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SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; CUNHA, Maria Cristina Araújo de Brito; HERNAN- DEZ, Fernanda Carvalho Basilio. Serviço Social e Formação Profissional. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha; Fernanda Carvalho Basilio Hernandez. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. 163 p. “Graduação - EaD”. 1. Serviço Social. 2. Formação. 3. Profissional. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0319-2 CDD - 22 ed. 360 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Maria Cristina Araujo de Brito Cunha Design Educacional Yasminn Zagonel Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Hellyery Agda Ilustração Marcelo Goto Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R A S Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Mestre em Gerontologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Especialista em Administração de Recursos Humanos pela Universidade Federal da Paraíba. Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas. Coordenadora do Curso de Serviço Social no Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Unicesumar. Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K4744725Y4 Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais. Graduada em Serviço Social pela Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA). Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv. do?id=K8141244T2 SEJA BEM-VINDO(A)! É com imenso prazer que apresentamos este livro a você! Em primeiro lugar, queremos deixar registrada aqui nossa alegria em participar da sua jornada de aprendizado e troca de experiências. Queremos que saiba que o conteúdo deste livro foi pensado e elaborado com muito carinho, pois nossa preocupação foi encontrar e oferecer informações que pudessem proporcionar conhecimento e, assim, aperfeiçoar sua percepção, compreensão e enten- dimento do tema proposto. O livro é parte de seu material didático, contém trechos e citações de autores renoma- dos que já escreveram sobre o Serviço Social e a formação profissional, tudo de maneira clara e simples para facilitar a compreensão. Esse tema é muito relevante, pois é necessário que você tenha uma visão crítica e inte- gral sobre o processo histórico da profissão, a formação dos profissionais, os campos de atuação, bem sobre as atribuições privativas do assistente social. Na Unidade 1, você conhecerá as particularidades do processo histórico que envolve a formação do assistente social; conhecerá, também, a influência que a Igreja Católica exercia sobre a profissão e a relação com a classe trabalhadora. Essas relações foram decisivas a fundação das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil. Descobrirá como o Serviço Social se tornou profissão regulamentada por lei, identificará as múltiplas expressões da questão social e por que ela é objeto de trabalho do assis- tente social. Conhecerá como era a atuação do profissional e constatará as mudanças ocorridas até os dias atuais, bem como os desafios postos à profissão,seus limites e conquistas. Na Unidade 2, discutiremos sobre o conservadorismo e o positivismo, veremos como a profissão se instituiu e passou a ter contato com bases cientificas – a teoria positivista – por meio das escolas, clareando suas ações. Você terá conhecimento sobre os códigos de ética conservadores, sobre conceitos de ética, que é um dos elementos que compõem a prática profissional, bem como a pers- pectiva modernizadora, que trouxe nova roupagem para a profissão. Além disso, a teo- ria funcionalista legitimou o papel e as ações do Serviço Social. Para fechar essa unidade, abordaremos os projetos neoliberal e societário. Na Unidade 3, discutiremos o contexto das políticas sociais, o significado da questão so- cial e suas várias expressões, o objeto de trabalho do Serviço Social bem como o acesso aos direitos dos serviços socioassistenciais aos indivíduos em situação de vulnerabilida- de social. Apresentaremos o cenário das politicas sociais reguladas pelo Estado, dada a importância para a formação profissional. Nessa unidade, você conhecerá a história das politicas sociais, o que é fundamental para entendê-las na contemporaneidade. Discorreremos, na Unidade 4, sobre a ação interventiva do assistente social nas institui- ções públicas, no terceiro setor e nas empresas. Conhecerá os direitos socioassistenciais APRESENTAÇÃO SERVIÇO SOCIAL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL presentes na Constituição Federal de 1988, que são frutos de uma intensa mobili- zação social, bem como a atuação do assistente social ao longo da história, tendo o Estado como o maior empregador dos profissionais do Serviço Social. Essa unidade também abordará a Política Nacional de Assistência Social que im- plantou o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que foi instituído em 2011 pela presidente Dilma Rouseff (Lei 12.435/2011). A Unidade 5 abordará as atribuições e particularidades do exercício profissional e proporcionará a compreensão do que compete ou não ao Serviço Social, assim como verificará as atribuições específicas do Serviço Social e as dinâmicas de as- sessoria, consultoria e os avanços e desafios que são postos à profissão no que diz respeito à supervisão. Abordaremos, também, o trabalho compartilhado com outros profissionais na coor- denação e implementação de projetos em diferentes campos das políticas sociais e nas atividades sócio jurídicas, que impõem novas exigências para os assistentes so- ciais. Conceituaremos, ainda, a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, para compreendermos como é a atuação do assistente social nesse meio. Caro(a) aluno(a), é importante que você faça uma leitura atenta do livro e também se empenhe em resolver as questões das atividades complementares, que estão no final de cada unidade. Além das atividades, você encontrará sugestões de artigos, livros e filmes relacionados ao conteúdo da disciplina de Serviço Social e Formação Profissional. Agradecemos a oportunidade de fazer parte desse processo de ensino-aprendiza- gem. Desejamos muito sucesso a você! Bons estudos e boa leitura! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO 15 Introdução 16 Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado 22 A Influência da Igreja Católica no Processo de Formação Profissional do Assistente Social 26 A Institucionalização do Serviço Social no Brasil 30 O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais 38 Considerações Finais 43 Gabarito UNIDADE II RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO 47 Introdução 48 Conservadorismo e Positivismo 50 Serviço Social e a Reproduçao das Relações Socias 52 Os Códigos de Ética Conservadores 63 A Matriz Modernizadora do Serviço Social SUMÁRIO 10 64 Projetos Societários 68 O Projeto Ético-Político do Serviço Social e o Projeto Neoliberal 83 Considerações Finais 89 Gabarito UNIDADE III O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS 93 Introdução 94 O Serviço Social no Contexto das Políticas Sociais Face às Expressões da Questão Social 95 O Processo Histórico da Participação Popular no Brasil 100 Processo Histórico de Construção da Política de Assistência Social no Brasil 104 Considerações Finais 110 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE IV DIFERENTES ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 113 Introdução 114 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Públicas 117 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições do Terceiro Setor 123 A Ação Interventiva do Assistente Social em Instituições Empresariais 126 Considerações Finais 131 Gabarito UNIDADE V SERVIÇO SOCIAL E AS PARTICULARIDADES DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 135 Introdução 136 Atribuições Privativas do Assistente Social 138 Assessoria e Consultoria em Serviço Social 141 Supervisão na Área do Serviço Social 143 Conceitos e Atribuições do Serviço Social em Equipes Multi/ Interdisciplinares 150 Considerações Finais 154 Gabarito 157 CONCLUSÃO 159 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Objetivos de Aprendizagem ■ Contextualizar o processo histórico do Serviço Social como profissão. ■ Refletir sobre a influência da Igreja Católica no processo formativo do assistente social. ■ Conceituar o Serviço Social enquanto disciplina profissional inserido no campo das Ciências Humanas e Sociais. