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AULA 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-SOCIAL BRASILEIRA Profª Joice Martins Diaz 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula veremos os marcos históricos e normativos do atendimento às pessoas com deficiência no Brasil e no mundo, os históricos de Leis e Políticas voltadas para a educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Veremos também a grande influência da Declaração de Salamanca nas Políticas Públicas em prol da educação inclusiva e a relação com a igualdade e diversidade, bem como os princípios para alcançar a inclusão escolar e contemplar a diversidade. TEMA 1 – MARCOS HISTÓRICOS E NORMATIVOS O atendimento aos deficientes no Brasil teve iniciou na época do Império, com a criação de instituições, como o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atualmente Instituto Benjamin Constant (IBC). Criou-se também o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, atualmente Instituto Nacional da Educação dos Surdos (NES), ambos no Rio de Janeiro. Essa trajetória conta com um longo histórico de Leis e Políticas que foram criadas com o intuito de aperfeiçoar os propósitos no âmbito da Educação Especial com vistas a Educação Inclusiva. O quadro seguinte resume essa trajetória com os principais marcos históricos e normativos: Quadro 1 – Principais marcos históricos e normativos 1961 O atendimento educacional às pessoas com deficiência passa ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 74.024/1961, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. Lei n. 5.692/1971 Altera a LDBEN de 1961, ao definir ‘tratamento especial’ para os alunos com “deficiências físicas, mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promove a organização de um sistema de ensino capaz de atender as necessidades educacionais especiais e acaba reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. 1973 Criado pelo MEC, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação, ainda configuradas por campanhas assistenciais e ações isoladas do Estado. (continua) 3 (continuação do Quadro 1) Constituição Federal de 1988 Traz como um dos seus objetivos fundamentais, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (Art.3º, inciso IV). Define no Art. 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu Art. 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” , como um dos princípios para o ensino e, garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (Art. 208). Lei n. 8.069/1990 O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 55, reforça os dispositivos legais supracitados, ao determinar que "os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. Também, nessa década, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994), passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. 1994 Publicada a Política Nacional de Educação Especial, orientando o processo de ‘integração instrucional’ que condiciona o acesso às classes comuns do ensino regular àqueles que "[...] possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”. Ao reafirmar os pressupostos construídos por meio de padrões homogêneos de participação e aprendizagem, a Política não provoca uma reformulação das práticas educacionais de maneira que sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendizagem no ensino comum, mantendo a responsabilidade da educação desses alunos exclusivamente no âmbito da educação especial. Lei n. 9.394/1996 A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei n. 9.394/96, no Art. 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. 1999 O Decreto n. 3.298 que regulamenta a Lei n. 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Lei n. 10.172/2001 O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei n. 10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. Convenção da Guatemala (1999) Promulgada no Brasil pelo Decreto n. 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo como discriminação com base na deficiência, toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Resolução CNE/CP n.1/2002 Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP n.1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. (continua) 4 (continuação do Quadro 1) 2003 O Ministério da Educação cria o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, visando transformar os sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, que promovam um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, a organização do atendimento educacional especializado e a promoção da acessibilidade. 2004 Ministério Público Federal divulga o documento: O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de disseminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular. 2006 A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos que objetiva, dentre as suas ações, fomentar, no currículo da educação básica, as temáticas relativas às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na educação superior. 