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8ª ETAPA – MÓDULO 02 – PROBLEMA 05: HANSENÍASE INTRODUÇÃO • Definição: Doença infectocontagiosa, granulomatosa e crônica causada pelo Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, acometendo principalmente os nervos periféricos. • Elevada infectividade, porém baixa patogenicidade, isto é, poucos indivíduos infectados adoecem. • Outros nomes: o Mal de Lázaro o Lepra • Os bacilos multiplicam-se no sistema nervoso periférico (SNP) o Podem afetar praticamente todos os órgãos e sistemas em que existam macrófagos, exceto o sistema nervoso central (SNC). • Evolui de maneira crônica o Pode apresentar períodos de agudização denominadas reações. • A doença acomete principalmente os nervos superficiais da pele e troncos nervosos periféricos localizados na face, pescoço, terço médio do braço e abaixo do cotovelo e dos joelhos, mas também pode afetar os olhos e órgãos internos como testículos, ossos, baço, fígado, dentre outros. • É potencialmente incapacitante e, embora curável, seu diagnóstico causa grande impacto psicossocial, pelos preconceitos e estigmas que a envolvem desde a antiguidade. • É um Bacilo Álcool Ácido Resistente (BAAR), parasita intracelular obrigatório com predileção pelas células do sistema reticuloendotelial, especialmente os histiócitos do sistema nervoso periférico (célula de Schwann), células da pele e mucosa nasal. • Uma importante diferença morfológica com o bacilo da tuberculose (BK) é que o BH, quando em grande quantidade nas lesões, forma aglomerados bacilares, denominados globias • O BH ainda não pode ser cultivado in vitro, um dos fatores que dificultam o estudo de suas propriedades, embora saibamos que apresenta uma multiplicação extremamente lenta o Seu cultivo não pode ser realizado em meio de cultura como outras micobactérias, podendo ser inoculada em camundongos ou tatus selvagens. • Preferência para ambientes com temperatura mais baixa (inferiores a 36,5ºC) CONTEXTO HISTÓRICO • Surgiu na Índia e na China • Acredita-se que tenha sido levada para a Europa por: o Conquistas de Alexandre, o Grande, rei da Macedônia o Cruzadas, no final do século XI o Período de início das perseguições aos ‘leprosos”. • Mas o número de doentes na Europa aumentou na época das Cruzadas, no final do século XI. Foi nesse período também o início da perseguição aos “leprosos”, que duraria três séculos. • Na França, milhares de doentes foram queimados nas fogueiras. • O doente recebia um par de luvas e uma espécie de sino para anunciar sua chegada a lugares públicos. Milhares de pessoas foram expulsas das comunidades, ingressando nas colônias de leprosos ou mendigando na periferia das cidades. • O tratamento com a sulfona foi introduzido em 1943 e, por causa da resistência, recomenda -se a poliquimioterapia (PQT) desde 1982. • No Brasil: o Primeiros casos no séc. XVII o Os doentes eram vítimas de internação compulsória o Em virtude do alto estigma associado à doença, em 29 de março de 1995, pela Lei Federal n° 9.010, tornou-se obrigatório o uso da terminologia hanseníase em substituição ao termo lepra. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mycobacterium https://pt.wikipedia.org/wiki/Mus_musculus https://pt.wikipedia.org/wiki/Tatu EPIDEMIOLOGIA • A hanseníase é considerada doença tropical negligenciada por persistir endêmica, quase exclusivamente em populações em condição de pobreza nos países em desenvolvimento, mesmo após a introdução de tratamento eficaz e gratuito há mais de 3 décadas. • Mundo: 2016 → 214.783 casos novos de hanseníase • Brasil: 2016 → 25.218 casos novos o Taxa de detecção de 12,2/100 mil habitantes. o 2º Maior país no mundo de casos registrados da doença ▪ Perde apenas para Índia e passa por pouco da Indonésia. • MS + OMS = Programas de controle da Hanseníase: o “Estratégia Global para Maior Redução da Carga da Hanseníase e a Sustentação das Atividades de Controle