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A trajetória histórica do Serviço Social e sua relação com Igreja e o Estado ■ A influência da Igreja Católica no processo de formação profissional do assistente social ■ A institucionalização do Serviço Social no Brasil ■ O Serviço Social na produção e reprodução das relações sociais INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Nesta unidade de estudo, você conhecerá as particularidades e peculiaridades do contexto histórico, econômico e social que circunscreve a formação profissio- nal do Serviço Social, sendo imprescindível identificar o preâmbulo das relações sociais estabelecidas, principalmente entre a Igreja, o Estado e a classe operá- ria, que foram determinantes para a fundação das primeiras escolas no Brasil. É nesse contexto que será apresentado o cenário histórico do surgimento do Serviço Social enquanto profissão, a partir da análise crítica acerca da questão social, que é fruto da relação de desigualdade entre as classes, e o quanto está intimamente ligada à sua formação enquanto classe social e de seu reconheci- mento pelo Estado aos desdobramentos desde a sua origem. Cabe ainda, por meio dos conteúdos que aqui serão abordados, ilustrar teo- ricamente a conotação moral e religiosa que marca a intervenção profissional devido à grande influência da Igreja Católica, sob a missão ideológica da classe dominante, cujo fundamento é encontrado na Doutrina Social da Igreja. Dessa forma, a intervenção profissional do assistente social estava dirigida, sobretudo, às situações de “pobreza” e/ou aos “desajustados”, a fim de levá-los a um maior ajustamento à ordem social vigente – visão em que a pobreza se caracteriza como um caso de polícia. Percorrer a trajetória histórica de como surge a profissão, lhe oportunizará compreensão de como se estabelece a identidade profissional do assistente social, marcada por uma série histórica de uma intervenção socialmente determinada. O desvelar do Serviço Social como uma profissão inserida na divisão sócio-téc- nica do trabalho exige novas competências no contexto contemporâneo. À medida que avançamos na trajetória histórica, vamos refletir junto com você sobre os vários desafios postos à profissão, bem como seus limites e avan- ços. Nessa perspectiva de análise teórica, repassaremos todo conteúdo destaunidade, que vai desde a concepção de sociedade, de Estado, à concepção da formação, da identidade e da intervenção profissional na contemporaneidade. Bom estudo! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 © sh ut te rs to ck , c at w al ke r O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL E SUA RELAÇÃO COM IGREJA E O ESTADO O marco histórico do surgimento do Serviço Social no Brasil registra a ação de filantropia da Igreja Católica – com caráter missionário de caridade junto aos setores abastados da sociedade – que se dedica, também, por meio das ordens religiosas, a cuidar e administrar as instituições de caridade, hospitais e esco- las, contando com o trabalho voluntário de religiosos, mais precisamente de sua parcela feminina. A essa vinculação da formação profissional do Serviço Social à imagem pre- dominantemente feminina e de caráter filantrópico está enraizada a memória histórica desde a sua institucionalização, imbricada pela relação entre a Igreja e o Estado, de tal modo que, ao pensar na ação do assistente social, vem logo à ideia da “moça boazinha” que pratica o bem aos necessitados, não é verdade? Esse cenário nos remete às obras de caridade mantidas pelo clero e tam- bém por leigos e damas que vêm de uma longa tradição desde os primórdios do período colonial. Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 Para compreender plenamente a questão do período colonial, é importante ter em mente o processo de formação do estado brasileiro, que foi constituído para incentivar a colonização e povoamento do Brasil. O governo português adotou um sistema de administração territorial constituído por Capitanias Hereditárias, que cdividiam o território nacional em grandes faixas, tornando-as particulares. Essas faixas geralmente eram destinadas a pessoas da nobreza e do circulo social da coroa, e isso nos levou a uma situação em que o poder estava nas mãos de uma minoria da população, ou seja, as riquezas acumularam em uma pequena parte da sociedade, situação que favoreceu o abuso e a exploração da classe tra- balhadora e que ainda hoje apresenta resquícios na sociedade. É importante observar nesse cenário o pano de fundo no qual se constitui o surgimento da profissão; o Serviço Social passa a ser reconhecido pelo Estado no momento da transição do capitalismo concorrencial ao capitalismo dos monopó- lios, que acarretou, por consequência, o agravamento das expressões da questão social e a necessidade do Estado em responder, de alguma forma, ao sistema vigente, a partir de pressões exercidas pela classe trabalhadora. Assim, pode-se perceber que a classe trabalhadora, a partir das transforma- ções ocorridas no modo de produção capitalista, teve suas condições de vida e trabalho duramente afetadas, ao passo que, desprovidos dos meios de produção, encontram na venda de sua força de trabalho, os meios de subsistência num sis- tema injusto e desigual. Na forma monopólica, esse sistema adquire uma feição mais perversa, marcado predominantemente pela exploração da minoria sobre a maioria. Martinelli (1991, p. 54) faz a seguinte síntese: Com o capitalismo se institui a sociedade de classes e se plasma um novo modo de relações sociais, mediatizadas pela posse privada de bens. O capitalismo gera o mundo da cisão, da ruptura, da exploração da maioria pela minoria, o mundo em que a luta de classes se trans- forma na luta pela vida, na luta pela superação da sociedade burguesa. A autora aponta que o capitalismo instaura na vida social duas classes antagô- nicas e contraditórias que constituem seu modo de ser e entender a sociedade a partir de sua inserção na esfera produtiva. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Desse modo, observamos que existe a classe proprietária dos meios de pro- dução e a classe que dispõe apenas de sua força de trabalho, ambas detentoras de interesses e objetivos distintos, os quais são representados por um organismo externo a essa relação: o Estado. Essa instituição transmite ao conjunto social a ideia de neutralidade, de ins- tituição permeável às diversas necessidades dos sujeitos sociais e consensual. Na verdade, surge para atender a interesses particulares de apenas uma classe: a burguesia. Para Pilleti (1986), o Estado é um mecanismo do qual a classe detentora dos meios de produção faz uso para manter o controle sobre os demais setores da sociedade, utilizando-o ainda como um instrumento de satisfação de seus anseios de classe. É nesse contexto de relações de detenção de poder econômico que o capi- talismo surge enquanto um modelo político, econômico e social, que tem seu início a partir do fim da sociedade baseada no modo de produção feudal. Nesse sentido, Piletti (1986) afirma que seu início remonta ao final da Idade Média, quando os comerciantes vendiam produtos nos arredores das propriedades dos senhores feudais, também conhecidos como burgos. Essa fase ficou conhecida como capitalismo comercial. Ocorre que no decorrer da história e por conta das transformações ocorri- das no interior do próprio modo de produção capitalista, o capitalismo evoluiu e passou por outras fases. Desse modo, nos apoiaremos nas ideias de Singer (1987) para discorrer sobre as características das fases concorrencial e monopólica do modo de produção capitalista. O autor em questão as diferencia a partir da forma de concorrência e do modo de gestão das empresas em cada fase. Singer (1987) argumenta que na fase concorrencial do capitalismo – que ele nomeia “liberal” – muitas empresas disputavam entre si a preferência dos clien- tes, que eram atraídos por meio da oferta de certas vantagens. No capitalismo monopolista, porém, essa disputa ocorre entre um número reduzido de grandes empresas, as quais fazem uso de publicidade para convencer os clientes de que os preços altos são resultantes da qualidade dos produtos, sustentada por meio de sua “marca e aparência”. Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Ainda em Singer (1987), pode-se inferir que no capitalismo concorrencial existiam várias organizações, geridas pelos seus donos, e que competiam entre si pelo apreço de seus clientes. No capitalismo monopolista, as pequenas e médias organizações são substituídas por grandes corporações, as quais detêm o con- trole dos mercados nacionais e passam a internacionalizar suas economias por meio das empresas multinacionais, as quais são administradas por executivos e são instaladas nos diversos países que compõem o globo. Perceba que aprofundamos a leitura no que diz respeito à análise crítica de conjuntura para além da atuação conjunta entre a burguesia e a Igreja Católica, que deu origem ao Serviço Social no Brasil. Sem dúvida, o incentivo estatal à industrialização também fez parte do pano de fundo sobre o qual a profissão se constitui, pois sua fundação remonta ao período em que o país era governado por Getúlio Vargas, contexto no qual a economia, paulatinamente, deixava de ser essencialmente agrária, passando a dividir seu espaço com a industrializa- ção. Nesse sentido, Martinelli (2010, p. 122) pontua: A acumulação capitalista deixava de se fazer através das ativi- dades agrárias de exportação, centrando-se no amadurecimento do mercado de trabalho, na consolidação dopolo industrial e na vinculação da economia ao mercado mundial. Essas transformações deflagradas no modo de produção ocasionaram mudanças nas formas de organização da sociedade brasileira e nas condições de vida dos sujeitos que nela viviam, uma vez que o desenvolvimento pleno da industriali- zação no país trouxe consigo o início da aglomeração, nas nascentes cidades, de indivíduos desprovidos dos meios de produção, que só encontravam meios para subsistir na venda de sua força de trabalho. Para além do aumento da lucratividade capitalista, a entrada do capital na fase monopólica trouxe consigo o acirramento das expressões da questão social já existentes no capitalismo concorrencial, na medida em que, nessa fase, a intro- dução de novas tecnologias no processo produtivo foi cada vez maior, acarretando a expulsão de muitos trabalhadores de seus postos de trabalho. Esse fenômeno deu-se gradativamente à medida que o capitalismo foi se desenvolvendo e, nesse sentido, Marx (1989, p. 506) contribui com nossa exposição ao apontar que: © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 É incontestável que a maquinaria em si mesma não é responsável de serem os trabalhadores despojados dos meios de subsistência. Ela ba- rateia e aumenta o produto no ramo de que se apodera e, de início, não modifica a quantidade de meios de subsistência produzidos em outros ramos. Depois de sua introdução, possui, portanto, a sociedade a mes- ma ou maior quantidade de meios de subsistência para os trabalhado- res despedidos, não se levando em conta a enorme porção do produto anual, dilapidada pelos que não são trabalhadores. E este é o ponto nevrálgico da apologética econômica. Para ela, as contradições e anta- gonismos inseparáveis da aplicação capitalista da maquinaria não exis- tem, simplesmente porque não decorrem da maquinaria, mas da sua aplicação capitalista. A maquinaria como instrumental que é, encurta o tempo do trabalho, facilita o trabalho, é uma vitória do homem sobre as forças naturais, aumenta a riqueza dos que realmente produzem, mas, com sua aplicação capitalista, gera resultados opostos: prolonga o tem- po de trabalho, aumenta sua intensidade, escraviza o homem por meio das forças naturais, pauperiza os verdadeiros produtores. Essa substituição do trabalho vivo pelo trabalho morto, ou seja, a retirada dos trabalhadores dos centros produtivos e sua substituição pelas máquinas, iniciada com a Primeira Revolução Industrial, proporciona condições favoráveis a uma maior acumulação do capi- tal, uma vez que as máquinas e as novas tecnologias apre- sentam-se mais eficientes ao capitalista em compa- ração ao trabalho humano, que passa a ser necessário somente em condições espe- cíficas e em número menor. Netto (2011, p. 24) com- plementa tal afirmação ao apontar que: Trajetória Histórica do Serviço Social e sua Relação com Igreja e o Estado Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 [...] o capitalismo monopolista conduz ao ápice a contradição elemen- tar entre a socialização da produção e a apropriação privada [...] E no âmbito emoldurado pelo monopólio, a dialética forças produtivas/re- lações de produção é tensionada adicionalmente pelos condicionantes específicos que a organização monopólica impõe especialmente ao de- senvolvimento e à inovação tecnológicos. O mais significativo, contudo, é que a solução monopolista – a maximização dos lucros pelo controle dos mercados – é imanentemente problemática: pelos próprios meca- nismos que deflagra, ao cabo de um certo nível de desenvolvimento, é vitima dos constrangimentos inerentes à acumulação e à valorização capitalistas. A importância do conhecimento dos determinantes históricos que configuram o sistema de produção, os aspectos políticos, econômicos e sociais, vem dar sentido também ao contexto histórico do Serviço Social, por ser uma profissão socialmente determinada. O Serviço Social enquanto profissão socialmente necessária e inscrita na divisão social e técnica do trabalho tem seu surgimento marcado pela interven- ção estatal sobre as expressões da questão social. Assim, a profissão é requisitada com a finalidade de, por meio da operacionalização das políticas sociais, inter- vir junto à classe trabalhadora e controlar suas lutas, as quais ameaçavam a “paz social” necessária à plena acumulação capitalista. Portanto, com a função social que lhe fora atribuída pelo Estado, repre- sentando os interesses classistas da burguesia, o Serviço Social, na realidade brasileira, desenvolveu sua ação tendo em vista a manutenção da ordem social até meados da década de 1960, momento no qual a categoria profissional, impul- sionada pelo contexto sócio-histórico, desenvolve um processo de revisão de seus valores e que resulta na crítica ao tradicionalismo, que até então norteava a prática profissional. © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL Com a emergência da socie- dade burguesa, cresceram os problemas sociais a par- tir da origem do mundo do trabalho, fruto das relações de produção e de proprie- dades. Potencializaram-se as ações de natureza assisten- cial referentes aos aspectos de infraestrutura de saúde e de assistência, ainda que escassos e precários. Entretanto, devem sua existência de forma quase exclusiva às iniciativas de congregação religiosa se propagaram no país, e se fortalecem mediante o auxílio material e de ajuda social destinado à população que era atingida principalmente pelas guerras e epidemias daquela época. O Serviço Social no Brasil surgiu na década de 1930, juntamente com a implantação das lEIS sociais por iniciativa da Igreja Católica. Essas leis consis- tiam na regulamentação das leis trabalhistas motivadas pelo mercado de trabalho capitalista, no qual a força de trabalho era vista como mercadoria, cujo salário, em troca, era determinado pelo capital, que a explorava. No momento em que é vivenciado nacionalmente, o Serviço Social é um pro- jeto embrionário de intervenção profissional, apresentando-se como estratégia de qualificação do laicato da Igreja Católica, que crescia por meio da ampliação de suas ações caritativas aos mais necessitados. Procurava-se, com isso, atender ao imperativo da justiça e da caridade, em cumprimento da missão política do apostolado social em face do projeto de cristianização da sociedade, cuja fonte de justificação e fundamento é encontrada na Doutrina Social da Igreja. A Influência da Igreja Católica no Processo de Formação Profissional do Assistente Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Os séculos XVIII e XIX foram marcados por acontecimentos e transforma- ções sociais de grande impacto para a sociedade, dadas transformações políticas, econômicas, sociais e culturais. O século XX, por sua vez, apresenta um cenário econômico e social cada vez mais impulsionado por mudanças, principalmente no que diz respeito ao processo de industrialização da sociedade. Nesse momento se intensifica a for- mação da classe dos assalariados. É no processo de urbanização e industrialização que começam a aparecer os problemas sociais em decorrência das relações de trabalho que se estabelecem a partir do emprego da mão de obra de todos os componentes da família (crianças, mulheres, homens). Diante do desenvolvimento da industrialização, a classe operária apresenta um crescimento exorbitante. Os operários se aglutinaram nos centros urbanos vivendo emcondições insalubres, precárias e desumanas, submissos a excessivas horas de trabalho. Um momento de crescente miséria e exploração de homens, mulheres e crianças. O trabalho apresentou-se como uma questão delicada na República Velha, devido aos avanços da industrialização e às condições de tra- balho, as quais eram bastante precárias, sem leis que regulamentassem a relação patrão-empregado. As jornadas de trabalho eram longas, não havia férias nem aposentadoria ou descanso semanal remunerado, não havia proteção no traba- lho para mulheres e crianças e muitas fábricas tinham o ambiente totalmente insalubre. O Brasil, então, experimentava um novo cenário político em que os cida- dãos tomavam o poder. Sua primeira fase foi chamada República Velha e durou exatos 41 anos, entre 1889 a 1930. Outros nomes identificam a épo- ca: “República dos Bacharéis” e “República Maçônica”. Bacharéis devido aos advogados que sentavam à cadeira do chefe de estado; estes, em maioria, praticavam a maçonaria. Fonte: as autoras. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Segundo Iamamoto e Carvalho (1985), a questão social não é senão a expres- são do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. Com o crescimento da classe trabalhadora e, consequentemente, do tama- nho das famílias dos operários, a insatisfação tornou-se cada vez mais crescente face às precárias condições em que estas se encontravam, de modo que obrigou o Estado e a Igreja a promoverem algumas concessões e modificações na socie- dade capitalista, mas que tinham como pano de fundo o controle das massas. Nos anos de 1930, com o Estado Novo então instituído, duas demandas emergiam: absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, legitimação política. Para isso, adota-se uma política de massa, incorporando parte das reivindicações da população, porém controlando a auto- nomia dos movimentos reivindicatórios do proletariado emergente por meio de canais institucionais, absorvendo-os na estrutura corporativista do Estado. Conforme Verdès-Leroux (1986, p. 15), [...] o projeto profissional dos anos 30 baseava-se na educação da clas- se operária, fornecendo-lhes regras de bom senso e razões práticas de moralidade, corrigindo-lhes seus preconceitos, ensinando-lhes a racio- nalidade, disciplinando-os em seus trajes, seus lares, nos orçamentos domésticos, na maneira de pensar. A função do assistente social nesse período – embebido pelo caráter militante católico – encontra-se na missão ideológica da classe dominante, ou seja, na feitura da perso- nalidade do indivíduo de acordo com a visão de mundo da burguesia adaptada sob a forma de certo humanismo cristão. Diante do que já foi visto até o momento, identificamos claramente a qual grupo o serviço social atendia. Segundo Iamamoto e Carvalho (2000), a implantação do Serviço Social apresenta-se no decorrer desse processo histórico, o qual se iniciou a partir dos anos de 1920-1930. Sua gênese foi como iniciativa particular de grupos e frações de classe, que se manifestavam, principalmente, por inter- médio da Igreja Católica. Nessa perspectiva, os autores afirmam que o Serviço Social é utilizado como um instrumento de ajustamento do comportamento dos indivíduos às nor- mas vigentes na sociedade, “[...] prevenindo e canalizando a eclosão de tensões A Influência da Igreja Católica no Processo de Formação Profissional do Assistente Social Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 para os canais institucionalizados estabelecidos oficialmente” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 111). Essa face conservadora da profissão e de suas ações, resultante da função social e da identidade que lhe foi atribuída pela burguesia, encontra as bases para sua confirmação em sua gênese, marcadamente atrelada ao ideário da Igreja Católica, que enxergava na ação social e, consequentemente, nos agentes que a desenvolviam uma maneira de recuperar seu prestígio perante a sociedade, que experimentava grandes transformações econômicas e sociais. Yazbek (2006) contribui com a nossa reflexão ao apontar que, sob a influ- ência da Igreja Católica, a questão social era concebida como uma problemática de ordem moral e religiosa, sendo a intervenção dos agentes sociais um meio de adequar os indivíduos às relações sociais postas. Ademais, as ações e pen- samentos desse agente eram norteados pelas encíclicas papais Rerum Novarum e Quadragésimo Anno, pelo ideário franco-belga e pelos pensamentos de São Tomás de Aquino. Vale ressaltar que o contexto vivenciado pelas primeiras alunas dos quadros de formação das escolas também se constituiu num fator de grande influência na medida em que estas pertenciam, em larga medida, à alta sociedade. Por isso, traziam consigo os ideais conservadores sob os quais foram educadas. Nesse sen- tido, Barroco (2005) salienta que: A origem social das mulheres que ingressam nas primeiras Escolas de Serviço Social vincula-se ao pensamento católico e às classes dominan- tes; como mulheres e católicas, são influenciadas pelos padrões da mo- ral conservadora. Deste modo, além da influência exercida pelas instituições externas ao Serviço Social (Igreja-Estado-Burguesia), os pensamentos e a visão de mundo das primeiras alunas que, mais tarde, seriam as primeiras profissionais também impri- miam à ação profissional essa característica conservadora. © sh ut te rs to ck O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL Para analisarmos o surgimento da profissão no Brasil temos de nos atentar para o contexto que permeou os diversos fatores que, combinados, culminaram na institucionalização do Serviço Social no país. Nesse sentido, Iamamoto e Carvalho (2000) contribuem com nossa refle- xão ao afirmarem que as obras e instituições de cunho assistencial que surgiram após o final da Primeira Guerra Mundial foram importantes para o desenvolvi- mento da ação social e das primeiras escolas de Serviço Social no Brasil, já que “[...] os grandes movimentos operários de 1917 a 1921 tornaram patente para a sociedade a existência da ‘questão social’ e da necessidade de procurar soluções para resolvê-la, senão minorá-la” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2000, p. 166). De acordo com os autores, tais instituições eram compostas por famílias per- tencentes à burguesia paulista e carioca que desenvolviam ações diferentes das tradicionais de caridade, pois contavam com um suporte do Estado. Além do apoio estatal para o desenvolvimento de tais ações junto aos mais pauperiza- dos, esses setores da burguesia brasileira contavam ainda com o amplo apoio da Igreja Católica, a qual, por sua vez, exerceu forte influência para o surgimento do Serviço Social no Brasil. De acordo com Iamamoto (1999, p. 92), a profis- são se origina no: É de grande relevância aprofundar o estudo do resgate histórico sobre o surgimento do Serviço Social no Brasil, pois nos remete ao cenário sócio-po- lítico e econômico que circunscreve sua gênese, o que nos permite compre- ender a influência da Igreja Católica na formação profissional do assistente social. Fonte: www.webartigos.com/artigos/resgate-historico-sobre-o-surgimen- to-do-servico-social-no-brasil/25916. Acesso em: 29 out. 2019. A Institucionalização do Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 [...] amplo movimento social em que a Igreja, buscando uma presença maisativa no “mundo temporal”, avança de uma postura contemplativa para a recuperação de áreas de influência ameaçadas pela secularização e pelo redimensionamento do Estado. Pode-se, assim, compreender que a origem do serviço social, no Brasil, situa-se no seio da Igreja Católica, a qual ante as transformações que estavam em curso na sociedade brasileira buscou estratégias de recuperação e manutenção de sua legitimação social. Martinelli (2009) comunga com essa assertiva na medida em que o Serviço Social surge no Brasil a partir de iniciativas da burguesia ampa- radas fortemente pela Igreja. Considerando toda análise histórica que até aqui ilustramos sobre as ques- tões que perpassam o contexto sócio-histórico que dão origem ao Serviço Social, você consegue identificar os nós críticos que os autores apontam no que tange às questões políticas, econômicas e sociais que determinam socialmente a profissão? Vamos em frente, então, aprofundando cada vez mais esse contexto. Estevão (1986) afirma que as condições de trabalho no Brasil eram muito precárias e impunham aos operários uma jornada de trabalho sistematizada a partir das necessidades das organizações. Não havia descanso remunerado, férias ou auxílio-doença. Ademais, todos os indivíduos eram submetidos às mesmas condições de trabalho, independentemente de sua condição física ou faixa etária. A partir do desenvolvimento e aprimoramento do modo de produção, pas- saram a ser impostas condições cada vez mais duras a essa classe, por conta do crescimento acelerado da pobreza, desemprego, condições insalubres de mora- dia e trabalho. Assim, o capitalista tornou propício o desenvolvimento das mazelas ine- rentes à sua própria personalidade e que colocavam em risco a sua acumulação de capital. Tais mazelas constituem o cerne da questão social, que Iamamoto e Carvalho (2000) definem como o nascimento e organização da classe trabalha- dora e sua entrada na cena política. Os atendimentos prestados pela Igreja Católica e pelas damas de caridade nas instituições e obras sociais passaram a ser insuficientes. A questão social tornou-se cada vez mais complexa e adquiriu novas características, que exigiam respostas cada vez mais articuladas e eficazes. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Nesse contexto, o Estado passa a intervir sobre a questão social e, de acordo com Martinelli (2009), tal intervenção se deu por meio do estabelecimento de uma aliança entre o Estado com, a Igreja e a burguesia, tendo em vista exercer certo controle sobre a classe trabalhadora e manter sua hegemonia. A preocupação estatal em atender as demandas da classe trabalhadora deve- -se ao fato de que o Estado, sob o comando de Getúlio Vargas, desde os idos de 1933, deu início ao estreitamento de laços com a burguesia industrial, e por conta disso, necessitava intervir junto à classe trabalhadora, mantendo-a sob seu controle, tendo em vista garantir o desenvolvimento capitalista no país. Nesse sentido, Iamamoto e Carvalho (2000, p. 151) assinalam que: O Estado assume paulatinamente uma organização corporativa, ca- nalizando para sua órbita os interesses divergentes que emergem das contradições entre as diferentes frações dominantes e as reivindicações dos setores populares, para, em nome da harmonia social e desenvol- vimento, da colaboração entre as classes, repolitizá-las e discipliná-las, no sentido de se transformar num poderoso instrumento de expansão e acumulação capitalista. A política social formulada pelo novo regime – que tomará forma através de legislação sindical e trabalhista – será sem dúvida um elemento central do processo. Para legitimar-se enquanto uma instituição acima das diferenças sociais existentes, o Estado precisava absorver, de alguma forma, as necessidades da classe traba- lhadora, ao mesmo tempo em que atendia aos interesses da classe dominante. O Estado Varguista se caracterizou por atender aos anseios dos diversos setores da sociedade brasileira, tanto das burguesias agrárias e industriais quanto dos tra- balhadores, tendo em vista, nas palavras de Iamamoto e Carvalho (1985, p. 153): [...] isolar a classe [trabalhadora] de sua vanguarda organizada e afir- mar o mito do Estado benetactor, da outorga da legislação protetora do trabalho, o mito do Estado acima das classes e representativo dos interesses gerais da sociedade e da harmonia social. A Institucionalização do Serviço Social no Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Desse modo, ainda nos primeiros anos de seu mandato como presidente do país, Vargas propôs algumas alterações nas legislações sociais já existentes que diziam respeito à organização para o trabalho, instituindo salário mínimo, des- canso semanal e férias remuneradas, limites quanto à jornada de trabalho. De acordo com Fausto (1998, p. 335), essa política trabalhista teve: [...] por objetivos principais reprimir os esforços organizatórios da classe trabalhadora urbana fora do controle do Estado e atraí-la para o apoio difuso ao governo. [...] Quanto ao segundo objetivo, lembremos que a esporádica atenção ao problema da classe trabalhadora na década de 1920 deu lugar, no período getulista, a uma política governamental específica. Isso se anunciou desde novembro de 1930, quando foi cria- do o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Seguiram-se leis de proteção ao trabalhador, de enquadramento dos sindicatos pelo Esta- do, e criavam-se órgãos para arbitrar conflitos entre patrões e operários [...]. Entre as leis de proteção ao trabalhador estavam as que regularam o trabalho das mulheres e dos menores, a concessão de férias, o limite de oito horas da jornada normal de trabalho. Nesse sentido, foi por meio da criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio que o Estado pôde operacionalizar as legislações referentes à organiza- ção da classe trabalhadora e exercer seu poder de coação sobre ela, controlando os seus movimentos ao mesmo tempo em que construía a imagem de “pai dos pobres”. No que se refere à atuação desse ministério, Ghiraldelli Júnior (1991, p. 28) pontua que: De fato, o novo Ministério não demorou para agir. Em março de 1931, com a lei de sindicalização (Decreto nº 19.770, de 19-03-31), o órgão se municiou para dar partida, na prática, à “política social” do “Governo Provisório”. A lei de sindicalização buscou transformar e concorrer com o padrão de associações geradas na Primeira República. Consagrou o princípio da unidade e definiu o sindicato como órgão consultivo e de colaboração com o poder público, colocando o sindicalismo de forma inequívoca na órbita governamental. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Os sindicatos foram transformados, então, em instrumentos de legitimação do governo vigente e de controle sobre as ações da classe trabalhadora. Iamamoto (2000) concorda com a afirmação feita por Ghiraldelli (1991), pois, segundo a autora, essa instituição tornou-se, a partir da Era Varguista, um centro que coope- rava com o poder público, principalmente pelo fato de prestar serviços de ordem assistencial e previdenciária com recursos oriundos dos próprios trabalhadores. Ante o exposto, o que se quer ressaltar é que foi durante o governo de Vargas que o Serviço Social se institui enquanto profissão no Brasil, uma vez que é nesse contexto que se desenvolve a industrialização e, com ela, assistimos ao nasci- mento da classe operária, que é quem produz a riqueza dentro do capitalismo, mas não é a que se apropria de seus frutos, cabendo a esta sobreviver a partir de seus salários e das políticas desenvolvidas pelo Estado em parceria com a Igreja e a burguesia para oatendimento de suas demandas. O SERVIÇO SOCIAL NA PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS As profissões surgem por serem socialmente necessárias e dirigem suas ações para atender determinadas necessidades da sociedade. Partindo desse princípio, afirmamos que o Serviço Social, enquanto uma profissão, tem seu desenvolvi- mento datado e contextualizado. Nesse sentido, Netto (2011, p. 70) aponta que: [...] a nosso juízo, constitui o efetivo fundamento profissional do Servi- ço Social: a criação de um espaço sócio-ocupacional no qual o agente técnico se movimenta – mais exatamente, o estabelecimento das con- dições histórico-sociais que demandam este agente, configuradas na emersão do mercado de trabalho. O Serviço Social, enquanto uma especialização do trabalho coletivo, tem sua ori- gem determinada a partir de interesses sociais, os quais encontram raiz: O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 [...] a identidade atribuída ao Serviço Social pela classe dominante era uma síntese de funções econômicas e ideológicas, o que levava à pro- dução de uma prática que se expressava fundamentalmente como um mecanismo de reprodução das relações sociais de produção capitalis- ta, como uma estratégia para garantir a expansão do capital (MARTI- NELLI, 2009, p. 124). [...] os assistentes sociais foram imprimindo à profissão a marca do agir imediato, da ação espontânea, alienada e alienante. Acabaram por pro- duzir práticas que expressavam e reproduziam os interesses da classe dominante, tendo por objetivo maior o ajustamento político e ideo- lógico da classe trabalhadora aos limites estabelecidos pela burguesia (MARTINELLI, 2009, p. 127). O Serviço Social, na sociedade brasileira, só se torna uma profissão reconhecida e inserida na divisão sócio-técnica do trabalho a partir da intervenção do Estado nas expressões da questão social, quando, nas palavras de Iamamoto (2000, p. 31): [...] o Serviço Social deixa de ser um instrumento de distribuição da caridade privada das classes dominantes, para se transformar, priori- tariamente, em uma das engrenagens de execução da política social do Estado e de setores empresariais. Nesse sentido, a autora afirma que a mola propulsora para a institucionalização do Serviço Social no país foi a criação das primeiras grandes instituições sociais durante o governo de Getúlio Vargas, e que se constituíram nos primeiros espaços de atuação profissional: o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Social do Comércio (Sesc) e a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Ao lado das instituições que necessitavam de assistentes sociais para o desenvolvimento de suas ações, tam- bém pesou para a profissionalização do Serviço Social no Brasil a fundação das Escolas. Elas se tornaram as responsáveis pela formação dos primeiros agentes profissionais para a atuação na realidade. Sob esse contexto é que o Serviço Social se transforma numa profissão, requisitada socialmente para fazer valer os interesses da classe dominante em manter intocada a acumulação capitalista ao mesmo tempo em que, por meio das políticas sociais, presta atendimento às necessidades apresentadas pela classe trabalhadora. A atuação desse profissional não pode ser entendida dissociada dessa contradição elementar e inerente à sua natureza. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Para melhor compreensão da influência da Igreja Católica no processo de formação do Serviço Social, Silva (1995) afirma que, desde o ano da criação das primeiras escolas de Serviço Social até 1945, são definidos três eixos para a for- mação profissional do assistente social. São eles: 1 - Formação científica, na qual era necessário o conhecimento de dis- ciplinas como Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favorecen- do ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade. 2 - Formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto sua ação no combate aos males sociais. 