2007 No contexto com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), é lançado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), reafirmado pela Agenda Social de Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo como eixos a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, a implantação de salas de recursos e a formação docente para o atendimento educacional especializado. Decreto n. 6.094/2007 Estabelece dentre as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, a garantia do acesso e permanênciano ensino regular e o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão educacional nas escolas públicas. Fonte: Brasil, 2008, p. 6-10 TEMA 2 – EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A educação inclusiva, fundamentada na concepção de direitos humanos, é um movimento de ação política, cultural e social bem como pedagógica, que considera igualdade e diferença como valores indissociáveis em prol da ideia de equidade, com base no contexto e circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. O movimento em prol da educação inclusiva no Brasil “teve um grande impacto na discussão de políticas educacionais para crianças e adolescentes com necessidades especiais uma vez que a grande maioria dessa população havia sido historicamente excluída do sistema educacional público brasileiro” (Mendes; Almeida; Toyoda, 2011, p. 81). Nessa perspectiva: O Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos. (Brasil, 2008, p. 5) Com a Declaração de Salamanca, de 1994, foi possível estabelecer como princípio que todas as escolas do ensino regular devem educar todos os alunos 5 que estejam enfrentando situações de exclusão escolar como os deficientes, superdotados e as que apresentam diferenças culturais. Com isso, o conceito de necessidades educativas especiais, com base nessa declaração, é definido como a “interação das características individuais dos alunos com o ambiente educacional e social, chamando a atenção do ensino regular para o desafio de atender as diferenças”. (Brasil, 2008, p.14). A educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, passa a constituir a proposta pedagógica da escola e defini como público alvo alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e também altas habilidades/superdotação. O documento elaborado em 2008 que trata da política nacional de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, considera alunos com deficiência: Aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. Dentre os transtornos funcionais específicos estão: dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de atenção e hiperatividade, entre outros. (Brasil, 2008, p. 14) É importante pensar nas definições do público alvo de forma contextualizada, não se esgotando com a mera categorização atribuída a um determinado quadro de deficiência, distúrbios e aptidões, pois é considerável a questão de que as pessoas se modificam de forma contínua, transformando o contexto na qual está inserida. Toda essa questão passa a exigir um certo dinamismo na atuação pedagógica que deve enfatizar a importância de ambientes heterogêneos, que promova a aprendizagem para todos os alunos. TEMA 3 – POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA – DIRETRIZES A educação especial realiza o Atendimento Educacional Especializado (AEE), disponibilizando os serviços, bem como os recursos próprios para esse 6 atendimento, com o intuito de orientar alunos e professores quanto à sua utilização, em turmas de ensino regular. A educação especial perpassa todos os níveis, modalidades e etapas do processo de ensino aprendizagem. Assim, o Atendimento Educacional Especializado: Identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. (Brasil, 2008, p. 16) Nessa perspectiva, é necessário pensar em uma articulação entre o atendimento especializado e a proposta pedagógica que passa a oferecer ajudas técnicas e tecnologia assistiva, programas de enriquecimento curricular, preocupação com a comunicação, inserindo o ensino de linguagens e códigos específicos, dentre outros recursos que visam proporcionar esse atendimento educacional especializado. Com início no nascimento da criança até os três anos de idade, o AEE é organizado com o objetivo de apoiar o desenvolvimento do aluno, em oferta obrigatória a ser realizado no contra turno da classe comum, na própria escola, ou fora dela, em centros especializados que realize esse tipo de serviço educacional. Este se expressa por meio dos serviços de interação com o objetivo de melhorar todo o processo de desenvolvimento da criança e da sua aprendizagem em interface com os serviços de assistência social e saúde. Neste contexto, a inclusão escolar começa na educação infantil, com o uso do lúdico, formas diferentes de comunicação, preocupação com os estímulos e físicos, cognitivos, emocionais, psicomotores e sociais bem como a convivência com as diferenças, pois favorecem as relações interpessoais. No