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O trauma tecidual é seguido por uma série de eventos que podem ser divididos em três fases: Fase inflamatória A agressão tecidual, com consequente rompimento de vasos sanguíneos, desencadeia uma sequência inicial que forma um coágulo. Esse coágulo sanguíneo serve para manter a homeostase, além de fornecer uma matriz provisória para a migração celular. As plaquetas aderem ao tecido conjuntivo intersticial e posteriormente agregam-se. No processo de agregação, liberam uma série de mediadores e expressam fatores de coagulação. O coágulo de fibrina e a trombina formada localmente agem como um ninho para a adesão e agregação plaquetária adicionais. O fibrinogênio plaquetário, uma vez convertido em fibrina pela trombina, contribui para o coágulo de fibrina. Destacam-se nesse momento as plaquetas, não apenas por seu importante papel na formação do tampão homeostático como também pela liberação de citocinas e fatores de crescimento, exemplificados pelo fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e os fatores transformadores de crescimento alfa e beta (TGF-α e TGF-β). O PDGF é quimiotático para outras células inflamatórias e estimula a primeira fase da proliferação de células epidérmica, fibroblastos e células endoteliais. A ativação endotelial por quimiotáticos também estimula a liberação endotelial de moléculas de elastase e colagenase, que, por sua vez, facilitam a penetração celular através das membranas basais de vasos sanguíneos. A fase inflamatória é caracterizada pelo influxo de leucócitos ao local da ferida. Tal resposta é rápida e coincide com os sinais clássicos da inflamacão, normalmente ocorrendo nas primeiras 24 h, e pode durar até 2 dias. Formação tecidual ou fase proliferativa Essa fase tem como objetivo primordial reduzir a área de tecido lesionado por contracão e fibroplasia, além de estabelecer uma barreira epitelial viável para a atividade dos queratinócitos. Nessa etapa ocorre o fechamento da lesão, o qual depende basicamente de reepitelização, angiogênese e fibroplasia 1. Fase inflamatória 2. Formação tecidual ou fase proliferativa 3. Remodelação da ferida Figura 1 A. Fase inflamatória do processo de reparação tecidual. Infiltrado inflamatório com predomínio de neutrófilos; presença de alguns mastócitos (M). B. Fase de formação do tecido de granulação, com início da reepitelização. Observam-se proliferação vascular e predomínio de fibroblastos. Presença de alguns macrófagos (Mc). C. Fase de remodelação da ferida. Observam-se regressão dos vasos neoformados e redução do número de fibroblastos por apoptose. Reepitelização Algumas horas após a agressão, os queratinócitos das estruturas epiteliais residuais movem-se através da ferida. Um a 2 dias após a agressão, as células epiteliais das margens da ferida comecam a migrar. As células germinativas epidérmicas do folículo piloso servem de reservatório para os queratinócitos no processo de cicatrização. Os queratinócitos que migram sobre a ferida não transitam indiscriminadamente sobre uma área de matriz provisória, mas de fato “separam” o tecido viável do não viável. Os queratinócitos, por exemplo, não expressam receptores para fibrinogênio, fibrina, colágeno desnaturado ou fibronectina. Finalmente, a migração dos queratinócitos resulta no descarte da crosta. Concomitantemente à reepitelização, proteínas da membrana basal reaparecem da margem da ferida para o centro. As células epidérmicas retornam ao seu fenótipo normal, prendendo-se firmemente à membrana basal por meio de hemidesmossomos e à neoderme, por meio de fibrilas de colágeno do tipo VII. Tecido de granulação Aproximadamente 4 dias após a agressão, o tecido de granulacão comeca a formar-se. Essa denominação está relacionada com a aparência granular observada ao ser incisado, graças aos numerosos capilares