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SISTEMAS TÉRMICOS I EMA-003 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTALAÇÕES DE CALDEIRAS Prof. Paulo César da Costa Pinheiro Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG 1. INTRODUÇÃO Caldeiras são dispositivos destinados a gerar vapor ou aquecer água, a partir de uma fonte de calor (combustão, gases quente ou eletricidade), os quais serão empregados fora da caldeira como fluido portador de calor ou fluido motor. São classificadas em caldeira a vapor ou caldeiras de água quente. Chama-se instalação de caldeiras o conjunto de caldeiras e suas instalações auxiliares. Para se assegurar um trabalho estável e seguro são utilizados equipamentos auxiliares para preparar e alimentar o combustível, soprar o ar e retirar os produtos da combustão (tiragem), tratar e bombear a água, retirar as cinzas e escórias do combustível. Quanto à utilização, as caldeiras são classificadas em: caldeiras energéticas, industriais, de calefação e mistas. As instalações de caldeiras para produção de eletricidade (centrais termoelétricas) produzem vapor-d'água de pressão e temperatura elevadas, utilizado para gerar em uma turbina energia mecânica. Essa energia mecânica é transformada em energia elétrica em um gerador. O vapor sai da turbina a baixa pressão, é condensado e retorna à caldeira ou é utilizado na rede de aquecimento residencial dos países frios. As caldeiras industriais produzem vapor a pressões moderadas e pouco superaquecido. Esse vapor supre as necessidades da empresa: aquecimento de água, evaporação, secagem etc. As caldeiras de calefação produzem vapor saturado a baixa pressão ou água quente, que é utilizado para aquecer edifícios residenciais ou industriais e seus equipamentos. As caldeiras energéticas e industriais podem ser classificadas quanto a pressão do vapor produzido: baixa pressão (8-16 bars), média pressão (22-39 bars), alta pressão (60-140 bars), altíssima pressão (150-220 bars) e pressões hipercríticas (acima de 230 bars). Quanto a capacidade (D), quantidade de vapor (t/h) gerado por um longo período com rendimento máximo, as caldeiras podem ser classificadas em: pequenas (até 4-6 t/h), médias (10-75 t/h), grandes (100-420 t/h) e gigantes (acima de 600 t/h). Como fonte de calor são utilizados combustíveis naturais e manufaturados (carvão, derivados líquidos e gasosos do petróleo, gás natural e de alto-forno), gases de escape de fornos industriais, energia solar, energia nuclear etc. As caldeiras que aproveitam o calor dos gases de escape de fornos e de outros processos tecnológicos, são chamadas caldeiras de recuperação. 2. ESTRUTURA DE UMA CALDEIRA A VAPOR A figura abaixo mostra o esquema de uma caldeira aquatubular moderna, funcionando a carvão pulverizado. Normalmente a caldeira (5) encontra-se instalada em uma casa de caldeiras (14). O reservatório de água de alimentação possui um dispositivo de desaeração chamado desaerador (11). A água, bombeada pela bomba (12), passa pelo preaquecedor de água (9) e alimenta o coletor da caldeira (7). A evaporação da água ocorre na parede de tubos de água (6). O vapor saturado seco que sai do coletor, passa pelo superaquecedor (8)e sai para o consumo. Figura 1. Diagrama Esquemático de uma Caldeira. As superfícies de evaporação são conectadas ao tambor superior, de onde saem os tubos de descida que se ligam ao tambor (ou coletor) inferior formando o circuito de circulação da água. No tambor superior existe a separação da água e vapor, e uma grande reserva de água que garante um funcionamento seguro da caldeira. Do depósito de estocagem, o carvão é transportado, triturado, e estocado no silo de carvão úmido (1), de onde se dirige para o moinho (2) do sistema de preparação carvão pulverizado. O combustível pulverizado é arrastado por um fluxo de ar oriundo de um ventilador (3) até os queimadores (4). Nos queimadores também chega o ar secundário de combustão, introduzido pelo ventilador de tiragem forçada (13), e preaquecido no preaquecedor de ar (10). A mistura ar/combustível produzida no queimador, se queima na fornalha (câmara de combustão) em uma chama de alta temperatura ( 1500ºC). Usualmente a queima do combustível é acompanhada da remoção