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e pessoas, mas que o cérebro conserve uma "impressão" da atividade neuronal que se exerce no córtex sensorial e motor durante sua interação com um objeto. Esta impressão corresponde a um circuito de neurônios e sinapses cuja atividade recria aquela que caracterizou cada objeto ou evento memorizado. Ativada, uma impressão pode suscitar outras associadas (ver pág 48). O cérebro registra não só os diversos aspectos da realidade exterior, mas também o modo pelo qual o corpo explora o meio e reage a ele. Os sistemas neuronais que descrevem as interações entre uma pessoa e um objeto registram um encadeamento rápido de micropercepções e de microações quase simultâneas. Modificações ocorrem em várias regiões especializadas, cada uma subdividida em vários centros,- a área visual, por exemplo, é composta de centro menores, especializados no processamento de cor, forma e movimento. Mas onde são conservadas as impressões que ligam estas atividades fragmentadas? Acreditamos que seja em grupos de neurônios para os quais convergem axônios provenientes de regiões mais externas, de onde partem axônios que enviam retroativamente os sinais para áreas mais internas. Uma reativação destas zonas de convergência excita simultaneamente vários grupos de neurônios anatomicamente separados e dispersos, que reconstroem a atividade mental previamente registrada. Se o cérebro armazena as informações relativas aos objetos e seus usos, também ordena estas informações, de forma que eventos e conceitos associados (formas, cores, trajetórias no espaço e no tempo, movimentos e reações corporais) possam ser reativados simultaneamente. Estas informações são classificadas com a ajuda de outra impressão, situada numa zona de convergência diferente. As representações das principais propriedades dos objetos e dos eventos estão assim imbricadas: em relação à xícara, por exemplo, o cérebro registra dimensões, forma, matéria, estado sólido, deslocamento ao longo de uma trajetória precisa e a sensação que provoca nos lábios. A atividade dessas redes neuronais convergentes assegura a compreensão e a expressão da linguagem. Ativadas, estas redes reconstituem os conhecimentos para remetê-los à consciência, onde estimulam os centros de mediação entre conceitos e linguagem e onde permitem a formulação correta de palavras e estruturas sintáticas associadas aos conceitos. Como o cérebro registra simultaneamente aspectos variados das percepções e das ações, estas redes produzem também representações simbólicas como as metáforas. As lesões nas regiões do cérebro correspondentes a estas redes provocam deficiências cognitivas associadas às diversas classes de conceitos processados pelo cérebro; a acromatopsia é um exemplo. Elisabeth Warrington, do Hospital das Doenças Nervosas, de Londres, descobriu que certos pacientes são incapazes de reconhecer objetos de um determinado tipo. Junto com Daniel Tranel, mostramos que sistemas neuronais específicos processam conceitos de certos tipos. Um de nossos pacientes, por exemplo, não consegue manipular os conceitos ligados a entidades isoladas, como uma pessoa, um lugar ou um evento particular, embora tenha conhecido estas entidades antes de sua lesão cerebral. Ele perdeu ainda os conceitos ligados aos membros de categorias particulares: assim, vários animais se tornaram para ele completamente desconhecidos, embora saiba tratar-se de seres vivos. Diante da imagem de um rato, ele disse tratar-se de um animal, mas não tinha idéia do seu tamanho, hábitat ou comportamento. Curiosamente, as capacidades cognitivas desse paciente ainda permitiam que ele manipulasse conceitos ligados a outra categorias contendo vários elementos. Ele reconhecia e sabia nomear ferramentas. Dispunha também de conceitos de atributos de objetos: sabia, por exemplo, o que era uma coisa bela ou feia; reconhecia ainda o sentido de idéias que exprimem um estado