neoformados. Remodelação da ferida Essa fase é caracterizada pela remodelacão da matriz extracelular e a diferenciação celular ou apoptose Fatores que influenciam a reparac ̧ão cuta ̂nea • Dimensão e profundidade da lesão • Grau de contaminação • Presença de secreções • Hematomas • Isquemias • corpo estranho • necrose infecção local • diabetes, hipotireoidismo, drogas, álcool, fumo, idade, queimaduras. • Desnutrição Embora quase todas as feridas cutâneas estejam contaminadas pela flora residente, organismos patogênicos necessitam representar um valor acima de 100.000 bactérias/g de tecido para que a infeccão clínica ocorra. A colonização bacteriana considerada crítica pode provocar prolongamento da fase inflamatória e comprometer a reparac ̧ão. Para que ocorra a cicatrização em tempo ótimo, deve-se também drenar hematomas e evitar fármacos que facilitem sua formação, como anticoagulantes e agentes antiplaquetários. Corpos estranhos representam um local propício para aderência bacteriana e reduzem a tensão de oxigênio e pH da ferida, devendo ser removidos. Em relação aos fatores sistêmicos, aspectos tanto nutricionais quanto do estilo de vida (tabagismo, etilismo), uso de alguns medicamentos (como corticosteroides) ou doenças sistêmicas, como diabetes melito, podem comprometer o processo de reparação. há evidências claras de que uma ferida seca não cicatriza tão bem quanto o ambiente úmidos. Os benefícios de um ambiente úmido incluem a promoção da reepitelização, do reparo dérmico e da angiogênese. Medicamentos tópicos e curativos oclusivos proveem um ambiente úmido que auxilia a cicatrização. Modalidades de feridas Uma úlcera cronica pode ser definida como um rompimento na barreira cutanea de longa duracão (mais que 6 semanas) ou recorrencia frequente. Entre as causas comuns de úlceras crônicas podem-se citar: úlceras de estase venosas, úlceras arteriais, lesões ulceradas dos pés de pacientes diabéticos (pés diabéticos), úlceras por pressão, vasculites e pioderma gangrenoso. Diagnostico diferencial de úlcera cronica são: leishmaniose tegumentar, ectima, micobacterioses atípicas, úlcera tropical, esporotricose, paracoccidiodomicose, úlceras por animais peçonhentos (loxocelismo, ofidismo) e úlcera por anemia falciforme. Úlcera venosa As úlceras de estase venosas correspondem a mais da metade de todas as feridas das extremidades inferiores. São mais comuns em mulheres e sua incidência aumenta com a idade Fisiopatologia A sua fisiopatologia está relacionada com a hipertensão venosa, como consequência da trombose venosa e/ou refluxo através de válvulas incompetentes. Pacientes com insuficiencia venosa cronica comumente queixam-se de edema e dor nas pernas que pioram no final do dia e melhoram com elevacão dos membros inferiores. A localização mais comum é o maléolo medial Como descrevê-las As bordas das úlceras são tipicamente irregulares e o leito, raso. As úlceras venosas tendem a ser maiores que úlceras de outras causas, podendo envolver toda a circunferência do tornozelo. A pele circunjacente pode exibir edema, enduração, hemossiderose, varicosidades, lipodermatoesclerose, atrofia branca e/ou dermatite de estase. Úlceras arteriais As úlceras arteriais são consequencia de fluxo sanguíneo inadequado para a pele. A causa mais comum é a doenca arterioesclerótica. O risco de ulceração arterial de extremidades inferiores é aumentado em fumantes, diabéticos, idosos e indivíduos com evidência de doença arterial em outros locais. Sintomas Um sintoma clássico da doença arterial é a claudicação intermitente e dor em repouso (aliviada quando as pernas são colocadas em uma posição pendente). exame físico observam-se: pés frios, pulsos pediosos fracos ou ausentes, enchimento capilar alentecido. Figura 2 Úlcera de estase venosa – bordas irregulares e leito raso, com eczemade estase na pele circundante. Típica localização no