da Hanseníase: 2006-2010” o “Estratégia Global Aprimorada para Redução Adicional da Carga da Hanseníase: 2011-2015”. o Em 2016 OMS lança estratégia de eliminar hanseníase até 2020 • O Ministério da Saúde também aponta que: o Em 2012 a taxa de incidência registrada no país era de 17,39 casos da doença para cada 100.000 habitantes o O estado de Sergipe, com uma taxa de 22,60 o A capital Aracaju com a taxa de 23,48, segundo os mesmos parâmetros anteriores, superando notoriamente a média nacional. ETIOLOGIA • O M. leprae é um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), gram-positivo, de vida intracelular obrigatória. • Parasita intracitoplasmático de macrófagos e apresenta tropismo pelas células de Schwann. o Consequente dano neural o Perda da sensitividade térmica → dolorosa → tátil • ↑Infectividade → capacidade de penetrar em outros organismos e se desenvolver. • ↓Patogenicidade → capacidade de desenvolver doença • O microrganismo tem um ciclo evolutivo muito lento (11 a 16 dias). “E aproximou-se dele [Jesus] um leproso, que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: ‘Se queres, bem podes limpar-me’. E Jesus, movido de compaixão, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: ‘Quero, sê limpo’. E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu e ficou limpo” (Evangelho de Marcos). o Sua viabilidade no meio ambiente varia de acordo com a temperatura e a umidade. • Não pode ser cultivado in vitro o Por isso não se faz cultura depois da baciloscopia • Tem preferência por temperaturas inferiores a 30-27oC. • Cora em vermelho pelo método Ziehl-Neelsen e fracamente Gram-positivo TRANSMISSÃO • O homem é reconhecido como única fonte de infecção (reservatório), embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados. o Há relatos de tatus e macacos que são naturalmente infectados • Principal fonte de infecção: Pacientes multibacilares • Principal via de inoculação: Vias Aéreas Superiores o Soluções de continuidade da pela podem ser portas de entrada da infecção. o Secreções orgânicas como leite, esperma, suor e secreção vaginal podem conter o bacilo. ▪ Essas últimas não possuem importância na disseminação. • Atinge todas as idades e ambos os sexos o Muito raro em crianças < 5anos • Estima-se que 95% dos indivíduos expostos sejam naturalmente resistentes. o 5% são susceptíveis e a doença pode se manifestar de várias formas. o Existem marcadores imunológicos relacionados à capacidade dos macrófagos em destruir o bacilo ou simplesmente deixá-lo se multiplicar. ▪ Fenótipos HLA-DR2 e HLA-DR3 estão relacionados à forma paucibacilar; ▪ Fenótipo HLA-DQ-1, à forma multibacilar da doença. • Incubação: o 2-5anos o Se reproduz por divisão binária simples a casa 14 dias • O contato domiciliar e o grau de parentesco podem ocorrer o maior risco de adoecimento. o Foi detectado e comparado em estudos que 67,79% dos casos positivos para a hanseníase ocorreu nos consanguíneos de 1 grau, esses dados reforçam a importância da vigilância dos contatos familiares. • Dentre as pessoas que adoecem, algumas apresentam resistência ao bacilo, constituindo os casos Paucibacilares (PB), que abrigam um pequeno número de bacilos no organismo, insuficiente para infectar outras pessoas. o Os casos Paucibacilares, portanto, não são considerados importantes fontes de transmissão da doença devido à sua baixa carga bacilar. o Algumas pessoas podem até curar-se espontaneamente. • Um número menor de pessoas não apresenta resistência ao bacilo, que se multiplica no seu organismo passando a ser eliminado para o meio exterior, podendo infectar outras pessoas. o Estas pessoas constituem os casos Multibacilares (MB), que são a fonte de infecção e manutenção da cadeia epidemiológica da doença. o Quando a pessoa doente inicia o tratamento quimioterápico, ela deixa de sertransmissora da doença, pois as primeiras doses da medicação matam os bacilos, torna-os incapazes