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Raquel Bueno – 73 A Patologia Médica I • As infecções do trato respiratório são mais frequentes que as infecções de qualquer outro órgão • As vias aéreas não são estéreis • Colonização: Presença de bactérias, sem evidência de resposta do hospedeiro • Infecção: invasão e multiplicação de microorganismos nos tecidos, com agressão e reação tecidual • Mecanismos de defesa pulmonar: Tosse Aparelho mucociliar Broncoconstrição Substâncias citoprotetoras: lisozima, fibronectina, lactoferrina... Resposta imunitária • Quando os mecanismos de defesa pulmonar falham há um maior risco de infecção • Vias de infecção: Microaspiração Aspiração Disseminação hematogênica Aerossóis Pneumonias bacterianas • Processo inflamatório e infeccioso agudo do parênquima pulmonar (vias aéreas distais: bronquíolos respiratórios e alvéolos) com expressão clínica • O agente patogênico deve atingir as vias respiratórias inferiores em número e virulência suficientes para superar as defesas do organismo • A infecção aguda do parênquima gera uma inflamação que gera um exsudato inflamatório (fibrino-purulento) nos alvéolos • Condensação pulmonar, aumento do peso pulmonar e alterações nas trocas gasosas • Invasão bacteriana do parênquima → solidificação exsudativa (consolidação) do tecido pulmonar • Fatores de risco: Idade: crianças e idosos Estilo de vida: tabagismo, etilismo, má nutrição Fatores ambientais e ocupacionais: poluentes e substâncias irritantes Doenças crônicas ou debilitantes Imunossupressão • Classificação: 1. Origem Pneumonia hospitalar/nosocomial Pneumonia adquirida na comunidade 2. Etiologia Ex.: infecciosa → viral, bacteriana, fúngica, parasitária 3. Distribuição das lesões no território pulmonar Pneumonia lobar Broncopneumonia Pneumonia intersticial Pneumonia adquirida na comunidade (PAC) • Inflamação aguda do parênquima pulmonar de origem infecciosa, adquirida em ambientes comuns • Podem ser bacterianas ou virais • Preenchimento dos alvéolos com exsudato inflamatório; consolidação do tecido pulmonar • Agente mais comum: Streptococcus pneumoniae (pneumococo) • Outros agentes: Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus (comum em usuários de drogas intravenosas), Klebsiella pneumoniae... • Pneumonia atípica: infecção por um conjunto de agentes patogênicos que tem crescimento intracelular, dificuldade de diagnóstico por meios de rotina e resistência aos B-lactâmicos Morfologia Pneumonia lobar • Consolidação de uma grande porção de um lobo ou de um lobo inteiro • Sem destruição dos septos! • Evolução em 4 fases: 1. Congestão: hiperemia, edema, poucos neutrófilos, numerosas bactérias 2. Hepatização vermelha: hiperemia, intensa exsudação de hemácias, fibrina, leucócitos e bactérias 3. Hepatização cinzenta: desintegração progressiva das hemácias, persistência de exsudato fibrinossupurativo, redução da hiperemia e das bactérias, aumento de células inflamatórias e de fibrina 4. Resolução: diminuição progressiva do exsudato inflamatório, penetração progressiva de ar nos alvéolos • Pode estar presente uma reação fibrinosa pleural à inflamação subjacente; pleurite • Microscopia: exsudato fibrino-purulento; septos preservados; edema nos septos e no alvéolo (tumefação) A) Pneumonia aguda; hepatização vermelha B) Organização inicial do exsudato intra-alveolar C) Fibrose Broncopneumonia (pneumonia lobular) • Consolidação irregular do pulmão • Com destruição dos septos! • Focos inflamatórios múltiplos • Casos mais graves: confluência dos focos • Hiperemia, edema, exsudato purulento na luz dos alvéolos e bronquíolos, com destruição da parede alveolar Imagem acima: perfil heterogêneo; parte da direita com septo e parte da esquerda sem septo Pneumonia intersticial • Reação inflamatória intersticial (septos alveolares) • Localizado, difuso ou bilateral • Geralmente é por vírus • Gripe é um tipo de pneumonia intersticial • Manifestações clínicas mais brandas • Não há consolidação pulmonar • Padrão arrastado podendo cursar com insuficiência respiratória • Infiltrado inflamatório mononuclear • Congestão e edema • Agressão celular com lesão da membrana alvéolo-capilar; aumento da permeabilidade vascular e formação de membranas hialinas • Etiologia viral (VRS, influenza, adenovírus, vírus herpes, CMV, vírus do sarampo, COVID...) • Tosse seca! Septo inflamado e edemaciado, exsudato no septo Pneumonia nosocomial • Surge 48 horas após internação e até 10 dias após alta • Microorganismos mais resistentes • Organismos isolados mais comuns: Staphylococcus aureus e P. aureuginosa resistentes à meticilina • Mortalidade maior • Comuns em pacientes com doença subjacente grave, imunossupressão, antibioticoterapia prolongada ou dispositivos de acesso invasivos Complicações e curso clínico das pneumonias bacterianas • Complicações relacionadas com alterações da função pulmonar: Insuficiência respiratória Atelectasia Broncoespasmo • Complicações da evolução da pneumonia: Derrame pleural Epiema: presença de líquido