simultânea do calor gerado. Para isso são instaladas superfícies de aquecimento dentro da fornalha. Na maioria das caldeiras, as paredes da fornalha são recobertas por tubos de água, que constituem as paredes de água (6), ou superfícies de aquecimento por radiação. A radiação oriunda da chama, aquece, leva à ebulição e transforma em vapor a água que circula nesses tubos. A parte inferior da fornalha (de forma trapezoidal) é chamada fundo frio, onde a cinza que cai da chama, esfria formando a escória. As caldeiras para gás e óleo não possuem o fundo frio. Após transmitir parcialmente o calor às paredes, os produtos da combustão saem ( 1000ºC) entre os espaçamento dos tubo na seção superior da fornalha, e passam pelo superaquecedor de vapor. O vapor não é formado somente nas parede de tubos de água, mas também nas superfícies de aquecimento por convecção, que são colocadas na fornalha e nas seções seguintes do duto de gases. Nas caldeiras modernas, as superfícies de aquecimento por convecção são construídas com tubos, tal como as superfícies de aquecimento por radiação. Os superaquecedores são serpentinas de aquecimento tubulares que servem para secar completamente e superaquecer o vapor gerado nas paredes de água e superfícies convectivas. Os superaquecedores são normalmente instalados no primeiro ou segundo passo do duto de gases da caldeira. Em seguida os produtos da combustão atravessam o economizador e o preaquecedor de ar. O conduto de gás no qual estão instalados o economizador e o preaquecedor de ar chama-se seção convectiva ou poço convectivo, onde a transmissão de calor dos gases para a água e ar é sobretudo realizada por convecção. Estas superfícies de aquecimento permitem reduzir a temperatura dos produtos da combustão após o superaquecedor de 700-500ºC, para aproximadamente 150ºC, aproveitando muito mais a energia liberada pelo combustível. Os aquecedores de água ou economizadores (9) são superfícies de aquecimento construídas em tubos de aço ou ferro fundido, destinadas a aquecer a água de alimentação. São instalados próximo ou na última passagem de gás da caldeira. A presença do economizador permite reduzir a temperatura dos gases efluentes da caldeira, e assim aumentar o rendimento da instalação. O preaquecedor de ar é instalado nos últimos passes da caldeira (10) e aquece o ar de combustão introduzido na fornalha. O preaquecimento do ar intensifica o processo de combustão e devido ao aumento da temperatura da chama, aumenta a transmissão de calor dos gases para as superfícies de aquecimento. A maioria dos preaquecedores de ar é constituído por tubos de aço de parede fina, no interior dos quais flui os produtos da combustão e no exterior o ar. Entretanto algumas caldeiras de grande porte possuem preaquecedores de ar regenerativos (Ljüngströn). Os gases que saem da caldeira são tratados no dispositivo separador de cinzas (15), retirando-se as cinzas. Em seguida o ventilador de tiragem induzida (16) expulsa os gases para a atmosfera através da chaminé (17). As cinzas retiradas dos gases e a escória retirada no fundo da fornalha, são evacuadas por um fluxo de água através das bombas de descarga (18). Atualmente é muito utilizado também o transporte das cinzas por fluxo de ar. As caldeiras a vapor são equipadas com sistemas de controle e automação, que garantem um funcionamento seguro e econômico. Como instrumentação a caldeira possui diversas válvulas e registros nos tubos de vapor e água, e também instrumentos de medição de nível, temperatura, pressão e vazão (ar, combustível, água e vapor). A fornalha e os dutos de gás estão protegidas por um revestimento (5), visando minimizar as perdas térmicas para o meio ambiente. Este revestimento é feito de tijolos, placas cerâmicas ou isolantes especiais, e possui um forro de chapas de aço, estanque ao gás, para prevenir a introduçãode ar na fornalha e a saída dos gases quentes ao longo dos dutos. O revestimento é mantido por uma estrutura construída com perfis de aço. Todo o sistema de tubos e coletor superior é mantido por uma estrutura (14) formada por colunas e vigas transversais, que suporta a caldeira e transmite o peso à fundação. 3. HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO NA ESTRUTURA DAS CALDEIRAS Do ponto de vista histórico, o desenvolvimento das caldeiras caminha no sentido de aumentar a produção e os parâmetros do vapor produzido (pressão e temperatura), a confiabilidade e segurança de operação, o rendimento térmico e reduzir a massa da estrutura metálica (redução de custo). Esses objetivos são alcançados pelo aumento da superfície de aquecimento e pela instalação do coletor superior fora da zona de aquecimento. O ancestral de todas as caldeiras modernas foi a caldeira cilíndrica simples, constando de um depósito cilíndrico horizontal (tambor) aquecido por uma fornalha (figura 2). As paredes do depósito servem de superfície de aquecimento. O desenvolvimento tecnológico conseguiu o aumento da superfície de aquecimento de dois modos: 1 - Introdução de tubos dentro do volume do tambor, utilizando tubos grandes como fornalha (caldeiras de tubos de chama) e tubos pequenos para passar os produtos da combustão (caldeiras de tubos de fumaça, flamotubulares, fogotubulares ou pirotubulares). 2 - Introdução de superfícies tubulares exteriores ao tambor, que funcionam como vaporizadores de água (caldeiras de tubos de água ou aquatubulares). Figura 2. Desenvolvimento Tecnológico das Caldeiras da Vapor. A adição das superfícies de aquecimento, e a redução do diâmetro do tubos dessas superfícies conduziu paulatinamente ao crescimento da superfície específica de aquecimento (m2/m3 do volume dos dutos de gases) e ao aumento da relação da superfície de aquecimento pelo volume do tambor. Nas caldeiras aquatubulares, a circulação do fluido através do feixe vaporizador é assegurado pela ascensão da mistura água-vapor, deslocada pela água sem bolhas de vapor que desce do tambor pelos tubos de descida. Para evitar a evaporação da água nos tubos de descida, aumentou-se o seu diâmetro (figura 2b) e diminuindo-se o seu aquecimento, colocando-os fora da zona de altas temperaturas (figura 2c). Mais tarde os tubos de descida foram colocados fora do revestimento da caldeira (figura 1). A utilização dos tubos verticais no feixe de vaporização (figura 2c) elevou a confiabilidade de circulação da mistura água-vapor. Essas caldeiras são chamadas caldeiras de tubos verticais de água. Posteriormente aos tubos verticais, foram utilizadas as paredes da fornalha como superfície vaporizadora. Apareceram as superfícies de aquecimento em forma de painéis. Nas caldeiras de alta pressão, em vez de depósitos inferiores como coletores (figuras 1, 2c), são utilizadas câmaras cilíndricas de diâmetro relativamente pequeno, que unem os tubos das paredes de aquecimento e são elementos de transição entre esses e os tubos de descida. Progressivamente o tambor superior deixou de funcionar como superfície de aquecimento, e a fim de aumentar a confiabilidade de funcionamento da caldeira, passou a se situar fora da zona de aquecimento (figura 1). A necessidade de superaquecer o vapor surgiu no século XIX, e para isso foram instaladas superfícies especiais chamadas superaquecedores de vapor. Nesse desenvolvimento tecnológico, chegou-se no início do século XX à caldeira de tubos de água verticais e tambor superior, com circulação natural múltipla e com fornalha de paredes de tubos de água. Nas caldeiras de alta pressão, utiliza-se uma bomba para assegurar uma circulação forçada da água e da mistura água-vapor, de modo a aumentar a confiabilidade de funcionamento. São as caldeiras de circulação forçada múltipla. Modernamente desenvolveram-se as caldeiras de passe único, sem recirculação, com circulação forçada e contínua (com ajuda de bomba de circulação) da água, da mistura de água-vapor e do vapor superaquecido. Essas caldeiras não possuem tambor. Nesse princípio também funcionam as caldeiras de aquecimento de água, sem superfícies de evaporação e de superaquecimento. Os principais esquemas de circulação do fluxo de água, mistura vapor-água e vapor nas caldeiras modernas são mostrados na figura 3. A fornalha e os dutos de gases da maioria das caldeira operam a uma pressão inferior à atmosférica. Essa pressão negativa impede que os produtos da combustão saiam para a casa de caldeiras através das juntas do revestimento, das portas e escotilhas. Ultimamente tem sido construídas caldeiras