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bilidades, para atender às de- mandas da empresa frente às exigências do mercado. Muitas dessas instituições têm esten- dido os seus programas de edu- cação e treinamento a fornece- dores, clientes, franqueados e a outras empresas, ao mesmo tempo em que transformam suas universidades corporati- vas em uma fonte expressiva de receitas. Atualmente, novas formas de uso da força de tra- balho estão sendo delineadas, assim como novas exigências em termos de qualificação pa- ra o trabalho decorrentes dos 21 Retirado do site http://www.mcdonalds.com.br (Acesso em 06 de abril de 2005). INES ESPAÇO JAN-DEZ/06 �� Informativo Técnico-Científico Espaço, INES - Rio de Janeiro, n. 25/26, p.�6, janeiro - dezembro/2006 ATUALIDADES EM EDUCAÇÃO impactos da revolução tecno- lógica. O discurso que busca associar o alto índice de de- semprego à baixa qualifica- ção profissional provoca uma busca desenfreada pela quali- ficação, ocultando a verdadei- ra causa do desemprego como um problema político estrutu- ral. Retomando a metáfora construída por Deleuze, os tú- neis estruturais da toupeira que forjavam moldagens fixas, distintas, estão sendo substitu- ídos pelas ondulações infinitas da serpente, que funciona por redes flexíveis moduláveis, “como uma moldagem auto- deformante que mudasse con- tinuamente, a cada instante, ou como uma peneira cujas ma- lhas mudassem de um ponto a outro”22. Não mais se faz ne- cessário confinar, submeter ou moldar, sendo apenas necessá- rio “modular” o indivíduo, por meio da informação contínua veiculada pelos meios. O con- trole é de curto prazo e de rota- ção dinâmica, mas ao mesmo tempo contínuo e ilimitado. Desse modo, o controle não se dá mais pela contenção e sim pela pasteurização do pensa- mento e da capacidade de re- ação das pessoas, que passam a viver segundo as “normas” veiculadas pelos meios de co- municação de massa e pela propaganda. Nesse contexto, o projeto do pensamento cal- cado no futuro coletivo é de- posto, para, em seu lugar, rei- nar o individualismo, ou seja, o centramento narcísico do in- divíduo em si mesmo e a ênfa- se no aqui e agora, no consumo sem fim. Se antes a família, a escola e o trabalho constituí- am o mundo e vigorava a cren- ça de que este mundo podia ser melhorado por meio da ideolo- gia, da luta política ou da prá- tica religiosa, hoje os meios de comunicação propagam a ne- cessidade e o desejo, ao mes- mo tempo em que fortalecem a ilusão da ascensão infini- ta. A compreensão do mundo, seus problemas e soluções são condicionados a uma concep- ção utópica de que podemos atingir nossas metas se consu- mirmos determinadas identi- dades associadas a determina- das marcas. “O homem não é mais o homem confinado, mas o homem endividado”, escreve Deleuze (1992: 224). 22 Cf. Deleuze, Gilles, Post-Scriptum sobre as sociedades de controle, Conversações, Rio de Janeiro: Editora 34, 1992: 221. �� Informativo Técnico-Científico Espaço, INES - Rio de Janeiro, n. 25/26, p.��, janeiro - dezembro/2006 ATUALIDADES EM EDUCAÇÃO INES ESPAÇO JAN-DEZ/06 Referências Bibliográficas DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix, (1995). Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia,vol.1, Rio de Janeiro: Ed. 34. DELEUZE, Gilles, (1992). Conversações, Rio de Janeiro: Ed. 34 Literatura. FOUCAULT, Michel,(2002). Vigiar e punir, 25ª Edição, Petrópolis, RJ: Vozes. HARDT, Michael, (2000). A sociedade mundial do controle; in ALLIEZ, Eric (org) Gilles Deleuze: uma vida filosófica, Rio de Janeiro: Editora 34. KENSKI, Vani Moreira, (1997). Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente, apresentado na XX Reunião anual da ANPEd, Caxambu. REVISTA NOVA ESCOLA: http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/160_mar03/html/com_ palavra INES ESPAÇO JAN-DEZ/06 �� Informativo Técnico-Científico Espaço, INES - Rio de Janeiro, n. 25/26, p.