de infectar outras pessoas. FISIOPATOLOGIA • Depois da sua entrada no organismo, não ocorrendo a sua destruição, o bacilo de Hansen irá se localizar na célula de Schwann e na pele. • Sua disseminação para outros tecidos (linfonodos, olhos, testículos, fígado) pode ocorrer nas formas mais graves da doença. • A imunidade humoral (anticorpos) é ineficaz contra o M. leprae • A defesa é efetuada pela imunidade celular o Capaz de fagocitar e destruir os bacilos, mediada por citocinas (TNFalfa, IFN-gama) e mediadores da oxidação, fundamentais na destruição bacilar no interior dos macrófagos. ▪ Na forma paucibacilar (lesões tuberculoides), há predomínio de linfócitos Th1, produzindo IL-2 e IFN-gama ▪ Na forma multibacilar (lesões virchowianas ou lepromatosas), o predomínio é de linfócitos T supressoras e Th2, produzindo IL-4, IL- 5 e IL-10 • Na hanseníase tuberculoide, a exacerbação da imunidade celular e a produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1 e TNF-alfa) impedem a proliferação bacilar, mas podem se tornar lesivas ao organismo, causando lesões cutâneas e neurais, pela ausência de fatores reguladores. • Na hanseníase virchowiana, a produção de substâncias pelo bacilo (ex.: PGL1), no interior do macrófago, favorece seu escape à oxidação, pois estes possuem função supressora da atividade do macrófago e favorecem a sua disseminação. • Resumo: o Inoculação via mucosa das vias aéreas superiores ou soluções de continuidade na pele (menor grau) → fagocitose por células de Schwann → tropismo pelos nervos periféricos → comprometimento da função neural e resposta inflamatória com manifestação cutânea • Imunopatogenia: o Forma clínica tuberculoide: doença localizada, intensa resposta celular, poucos bacilos e lesões limitadas (Mitsuda +) o Forma lepromatosa e borderline-lepromatosa: doença disseminada, potente e inefetiva resposta humoral (anticorpos) – índice baciloscópico CLASSIFICAÇÃO E QUADRO CLÍNICO • Existem três classificações diferentes para hanseníase: a classificação de Madri, a de Ridley e Jopling e a operacional. • A classificação de Madri (Congresso Internacional, 1953) é a mais utilizada no Brasil. o Consideram-se dois polos estáveis e opostos + dois grupos instáveis, que caminhariam para um dos polos, na evolução natural da doença. ▪ Polos: • Virchowiano • Tuberculoide ▪ Instáveis: • Indeterminado • Dimorfo • A classificação proposta por Ridley e Jopling (1962), divide a hanseníase em forma Tuberculoide (TT), casos borderline ou dimorfos que são subdivididos em o Dimorfo-Tuberculoide (DT) o DimorfoDimorfo (DD) o Dimorfo-Virchowiano (DV) o Virchowiano-Subpolar (VVs) o Virchowiano (VV) • A classificação operacional da OMS se dá pelo número de lesões; quando até cinco lesões, é classificado como paucibacilar, e quando apresentar mais de cinco lesões, é classificado em multibacilar. CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL PARA FINS DE TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO. • O diagnóstico, portanto, baseia-se na identificação desses sinais e sintomas, e uma vez diagnosticado, o caso de hanseníase deve ser classificado, operacionalmente, para fins de tratamento. • Esta classificação também é feita com base nos sinais e sintomas da doença: o Paucibacilares (PB): casos com até 5 lesões de pele; o Multibacilares (MB): casos com mais de 5 lesões de pele. PAUCIBACILAR (PB): INDETERMINADA: • Fase inicial inerente a todos • Mais comum em crianças • Evolui espontaneamente para a cura em 75% dos casos • A grande maioria dos exames laboratoriais negativam a doença nessa fase • Lesão de pele geralmente única, mais clara, sem relevo, seca, com bordas mal delimitadas e perda de sensibilidade térmica ou dolorosa • Não há comprometimento de troncos nervosos nem grau de incapacidade. • Aparecimento de manchas Hipocrômicas, anestésica e anidrótica, com bordas imprecisas. o Únicas ou em pequeno número o Podem se localizar em