caso da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da educação profissional, as ações da educação especial tem como objetivo possibilitar a ampliação das oportunidades de escolarização, a efetiva participação social e formação para inserção no mercado de trabalho. Já na educação indígena, do campo e quilombola a educação especial tem como objetivo assegurar “que os recursos, serviços e atendimento educacional 7 especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos” (Brasil, 2008, p. 17) Com relação a educação superior, a educação especial se dá por meio de ações que ofereçam e promovam o acesso, bem como a permanência e a participação de todos os alunos envolvendo a promoção de acessibilidade nos âmbitos arquitetônicos, nos serviços de comunicações e informações, nos serviços pedagógicos e na elaboração dos materiais didáticos, que devem ser disponibilizados desde o processo seletivo até o desenvolvimento integral de todas as atividades que envolvem ensino, pesquisa e extensão. A educação bilíngue (Língua Portuguesa/ Libras) é necessária para inclusão dos alunos surdos, pois desenvolve o ensino escolar tanto na língua Portuguesa quanto na língua de Sinais. Esse atendimento é necessário tanto na modalidade oral e escrita bem como na língua de sinais. É importante lembrar que o atendimento educacional especializado deve ser realizado com a atuação de profissionais com conhecimentos específicos: No ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação eprodução de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. (Brasil, 2008, p. 17) Neste contexto, é de responsabilidade do sistema de ensino, disponibilizar as seguintes funções: tradutor/ intérprete, instrutor, tutor para auxiliar os alunos com necessidades de apoio nas atividades de higiene, locomoção, nas refeições, e todas as que exigem auxílio no cotidiano escolar. TEMA 4 – INCLUSÃO ESCOLAR E A RELAÇÃO COM A IGUALDADE E DIVERSIDADE Como já mencionado no material dessa disciplina, a Declaração de Salamanca foi um grande marco mundial na difusão da filosofia da educação inclusiva, ganhando espaço e teorias práticas, no Brasil e no mundo. Após esta declaração o conceito de necessidades especiais foi disseminado de forma muito ampla. Segundo Karagiannis, Stainback e Stainback (1999, p. 21) a inclusão escolar foi definida como “a prática da inclusão de todos – independentemente de 8 seu talento, deficiência, origem socioeconômicas ou origem cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas” Nessa perspectiva, a inclusão escolar proporciona ao aluno a oportunidade de ter experiências em contextos reais, preparando-o melhor para a vida na comunidade. A sociedade passa a desenvolver seus valores sociais, respeitando a igualdade bem como a diversidade dos direitos. Nota-se que houve mudanças no que diz respeito aos movimentos de integração e inclusão escolar, conforme apresentado do quadro a seguir: Quadro 2 – Comparação entre os movimentos de integração e inclusão escolar Integração escolar Inclusão escolar “Problema” centrado no aluno. Prevê a reestruturação do sistema educacional Não há pressuposição de mudança do ensino e da escola Reformulação dos currículos, das formas de avaliação, da formação dos professores e da política educacional. Serviços organizados em níveis, sendo que muitas vezes os alunos retornavam para serviços mais segregados Intensificação na prestação atendimento na classe comum da escola regular. Fonte: Silva, 2010, p. 98. Com todas as mudanças apresentadas, a inclusão escolar, diferente da integração escolar, acredita que o sistema educacional necessita de reestruturação para que seja possível atender as novas propostas que tem como objetivo proporcionar meios para que todos os alunos alcancem sucesso acadêmico. Com isso, “o problema deixa de estar centrado no aluno e se desloca para o sistema educacional como um todo” (Silva, 2010, p. 98). Porém, é necessário pensar em toda a reformulação no currículo, formas de avaliar, na formação de professores e todo o processo que envolve essa luta educacional para diversidade. Nessa direção: “A equiparação de condições não garante a equiparação de oportunidades, e a educação inclusiva bem-sucedida implicará a reestruturação do sistema educacional em todos os níveis: político-administrativo, escolar e na própria sala de aula” (Mendes, 2002, p. 65) Frente a essa questão, percebe-se que a inclusão escolar vai além da questão de inserção do aluno com necessidades especiais no sistema regular de 9 ensino, pois é um processo que exige atenção e revisão das práticas, bem como posturas dos profissionais envolvidos e da sociedade. TEMA 5 – PRINCÍPIOS PARA ALCANÇAR A INCLUSÃO ESCOLAR E CONTEMPLAR A DIVERSIDADE A concepção da escola inclusiva vai além da reformulação do currículo escolar, das alterações estruturais da escola e da reestruturação de todo o sistema educacional. Essa questão está diretamente ligada a um fator muito importante, muitas