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Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA: 1. Síndrome retroviral aguda: quando, agudamente, o vírus causa sintomas semelhantes à dengue misturado com a toxoplasmose (rash cutâneo, febre alta, mal- estar, mialgia, cefaleia, etc.). Essa síndrome é a multiplicação aguda do vírus da aids quando ele entra no corpo. Relembrando a aula anterior: o indivíduo entra em contato com o vírus, o qual demora cerca de 3 a 4 dias para começar a se incorporar ao genoma da célula e se multiplicar. Quando ele começa a fazer isso de forma mais eficiente, lá para o 7º/8º dia, a pessoa contaminada pode ou não apresentar essa síndrome retroviral aguda. A grande parte das infecções agudas acontece pela via sexual (80% por exposição de mucosas). o O coito anal receptivo é a forma com maior probabilidade de adquirir infecção, pois no canal anal há grande quantidade de células dendríticas e linfócitos; o A via receptiva vaginal é a segunda forma mais frequente de transmissão; o A transmissão para o parceiro ativo também é possível, porém vai depender de vários fatores, como intensidade do ato sexual, microlesões penianas, etc.; o Outras formas de transmissão, como sexo oral, aleitamento materno, uso de drogas injetáveis e hemoderivados contaminados, figuram como formas menos frequentes de transmissão, porém não menos importantes. A fase aguda geralmente se resolve espontaneamente em 14 a 21 dias. 2. Uma fase crônica intermediária: o indivíduo não apresenta nenhum sintoma. Apesar de assintomático, a progressão imunológica e viral, durante esse tempo, resultará em doença sintomática. Esse período dura cerca de 3 a 7 anos em pacientes não tratados; 3. AIDS franca: indivíduo com as manifestações da doença. Explicando o gráfico acima: Curva em azul: na fase aguda, nas primeiras 3 a 6 semanas, observa-se uma queda acentuada das taxas de CD4 (células que o vírus infecta – a infecção pelo HIV de linfócitos T CD4+ leva à destruição dessas células, pela falta de auxílio para manutenção da resposta imune e por um mecanismo ativo via indução da apoptose) por conta da multiplicação do HIV nessas células. Depois há um controle da multiplicação viral, seja por células CD8, por mecanismos de anticorpos ou pela mistura de ambos, diminuindo essa multiplicação viral. Resumindo: primeiro cai o CD4 (que de 1200 vai ficar em torno de 400/500), depois há uma tendência do CD4 se recuperar, mas, ao longo de anos, ele vai caindo lentamente (fase de latência clínica). Quando o paciente tem o CD4 em torno de 200, começa a ter sintomas de aids (infecções oportunistas e neoplasias associadas à aids). Já a curva em vermelho demonstra a replicação viral: logo nas primeiras semanas não há nenhuma replicação viral, mas em torno do 10º dia já começa a ter. Essa replicação atinge o máximo em torno de 6 semanas, e depois ela vai caindo porque vai haver um controle pelo sistema imune e ela vai entrar no set point viral (diferente para cada indivíduo. Estabilização da multiplicação viral, a qual é medida através da carga viral). Então a tendência da carga viral é a seguinte: ela sobe, logo depois ela desce por conta do controle imunitário e depois atinge o set point Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre (multiplicação estabilizada). Obs.: chegando próximo da aids, o indivíduo não consegue controlar essa replicação viral e então ela sobe desenfreadamente. SÍNDROME RETROVIRAL AGUDA: Resposta inicial ou primária de um adulto imunocompetente contra o HIV; Alto nível de produção viral, viremia e proliferação nos tecidos linfoides; 40 a 90% dos indivíduos adquirem uma infecção primária - desenvolvem uma síndrome viral 3 a 6 semanas após a infecção; Termina espontaneamente em torno de 2 a 4 semanas; Sintomas não específicos: dor de garganta, mialgia, febre, exantema, perda de peso e fadiga -> semelhantes à