3 - Formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios inerentes à profissão sejam absorvidos pelos alunos. Ainda no pro- cesso de formação profissional, o Serviço Social também sofreu grande influência norte-americana, motivada pela crescente expan- são da economia dos Estados Unidos, a qual fez com que o Brasil adotasse o desenvolvimentismo, assegurando o monopólio da eco- nomia e a política de nosso país. A institucionalização da profissão remeteu, de forma gradativa, à formação acadêmica, construindo, ao longo dos tempos, embasamento teórico-cien- tífico, pelas leis que regulamentam a profissão, fortalecidos pelos códigos de ética, leis de regulamentação, e a busca constante da visibilidade profis- sional, na sociedade do século XXI. Por meio do projeto profissional, a profis- são contribui efetivamente pela diminuição das desigualdades sociais per- versas, a partir da luta contínua para que a população tenha minimamente seus direitos alcançados. Fonte: Martinelli (2010). O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Foi no âmbito da influência norte-americana que importamos, progressivamente, os métodos de Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Organização de Comunidade e, posteriormente, Desenvolvimento de Comunidade (SILVA, 1995, p. 41). Por ser uma profissão inserida na divisão social e técnica do traba- lho e, por isso, indissociável da trama histórica que tece a realidade, o Serviço Social também foi influenciado pelo novo contexto histórico do país, de ques- tionamentos sobre a ordem vigente e de movimentações de setores da sociedade. Netto (2005) pontua que a decadência do Serviço Social tradicional e de suas práticas foi resultante de uma crise estrutural do modo de produção capitalista, mais precisamente o fim dos 30 anos gloriosos do capitalismo, e ocorreu numa gama de países nos quais essa profissão se institucionalizara. Ademais: O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista, tanto nas suas áreas centrais quanto periféricas, ganhou uma nova dinâmica e gestou-se um quadro favorável para a mobilização das classes subal- ternas em defesa de seus interesses imediatos. [...] Nas suas variadas expressões, aqueles movimentos punham em questão a racionalidade do Estado burguês, suas instituições e, no limite, negavam a ordem burguesa e seu estilo de vida; em todos os casos, recolocavam na agen- da as ambivalências da cidadania fundada na propriedade (privada) e redimensionavam a atividade política, multiplicando os seus sujeitos e as suas arenas. (NETTO, 2005, p. 07) Nesse sentido, Miranda e Cavalcanti (2005) expõem que, na década de 1960, ocorreu uma crise de caráter ideológico e político da profissão, a qual colocou em xeque sua eficácia, questionou sua burocratização, sua natureza importada e seu atrelamento à classe dominante. Dessa forma, destaca-se que a eclosão do Movimento de Reconceituação na América Latina foi uma consequência da crise estrutural do modo de pro- dução capitalista, a qual impôs aos países latino-americanos as consequências negativas de seu desenvolvimento e que, nos apontamentos de Netto (2011, p. 146), é parte constitutiva do “[...] processo internacional de erosão do Serviço Social ‘tradicional’ [...]”. No bojo desse movimento encontra-se o questionamento e se lança um debate sobre o papel do Serviço Social frente à crise vivenciada pelos países nos quais está institucionalizado bem como do tradicionalismo profissional que não res-ponde de maneira efetiva à nova realidade posta pelo sistema capitalista. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 Nessa perspectiva, Yazbek (2006, p. 6 - 7) salienta que: A profissão assume as inquietações e insatisfações deste momento his- tórico e direciona seus questionamentos ao Serviço Social tradicional através de um amplo movimento, de um processo de revisão global, em diferentes níveis: teórico, metodológico, operativo e político. Este mo- vimento de renovação que surge no Serviço Social na sociedade latino‐ americana impõe aos assistentes sociais a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com as demandas das classes su- balternas, particularmente expressas em suas mobilizações. É no bojo deste movimento, de questionamentos à profissão, não homogêneos e em conformidade com as realidades de cada país, que a interlocução com o marxismo vai configurar para o Serviço Social latino americano a apropriação de outra matriz teórica: a teoria social de Marx. Embora esta apropriação se efetive em tortuoso processo. Quadro 1: Os principais eventos que caracterizam a história do Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais entre o capital e o trabalho. 1946 SESI – Serviço Social da Indústria. Proporciona benefícios assistenciais indire- tos aos trabalhadores urbanos e a àqueles totalmente esgotados pelo sistema. 1946 Criada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS). Estabelece uma metodologia para o ensino em Serviço Social. 1947 1º Código de Ética Profissional do Assisten- te Social. Regulamenta a profissão do assistente social. 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos - com a reconstrução política e social do mundo pós Segunda Guerra Mundial. A Assembleia Geral da ONU define que todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, sem distinção de raça, cor, sexo, religião, língua, opinião política; tem direito à vida, à liberdade, à segurança. 1954 Serviço Social ganha currículo mínimo através do Decreto 35.11, de 08 de abril de 1954, que regulamenta a Lei 1889, de 13 de junho de 1953. Determina a exigência de um currículo mínimo para o curso de Serviço Social – resultado de esforços da ABESS e ABASS – enorme repercussão para o Serviço Social brasileiro. 1957 Lei 3.252, em 27 de agosto de 1957. Regulamenta a profissão do assistente social. 1962 Criação do Dia do Assistente Social. Sugerida por ser o aniversário da Encíclica Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, que abordava as condições dos operários da época. O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 1964 Criado o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana em março de 1964, 15 dias após o golpe militar. Promove inquéritos, investigações e estudos acerca da eficácia das normas assegurado- ras dos direitos da pessoa humana. 1965 2º Código de Ética do Assistente Social. Obriga os assistentes sociais a respeitar as exigências na legislação que lhes é especí- fica. 1967 Reconceituação do Serviço Social Brasileiro - I Seminário de Teorização e Reconceitu- ação do Serviço Social Brasileiro em Araxá (MG). Evento histórico no processo de teoriza- ção do Serviço Social, que propôs ações profissionais vinculadas à realidade social e política do país. Produção do Documento de Araxá. 1970 Seminário de Teresópolis – realizado em Teresópolis/RJ. O seminário reuniu 35 assis- tentes sociais. Estuda a metodologia do Serviço Social com cunho científico, introduzindo algumas mudanças na terminologia tradicional. 1975 3º Código de Ética Profissional do Assisten- te Social. Promulgado pelo Conselho Federal de Assis- tentes Sociais em 1º de Janeiro de 1975. 1983 Criação da Associação Nacional dos Assis- tentes Sociais (Anas), em outubro de 1983. Encaminha as lutas da categoria de forma unificada e centralizada no Plano Nacional. 1986 2º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores – (Concut). Propõe a tese de sindicalização por ramo de atividade. O Serviço Social apoia a proposta. 1988 Promulgada a Constituição Federal – conhecida como Carta Cidadã. Após duas décadas de ditadura militar, o Brasil elege uma Assembleia Constituinte como resulta- do de um intenso trabalho de mobilização social. Define o tripé da Seguridade Social: saúde, previdência e assistência social como um direito dos cidadãos brasileiros. 1989 Aprovada a Lei 7.583, de apoio integral às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social. Assegura o pleno exercício dos direitos individuais às pessoas com deficiência. 1990 Promulgado o Estatuto da Criança e Ado- lescente (ECA) - Lei 8069/1990. Legislação que se tornou referência mundial na área dos direitos e garantias para a infân- cia e juventude. 1990 Lei 8.142/1990 - Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão e controle social do SUS, através das Conferências de Saúde e dos Conselhos de Saúde nas três esferas de poder. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 1991 Criado o Conselho Nacional de Previdência Social pela Lei 8.213/1991. Tem o objetivo de aprofundar o caráter democrático e a descentralização da admi- nistração. 