vezes não lembrada pelos envolvidos nessa intenção de transformar uma escola em um local de fato inclusivo. Igualdade versus equidade. Você já parou para pensar na diferença dos conceitos dessas palavras? Mesmo que em muitas situações sejam tratados como sinônimos, é necessário, nesse momento, diferenciarmos estes conceitos para que seja possível a interpretação e entendimento do ato inclusivo, tanto na escola como fora dela. Com base no Dicionário Michaelis (2019), vejamos as características dos dois termos: Igualdade: Qualidade daquilo que é igual ou que não apresenta diferenças; identidade; Conformidade de uma coisa com outra em natureza, forma, proporção, valor, qualidade ou quantidade; Nivelamento ou uniformidade de uma superfície; Expressão da relação entre duas quantidades iguais; equação; Identidade de condições entre os membros da mesma sociedade; Qualidade que consiste em estar em conformidade com o que é justo e correto; equidade, justiça. Equidade: Consideração em relação ao direito de cada um independentemente da lei positiva, levando em conta o que se considera justo; Integridade quanto ao proceder, opinar, julgar; equanimidade, igualdade, imparcialidade, justiça, retidão; Disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um. 10 Ambos conceitos estão diretamente ligados ao princípio de justiça, constituindo os alicerces de uma sociedade que pratica a justiça e democracia. Para que haja equidade é necessário pensar e considerar as diferenças como elemento essencial para uma igualdade eficaz. A equidade passa então a ser considerada a justiça aplicada, de forma particular e individualizada. Pensar em equidade vai além de influências no âmbito e reflexões jurídicas, pois tornou-se um dos pontos principais que fundamentam a justiça social e a luta para uma vida melhor. O princípio de equidade, que vai além do princípio de igualdade, é um ato que tem como consequência o respeito ao cidadão, suas diferenças e o contexto que ele está inserido, pois não basta existir justiça social sem equidade de oportunidades. Esse respeito deve ser pensado em todos os âmbitos, independente de classe social e econômica, gênero, cor, religião, condição física e de qualquer julgamento preconceituoso. A Figura 1 retrata a diferença entre igualdade e equidade: Figura 1 – Igualdade e equidade Créditos: Thyago Macson É necessário que a equidade caminhe junto com a igualdade para que possamos pensar em estratégias que visam minimizar, ao máximo, qualquer obstáculo, sejam de natureza social ou individual, para termos como resultado a justiça social, de fato, conforme já prevista em nossa Constituição Cidadã de 1988 que: Pôs fim aos governos militares num momento em que o povo ansiava pela democracia, pelo direito de eleger seu presidente e pela busca de 11 direitos individuais e coletivos. Promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte, estabeleceu leis avançadas para a época, em um texto moderno, com inovações relevantes para a democratização do Brasil. (Supremo Tribunal Federal, 2008) Nessa perspectiva, pensando no contexto da escola inclusiva, pensar em equidade seria então superar a intenção de igualdade e ansiar a equidade. Para Horner “é urgente que compreendamos a inclusão em um sentido amplo [...]. Este processo pede, obrigatoriamente, que olhemos para a escola pelo prisma da luta por equidade, do reconhecimento de cada aluno em sua singularidade” (Horner, 2017). Para tanto é de extrema importância praticar a equidade, reconhecendo as diferenças e singularidades de cada aluno para que seja possível elaborar políticas públicas educativas, adotar ações em sala de aula, realizar uma gestão escolar adequada, tudo isso voltado para o melhor recebimento do aluno com deficiência. Dessa forma, as barreiras que esse aluno encontra para de fato incluir- se será minimizado, ao máximo, sendo possível aproximar-se ou até alcançar o êxito na educação inclusiva. 12 REFERÊNCIAS BLANCO, R. Aprendendo na diversidade: implicações educativas. In: CONGRESSO IBERO AMERICANO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., Anais..., Foz do Iguaçu, 1998. Disponível em: <http://entreamigos.org.br/sites/default/files/textos/Aprendendo%20na%20Diversidade%20- %20Implica%C3%A7%C3%B5es%20Educativas.pdf>. Acesso em: 9 set. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 9 set. 2019. FERNANDES, S. Fundamentos para educação especial. Curitiba: IBPEX, 2007. GUGEL, M. A. Pessoas com deficiência e o direito ao trabalho. Florianópolis: Obra Jurídica, 2007. INCLUSÃO, igualdade e equidade. Estadão, 19 abr. 2017. Disponível em: <https://educacao.estadao.com.br/blogs/blog-dos-colegios-humboldt/inclusao- igualdade-e-equidade/>. Acesso em: 9 set. de 2019. KARAGIANNIS, A.; STAINBACK, W.; STAINBACK, S. Fundamentos do ensino inclusivo. In: STAINBACK, W.; STAINBACK, S. (Org.). Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999. MENDES, E. G. 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