��, janeiro - dezembro/2006 ATUALIDADES EM EDUCAÇÃO Disciplina e castigos corporais nas escolas do Rio de Janeiro – século XIX Luiz Fernando Conde Sangenis* * Doutor em Educação pela UFF, Professor Adjunto da Faculdade de Formação de Professores da UERJ e Coordenador Geral do Curso de Pedagogia da Universidade Estácio de Sá. Resumo Os castigos físicos e morais tornaram-se práticas discipli- nadoras amplamente empre- gadas pelos pedagogos, des- de os primórdios da escola. Da Grécia Clássica, atravessando toda a Idade Média, aos tem- pos modernos, não se compre- endia a escola sem o castigo corporal. A convicção de que não é possível educar sem ba- ter na criança consagrou o chi- cote como a insígnia do profes- sor. Além das agressões físicas, o aluno era também agredi- do moralmente com palavras e castigos aviltantes. À medida que se avançou no tempo, os castigos escolares foram per- dendo o seu caráter de agres- são física, tornando-se mais sutis, mas não desprovidos de violência. O objetivo deste ar- tigo é relatar resultados da in- vestigação empreendida sobre as práticas dos castigos físicos e morais, nas escolas do Rio de Janeiro, do final do século XIX aos dias atuais. A pesqui- sa analisou documentos esco- lares, regimentos, leis, papéis da instrução pública que regu- lavam as práticas disciplina- res. Coube, finalmente, propor à formação de professores uma reflexão crítica acerca das atu- ais práticas disciplinares na es- cola. Palavras-chave: escola, disciplina, castigos corporais Abstract The physical and moral punishments became discipli- narian practices thoroughly used by educators, from the beginning of the history of the school. Since Classical Greece, crossing all the Medium Age, at the modern times, people did not understand the school without corporal punishment. The conviction that is not pos- sible to educate without beating the child consecrated the whip as the emblem of the teacher. Besides physical aggressions, �� Informativo Técnico-Científico Espaço, INES - Rio de Janeiro, n. 25/26, p.��, janeiro - dezembro/2006 ATUALIDADES EM EDUCAÇÃO INES ESPAÇO JAN-DEZ/06 the student was also attacked morally with words and degra- ding punishments. As time went by, school punishments went losing its physical aggres- sion character, becoming more subtle, but not lacking violence. The objective of this article is to tell results of the investigation undertaken on the practices of the physical and moral punish- ments, in the schools of Rio de Janeiro, of the final of the cen- tury XIX to the current days. The research analyzed school documents, regiments, laws, papers of the public instruction that regulated the disciplinary practices. It fit, finally, to pro- pose to the teachers’ formation a critical reflection concerning the current disciplinary practi- ces in the school. Key words: school, disci- plines, corporal punishments 2 Conto de Escola. Obras Completas, de Machado de Assis, vol. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. -Oh! Seu Pilar! Bradou o mestre com voz de trovão. Estremeci como que acor- dasse de um sonho, e levantei- me às pressas. (...) Venha cá! Bradou o mestre. Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciên- cia dentro de um par de olhos pontudos. Depois chamou o fi- lho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fa- zia um só movimento. Eu, con- quanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosida- de e o pavor de todos. (...) Aqui pegou a palmatória. - Perdão, seu mestre... solu- cei eu. - Não há perdão! Dê cá a mão! De cá! Vamos! Sem ver- gonha! Dê cá a mão! - Mas, seu mestre... - Olhe que é pior! Estendi a mão direita, de- pois a esquerda, e fui receben- do os bolos uns por cima