e índice de altura facial, ângulo do plano mandibular e nível de sobremordida, e índice de altura facial e nível de sobremordida. Além disso, foi avaliado, em ambos os grupos de indivíduos, o comportamento simultâneo dessas três medidas, procurando identificar os possíveis fa- tores que, eventualmente, pudessem levar estas a uma correlação fora do padrão citado na literatura. Isto implica na oportunidade de discutir o compor- tamento dessas medidas na população brasileira, diante da grande escassez de trabalhos dessa natu- reza, fornecendo parâmetros de comparação para o diagnóstico e plano de tratamento ortodônticos. MATERIAL E MÉTODOS Para este estudo, foram utilizadas radiografias cefalométricas em norma lateral de indivíduos brasileiros, não submetidos a tratamento ortodôn- tico, com todos os dentes permanentes completa- mente irrompidos, exceto os terceiros molares. A amostra foi dividida em dois grupos, a saber: o primeiro foi composto por 20 radiografias de in- divíduos portadores de oclusão excelente, obtidas aleatoriamente, com média de idade de 26 anos e 7 meses, sendo 14 do gênero feminino e 6 do gê- nero masculino; e o segundo, de radiografias de 64 indivíduos portadores de diferentes tipos de má oclusão, com idade média de 17 anos e 7 meses, sendo 41 do gênero feminino e 23 do gênero mas- culino, selecionadas do arquivo de pacientes da clínica do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Os cefalogramas foram traçados por um único operador, obtendo-se as medidas cefalométricas ângulo do plano mandibular (GoGn-SN), índice de altura facial (IAF) e sobremordida (Fig. 1). Para se investigar o tamanho mínimo necessário da amostra foi utilizado o índice Kappa, o qual aferiu o tamanho da amostra, indicando sua compatibi- lidade com a análise desejada (k = 0,97). Também se utilizou o índice Kappa para investigar a exis- tência de erros nos traçados, devido a falhas do examinador. Para tanto, as radiografias foram tra- çadas e medidas duas vezes, com intervalo mínimo de 20 dias. Os resultados obtidos indicaram uma fidedignidade aceitável dos traçados, pois todos apresentaram excelente chance de concordância. Para se investigar o sentido de concordância entre os pares de características, aplicaram-se os coeficientes de correlação de Pearson e Spearman. Ambos os coeficientes medem a correlação entre pares de variáveis: GoGn-SN e IAF, GoGn-SN e sobremordida e IAF e sobremordida. Porém, en- quanto o de Pearson utiliza os valores absolutos das mesmas para medir o grau de associação linear entre pares de variáveis, o coeficiente de Spearman utiliza variáveis qualitativas ordinais, pois quanti- fica o grau de associação entre essas variáveis. A avaliação do comportamento das três medi- das, ao serem correlacionadas simultaneamente, foi realizada analisando-se cada traçado individu- almente. O indivíduo era considerado dentro do padrão relatado na literatura quando a seguin- te situação era observada: GoGn-SN entre 27 e 35 graus, IAF entre 0,65 e 0,75, e sobremordida correspondente entre 10% e 40% de trespasse do incisivo inferior na face lingual do incisivo supe- rior. Depois de realizada esta análise, foi calculada a percentagem de indivíduos que apresentava o comportamento das medidas coerente e não-co- erente com a literatura. Análise correlativa entre medidas esqueléticas verticais em indivíduos com oclusão excelente e má oclusão R Dental Press Ortodon Ortop Facial 80 Maringá, v. 13, n. 4, p. 77-85, jul./ago. 2008 A análise dos fatores que poderiam exercer influência sobre o comportamento das medidas GoGn-SN, IAF e sobremordida foi realizada ava- liando-se seis características pertinentes, conforme pode-se observar na figura 2: 1) alturas dentoalveolares dos primeiros mola- res inferiores (MI, valor médio: 28 ± 2,01mm)19; 2) alturas dentoalveolares dos primeiros mola- res superiores (MS, valor médio: 20 ± 1,81mm)19; 3) alturas dentoalveolares dos