qualquer área da pele • Não há comprometimento de troncos nervosos. • Primeira manifestação clínica da hanseníase; e, o Após período de tempo → evolução para cura ou para outra forma clínica, quer seja paucibacilar ou multibacilar. • Histopatologia → infiltrado perivascular e perineural. TUBERCULOIDE: • Sistema imune consegue destruir os bacilos • Hanseníase nodular na infância → nódulo anestésico em face ou tronco • Placa totalmente anestésica ou placa com bordas elevadas, bem delimitadas e de centro claro (anel/círculo) • Pode ter nervo espessado ou perda total da sensibilidade no seu território de inervação (sinal da raquete) • Geralmente baciloscopia negativa e biópsia de pele quase sempre não demonstra bacilos • Necessária correlação clínica. • Surge da HI não tratada nos pacientes com boa resistência. • Boa resposta do corpo → Imunidade Celular via linf.T o Contenção da multiplicação bacilar, dentro do espectro da doença • Baciloscopia é negativa • Características das Lesões: o Eritematosas o Em número reduzido o Bem delimitadas o Perda total da sensibilidade o Distribuição assimétrica • Máculas, que evoluem para lesões em placas com bordas papulosas, e áreas de pele eritematosas ou hipocrômicas. • Crescimento centrífugo lento e leva à atrofia no interior da lesão, que pode, ainda, assumir aspecto tricofitoide, com descamação das bordas. o Sinal em raquete ▪ Espessamento neural emergindo da placa • Neurite o Quadro agudo de dor intensa e edema, o Sem comprometimento funcional do nervo inicialmente o Se crônica: e passa a evidenciar o ▪ Dano, identificado por anidrose e ressecamento cutâneo ▪ Alopecia ▪ Alteração sensitiva (na ordem: térmica, dolorosa e tátil) e motora • Dormência e perda da força muscular. • Variedades: o Infantil ▪ Lesões em face o Neural Pura ▪ Não se encontram lesões cutâneas, mas encontramos espessamento do tronco nervoso e dano neural precoce e grave • Os principais troncos nervosos periféricos acometidos na hanseníase são: o Face – Trigêmio e Facial: podem causar alterações na face, nos olhos e no nariz; ▪ Trigêmio: lagoftalmo o Braços – Radial, Ulnar e Mediano: podem causar alterações nos braços e nas mãos; ▪ Ulnar: Mão em garra e atrofia de interrósseo ▪ Mediano: Mão do pregador ▪ Queda do punho o Pernas – Fibular e Tibial: podem causar alterações nas pernas e nos pés. ▪ Fibular comum: Queda do pé ▪ Tibial Posterior: Mal perfurante plantar e deformidade em garra de artelhos • Tanto a Hanseníase Indeterminada, quanto a Tuberculoide são tidas como paucibacilares. • Mesmo com chance de cura espontânea, se trata para diminuir evolução da doença e risco de acometimento neural. MULTIBACILAR (MB): DIMORFA: • Forma mais comum de apresentação da doença (> 70%) • Baciloscopia da borda infiltrada das lesões é frequentemente positiva, exceto em casos raros em que a doença está confinada aos nervos (exceto em orelha e cotovelo) • Várias manchas de pele avermelhadas ou esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal delimitadas na periferia, ou por múltiplas lesões bem delimitadas semelhantes à lesão tuberculóide, porém a borda externa é esmaecida (pouco definida) • Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas (sudorese e vasorreflexia à histamina) • Comum haver comprometimento assimétrico de nervos periféricos. • Fica saltando entre a tuberculoide e a virchowiana o Instabilidade Imunologica • Lesões diversas com características de ambas o Ora predomina uma, ora outra • Comum acontecer: o Infiltração assimétrica da face e do pavilhão auditivo o Lesões no pescoço e nuca • Subclassificada em: o BORDERLINE TUBERCULOIDE▪ Placas ou manchas eritematosas de maior extensão, distribuição assimétrica, pouco numerosas ou com lesões satélite. ▪ A baciloscopia é negativa ou discretamente positiva. o BORDERLINE BORDERLINE ▪ Lesões bizarras, semelhantes ao “queijo suíço” (“esburacadas”), anulares ou foveolares, com limite interno