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Desigualdade e Cidadania no Brasil
A cidadania tem funcionado como uma modalidade de pertencimento a ordens políticas nacionais que
provê aos cidadãos uma série de direitos ,de bens e de serviços
principalmente apossibilidade de participar da formação das normas que compõem a referida ordem
política. Ser cidadão ou cidadã de um país implica ser titular de um determinado status jurídico
composto de umasérie de direitos e deveres destinados exclusivamente a essas pessoas.Como nos
ensina Andreas Niederberger (2015), boa parte do debate sobre cidadania tem seconcentrado no
conteúdo desse status jurídico, tendo como finalidade diferenciar as váriasconcepções de democracia;
por exemplo, a visão liberal e a visão republicana, que serão examinadasa seguir. A maior parte das
análises tem deixado de lado a dimensão de pertencimento que caracterizaa cidadania e o conflitos
políticos e sociais relativos a tal status.A compreensão das mútuas relações entre cidadania, Estado
nacional e a eventual possibilidade de criar uma sociedade global é o que nos permitirá compreender
melhor as características e desafios da cidadania no mundo contemporâneo. Afinal, depois de ao menos
trintaanos de estudos sobre o fenômeno da globalização, não é razoável abordar os problemas da
cidadaniano mundo de hoje sem levar em conta a globalização das relações sociais e a financeirização do
capitalismo, fenômenos que, como veremos, parecem estar destruindo os pressupostos
políticoinstitucionais da existência da cidadania como a conhecemos até hoje.capitalismo, fenômenos
que, como veremos, parecem estar destruindo os pressupostos políticoinstitucionais da existência da
cidadania como a conhecemos até hoje.Assim, não se trata de debater apenas qual é ou qual deveria ser
o conteúdo da cidadania: épreciso discutir também o seu lugar privilegiado na gramática da política e do
direito Em outras palavras, trata-se de debater se o conceito de cidadania como o conhecemos é capaz
de abarcar hoje uma série de modalidades de pertencimento que se referem não apenas às
comunidades políticas estatais, mas também a ordens normativas de outra natureza, surgidas ao redor
do globo. Como veremos, tais ordens normativas estão pondo em xeque as fronteiras estatais como
condição e limite para o exercício da cidadania no mundo de hoje. Por um lado, a imigração crescente e a
presença temporária de homens e mulheres no interior Por um lado, a imigração crescente e a presença
temporária de homens e mulheres no interior de diversos Estados, em temporadas de trabalho e estudo,
mostram como a cidadania ainda é monopólio dos nacionais dos Estados, sendo incapaz de dar voz a
todas as pessoas que sofrem os efeitos das normas criadas no âmbito de uma determinada ordem
política. Olhando o problema por essa perpectiva ,deparamos -nos com pessoas que sofrem efeitos das
normas sobre as quais não tem o poder de influência alguma,efeitos os quais podem se protrair no
tempo ,por exemplo no caso de nacionais de um país que trabalham ou estudam em países próximos
por períodos longos .De outro lado ,uma série de problemas sociais estão saindo do controle da vontade
política ,de todos os cidadãos ,como um exemplo com as transações financeiras internacionais as
questões ambientais e a regulação da atividade das empresas transnacionais. Atividades como essas
produzem um conjunto de regras próprias, as quais tendem a escapar do poder de influência dos
cidadãos e cidadãs nacionais, pondo em questão o poder dos Estados e a capacidade do regime
democrático de garantir a participação de todas as pessoas na produção das normas que influenciamas
suas vidas . A cidadania mostra um instrumento de discrimiminação injusta . É em resposta a essas
desigualdades que a cidadania se desenvolve. Nesse sentido, Marshall mostrou como a cidadania evoluiu
na Inglaterra sob três aspectos. Em um primeiro estágio, a cidadania civil foi constituída no século XVIII e
garantiu os direitos necessários para a liberdade individual: direitos de propriedade, liberdade e acesso à
justiça. Em um segundo momento, surgiu a cidadania política no século XIX, que e garantiu os direitos
necessários para a liberdade individual: direitos de propriedade, liberdade e acesso à garantiu o direito
à participação e ao voto.A distinção entre ambos os paradigmas também ocorre em relação aos
remédios que servem para combater a injustiça. Do lado do paradigma redistributivo, o remédio que
servem para combater a injustiça. que servem para combater a injustiça. Do lado do paradigma
redistributivo, o remédio é algum tipo de reestruturação político-econômica. Isso inclui a própria ideia
de redistribuição de renda e, além dela, a reorganização da divisão do trabalho, os controles
democráticos do investimento e a transformação de outras estruturas econômicas. O remédio no
paradigma do reconhecimento significa alguma espécie de mudança cultural ou simbólica. É claro que
esses remédios podem ser mais ou menos radicais. Formas paliativas, que Fraser chama de “remédios
afirmativos”, atacam apenas os resultados dessas injustiças. Já os “remédios trans- formativos” buscam
remodelar as estruturas que as produzem. Além disso, Fraser aponta para o caráter bivalente de certas
categorias, notadamente raça e gênero. Tanto um quanto outro sofrem de injustiças socioeconômicas,
como também de falta de reconhecimento. socioeconômicas, como também de falta de
reconhecimento. redistribuição e do reconhecimento. Percebendo que muitos movimentos sociais,
como os movimentos feministas, por exemplo, não se limitam mais a reivindicações no contexto
territorial do Estado, Fraser propõe o que ela chama de “reenquadramento”: "O mau enquadramento
[misframing] surge quando o quadro do Estado territorial é imposto a fontes transnacionais de injustiça.