estanques ao gás, que utilizam um ventilador de tiragem forçada (13), e funcionam com pressão positiva na fornalha. Figura 3. Circulação de Água e vapor nas Caldeiras. As caldeiras energéticas alimentam turbinas a vapor, e freqüentemente possuem um superaquecedor de vapor adicional, chamado reaquecedor de vapor intermediário, que serve para reaquecer o vapor retirado na tomada intermediária da turbina, a fim de elevar a sua potência. As maiores caldeiras fabricadas atualmente são as energéticas. Sua produção de vapor alcança 4000 t/h, pressões de até 250 kgf/cm² e temperatura do vapor superaquecido de até 600°C, alimentado turbinas de potência acima de 1200 MW. 4. SUPERFÍCIES DE AQUECIMENTO DA CALDEIRA Superfícies vaporizadoras As superfícies de geração de vapor (vaporizadoras) por aquecimento, diferem em cada tipo de caldeira. Normalmente as caldeiras possuem as paredes da fornalha compostas por paineis (cortinas) de tubos, que absorvem calor por radiação, e um feixe convectivo, instalado Figura 4. Posicionamento das Superfícies Vaporizadoras de uma Caldeira com Coletor. à saída da fornalha. Nas caldeiras de circulação natural, os painéis são fabricados com tubos lisos (paneis de tubos lisos) de diâmetro interior de 40-60mm. Os paineis possuem uma série de tubos elevadores verticais, conectados em paralelo através de coletores (figura 4). Normalmente a folga entre os tubos é de 4-6mm. Certos tubos do painel são instalados diretamente no tambor da caldeira, sem coletores superiores especiais. Cada painel, juntamente com os tubos de descida (montados fora do revestimento da fornalha), formam um circuito independente de circulação de água. Na seção de saída dos gases da fornalha, os tubos do painel se afastam formando 2 ou 3 filas. Essa derivação dos tubos se chama retentor de escórias, e visa dar passagem aos gases, reduzir sua velocidade, e prevenir o entupimento das folgas entre os tubos pela solidificação das cinzas líquidas Figura 5. Fornalha Dupla. arrastadas pelos gases da fornalha. Nos geradores de vapor de grande potência, além dos paineis das paredes, são instalados paineis adicionais que dividem a fornalha em seções separadas (figura 5). Esses paneis recebem radiação das chamas por ambos os lados, e absorvem 2 vezes mais calor que os paineis das paredes, aumentando a quantidade de calor absorvido e permitindo diminuir as dimensões da fornalha. O projeto da superfície de absorção de radiação da fornalha (m2) é calculado através de diversos métodos apresentados na literatura [2]. O cálculo da superfície de aquecimento do feixe convectivo (bem como a do superaquecedor de vapor, do economizador e preaquecedor tubular de ar) é baseado nas equações de transmissão de calor e no balanço térmico. A fórmula para transmissão de calor por convecção pode ser escrita sob forma da Lei de Newton para o resfriamento: onde U é o coeficiente global de transmissão de calor, t a diferença de temperatura média logarítmica entre os produtos da combustão e o fluido motor, Q a quantidade de calor recebida pela superfície de aquecimento (kJ/kg de combustível). O valor de Q é dado por: Q = H' - H" - Q5c + Qsuc onde H' e H" são as entalpias dos produtos da combustão antes e depois da superfície de aquecimento por convecção examinada, Q5c a perda de energia devido à dissipação térmica para o meio ambiente na seção examinada, e Qsuc o calor introduzido pelo ar succionado no duto. Ocalor cedido pelos gases Q é transmitido pela superfície de aquecimento ao fluido de trabalho (água, vapor, ar): onde D é a vazão do fluido de trabalho (fluido motor); hentra e hsai as entalpias do fluido motor na entrada e saída da superfície de aquecimento. Superaquecedores Os superaquecedores aumentam a temperatura do vapor saturado que sai da caldeira, transformando-o em vapor superaquecido, utilizando o calor dos produtos da combustão. São utilizados normalmente nas caldeiras aquotubulares, e em algumas caldeiras flamotubulares. Em caldeiras de alta temperatura e pressão, a absorção de calor nos superaquecedores pode representar até 60% do calor total. De acordo com o processo de transmissão de calor, os superaquecedores, ou suas seções, são classificados em radiativos, convectivos ou semiradiativos (figura 6). Figura 6. Tipos de Superaquecedores. A localização do superaquecedor na caldeira depende da disponilidade de espaço e da temperatura desejada do vapor. Para se obter grande superaquecimento do vapor, é necessário a instalar o superaquecedor dentro da fornalha, na região de alta temperatura, e troca de calor ocorre por radiação. Neste caso têm-se os superaquecedores radiativos. Os superaquecedores convectivos são instalados ao longo do duto horizontal de gases, ou no início do poço convectivo, em forma de conjuntos de serpentinas, com passo 2,5-3 diâmetros do tubo. De acordo com a direção do fluxo de gases e vapor, os superaquecedores podem ser classificados em contracorrente, concorrente ou fluxo combinado (figura 7). Os superaquecedores são geralmente fabricados com tubos liso de 22-54 mm de diâmetro, e constam de uma série de tubos ligados a 2 coletores. O primeiro recebe o vapor saturado e o outro fornece o vapor superaquecido. O cálculo térmico dos superaquecedores é efetuado com as mesmas equações acima. Deve-se evitar velocidades de circulação de vapor muito elevadas, para dimiuir as perdas de pressão. Normalmente utiliza-se velocidades entre 12 e 20 m/s. A temperatura do vapor superaquecido deve-se manter constante, independente da carga e do regime de trabalho da caldeira. A diminuição da temperatura aumenta o teor de umidade do vapor nos últimos estágios da turbina, e o aumento da temperatura acima do calculado, aumenta o perigo de deformações térmicas e da diminuição da resistência mecânica dos diversos elementos da turbina. A temperatura do vapor é controlada através de dessuperaquecedores. O dessuperaquecedor mais comum é o injetor, onde o controle da temperatura é efetuado pela injeção de água tratada (condensado) no fluxo de vapor. A evaporação dessa água absorve parte da entalpia do vapor e diminui a sua temperatura. Economizadores Os economizadores aquecem a água de alimentação, antes da seção vaporizadora da caldeira, recuperando o calor residual dos produtos da combustão, permitindo uma vaporização mais rápida e um aumento do rendimento da caldeira. Normalmente são fabricados com tubos de aço 25-38mm de diâmetro, formando serpentinas verticais montadas em conjuntos compactos. A água circula dentro dos tubos. Os tubos são dispostos em arranjos bem densos: no sentido transversal ao fluxo de gases, a distância entre tubos vizinhos é 2-2,5 diâmetros de tubo e ao longo do fluxo 1-1,5 diâmetros. A fixação dos tubos das serpentinas é feita normalmente por suportes de apoio, fixos em vigas ôcas (para refrigeração com ar) isoladas dos gases quentes (figura 8). De acordo com o tipo de aquecimento da água, os economizadores são classificados em vaporizadores e não vaporizadores. Os economizadores vaporizadores, podem transformar até 20% da água em vapor. O número total de tubos em paralelo, é determinado pela velocidade de fluxo da água: >0,5 m/s para os economizadores não vaporizadores >1,0 m/s para os economizadores vaporizadores. Essas velocidades são necessárias para retirar as bolhas de ar das paredes, que contribuem para a corrosão, e para evitar a separação da mistura água/vapor, o que poderia conduzir ao superaquecimento da parede superior do tubo, devido à pequena absorção pelo vapor, e a ruptura do tubo. A circulação da água no economizador é sempre ascendente. O número de tubos no plano transversal ao fluxo de gases é determinado pela velocidade dos produtos da combustão (6-9 m/s). Essa faixa de velocidade preserva as serpentinas contra a obstrução das cinzas e diminui a erosão devido às cinzas. Para facilitar a reparação e limpeza exterior dos tubos, os economizadores são divididos em pacotes de 1-1,5 metros de altura, distanciados entre si de até 800 mm. As deposições de cinzas nas superfícies exteriores dos tubos são retiradas periodicamente por jato de areia. A aderência das cinzas é conseqüência da condensação do orvalho dos produtos da combustão sobre as superfícies dos tubos. Por isso, muitas vezes efetua-se um aquecimento prévio da água de alimentação a uma temperatura superior ao ponto de orvalho da água e do ácido sulfúrico presentes nos produtos da combustão. Em uma caldeira para combustível sólido, as fileiras