maléolo medial. Como descrevê-las As úlceras arteriais são pálidas, arredondadas e com bordas “talhadas a pique”. Ocorrem com localizações mais distais, frequentemente sobre proeminências ósseas. A pele em torno é fina, atrófica, com pelos ralos. A dor geralmente exacerba-se após elevação do membro. Tratamento • Antibióticos • Vasodilatadores • Repouso • Hidratação • Analgésicos • Maior ingestão de proteínas Úlceras nos pés diabéticos Os diabéticos te ̂m risco de 15 a 25% de desenvolver uma úlcera nos pés em algum momento da vida, geralmente consequente a neuropatia periférica ou doença vascular associada ao diabetes. A neuropatia motora periférica enfraquece os músculos intrínsecos dos pés, produzindo anormalidades estruturais que, quando acompanhadas pela neuropatia sensitiva, aumentam o risco de feridas pelo estresse mecânico contínuo. Tipicamente, um calo espesso forma-se na área de pressão repetida e finalmente se rompe, levando a uma ulceracão A dificuldade de cicatrização nas úlceras dos pés de pacientes diabéticos deve-se a glicemia elevada, baixa oxigenacão tecidual e comprometimento da resposta imunológica à lesão. As úlceras dos pés de pacientes diabéticos têm um risco maior de amputação, uma vez que a osteomielite subjacente não é incomum. Para cicatrizar e impedir a recorrência, pacientes com neuropatia sensitiva devem usar calçados protetores a fim de evitar o trauma. Alguns pacientes requerem, inclusive, calçados especiais feitos sob medida com objetivo de reduzir a carga sobre a área da úlcera. Como descrevê-las Lesão indolor, profunda com bordas hiperqueratoticas Tratamento Preventivo • Hidratação da area • Controle adequado da glicemia • Evitar machucar • Usar meias de moderada compressão • Usar sapatos confortáveis e adequados • Em graus mais avançados, pode-se usar antibióticos • Caso necrose – amputação Úlcera hipertensiva de Martorell A úlcera hipertensiva é uma complicacão da hipertensão arterial sistemica grave. Fisiopatologia A lesão parece ocorrer por arterioloesclerose das arteríolas dérmicas, diminuicão da pressão de perfusão cutânea e aumento localizado da resistência vascular, que resulta na formacão de úlcera por isquemia diagnóstico é sobretudo clínico, baseando-se nos critérios descritos por Martorell: Não estão definidos quantos critérios são necessários para se firmar o diagnóstico. Do ponto de vista clínico, são características a dor desproporcional ao tamanho da úlcera e, pela resposta ao tratamento, a dependência do controle adequado da pressão arterial. Tratamento o tratamento pode ser conservador apenas controlando a pressão arterial com fármacos que diminuem a vasoconstrição periférica, como os bloqueadores dos canais de cálcio( anlodipino+ Benazepril) e os inibidores da enzima conversora da angiotensina( captopril, inalapril, podendo associar captopril+hodroclorotiazida) bem como se tratando da lesão com cuidados adequados. Figura 3 Mal perfurante plantar em paciente diabético. Nota-se halo de calosidade. ■ hipertensão arterial nos brac ̧os e nas pernas ■ ausência de oclusão de grandes artérias de membros inferiores e pulsos palpáveis em todas as artérias dos membros inferiores ■ ausência de distúrbio na circulac ̧ão venosa ■ úlcera superficial na face anterolateral de membro inferior ■ simetria das lesões ■ maior prevalência em mulheres ■ ausência de classificação arterial. Betabloqueadores estão contraindicados. Nos casos resistentes, simpatectomia lombar e/ou enxertia são opções terapêuticas. Úlceras por pressão As úlceras por pressão (também conhecidas como úlceras de decúbito) são causadas por fluxo sanguíneo inadequado como resultado de pressão prolongada ou friccão. Uma compressão tecidual acima da pressão de enchimento capilar de 32 mmHg que dure mais de 2 h ( por isso que o tratamento é mudança de decúbito de 2/2h ) pode provocar isquemia local e