Como resultado, temos divisão desigual de áreas de poder às expensas dos pobres e desprezados, a
quem é negada a chance de colocar demandas transnacionais” Marshall mostrou que as diversas
concepções de cidadania são objeto de disputas ao longo do tempo, especialmente em sociedades
marcadas por desigualdades de classe. Como mostra o autor, a cidadania é um status de igualdade
concedido a todas as pessoas, membros de uma comunidade política, para a sua participação integral
nessa comunidade. De outro lado, a classe é uma marca de desigualdades econômicas (MARSHALL,
1977,São os conflitos entre as classes, pela participação na comunidade política, que vão formatando as
diversas configurações históricas da cidadania, marcadas pela aquisição paulatina de direitos civis,
políticos e sociais. Os direitos civis, na formulação clássica de Marshall, são aqueles que se referem à
liberdade individual, ao direito de ir e vir, à liberdade de imprensa, pensamento e fé, à propriedade e ao
acesso à justiça. Tais direitos formam a base da versão liberal da cidadania. Já os direitos políticos são
aqueles que garantem a participação no exercício do poder político, ou seja, o direito de voto aqueles
que garantem a participação no exercício do poder onstitucional. Finalmente, em 1988, a nova
Constituição foi promulgada. A maioria dos países que passaram pela transição democrática no final dos
anos 1980 e começo dos 1990, não só na América Latina como também no Centro e Leste Europeus,
buscaram garantir liberdades por meio de constituições. Em casos como esses, parte da mudança
depende de acordos entre as principais lideranças políticas e amplos o bastante para permitir a
institucionalização de um novo ordenamento democrático. A fim de garantir sua legitimidade, essas
constituições tiveram de assegurar direitos civis, políticos e sociais, além de mecanismos que
garantissem o caráter público e democrático dos processos políticos [notas 15]. Ao invés de ocorrer um
processo lento de ampliação dos direitos de cidadania, como sugerido por Marshall, nesses países tais
direitos surgiram em bloco. O que não significa, porém, que sua realização,interpretação e ampliação
não se tenham dado - ou se deem até hoje - de forma gradual.pósito, o exemplo de um médico, incapaz
de exercer a sua função e fazer política ao mesmo tempo. Por todas essas razões, surge nos Estados
nacionais uma classe de políticos profissionais que exercem a atividade política em tempo integral e
disputam periodicamente o voto dos cidadãos e cidadãs, com todos os riscos inerentes a essa inovação.
Afinal ao delegar a política para profissionais, a sociedade abre a possibilidade de que seus
representantes ponham a permanência em seus cargos, o acesso a seus empregos, acima da atividade
de representar a sociedade e passem a viver da política e não para a política, A pessoa do representante
pode ser vista como parte em um contrato celebrado com seus eleitores: trata-se do modelo jurídico da
representação. Essa maneira de ver a representação parte do pressuposto de que a sociedade é
composta de indivíduos portadores de determinados interesses conflitantes entre si e o momento da
eleição serve para que eles disputem competitivamente os votos disponíveis. competitivamente os
votos disponíveis. a esperar que eles façam valer esses interesses em seu âmbito de atuação, cumprindo
o contrato celebrado por meio do voto e referendado pelas urnas . O modelo jurídico configura a relação
entre representado e representante conforme as linhas de uma lógica individualista e não política, pois
supõe que os eleitores julguem as qualidades pessoais dos candidatos, em vez de suas ideias políticas e
projetos. Dessa forma, a representação não é e nem pode ser um processo tampouco pode ser uma
matéria política que implique ,por exemplo por uma demanda por representatividade ou por uma
representação justa ,pela simples razão de que a representação é por definição ,qualquer coisa que feita
mediante o tipo correto de autorização e dentro de seus limites .Esse modelo de representação está
fundado em um dualismo bem definido entre Estado e sociedade ,o que faz da representação um
instittuto centrado rigorosamente no Estado ,cuja relação com a sociedade é deixada ao juízo do
representante . Ainda, esse modo de conceber a representação restringe a participação popular a um
mínimo procedimental, qual seja, as eleições compreendidas como meio de escolha e nomeação dos
representantes . Além da representação, a Constituição de 1988 garantiu diversos direitos sociais.