1993 Promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social, Lei 8.742/1993 - Política de Seguri- dade Social não contributiva que prevê os mínimos sociais. Organiza a Assistência Social no Brasil e institui o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). 1994 Promulgada a Lei 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso. Assegura os direitos sociais do idoso – pes- soas com mais de 60 anos – 1995 Regulamentação do Benefício de Presta- ção Continuada destinado ao portador de deficiência e idosos. Garantir um salário mínimo para a pessoa com deficiência sem limite de idade e ao idoso com mais de 67 anos. 1998 Lei da Filantropia - Lei 9.732/98. Isentar a contribuição previdenciária as entidades filantrópicas reconhecidas como utilidade pública que promovam gratuita- mente e em caráter exclusivo a assistência social beneficente. 1999 O Conselho Federal do Serviço Social – (CEFESS) instituiu a Política Nacional de Fiscalização para o Serviço Social por meio da Resolução 382/1999. Propor uma Política Nacional do Exercício Profissional do Assistente Social. 1999 Criação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), por meio da Lei 9.799/99. Constituir as regras das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativo. Disciplinar também as regras de parceria entre essas instituições e o Estado. 2001 Aprovada a Lei 10.216/2001. Para regulamentar a proteção e os direi- tos das pessoas portadoras de transtorno mental. 2001 Concebido o Estatuto das Cidades pela Lei 10.257/2001. Estabelece diretrizes gerais da política pública. O Serviço Social na Produção e Reprodução das Relações Sociais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 2001 Criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Acompanha e avalia as políticas públicas afirmativas de promoção da igualdade e de proteção dos direitos dos indivíduos e grupos sociais e éticos. 2003 Criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), regulamentado pelo Decreto 5.079/04. Estimula a participação da sociedade para formulação, execução e acompanhamen- to de políticas de segurança alimentar e nutricional. 2003 Lei 10.683/2003 – Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria Especial de Políticas para Mulheres.Exige efetivação de relações sociais igualitá- rias e justas por meio dos órgãos criados em Defesa dos Direitos Humanos. 2003 Promulgado o Estatuto do Idoso pela Lei 10.741/2003. Regulamenta os direitos e estabelece puni- ções para crimes contra pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Fonte: a autora. Conforme podemos observar nesse quadro, o Estado passa a intervir e mediar as relações entre classe trabalhadora e empresariado por meio da legislação social, como uma alternativa de enfrentamento da questão social. O SERVIÇO SOCIAL E O PROCESSO HISTÓRICO DA PROFISSÃO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa análise crítica de conjuntura é de importância ímpar para sua formação, tendo em vista que a leitura da realidade ora apresentada se faz necessária para a compreensão dos fatos históricos que foram determinantes para a origem do Serviço Social enquanto profissão e sua estreita relação com a Igreja e o Estado, com o pano de fundo do surgimento do sistema capitalista no Brasil. Nosso intuito, ao discorrer sobre o processo histórico do Serviço Social, foi instigar você ao conhecimento, para que possa ter a compreensão da confi- guração do Estado, sua natureza e objetivos. Para tal, foi necessário revisitar a bibliografia que nos remete a refletir sobre o modo como se processa a engre- nagem de produção e reprodução das relações sociais no cenário do surgimento do capitalismo e, concomitantemente, do Serviço Social. É a partir desse entendimento que é possível identificar o papel do assistente social no contexto dos interesses da classe dominante e mais precisamente da burguesia, ao se utilizar do Serviço Social para conter as tensões oriundas das várias expressões da questão social. Pode-se, assim, por meio dos conteúdos estudados nesta unidade, identificar que o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social tem incidências nas condições de vida dos indivíduos pertencentes à classe trabalhadora, público-alvo de sua atuação e que precisa ser adaptada às normas impostas pela classe dominante. A emergente profissão tem as suas ações dirigidas ao controle das forças dessa classe, visando sua adequação ao projeto burguês de desenvolvimento do capitalismo, ao mesmo tempo em que transmite aos trabalhadores o ideal de ser este o único projeto de sociedade viável. Ademais, percebe-se que o profissional contribui para a manutenção do modo de produção capitalista, tanto na perspectiva ideológica, enquanto um agente que impõe para o conjunto dos indivíduos usuários dos serviços sociais a visão de mundo da burguesia, quanto no aspecto objetivo de seu trabalho pro- fissional, viabilizando a reprodução da força de trabalho por meio do acesso dos trabalhadores às políticas e serviços sociais. 39 1. O que o Movimento de Reconceituação que surgiu no Serviço Social impõe aos assistentes sociais? 2. Desde o ano da criação das primeiras Escolas de Serviço Social até 1945 são defi- nidos três eixos para a formação profissional do assistente social. Quais são esses três eixos? 3. Segundo Singer (1987), diferencie capitalismo concorrencial e capitalismo mo- nopolista. 4. Em 1990, foi aprovada a Lei 8.142/1990, que regula a Gestão do Sistema Único de Saúde – SUS. Sobre o que essa lei dispõe? 5. A Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (Abess) foi criada em 1946 com qual objetivo? 40 FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E PRESENTES DESAFIOS Breve contextualização histórica Compreender as exigências postas à profissão hoje, passa por analisar, ainda que de forma breve, as profundas alterações do mundo do trabalho e a reforma do Estado ad- vindas da crise do capitalismo nos anos de 1970, porque foram estas mudanças que formularam as novas configurações da sociedade e, portanto, instituíram novas exigên- cias a formação profissional no sentido desta responder a este contexto ora reforçando o instituído, ora forcejando formas de efetivar os direitos sociais conquistados. Portanto, realizar uma contextualização histórica, nos dá a garantia de continuar perseguindo o objetivo de alcançar por meio de nossas análises, a perspectiva da totalidade, através do desvendamento de mediações que apontem a articulação entre a história e as possibili- dades e limites inscritos em cada contexto histórico. O governo ditatorial de Getúlio Vargas buscava através de sua característica política populista garantir o consenso social necessário para que o desenvolvimento social se mantivesse intacto e assim legitimar o status quo vigente. É neste cenário, inserido num espaço político que busca primordialmente o consenso social como medida para aten- der aos interesses da burguesia que tentava desarticular a classe operária, imolado pelas relações trabalho-capital que surge o Serviço Social no Brasil, sendo diretamente vin- culado à Igreja e fundamentado na Doutrina Social da Igreja, como extensão da Ação Católica, vinculado a um projeto de re-cristianização da sociedade. Situando-se no processo de reprodução das relações sociais, sendo visto como medida auxiliar e subsidiária no exercício do controle social e meio organizado e institucionali- zado de difusão da ideologia dominante entre a classe operária, já que esta apresentava um crescimento acelerado e ameaçador. Seguindo a proposta de ampliar a formação técnica especializada para a difusão da doutrina social da Igreja, em 1936 é criada a pri- meira escola de Serviço Social do Brasil em São Paulo. Neste momento, ainda sob a influência da Igreja Católica, o Serviço Social importou os métodos de “Caso, Grupo e Comunidade”, na tentativa de estabelecerem-se metodolo- gias e procedimentos mais precisos para os fins colocados. No entanto, a partir de 1960, década de efervescência social e política no território latino-americano numa conjuntu- ra política e econômica marcada pelo aprofundamento das questões sociais, inicia-se no Brasil e na América Latina o desenvolvimento de uma perspectiva de questionamentos críticos ao Serviço Social chamado “tradicional”. É diante desse processo de revisão do posicionamento do Serviço Social frente à so- ciedade, tendo como pano de fundo os questionamentos críticos postos pela própria sociedade e por meio da organização da sociedade civil, dos movimentos sociais, dentre outros, que a categoria profissional foi impulsionada ao movimento de Reconceituação, que colocava em xeque a direção social da profissão (ainda não formulada nestes ter- mos) o que passava pelo questionamento acerca da metodologia, objetivos e conteúdo 41 da formação profissional. Mas, foi a partir da ditadura militar que o