superiores dos tubos do economizador, sofrem uma acentuada erosão pelas cinzas, devido à alta velocidade dos gases. Para prevenir a erosão desses tubos, são instaladas superfícies protetoras. O cálculo térmico dos economizadores são efetuados pelas mesmas fórmulas acima. Preaquecedores de ar Os preaquecedores de ar são utilizados para elevar a temperatura do ar de combustão e do ar do moinho de carvão, aproveitando o calor dos produtos da combustão efluentes. De acordo com o princípio de funcionamento os preaquecedores de ar são classificados em recuperativos e regenerativos. Nos preaquecedores recuperativos, o calor dos gases é transmitido ao ar através da parede do tubo que os separa. De modo geral, esses preaquecedores são construídos com tubos de aço (diâmetro 30-40mm), conforme o esquema da figura 6. Normalmente esses tubos são instalados na vertical, com os gases circulando no interior, e o ar passando transversalmente pelo exterior em vários passos. O gás atravessa os tubos a uma velocidade 9-13 m/s, o ar contorna os tubos à metade dessa velocidade. Assim, obtem-se aproximadamente o mesmo coeficiente de transmissão de calor dos dois lados da parede do tubo. Para evitar a corrosão e a aderência das cinzas, é desejável manter a temperatura das paredes dos tubos acima do ponto de orvalho. Isso é possível mediante o aquecimento prévio do ar em um preaquecedor a vapor ou pela a recirculação de uma fração do ar preaquecido. O cálculo térmico dos preaquecedores de ar, também são efetuados pelas mesmas fórmulas acima. No preaquecedor de ar regenerativo, os gases aquecem um enchimento metálico, que depois é colocado em contato com o fluxo de ar, cedendo calor ao ar. Este ciclo aquecimento/resfriamento se repete de forma cíclica. Nas caldeiras, o tipo mais utilizado é o preaquecedor Ljüngströn (figura 10). O Ljüngströn consiste de um rotor cilíndrico, dividido em vários compartimentos, recheados com chapas finas onduladas de aço. Esse rotor encontra-se montado entre dois canais onde circulam separadamente, e em contracorrente os gases e o ar. O rotor gira lentamente (2-5 rpm) acionado por um pequeno motor, de modo que a cada instante metade de sua superfície está em contato com o fluxo de gases quentes e metade com o ar, absorvendo calor dos gases e cedendo ao ar. Apesar da temperatura do enchimento variar periodicamente, a temperatura de preaquecimento do ar mantêm-se constante. Os preaquecedores de ar regenerativos são bastante utilizado em caldeiras a vapor, e destacam-se por sua grande compacidade (até 250 m2 de superfície de aquecimento por m3 de recheio). Seu principal inconveniente é a fuga de ar (até 10%) para o duto de gases, aumentando as perdas de energia com os gases efluentes e obrigando o uso de maiores ventiladores de tiragem forçada e induzida. 5. CÁLCULO DOS ELEMENTOS CONVECTIVOS As superfícies de aquecimento por convecção são comumente constituídas de um banco de tubos que é exposto ao fluxo dos produtosda combustão, em contracorrente ou em paralelo, sendo exceção os pré-aquecedores de ar regenerativos. O cálculo das superfícies convectivas é baseado nas equações de transmissão de calor e de balanço térmico. A equação de transmissão de calor por convecção pode ser escrita sob a forma da Lei de Newton para o resfriamento: Q = U . A. T onde T é diferença de temperaturas, A a área da superfície de aquecimento e U o coeficiente global de transferência de calor. A superfície de aquecimento é calculada em relação ao lado de máxima resistência térmica; ou seja, no superaquecedor e economizador pelo lado do fluxo de gases. Nas aplicações onde as resistências térmicas são da mesma ordem de grandezas em ambos os lados (exemplo, pré-aquecedores de ar), é utilizado nos cálculos a média entre as áreas dos lados do gás e do ar. O coeficiente global de transferência de calor para uma superfície de aquecimento limpa é: U = 1 / (1/hc1 + L/k + 1/hc2) W/m2.°C onde hc1 é o coeficiente médio combinado de transmissão de calor dos gases para a parede (de 30 a 70 W/m2.°C); k a condutividade térmica dos tubos (52 W/m2.°C para os aços carbono e 15 W/m2.°C para os aços austeníticos); L a espessura dos tubos da parede (0,003 a 0,006m); hc2 o coeficiente médio de transmissão de calor por convecção entre a parede do tubo e a água (3000 a 30000 W/m2.