incisivos centrais inferiores (II, valor médio: 39 ± 2,93mm)19 e su- periores (IS, valor médio: 28 ± 2,12mm)19; 4) discrepância intermaxilar ântero-posterior (ângulo ANB, valor normal: 0 a 4,5°)2; 5) ângulo formado entre a linha SN e o plano horizontal de Frankfurt (SN-PF; valor médio: 5 a 7°)27; 6) altura do ramo mandibular (Ar-Go, valor médio: 52 ± 6mm)12, para auxiliar na constata- ção da presença de compensações nas medidas já mencionadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO No grupo de indivíduos portadores de oclusão excelente, conforme tabela 1, foi observada au- sência de correlação significativa da sobremordida com GoGn-SN, bem como com o IAF, e uma forte correlação negativa entre as medidas esqueléticas GoGn-SN e IAF. Independente dos valores de GoGn-SN e IAF, a sobremordida encontrava-se sempre dentro dos valores de normalidade, visto ser esta uma condição FIGURA 1 - Cefalograma com a localização do ângulo do plano mandibular (GoGn-SN), índice de altura facial (IAF = AFP/AFA) e sobremordida. FIGURA 2 - Cefalograma com a localização das alturas dentoalveolares dos molares superiores e inferiores (MS e MI), incisivos superiores e inferiores (IS e II), do ramo mandibular (Ar-Go), do ângulo ANB e do ângulo formado entre a linha sela-násio e o plano horizontal de Frankfurt (SN-PF). Tabela 1 - Coeficientes de correlação de Pearson e Spear- man para as medidas dos indivíduos portadores de oclusão excelente. correlação de Pearson GoGn-SN IAF sobremordida GoGn-SN 1,000 -0,78716** 0,10510 IAF -0,78716** 1,000 -0,09425 sobremordida 0,10510 -0,09425 1,000 correlação de Spearman GoGn-SN IAF sobremordida GoGn-SN 1,000 -0,73482** 0,08039 IAF -0,73482** 1,000 -0,08012 sobremordida 0,08039 -0,08012 1,000 ** Significância ao nível de 1%. GoGn-SN Ar-Go ANB IS SN-PF IIAFA MI AFP MS DAMICO, M. M. M.; FRANCO, F. C. M.; BRANDÃO FILHO, R. A.; HABIB, F. A. L. R Dental Press Ortodon Ortop Facial 81 Maringá, v. 13, n. 4, p. 77-85, jul./ago. 2008 para que o indivíduo pertencesse à amostra. Em re- lação ao GoGn-SN, tanto os indivíduos com plano mandibular diminuído quanto aumentado tinham sobremordida normal. Portanto, a ausência de cor- relação significativa entre GoGn-SN e sobremordi- da era, de certa forma, um resultado esperado. Esses resultados são confirmados por Beckmann et al.4,5 e Betzenberger et al.6, que afirmaram não haver correlação entre o ângulo do plano mandibular e o nível de sobremordida, através da qual se possa basear o diagnóstico e o plano de tratamento. O mesmo raciocínio citado acima com rela- ção ao GoGn-SN pode ser aplicado para o IAF, e está de acordo com Proffit34, que afirma que, se o ângulo formado entre a maxila e a mandíbula é baixo, há uma relação que predispõe ao trespas- se dentário vertical excessivo, independente da presença do mesmo. É corroborado, também, por Beckmann et al.4, ao advogarem que o nível de sobremordida independe da divergência entre os maxilares. Quando foram correlacionados os valores es- queléticos de GoGn-SN com IAF, houve uma tendência de comportamento definida, ou seja, quanto maior era o GoGn-SN menor era o IAF, e vice-versa. Estes resultados suportam as afirma- ções de Horn15,16, Merrifield et al.28 e Tsang et al.40 Isso ocorreu porque ambas as medidas apresenta- vam variação dos valores de normalidade, apesar desta amostra ser portadora de oclusão excelente e perfil facial agradável. Ao se analisar, no gráfico 1, o comportamen- to da correlação simultânea das três medidas, em cada indivíduo portador de oclusão excelente, ob- servou-se que, em 35% deles, as medidas GoGn- SN, IAF e sobremordida apresentaram, entre si, um comportamento dentro do padrão citado na literatura, ou seja, diante da sobremordida ade- quada, o GoGn-SN e o IAF também se mostra- vam dentro da faixa de normalidade. O restante dos indivíduos (65%) não apresentou coerência entre os valores dessas medidas. Assim, mesmo possuindo sobremordida