purulento na cavidade pleural Necrose e abscesso pulmonar (só há abscesso na broncopneumonia, em decorrência da destruição de septo) • Abscesso pulmonar: coleção de pus na intimidade do órgão, resultante de agressão e destruição tecidual, com formação de cavidade com secreção purulenta • Complicações secundárias à bacteremia: Lesão de outros órgãos SIRS (síndrome da resposta inflamatória sistêmica) Choque séptico CIVD: coagulação intravascular disseminada • Febre alta, fraqueza, inapetência, calafrios • Tosse produtiva com escarro purulento • Pleurite fibrinosa: dor ventilatório-dependente (mais na inspiração) • RX: imagem de hipotransparência, condensação, lobo radiopaco ou opacidades focais • Inspeção: taquipneia, tiragem, cianose • Percussão: sinais de macicez • Ausculta: crepitações, sibilos, roncos • Tratamento eficaz: eliminação do microrganismo, reabsorção do material e reaeração pulmonar OU resolução incompleta (quando o exsudato não é completamente reabsorvido) com proliferação de tecido conjuntivo e formação de cicatrizes Pneumonias fúngicas • Não são muito comuns • Quadros infecciosos graves • Infecções oportunistas Tuberculose • Doença pulmonar crônica e sistêmica grave • A infecção com o HIV torna as pessoas suscetíveis à tuberculose rapidamente progressiva • Associação com pobreza, condições de saneamento básico, desnutrição, alcoolismo, doenças crônicas e imunossupressão • Agente: Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch – BK ou bacilo de Calmette-Guérrin – BCG) • Transmissão pessoa-pessoa (aerossóis) • Reação de hipersensibilidade a antígenos do bacilo • Linfócitos TH1 estimulam macrófagos a matar as bactérias – lesão tecidual • Resposta imunitária inata (inespecífica) • Reação imunitária adaptativa (específica) – granulomatosa • Bacilos escapam dos mecanismos de fagocitose • BAAR (bacilo álcool-ácido resistente) de crescimento lento, aeróbio estrito → localização com altos teores de oxigênio (região superior do lobo inferior ou ápice do lobo superior) Bacilo sendo fagocitado (imagem acima) Bacilos fagocitados por macrófagos Tuberculose primária: hospedeiro não imune • Primeira infecção com o BK • Mais comum em crianças • Na maioria das pessoas é assintomática • Reações: exsudativa, produtiva, produtivo- caseosa, cicatrização 1. Reação exsudativa: ➢ Resposta inflamatória pulmonar inespecífica ➢ Não é suficiente para matar o bacilo ➢ Alveolite aguda: necrose de alvéolos; exsudato de fibrina e neutrófilos; bacilosviáveis ➢ Proliferação de bacilos 2. Reação produtiva ➢ Macrófagos com bacilos são modulados por linfócitos T (Th1) ➢ IFN-y: ativa os macrófagos; transformação em células epitelioides; células gigantes multinucleadas; granulomas da TBC célula gigante multinucleada na imagem 3. Reação produtivo-caseosa ➢ Macrófagos, células epitelioides e linfócitos T causam morte de bacilos existentes no granuloma ➢ Necrose caseosa no centro do granuloma 4. Reação de cicatrização ➢ Morte dos bacilos ➢ Macrófagos secretam fator de crescimento de fibroblastos: reparação (cicatrização e calcificação) • Resposta inflamatória inicial formando um conjunto de granulomas = Nódulo de Ghon • Disseminação bacilar por linfáticos e linfonodos hilares: Linfadenite granulomatosa • Nódulo de Ghon + Linfadenite granulomatosa = complexo primário da TBC (ou complexo de Ghon) • Cura na maioria dos casos • Em algumas pessoas alguns bacilos podem permanecer latentes, mas sem lesão • Em cerca de 5% dos casos evolui para a doença, sendo que os bacilos podem se disseminar para os próprios pulmões ou para outros órgãos Tuberculose secundária: hospedeiro imune • Mais comum em adultos • Indivíduo previamente sensibilizado • Classicamente envolve o ápice dos lobos superiores • Reativação da forma latente ou reinfecção • Formas macroscópicas principais: TBC cavernosa: necrose extensa (material necrótico liquefeito) TBC miliar: bacilos penetram nos vasos sanguíneos, implantando o agente no pulmão e em outros órgãos Imagem acima: tuberculose cavernosa Imagem acima: tuberculose miliar Disseminação • Pleura (por contiguidade): pleurite tuberculosa (derrame pleural, aderência de folhetos, restrição respiratória) • Laringite tuberculosa (pela via aérea) • TBC intestinal (por deglutição) • Diversos órgãos (por via sanguínea): rins, ossos, sistema nervoso, órgãos genitais... Clínica • Variada (depende dos órgãos comprometidos) • Imagens radiológicas variadas (consolidação; cavitação) • Forma pulmonar agressiva: quadro infeccioso arrastado, mal estar, anorexia, perda de peso, febre vespertina diária, sudorese noturna, tosse COM EXPECTORAÇÃO, falta de ar, hemoptise, dor pleurítica • Escarro contém bactérias • Diagnóstico de TBC pulmonar: anamnese, exame físico, exame de imagem, baciloscopia de escarro Referências: Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças - 9ª edição – Elsevier; Site Anatpat – Unicamp (http://anatpat.unicamp.br/pecasdc.html); Aulas de patologia médica I da FCMMG
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