desenvolvimento e avanço dessa vertente crítica dentro do Serviço Social sofreram considerável impacto, se estagnado, haja vista o clima repressor e altamente punitivo que se institui no decorrer deste período, marcado por perseguições políticas àqueles que de alguma forma ousa- vam criticar o sistema ditatorial. É somente a partir da década de 1970 que alguns segmentos da profissão retomam o debate a cerca da dimensão política da profissão, apontando para o rompimento da su- posta neutralidade da profissão e estabelecendo a necessidade de um posicionamento político. Aqui, observa-se então a aproximação da teoria social de Marx. O aprofunda- mento dessa ordem societária (necessariamente contraditória), marcada pela moder- nização conservadora do país ao longo das décadas de 40, 50, 60 e 70 do século XX, impôs à profissão uma revisão do “Serviço Social tradicional”, manifestada no chamado “processo de reconceituação”, que, com todos os seus limites, teve o mérito de recolocar questões centrais para o Serviço Social: a formação profissional (nos seus aspectos te- óricos, metodológicos, técnico-instrumental e interventivo), a interlocução com outras áreas do conhecimento, a importância da pesquisa e da produção de conhecimentos no âmbito daprofissão, entre outros aspectos. Esse rico contexto permitiu um debate mais intenso sobre as diferentes orientações teóricas na profissão (para além da Doutri- na Social da Igreja), desencadeando uma interlocução com matrizes do conhecimento presentes nas Ciências Sociais. (SILVA, 1995, p. 2-3) É a partir deste período que a dis- cussão a cerca da formação profissional passa a ser objeto de amplo debate no inte- rior da profissão, já que era a formação profissional que atenderia a necessidade dos novos pressupostos colocados em questão. Assim, iniciou-se nacionalmente um amplo debate coordenado pela Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social - ABESS (hoje Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS) que culminou no currículo mínimo de 1979, associado ao avanço do primeiro doutorado em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica - PUC de São Paulo em 1981. A ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca-se colocar- -se, objetivamente a serviço dos interesses dos usuários, Isto é, dos setores dominados da sociedade (IAMAMOTO, 1996, p. 37). No entanto, a partir dos anos de 1980, com a minimização do papel do Estado, há o acirramento da desigualdade social e é posto na ordem do dia a necessidade de se redefinir o projeto de formação da profissão, obser- vando as novas demandas colocadas pela nova configuração social, sendo este cenário observável nos dias de hoje. Fonte: Narciso (2016, on-line). MATERIAL COMPLEMENTAR Uma Questão de Honra Ano: 1987 Sinopse: baseado em fatos reais, o filme conta a história de um carpinteiro que precisa cuidar de seus quatro filhos após a morte da esposa, durante a depressão. Por causa da compreensão errada dos fatos por parte de uma assistente social, o Estado retira dele as crianças. O homem, então, passará anos lutando para tê-las de volta. Comentário: se você tiver a oportunidade, assista a esse filme. Nele, você constatará a conduta repreensível de uma assistente social. Verá como julgamentos precipitados e o peso das palavras de um profissional podem mudar a vida das pessoas. GABARITO 43 1. Impõe a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com as demandas das classes subalternas, particularmente expressas em suas mobili- zações. 2. Formação científica, na qual era necessário o conhecimento de disciplinas como Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, fornecendo ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade. Formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto sua ação no combate aos males sociais. Formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios inerentes à profis- são sejam absorvidos pelos alunos. Ainda no processo de formação profissional, o Serviço Social também sofreu grande influência norte-americana, motivada pela crescente expansão da economia dos Estados Unidos, a qual fez com que o Brasil adotasse o desenvolvimentismo, assegurando o monopólio da economia e a política de nosso país. 3. No capitalismo concorrencial existiam várias organizações, geridas pelos seus donos e que competiam entre si pelo apreço de seus clientes. No capitalismo monopolista, em contrapartida, as pequenas e médias organiza- ções são substituídas por grandes corporações, as quais detêm o controle dos mercados nacionais e passam a internacionalizar suas economias por meio das empresas multinacionais, que são administradas por executivos e são instaladas nos diversos países que compõe o globo. 4. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão e controle social do SUS, por meio das Conferências de Saúde e dos Conselhos de Saúde nas três esferas de poder. 5. Estabelecer uma metodologia para o ensino em Serviço Social. U N ID A D E II Professora Me. Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Professora Esp. Fernanda Carvalho Basilio Hernandez RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO- POLÍTICO Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar as vertentes teóricas norteadoras da práxis social. ■ Refletir sobre o processo de ruptura do Serviço Social conservador em seu contexto histórico, que contribuiu para a construção do projeto ético-político. ■ Conhecer os preâmbulos do debate profissional no processo de ruptura do conservadorismo. ■ Estudar a matriz modernizadora do Serviço Social. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Conservadorismo e Positivismo ■ Serviço Social e a reprodução das relações sociais ■ Os códigos de ética conservadores ■ A matriz modernizadora do Serviço Social ■ Projetos societários ■ Projeto ético-político do Serviço Social e o projeto neoliberal INTRODUÇÃO Com o intuito de demonstrar a evolução histórica do Serviço Social, apresenta- -se, nesta segunda unidade de estudo, as teorias que embasam e fundamentam a intervenção profissional, desde o conservadorismo ao processo de rompimento com a teoria positivista. A análise do modo de produção capitalista, e consequentemente, a ação do assistente social mediatizada por meio do Estado, motivada pelo antagonismo entre as classes sociais, nos remete ao processo de amadurecimento da catego- ria profissional face à necessidade de revisão teórica a partir do suporte teórico e científico que se dá com a ampliação das escolas de Serviço Social e se gestará no espaço da pesquisa e da investigação, com propostas que visam ultrapassar os limites impostos pela ordem burguesa. Sendo assim, você entenderá que a mudança de direção que caracteriza o processo de renovação do Serviço Social brasileiro está relacionada, também, à política cultural e educacional vigente no período. A cultura que se ia gestando nos meandros da “abertura democrática” recolocou em debate diferentes ten- dências no âmbito do marxismo, entre elas o pensamento de Antonio Gramsci, que passa, nesse período, a fazer parte da nossa cultura e a iluminar, com suas categorias, diversas formas de interpretação da realidade brasileira. Nesse sentido, caberá à análise sociológica da profissão e de seus agentes a compreensão do caráter e significado dessa prática profissional no processo de reprodução das relações sociais, bem como a função do Serviço Social e do assis- tente social vinculados aos organismos institucionais. Diante disso, justifica-se o conhecimento que compreende as reflexões profissionais e sua mudança de direção, à medida que se colocam frente a frente com a realidade e com as con- dições de existência das camadas exploradoras da população. Dessa forma, espero contribuir mais uma vez com o seu aprendizado, moti- vando-o cada vez mais ao conhecimento do debate histórico da profissão, que não se esgota nesta unidade de estudo. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 RUPTURA DO SERVIÇO SOCIAL CONSERVADOR PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO- POLÍTICO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 CONSERVADORISMO E POSITIVISMO O conservadorismo sobre o qual a profissão é instituída se reafirma quando o Serviço Social brasileiro, a partir da década de 1940, após sua institucionalização e por meio do aprimoramento das escolas, passa a ter contato com bases cien- tíficas, mais especificamente com a teoria positivista, e estas passam a iluminar as ações desenvolvidas pelo profissional. Iamamoto (2000, p. 21) complementa tal afirmativa ao pontuar que isso ocorre a partir do: [...] processo de secularização e de ampliação do suporte técnico-cien- tífico da profissão – que se dá com o desenvolvimento das escolas (de- pois faculdades) especializadas no ensino
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