gripe. FASE CRÔNICA INTERMEDIÁRIA: Vírus relativamente contido pelo sistema imune (principalmente pelas células TCD8 – a função das células CD8+ com atividade citotóxica e especificidade para o HIV é cada vez mais exaltada como fundamental para o retardo na progressão para aids e como um marcador positivo de resposta aos antirretrovirais); Período de latência clínica; Sistema imune relativamente intacto, mas há replicação contida do vírus - predominantemente nos tecidos linfoides; Pode durar vários anos; Assintomática ou linfadenopatia generalizada persistente; Muitos pacientes têm infecções oportunistas - candidíase oral ou herpes-zóster. Ps.: Herpes-zóster pode ser uma manifestação inicial de aids (por isso a importância de solicitar o exame de HIV caso o indivíduo apresente essa manifestação). AIDS FRANCA: A maioria dos pacientes com infecção pelo HIV, progride para a AIDS após uma fase crônica de 7 a 10 anos; A taxa de replicação é superior à capacidade da resposta imune celular: Aids; Síndrome definida por: desenvolvimento de infecções oportunistas e neoplasias resultantes de progressiva imunodeficiência induzida pelo HIV. MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS: MANIFESTAÇÕES PULMONARES: Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre Aumento da pneumonia bacteriana de repetição em pacientes com CD4+ maior do que 200/mm3; Aumento da pneumonia por pneumocytis jiroveci em pacientes com CD4+ menor do que 200mm3; Tuberculose pulmonar em ambos os espectros de CD4+ -> se maior do que 200mm3 apresentam tuberculose mais próxima do paciente imunocompetente, com apresentação em 1/3 superior, cavitária; Se menor do que 200mm3 apresentam tuberculose sem cavitação, em bases pulmonares, como infiltrados inespecíficos multisegmentares e frequentemente bilaterais. MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS: Principais motivos: 1. Odinofagia; 2. Disfagia; 3. Diarreia; 4. Dor abdominal; 5. Sangramento intestinal. Esôfago: 1/3. Candidíase esofágica é a principal causa de disfagia, também ocorre odinofagia; Esofagite pelo vírus herpes simples: suspeita sem melhora dos sintomas. Diagnóstico: EDA mostra úlceras erosivas superficiais pequenas e coalescentes. Ocorre em doença avançada; Diarreia: > 5 dias solicitar parasitológico de fezes, coproculturas e hemocultura. Resultados negativos pede-se endoscopia com aspirado duodenal e retossigmoidoscopia (na presença de sangue nas fezes). Diarreia crônica pensar em Isospora e Criptosporidiose. MANIFESTAÇÕES PANCREÁTICAS: Medicamentos lesivos ao pâncreas; Causas: infecções oportunistas, abuso de álcool, toxicidade direta às células acinares pelo vírus; Outras causas: cálculos biliares, hipertrigliceridemia, hipercalcemia, trauma e pós-operatório; Quadro clínico: dor abdominal, náusea, vômito, febre, diarreia, anemia, leucopenia e hipoalbubinemia. MANIFESTAÇÕES HEPÁTICAS E BILIARES: HIV + Insuficiência hepática + Hepatite ou Hepatopatias crônicas = Possibilidade de coinfecção com hepatites B e C. HCV + HIV = progressão rápida da doença hepática e evolução para cirrose -> indivíduo tem piora grande para o vírus da hepatite c e também acelera a progressão para a aids; HVB + HIV = 23% da HVB torna-se crônica. MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: Anemia: o Da doença crônica; o Ferropriva; o Por infiltração da medula óssea; o Medicamentosa; o Por deficiência de vit B12 ou ácido fólico; o Aplasia pura de células vermelhas; o Por hemólise mediada por anticorpos; Trombocitopenias: o Ocorrem em cerca de 10% dos pacientes infectados. MANIFESTAÇÕES RENAIS E ELETROLÍTICAS: IRA; Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre Infecções oportunistas do parênquima renal; Glomerulonefrite; Nefropatia associada ao HIV. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E REUMATOLÓGICAS: Cutâneas: Herpes Zoster; Escabiose; Angiomatose bacilar; Sarcoma de kaposi; Foliculite eosinofílica. Reumatológicas (menos frequentes): Artralgias; Miopatias; Síndrome de Reiter; Síndrome de Sjogren; Artropatia associada ao HIV. A figura mostra que, a partir do momento em que houve a introdução da terapia antirretroviral (com 3 drogas potentes), ouve uma queda substancial na mortalidade dos pacientes. Começa a ter muito menos doenças oportunistas. POR QUE AS PESSOAS APRESENTAM UMA EVOLUÇÃO DIFERENTA DA DOENÇA? 1996 foi descoberta uma mutação no co- receptor CCR5 – variante delta-32 – produção de moléculas não-funcionais de co-receptores CCR5; O receptor do HIV é o CD4, mas ele precisa do CCR5 como co-receptor para entrar na célula. Então, as pessoas que possuem essa variante delta têm o CCR5 não funcional. Pessoas homozigóticas para essa mutação não se contaminam pelo HIV, já as heterozigóticas (minoria) acabam se comportando de maneira diferente das homozigóticas e não progridem; Pessoas com cópias normais de CCR5 predominam na população e são susceptíveis à infecção pelo HIV; Homozigotas para o Delta-32 não têm co- receptores funcionais de CCR5 e são resistentes para a infecção do HIV; Heterozigotos para o Delta-32 podem ser infectados, porém apresentam uma evolução significativamente retardada da doença ao HIV. Essas pessoas muitas vezes até controlam a infecção sem precisar de antirretrovirais. TRATAMENTO DO HIV: Tratamento atual: O tratamento do HIV e da AIDS pode ser organizado em três áreas principais: 1. Terapia antirretroviral (3 drogas) – Fundamental pois reduziu a mortalidade, morbidade, internações e os pacientes tiveram uma melhora da qualidade de vida; 2. Profilaxia para doenças oportunistas; 3. Tratamento das complicações relacionadas ao HIV. TARV (Terapia antirretroviral): A terapia antirretroviral (TARV) é um regime de tratamento normalmente composto por uma combinação de três ou mais medicamentos antirretrovirais; Uma pedra angular da TARV é a coadministração de diferentes drogas que inibem a replicação viral por vários mecanismos, de modo que a propagação de um vírus com resistência a um único agente seja inibida pela ação dos outros dois agentes; Estudos demonstraram que a experiência do profissional médico no tratamento antirretroviral se correlaciona positivamente com a melhora dos resultados clínicos do paciente; Para o tratamento do HIV, existem mais de 25 medicamentos diferentes em seis classes diferentes; Fernanda Carvalho - Medicina UNIFTC - 5º semestre O padrão de tratamento para a maioria dos pacientes sem tratamento prévio é uma combinação de dois inibidores da transcriptase reversa de nucleosídeos/nucleotídeos (normalmente tenofovir-lamivudina) mais um inibidor da integrase. Classes alternativas ou medicamentos diferentes dentro de cada classe podem ser recomendados quando os pacientes têm intolerâncias, alergias ou resistência. TARV: Objetivos: Reduzir a morbidade e mortalidade (AIDS e causas não associadas à AIDS); Melhorar a qualidade de vida; Reduzir a carga de RNA viral plasmático; Prevenir a transmissão a outras pessoas (parceiros sexuais, parceiros que compartilham agulhas, mão para filho); Prevenir a resistência aos medicamentos; Melhorar a função imunológica. PREVENÇÃO: Abstinência; Relação monogâmica com triagem sorológica a intervalos regulares; Relação com preservativo de látex (vaginal, oral e anal); Evitar uso de drogas injetáveis; Não compartilhar seringas e agulhas. PREVENÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE: Todos os líquidos devem ser considerados perigosos e infectados; Devem-se usar luvas, quando há possibilidade de contato com líquidos corporais; Os instrumentos afiados devem ser manipulados com muito cuidado; Agulhas nunca devem ser manipuladas; Os profissionais de saúde com lesões abertas devem evitar contato direto com paciente. GRÁFICOS DO TRATADO DE INFECTOLOGIA:
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