necrose. A pele sobre proeminências ósseas (sacro, maléolo, quadris) é especialmente vulnerável, podendo também acometer a região occipital, hélices, cotovelos e extremidades inferiores, incluindo calcanhares e tornozelos. Como identificá-las As úlceras por pressão iniciam-se com calor, rubor e eritema persistente da pele intacta e podem progredir para perda cutânea de espessura total com extensa destruição do tecido subjacente Quem é mais acometido ? Indivíduos imóveis, inconscientes, paralisados, idosos ou desnutridos tem maior risco. A suscetibilidade ao desenvolvimento de úlceras de decúbito está vinculada a fatores externos (como pressão, fricção, umidade) e internos (febre, desnutrição, anemia, disfunção endotelial). Figura 5Úlcera hipertensiva ou isquêmica – o centro com “pouco sangue” é um aspecto peculiar. Figura 4Úlcera por pressão na região sacral. Como classificá-las São classificadas pela classificação National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). Esta classificação em quatro estágios é designada apenas para descrever a profundidade de uma úlcera visível no momento do exame. Não deve ser utilizada para acompanhamento de progressão/regressão ou documentar cicatrização. Nos casos em que houver necrose ou lesão de tecidos profundos também não é útil, à medida que depende de achados visíveis O estágio I representa a pele intacta com eritema, calor e infiltração. Reconhecimento e tratamento efetivo neste estágio são especialmente importantes porque, quando cuidado adequadamente, o caso pode ser resolvido em 5 a 10 dias. O estágio II corresponde a uma úlcera rasa (envolvendo epiderme e possivelmente a derme) com alterações pigmentares. A lesão pode apresentar-se como erosão, bolha ou úlcera superficial. O estágio III caracteriza-se por uma perda da pele de espessura total, envolvendo o subcutâneo, porém poupando a fáscia subjacente. A lesão apresenta-se como úlcera necrótica. O estágio IV é representado por úlceras de espessura total, com perda de pele e tecido subcutâneo, penetrando profundamente na fáscia, resultando em envolvimento de músculo, osso, tendão ou cápsula articular. Osteomielite e fraturas podem estar presentes, assim como fístulas. O tratamento baseia-se em quatro pontos cruciais: 1. redução da pressão e prevenção de novas úlceras; 2. tratamento da ferida; 3. intervenção cirúrgica; 4. nutrição ( maior ingesta de proteínas, podendo usar até suplementos alimentícios ricos em tal ) Mudanc ̧a frequente de decúbito e redução de carga com camas e colchões especiais são componentes chave na sua prevenc ̧ão e tratamento. Úlcera angiodérmica (Favre) Trata-se de uma doenc ̧a que acomete adultos e idosos. Inicia-se por lesões purpúricas puntiformes ou em placas decorrentes de pequenos infartos locais que originam pequenas úlceras necróticas, as quais confluem para formar úlceras maiores. Localiza-se, de preferência, na face interna do terço inferior da perna esquerda e, por isso, é conhecida, como a úlcera dos tres i, que significam: inferior, interno e izquierdo. Isso acontece porque o retorno venoso está lenificado no arco crural. A fase final do quadro é a úlcera angiodérmica, chamada “úlcera de perna”, uma úlcera crônica e progressiva, raramente dolorosa, que se instala na região supramaleolar interna, que pode atingir muitos centímetros de diâmetro Figura 6 Úlcera angiodérmica também conhecida como úlcera dos três i. tratamento O tratamento deve ser feito com repouso e elevação do membro; devem ser consideradostambém o uso de bota de Unna e a aplicação de curativos biológicos, para evitar contaminação. Úlcera por processo neoplásico • Lesão tumoral com ulceração posterior • Não apresentam localização específica • São de longa duração • Apresentam-se com bordas elevadas indolores e infiltradas • Derivadas de CEC
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