°C para os economizadores) Assim, o coeficiente global de transmissão de calor para o economizador, com superfície de aquecimento limpa, é aproximadamente igual á quantidade de calor transferido entre o fluxo de gases e o tubo: U hc1 Nos superaquecedores (580 < hc2 < 2320 W/m2.°C) e principalmente nos preaquecedores de ar, onde o valor de hc2 é da mesma ordem de grandeza de hc1, o valor de 1/hc2 não pode ser desprezado. Assim: U 1/(1/hc1 + 1/hc2) = (hc1 . hc2)/(hc1 + hc2) onde o valor de hc1 é dado por: hc1 = Fe. hc + hr onde Fe é o fator de exposição, correção para a diminuição da capacidade de absorção de calor na superfície devido à uma exposição deficiente ao fluxo de gases. Nas caldeiras modernas Fe se aproxima de 1,00. hc é o coeficiente médio de transmissão de calor por convecção, ou coeficiente de película, e hr é o coeficiente médio de transmissão de calor por radiação. A equação adimensional para a transmissão de calor por convecção, para um tubo isolado em regime turbulento forçado é: Nu = C.Rem.Prn Em se tratando de gases, esta equação pode ser simplificada, uma vez que Pr é função da atomicidade dos gases, e a composição do fluxo de gases pode ser considerada constante. Assim, o termo adimensional Prn pode ser representado por uma constante: Nu = C.Rem Nu = hc.d/k Re = V.d/ Assim: hc = C.(k. Vm)/( m.d1-m) Esta equação permite analisar o efeito dos principais parâmetros sobre o coeficiente de película hc. A constante C e o expoente m são determinados experimentalmente. m é sempre menor que 1,00, e se situa entre 0,60 e 0,65 para tubos em fluxo cruzado (cross-flow). Pode-se notar também que o coeficiente de película hc aumenta com a velocidade do gás v e diminui com o aumento do diâmetro externo do tubo d, além de depender da condutividade k e viscosidade cinemática do gás. Com o banco de tubos situado perpendicularmente ou oblicuamente ao fluxo de gases, hc depende do tipo de arranjo do banco (linear ou não); de sua geometria, que é caracterizada pelo passo transversal relativo S1/d, e pelo passo longitudinal relativo S2/d; e do número de fileiras de tubos z na direção do fluxo. Com o banco de tubos exposto a um fluxo de gás longitudinal, é necessário calcular o diâmetro equivalente. O coeficiente médio de transmissão de calor por radiação dos produtos da combustão hr, considera a radiação dos gases triatômicos (CO2, SO2, H2O) e das cinzas volantes, e pode ser determinado por: onde p é o grau de proteção das superfícies absorvedoras de calor (0,82); a emissividade do fluxo de gases. onde k.p.s é a absortividade total do fluxo: k p s = (kg Vg + kc C) P.S onde kg e kc são os fatores de atenuação da radiação para os gases triatômicos e para as cinzas volantes, determinados por fórmulas empíricas, Vg a fração volumétrica de H2O, CO2 e SO2 (Vg = Vh2o + Vco2 + Vso2), C a concentração de cinzas nos produtos da combustão (g/m3); P a pressão dos produtos da combustão (bar); S a espessura da camada radiante (m). S = ( a . (S1 + S2)/d - b) onde a e b são coeficientes que dependem do passo do banco de tubos. Tendo sido calculado hc e hr, calcula-se hc1. O coeficiente médio de transmissão de calor hc2, para os preaquecedores de ar e superaquecedores é determinado da mesma maneira que hc. Em geral para caldeiras em operação: O valor de Lp/kp é tão pequeno que pode ser desprezado. Para caldeiras de alta e média pressão, em operação contínua, o valor de Lsc/ksc também pode ser desprezado. O fator de contaminação superficial (Fs=Lc/kc) é escolhido baseado nas recomendações das normas de cálculo de caldeiras. Considerando-se a contaminação externa, o coeficiente global de transmissão de calor para as superfícies do economizador é: e para o superaquecedor: Para os preaquecedores de ar, é introduzido o coeficiente de utilização das superfícies de aquecimento : Para os arranjos paralelo e contracorrente, a diferença média de temperaturas T é determinada pela diferença de temperaturas média logarítmica. BIBLIOGRAFIA [1] BASKAKOV A.P. Termotecnia, Moscou, Mir, 1985, 413p [2] KURNETSOV N. V. et al. Teplovoy Raschet Kateknykh Agregatov. 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