Também incluiu como seus objetivos “construir uma sociedade livre, justa e solidária”,além de “erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3°, I e III). Boa parte dos
direitos sociais está prevista no art. 7° da Constituição, que garante a proteção ao emprego contra
despedida arbitrária, segurodesemprego, salário mínimo, participação dos trabalhadores nos lucros das
empresas, jornada de trabalho de oito horas diárias, férias, licença-maternidade e licença-paternidade .
A Constituição garantiu também a liberdade de organização sindical art. 8 direito de greve (art. 9°). Uma
dimensão da importância disso pode ser entendida à direito de greve (art. 9°). Uma dimensão da
importância disso pode ser entendida à luz do passado . Apenas com o fim do Estado Novo e com a
Constituição de 1946,foi assegurado o direito de greve, depois usurpado pela ditadura graças à Lei
n.4.330/64, conhecida como “Lei Antigreve”[nota 29]. A Constituição garantiu ainda o direito de greve
aos servidores públicos (art. 37), porém essa matéria nunca foi regulamentada. Apenas em 2007, ao
julgar os Mandados de Injunção 670, 708 e 712, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que se
aplicava aos funcionários públicos a lei de greve vigente no setor privado (Lei n. 7.783/89).Esta proposta
também é de difícil implementação; afinal, não há como diferenciar com clareza a participação política
da cidadania propriamente dita. Por isso mesmo, oferecer a possibilidade de participar nesses moldes
equivaleria a equiparar o beneficiado ou beneficiada aos cidadãos e cidadãs de um determinado Estado,
o que teria implicações simbólicas e identitárias indesejadas. Além disso, essa proposta parece dar conta
apenas do caso de pessoas que circulam ao redor do mundo, pessoas que podem entrar e sair do
âmbito de influência de ordens políticas claramente identificadas. A cidadania transnacional não dá
conta do fato de que as ordens políticas e normativas tendem a se sobrepor umas às outras e, muitas
vezes, a entrar em conflito. pode-se imaginar a possiblidade de garantir a todas as pessoas, mesmo
aquelas que não sejam cidadãos e cidadãs plenas de um determinado Estado, a possiblidade de votar e
opinar em nível local; por exemplo, em questões relativas à região ou à cidade onde moram. Desse
modo, múltiplas formas de cidadania e de pertencimento a ordens normativas poderiam coexistir,
garantindo a todas as pessoas a possibilidade de influir sobre as normas que afetam as suas vidas. As
ordens políticas singulares, segundo esta proposta, deveriam garantir para todas as pessoas a
possibilidade de participar da formação de suas normas e construir mecanismos judiciais que garantam o
seu cumprimento.
A cidadania precisa se transformar para manter a centralidade na gramática da política contemporânea,
tendo em vista as mudanças sociais ocorridas no final do século XX e neste começo de século XXI. Tais
mudanças abalaram a centralidade dos Estados nacionais como fonte das regras que influenciam a vida
das pessoas, em razão da globalização das finanças e da criação de ordens normativas de outra natureza,
e criaram situações de moradia transitória e de circulação de pessoas que estão contribuindo para a
relativa obsolescência do conceito de cidadania. Além disso, problemas como o combate ao terrorismo
estão levando à relativização de uma série de direitos típicos da cidadania, supostamente em favor do
incremento da segurança.Ser cidadão de um Estado nacional significa, tradicionalmente, pertencer a
uma determinada comunidade política, e, por isso mesmo, ser levado em conta na criação das regras
que presidem a vida em sociedade e ter acesso a uma série de direitos e benefícios.Na verdade, as
“forças desestabilizadoras” da cidadania são muitas. De um lado, há “as limitações do Estado para
institucionalizar volumes conflitantes de interesses populares, e para impor as decisões vinculantes”. De
outro, fatores como a própria populares, e para impor as decisões vinculantes”. De outro, fatores como a
própria diferenciação social, que pode criar novas estratificações .
MARSHALL, T. H. A. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
RODRIGUEZ, José Rodrigo. A desintegração do status quo: direito e lutas sociais. Novos Estudos
– CEBRAP, n. 96, p. 49-66, 2013.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
OLIVEIRA, Carlindo Rodrigues de; OLIVEIRA, Regina Coeli de. Direitos sociais na
constituição cidadã: um balanço de 21 anos. Serviço Social & Sociedade, n. 10

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