nítido e limites externos imprecisos, com bordos de cor ferruginosa. ▪ As lesões são mais numerosas que a BT, mas de distribuição assimétrica. ▪ A baciloscopia geralmente é moderadamente positiva. ▪ Em alguns casos, o quadro reacional evolui com neurite, orquite, epididimite, irite, iridociclite, artralgia ou artrite, linfadenopatia generalizada, proteinúria e dano hepático. ▪ Edema de membros inferiores, pré-tibialgia e febre acompanham esta reação. ▪ Às vezes, a febre alta e prolongada domina o quadro clínico. Leucocitose (incluindo reação leucemoide), com desvio para esquerda, anemia normocítica normocrômica, VHS bastante elevado e proteína C-reativa aumentada são achados frequentes. ▪ Títulos altos de fator reumatoide e FAN podem ser encontrados, confundindo o diagnóstico com o das colagenoses. o BORDERLINE VIRCHOWIANA ▪ Múltiplas lesões elevadas eritematoinfiltradas, algumas de aspecto anular. ▪ A baciloscopia é francamente positiva (tal como na hanseníase virchowiana). VIRCHOWIANA: • Forma multibacilar da hanseníase • Baciloscopia Positiva • Baixa resistência imunológica ao bacilo – Predomina resposta Humoral o Anticorpos não são bons contra hanseníase – intracelular • Infiltração progressiva e difusa da pele, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos; o Pode afetar os linfonodos, o fígado e o baço (hepatoesplenomegalia) o Nos testículos causa queda de testosterona ▪ Queda da libido e ginecomastia • Máculas, pápulas, nódulos e tubérculos • A pele torna-se luzidia, xerótica, com aspecto apergaminhado e tonalidade semelhante ao cobre. • Madarose - Há rarefação dos pelos nos membros, cílios e da cauda da sobrancelha • A infiltração da face e pavilhões auriculares, com madarose sem queda de cabelo, forma o quadro conhecido como fácies leonina • O comprometimento nervoso ocorre nos ramúsculos da pele, na inervação vascular e nos troncos nervosos. o deficiências funcionais e sequelas tardias. • São sinais precoces de HV: o A obstrução nasal, o Rinorreia serossanguinolenta o Edema de membros inferiores. • Um subtipo de HV, com infiltração difusa da pele, mas sem nódulos ou placas, é denominado lepromatose difusa ou “lepra bonita” • Não apresenta manchas visíveis • Pele avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados (aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da coluna lombar (áreas quentes) • Hansenomas: é comum aparecerem pápulas e nódulos escuros, endurecidos e assintomáticos • O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas • São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, que entretanto apresentam-se aparentemente normais • Podem haver artrites e artralgias (FAN e FR+) • Baciloscopia positiva inclusive de lóbulos das orelhas e cotovelos. HANSENÍASE REACIONAL • Os surtos reacionais são definidos como episódios inflamatórios que se intercalam no curso crônico da hanseníase. • Evolução aguda • Fatores desencadeantes, tais como: infecções intercorrentes, vacinação, gravidez e puerpério, medicamentos iodados, estresse físico e emocional. • Os quadros reacionais, às vezes, antecedem o diagnóstico da hanseníase, surgem durante o tratamento ou após a alta. • Divisão em Tipo 01 e 02 ou Eritema Nodoso Hansênico • • • • • DIAGNÓSTICO CLÍNICO ANAMNESE • A anamnese deve ser realizada conversando com o paciente sobre os sinais e sintomas da doença e possíveis vínculos epidemiológicos. • É importante que seja detalhada a ocupação da pessoa e suas atividades diárias. • Além das questões rotineiras da anamnese, é fundamental que sejam identificadas as seguintes questões: alguma alteração na sua pele - manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e há quanto tempo eles apareceram; possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do seu corpo; presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés e se usou algum medicamento para tais problemas e qual o resultado. EXAME FÍSICO AVALIAÇÃO