ou uma atividade, como estar apaixonado, saltar ou nadar, e compreendia relações abstratas entre entidades ou eventos. Em suma, se não podia mais manipular os conceitos relativos a entidades designadas por nomes comuns ou próprios, ele processava normalmente os conceitos referentes a atributos, estados, atividades e relações, definidos na linguagem por adjetivos, verbos, preposições ou conjunções; as estruturas gramaticais não lhe apresentavam qualquer problema, e a sintaxe de suas frases era impecável. DOMINÂNCIA CEREBRAL Lesões semelhantes às deste paciente nas regiões anteriores e médias dos dois lóbulos temporais deterioram o sistema conceituai do cérebro. As lesões do hemisfério esquerdo, próximo à cissura de Sylvius, perturbam mais a formação de palavras e frases. Essa área é a mais estudada pelos especialistas em linguagem, desde que Paul Broca e Carl Wernicke descobriram, há mais de 150 anos, que as estruturas da linguagem aí se localizam. Broca e Wernicke comprovaram também o fenômeno da dominância cerebral: na maioria dos seres humanos - 99% dos destros e 30% dos canhotos - os centros da linguagem estão no hemisfério esquerdo. O estudo de pacientes afásicos (que perderam parcial ou totalmente o uso da palavra) confirma a importância de estruturas do hemisfério esquerdo na linguagem. Edward Klima, da Universidade de San Diego, e Ursula Bellugi, do Instituto de Estudos Biológicos, em San Diego, mostraram que lesões nas estruturas cerebrais de formação das palavras são acompanhadas por afasias da linguagem gestual. Assim, alguns surdos que apresentam uma lesão cerebral do hemisfério esquerdo perdem a faculdade de compreender ou de produzir os signos da linguagem gestual. Como o córtex visual deles está intacto, a deficiência não provém de uma má percepção visual dos signos, mas da incapacidade de interpretá-los. COMPONENTES DE UMA LINGUAGEM ARTICULADA FONEMAS - Elementos sonoros cujo encadeamento em uma ordem determinada forma os morfemas. MORFEMAS - Unidades lingüísticas mínimas que têm um sentido ou cuja combinação forma as palavras (nas linguagens gestuais, os equivalentes dos morfemas são os signos visuais- motores). SINTAXE (OU GRAMÁTICA) - Arranjo de palavras em frases segundo uma ordem que obedece regras precisas. LÉXICO - Conjunto de palavras de uma língua. Cada elemento do léxico indica os morfemas e a sintaxe da palavra correspondente, mas não fornece seu sentido. SEMÂNTICA - Sentido correspondente a cada elemento do léxico e a cada frase possível. PROSÓDIA - Entonação vocal suscetível de modificar o sentido literal das palavras e frases. DISCURSO - Seqüência de frases que forma uma narração. Por outro lado, os surdos que apresentam lesões no hemisfério direito, longe das áreas da linguagem, tornam-se por vezes incapazes de ver os objetos situados na metade esquerda de seu campo visual ou de perceber as relações espaciais entre os objetos, embora conservem a capacidade de compreender e utilizar a linguagem gestual. Portanto, o hemisfério esquerdo contém os centros de processamento da linguagem, quaisquer que sejam as vias de transmissão dos signos lingüísticos. Alguns neurologistas mapearam os sistemas neuronais da linguagem ao localizarem as lesões de pacientes afásicos,-outros analisaram estes sistemas estimulando o córtex cerebral de pacientes epiléticos que passavam por uma cirurgia, registrando depois suas respostas eletrofisiológicas. As lesões da região perisilviana posterior perturbam a composição dos fonemas em palavras e a seleção das palavras. Pacientes com lesões como esta são incapazes de pronunciar corretamente certas palavras (dizem "felefante" em vez de "elefante", por exemplo) e substituem por vezes palavras que lhes faltam por outras de sentido mais geral ("pessoa" em vez de "mulher") ou por uma cujo sentido está ligado ao conceito que querem exprimir ("chefe" em vez de "presidente"). Victoria Fromkin, da Universidade de Los Angeles,