Isso porque antes, quando não havia separação entre igreja e Estado, o casamento oficial era o religioso. Com a proclamação da República, houve a necessidade de se disciplinar o casamento civil e as regras para esse casamento, o que aconteceu em 1890 (decreto 181 disciplinou o casamento civil). Assim, a Constituição de 1891 trouxe esse dispositivo que afirmava que o casamento civil era o oficial, disciplinado pelo Estado. 
	As Constituições posteriores, até 67/69, assim dispuseram também – tratavam da família constituída pelo casamento, era a família legitima (as fora do casamento eram ilegítimas), que merecia especial proteção do Estado, e o vinculo era indissolúvel. 	
	A Emenda Constitucional nº 9 (junho, 1967) alterou o artigo da Constituição da época dizendo que o casamento poderá ser dissolvido nos casos expressos em lei. Precisávamos de uma legislação para regular o divórcio.
	A lei 6515/77 disciplinou o divórcio – deixamos de ter o desquite e passamos a ter a separação judicial. Não teve tanta modificação de um para o outro não. Mas o legislador fez um artigo afirmando que as pessoas só poderiam se divorciar uma vez – essa norma ficou apenas até a Constituição de 88. 
	Assim, até a Constituição de 88, só tínhamos como merecedora de proteção, mencionada na Constituição, a família matrimonial, só que, desde 67 em diante, não mais considerada indissolúvel. Não era possível continuar fechando os olhos para os outros tipos de família, que já existiam.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. – Ver lei 9263/96
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Nos dois primeiros parágrafos, fala-se de família constituída pelo casamento. Já o par. 3º traz uma forma diferente de constituição de família – união estável (o principal objetivo é constituir família). O único requisito objetivo trazido pelo Constituição é ser uma união heterossexual (inclusive, isso hoje é muito discutido. Muitos afirmam que ela trouxe uma discriminação que não podia ter trazido – ver CF, art. 3º, IV. O par. 4º fala da família monoparental. 
	Existem, ainda, outras formas de constituição familiar que não estão enumeradas no texto constitucional, que não tem aquela verticalidade. Assim, é unanimidade entre os doutrinadores hoje que essa enumeração feita pela Constituição de 88 é exemplificativa, não taxativa. Ex: 2 irmãos que moram juntos, tios morando com os sobrinhos, casais divorciados que se casam, já tinham filhos dos casamentos anteriores e têm filhos em comum (família pluriparental ou família mosaico). 
	O termo família implica pluralidade? Ou seja, uma pessoa só pode representar uma família? O STJ, em um primeiro momento, não considerou que uma pessoa representasse uma família – entendeu, no primeiro caso que julgou, que um homem solteiro que morava sozinho não devia ficar protegido pela lei que fala que você não pode perder seu bem de família. Mas o objetivo da lei não é proteger a pessoa, impedir que ela perca sua moradia? Depois o STJ reviu seu entendimento. 
	O conceito de família hoje, portanto, é um grande desafio. Deve-se abranger todos os grupos, buscando nos elos afetivos o principal identificador do conceito de família. 
	O par. 5º traz a idéia da isonomia conjugal, que decorre da igualdade entre o homem e a mulher, trazida pelo art. 5º – acabou a figura do chefe da família conjugal. Os direitos e deveres são iguais para ambos.
	O par. 6º foi um avanço no sentido de facilitar o divórcio. Antes, para converter, precisava de 3 anos, agora só de 1. E o prazo para o divórcio direto era de 5 anos, passou a ser 2. Quando a lei 6515 falava em divórcio, trazia também o divórcio culposo, ou seja, você podia discutir culpa no divórcio. Hoje só se fala em culpa
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