DERMATOLÓGICA • Deve ser feita uma inspeção de toda a superfície corporal, no sentido crânio- caudal • As áreas onde as lesões ocorrem com maior frequência são: face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas e na mucosa nasal. AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA • Identificar características das lesões o (1) Inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés; o (2) Palpação dos troncos nervosos periféricos; o (3) Avaliação da mobilidade articular; o (4) Avaliação da força muscular; o (5) Avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e membros inferiores. • Monofilamentos de Semmes-Weinstein (monofilamentos de 0.05 g, 0.2 g, 2 g, 4 g, 10 g e 300 g) LABORATORIAL BACILOSCOPIA • Mais útil para diagnóstico • Só positiva na forma dimorfa ou na virchowiana • Fácil execuçãoo e custo • Feito com a linfa obtida de pelo o menos 4 locais: o Lóbulos da orelhas – 2 lados o Cotovelos – 2 lados o Em lesão cutânea suspeita • Coloração de Ziehl-Neelsen • Resultado por índice Baciloscópico (0-6+) ANATOMOPATOLÓGICO • Biopsia da lesão • Coração pela hematoxilina-eosina • Embora raramente necessária, a biópsia de pele deverá ser feita por profissional capacitado. • INDETERMINADA: infiltrado inflamatório que não confirma o diagnóstico de hanseníase. A procura de bacilos (BAAR) é quase sempre negativa. • TUBERCULOIDE: granuloma do tipo tuberculóide (ou epitelióide) que destrói pequenos ramos neurais, agride a epiderme e outros anexos da pele. A procura de bacilos (BAAR) é negativa. • DIMORFA: infiltrado linfo-histiocitário, que varia desde inespecífico até com a formação de granulomas tuberculóides; a baciloscopia da biópsia é frequentemente positiva, sobretudo nos nervos dérmicos e nos músculos lisos dos pelos • VIRCHOWIANA: infiltrado histiocitário xantomizado ou macrofágico, e a pesquisa de bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e organizados em grumos (globias). O TESTE DE HISTAMINA • Gota de solução de cloridrato de histamina a 1:1.000 sob a pele. • Com uma agulha fina faz-se uma escoriação embaixo do líquido, de modo que não haja sangramento. • O esperado normalmente é que ocorra a tríplice reação de Lewis: o a) eritema inicial no local da picada, no máximo com 10 mm, 20 a 40 segundos após a picada; o b) eritema pseudopódico com 30 a 50 mm após aproximadamente um minuto, devido à vasodilatação arteriolar por ato reflexo axônico; o c) seropápula, dois a três minutos após a escarificação. • É um exame útil para auxiliar no diagnóstico de manchas hipocrômicas hansenianas iniciais, pois nestas falta o eritema pseudopódico. • Não se realiza este exame na raça negra devido à dificuldade de leitura. • O teste é classificado em completo e incompleto. TESTE DA PILOCARPINA • Injeção intradérmica de cloridrato de pilocarpina a 1%. • Normalmente ocorre sudorese na área picada dois minutos após. • Nas lesões hansênicas ocorre anidrose. • Os dois testes acima devem ser feitos em áreas sadias e doentes, preferencialmente simétricas. A REAÇÃO DE MITSUDA • Teste de aplicação intradérmica cuja leitura é tardia (28 dias). • Utiliza-se na classificação da doença e na definição do prognóstico. • Não possui valor para o diagnóstico,pois de um modo geral é encontrado de forma positiva na população sã, que já teve contato com o bacilo, porém não desenvolveu a doença por apresentar boa imunidade. • O teste consiste na aplicação intradérmica – na superfície extensora do antebraço direito – de 0,1 ml de um preparado que contém 40 a 60 milhões de bacilos mortos por mililitro. PROTOCOLO: • O Ministério da Saúde do Brasil definiu como caso de hanseníase o indivíduo que apresente um ou mais dos seguintes sinais cardinais e que necessita de tratamento poliquimioterápico: o Mancha e/ou área(s) da pele com alteração (perda) de sensibilidade, característica da hanseníase; o Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; e o Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. • Em caso de dúvida, pode-se lançar mão de provas complementares, que são o teste da histamina (ausência do eritema secundário) e da pilocarpina (anidrose). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • As principais doenças de pele que fazem diagnóstico diferencial com hanseníase, são: o Pitiríase Versicolor (pano branco) - micose superficial que acomete a pele, e é causada pelo fungo Ptirosporum ovale. Sua lesão muda de cor quando exposta ao sol ou calor (versicolor). Ao exame dermatológico há descamação furfurácea (lembrando farinha fina). Sensibilidade preservada. o Eczemátide - doença comum de causa desconhecida, ainda é associada à dermatite seborreica, parasitoses intestinais, falta de vitamina A, e alguns processos alérgicos (asma, rinite, etc). No local da lesão, a pele fica parecida com pele de pato (pele anserina: são as pápulas foliculares que acometem cada folículo piloso). Sensibilidade preservada. o Tinha do corpo - micose superficial, com lesão hipocrômica ou eritematosa, de bordos elevados. Pode acometer várias partes do tegumento e é pruriginosa. Sensibilidade preservada. o Vitiligo - doença de causa desconhecida, com lesões acrômicas. Sensibilidade preservada. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EM RELAÇÃO A OUTRAS DOENÇAS NEUROLÓGICAS • As lesões neurológicas da hanseníase podem ser confundidas, entre outras, com as de: o síndrome do túnel do carpo; o neuralgia parestésica; o neuropatia alcoólica; o neuropatia diabética; o lesões por esforços repetitivos (LER). TRATAMENTO • Na tomada mensal de medicamentos é feita uma avaliação do paciente para acompanhar a evolução de suas lesões de pele, do seu comprometimento neural, verificando se há presença de neurites ou de estados reacionais. • O encaminhamento da pessoa com hanseníase para uma Unidade de Referência somente está indicado quando houver necessidade de cuidados especiais - no caso de intercorrências graves ou para correção cirúrgica. • Nestes casos, após a realização do procedimento indicado, ela deve retornar para o acompanhamento rotineiro em sua unidade básica. • Lembrar de utilizar métodos anticoncepcionais de barreiras por sete dias após a dose supervisionada em mulheres em idade fértil devido à Rifampicina. • Outra opção é alinhar os 28 dias do anticoncepcional com os 28 dias do PQT. • As drogas usadas nos esquemas padronizados pela OMS e MS são a rifampicina (única bactericida dos esquemas-padrão), dapsona e clofazimina ESQUEMA PAUCIBACILAR (RIFAMPICINA + DAPSONA) • Rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada • Dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada; • Duração do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de Rifampicina. • Critério de alta: 6 doses supervisionadas em até 9 meses. • Se, por algum motivo, houver a interrupção da medicação ela poderá ser retomada em até 3 meses, com vistas a completar o tratamento no prazo de até 9 meses. ESQUEMA MULTIBACILAR (RIFAMPICINA + DAPSONA + CLOFAZIMINA) • Rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada; • Clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada e uma dose diária de 50mg auto-administrada; • Dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária autoadministrada; • Duração do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de rifampicina; • Critério de alta: 12 doses supervisionadas em até 18 meses • Havendo a interrupção da medicação está indicado o prazo de 6 meses para dar continuidade ao tratamento e para que o mesmo possa ser completado em até 18 meses. PARA CRIANÇAS PAUCIBACILARES • 0-5 anos: Dapsona diária 25mg + dapsona supervisionada 25mg + rifampicina mensal supervisionada 150-300 mg • 6-14 anos: dapsona diária 50-100 mg + dapsona supervisionada 50-100 mg + rifampicina mensal supervisionada 300-450 mg MULTIBACILARES • 0-5 anos: dapsona diária 25mg + dapsona supervisionada 25mg + rifampicina mensal supervisionada 150-300mg + clofazimina auto-administrada 100 mg/semana + clofazimina supervisionada mensal 100mg • 6-14 anos: dapsona diária 50-100mg + dapsona supervisionada 50-100mg + rifampicina mensal supervisionada 300- 450mg + clofazimina auto- administrada 150mg/semana + clofazimina supervisionada mensal150-200 mg SITUAÇÕES ESPECIAIS HANSENÍASE E INFECÇÃO POR HIV/AIDS • Deve ser mantido o esquema de PQT, de acordo com a classificação operacional. HANSENÍASE E TUBERCULOSE • Para os casos PB, acrescenta-se a dapsona; • Para os casos MB, acrescenta-se a dapsona e a clofazimina até o término do tratamento da tuberculose, quando deverá ser acrescida a rifampicina do esquema padrão da hanseníase; • Para os casos que não utilizam a rifampicina no tratamento da tuberculose, por contraindicação dessa droga, utiliza-se o esquema substitutivo próprio para esses casos, no tratamento da hanseníase; • Para os casos que não utilizam a rifampicina no tratamento da tuberculose por resistência do Mycobacterium tuberculosis a essa droga, utiliza-se o esquema padrão de PQT da hanseníase. HANSENÍASE E GRAVIDEZ • Os recém-nascidos, porém, podem apresentar a pele hiperpigmentada pela clofazimina, ocorrendo a regressão gradual da pigmentação • Em mulheres na idade reprodutiva, deve-se atentar ao fato de que a rifampicina pode interagir com anticoncepcionais orais, diminuindo sua ação. ESTADOS REACIONAIS E RESPECTIVOS TRATAMENTOS • É importante diferenciar um quadro de estado reacional de um caso de recidiva. • No caso de estados reacionais a pessoa deverá receber tratamento anti- reacional, sem reiniciar, porém, o tratamento PQT. • No caso de recidiva, o tratamento PQT deve ser reiniciado. • PRÓDROMOS: o Tipo 1: prurido cutâneo generalizado que pode manifestar-se como queixa de hiperestesia o Tipo 2: adenomegalia, mal-estar, edema de extremidades, geralmente bilateral, febre e obstrução nasal A) EPISÓDIO REACIONAL TIPO 1 • Desenvolvimento súbito de imunidade celular, considerado um direcionamento transitório do paciente para o polo tuberculoide, às vezes com teste cutâneo positivo à lepromina e formação de granulomas epitelióides. • Comumente observa-se reativação das lesões preexistentes ou aparecimento, em áreas anteriormente não comprometidas, de novas lesões. • Tratamento: corticosteroide na dose de 1mg/kg/dia, até melhora do quadro, com redução gradual da dose B) EPISÓDIO REACIONAL TIPO 2 • Reação mediada por imunocomplexos e por aumento transitório da imunidade celular durante esses episódios evidenciado pela elevação dos níveis séricos de TNF-a e interleucina 1 (IL-1). • Pode se apresentar como eritema nodoso ou eritema multiforme hansêmico. • Maior manifestação sistêmica. • Fenômeno de Lúcio: emergência médica. Eritema necrosante.• Leucocitose importante (30.000), neutrofilia, desvio para esquerda → hemograma típico de septicemia. • Sedimento urinário compatível com nefrite ou infecção do trato urinário → proteinúria, hematúria e piócitos. • Urocultura e antibiograma livres. • Tratamento: talidomida, nas doses de 100 a 300mg/dia, até remissão completa do quadro. • Contraindicação: em idade fértil, devido a seus efeitos teratogênicos, EN acompanhados de neurite, edema de mãos e pés, irite, iridociclite ou orquite, entre outros. • Alternativa: corticosteroide. • Prescrever AAS em caso de associação de talidomida com corticoide para profilaxia de TEP C) NEURITES • Aparecimento de dor espontânea ou à compressão de troncos nervosos periféricos, acompanhados, ou não, de edema localizado e de comprometimento da função neurológica. • Deve-se diferenciar a dor de neurite de outra modalidade de dor, chamada de dor neuropática, definida como resultante de doença ou danos no sistema nervoso central ou periférico, que geralmente indica anormalidade permanente do nervo. • Tratamento: Corticoterapia oral
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