CC/1916, era diferente – separava os atos que o marido podia fazer sem a autorização da mulher e dos que ela podia fazer sem a autorização dele. Ex: ela não podia trabalhar fora de casa sem a autorização dele, não podia exercer atos do comercio, não podia aceitar mandato, exercer tutela ou curatela, não podia renunciar herança sem sua autorização. Isso até se justificava porque o art. 6º do CC/16 enumerava a mulher casada no rol dos relativamente incapazes, e isso era uma forma de aumentar o poder do varão na constância da sociedade conjugal (se a mulher completasse 21 anos solteira, adquiria a capacidade absoluta. Se casasse depois dos 21, voltava a ser relativamente incapaz). Até que em 1962 entrou em vigor o Estatuto da Mulher Casada, que retirou a mulher casada do rol dos relativamente incapazes e foi essa lei que permitiu que a mulher que não tivesse autorizado uma dívida contraída pelo marido e que ele não tivesse utilizado em benefício da família, tivesse sua meação protegida na hora da cobrança da dívida. Além disso, os bens que ele comprasse com o produto do seu trabalho passaram a ser seus bens, não se comunicavam. Essa lei, contudo, não revogou os incisos que enumeram os atos que a mulher não podia praticar sem a autorização do marido. Em 1967, com a lei do divórcio, a adoção do sobrenome do marido passou a ser facultativa. A Constituição, por sua vez, trouxe a isonomia do homem e da mulher – como conseqüência dessa igualdade, eles passaram a ter os mesmos direitos e deveres na sociedade conjugal. O Código Civil de 2002, amparado na isonomia constitucional, quando trata da eficácia do casamento, enumera direitos e deveres que devem ser observados pelos nubentes, mas sempre de forma isonômica. Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. § 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Hoje, pode só a mulher adotar o sobrenome do homem, só o homem adotar o da mulher, ou ambos adotarem dos dois e ficarem com o mesmo sobrenome. Eles são responsáveis pelos encargos da família de maneira isonômica. Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos. Esse artigo traz os deveres que são considerados os pilares do casamento. A infidelidade hoje tem 2 conceitos – material e moral. A material seria propriamente o adultério, praticar ato sexual com pessoa diversa da do cônjuge. Já a infidelidade moral tem um conceito mais abrangente – sexo com a pessoa do mesmo sexo entraria no conceito de infidelidade moral, não material. Também entram no conceito de infidelidade moral beijos, troca de cartas, etc. A infidelidade virtual também entra no conceito de infidelidade moral, assim como o fato de a mulher fazer inseminação heteróloga sem a autorização do marido ou o marido doar sêmen sem a autorização da mulher – autorizam a separação culposa. A quebra desse dever de fidelidade – aliás, de qualquer dever do 1566 – autoriza a separação culposa. O adultério não é mais crime, mas continua recebendo , sanção civil. Aula – 14 de Abril de 2010-04-14 Continuação da eficácia do casamento – art. 1566 II – vida em comum no domicílio conjugal – dever de coabitação – tem um duplo aspecto: coabitação física no sentido de relações sexuais e também no sentido de viver sob o mesmo teto. Se um dos 2 sai de casa, some, não fala nada, quebra esse dever (para caracterizar abandono, exige-se 1 ano). É importante não esquecermos, contudo, que cada casal tem suas particularidades – ninguém pode alegar quebra do dever de coabitação se o casal decide que vai casar e cada um continuará morando em sua cidade por força de sua profissão, por exemplo. III – dever de mutua assistência – assistência de varias ordens: moral, material, espiritual, etc. A grande finalidade do casamento é a comunhão de vidas e interesses. A quebra do dever de mútua assistência pode se dar de várias formas – uma espécie de abandono na constância do casamento, uma situação de desprezo de um cônjuge por outro na constância do casamento, isso pode ser considerado quebra do dever de mútua assistência. A mútua assistência não é apenas material, envolve também um aspecto psicológico. IV – sustento, guarda e educação dos filhos – isso na verdade é um dever que decorre da paternidade e da maternidade, não do casamento – não importa o estado civil dos pais. Contudo, esse dever está incluído nesse rol como forma de autorizar o pedido de separação culposa se houver a quebra desse dever. V – respeito e consideração mútuos – o Código Civil de 1916 trazia esse artigo igual, mas ia apenas até o inciso IV. Doutrina dizia que, além dos direitos e deveres explícitos, existiam os direitos e deveres implícitos, e afirmavam que não podia ficar de fora do casamento esse dever de respeito e consideração mútuos. Kátia entende que o dever de fidelidade estaria contido nesse dever de respeito e consideração, que é muito mais amplo – significa respeitar o cônjuge, tratá-lo com dignidade, não só externamente, na frente dos outros, mas também internamente, no âmbito do lar conjugal. Kátia entende que esses são os deveres primários, os outros todos decorrem dele. Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. – O Código anterior dizia que seria exercida pelo marido, com a colaboração da mulher. Agora é diferente. Kátia acha que ficaria melhor se estivesse escrito “em conjunto”, mas a idéia é essa. Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses. – conseqüência lógica do caput. Não prevalece a vontade de ninguém – seja qual for a divergência, em ultima instância quem vai decidir é o juiz. Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial – esse artigo é muito importante e não é dada a ela a devida importância. Ele é muito primordial para vários aspectos, mas ele fica meio esquecido aqui. É importante por duas razões: primeiro porque também significou uma grande mudança com relação ao código passado, que falava que o dever era do marido (varão, era dele o ônus de sustento da família) e que, se a mulher (virago) tivesse rendimentos (não falava em trabalho, mas sim em rendimentos – tipo recebeu herança), devia colaborar. Com a isonomia/igualdade de direitos, da mesma forma que foram retiradas as prerrogativas do homem em detrimento da mulher, também foram alteradas as normas nas quais a mulher tinha alguma prerrogativa – é uma via de mão dupla. Pela isonomia da Constituição, é muito comum ouvirmos que cada um deve contribuir com metade do sustento dos filhos, mas isso não é verdade – cada um deve contribuir para o sustento da família e dos filhos na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho (se ele ganha 2/3 e ela 1/3, a colaboração deve ser dada nessa proporção). Isso é importante também no momento da separação – por exemplo, para o cálculo da pensão que deve ser paga aos filhos – ele deve refletir esse percentual (no caso do exemplo anterior, ele deve arcar com 2/3 e ela com 1/3 do valor). Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares relevantes. – é como se fosse uma expressa autorização legal para a quebra do dever de coabitação.