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A entrevista e o contato com o paciente

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A Entrevista na Clínica Psicológica
Professora Angela Perez de Sá
Disciplinas: Avaliação Psicológica e Psicodiagnóstico
Definição
Em psicologia, a entrevista clínica é parte de um processo dirigido por um entrevistador treinado que investiga em tempo delimitado, utilizando conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, social), visando fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas.
Objetivos Gerais e Específicos
Objetivo Geral - descrever e avaliar através do levantamento de informações que permitirão relacionar eventos e experiências, realizar inferências e conclusões , tomar decisões e fazer encaminhamentos.
Os objetivos específicos estabelecem a abordagem, a orientação do entrevistador, determinam as estratégias, os alcances e os limites da entrevista. 
A entrevista é sempre parte de um processo de avaliação, que pode ocorrer em apenas uma sessão e ser dirigido a fazer um encaminhamento, ou a definir os objetivos de um processo psicoterapêutico.
Com o levantamento das informações são feitas inferências que permitem conclusões e tomada de decisões. 
A investigação na psicologia clínica se apóia nos conceitos e conhecimentos desta área, incluindo domínios como a psicologia do desenvolvimento (o desenvolvimento psicossexual ou cognitivo), a psicopatologia (sinais e sintomas psicopatológicos), a psicodinâmica (conflitos de identidade), as teorias sistêmicas (relação conjugal), etc.
Características da Entrevista psicológica Clínica
Permite investigar a conduta e a personalidade do entrevistado com base nas teorias da personalidade e da psicologia, mantendo-se os parâmetros éticos e científicos.
É um procedimento poderoso em função da sua plasticidade e capacidade de explicitar particularidades que escapam a outros procedimentos (verifica os limites de aparentes contradições e tornar explícitas as características indicadas pelos instrumentos padronizados, conferindo-lhes validade clínica).
Permite o contato frente a frente, facilitando a comunicação verbal e a não-verbal, reconhecendo, avaliando e interpretando os fenômenos inerentes aos comportamentos, às atitudes e às próprias questões que envolvem uma relação dual.
Classificações da Entrevista Clínica Psicológica . 
1. Quanto à sua Finalidade:
Diagnóstica
Psicoterápica
De Encaminhamento
De Seleção
De Desligamento
De Pesquisa
2. Quanto à sua Estrutura:
Entrevista aberta, não-diretiva ou de estruturação livre.
Entrevista fechada, diretiva ou estruturada.
Semi – estruturada.
3. Quanto ao Número de Indivíduos:
Entrevista Individual
Entrevista Grupal
4. Quanto ao Beneficiário:
Entrevista de pesquisa, em benefício do entrevistador ou para um terceiro.
Entrevista em benefício do entrevistado, para uma instituição, órgão do governo, etc.
Observações relativas à estrutura da Entrevista Psicológica
Mesmo as entrevistas "livres“ – que permitem que o entrevistado configure o campo da entrevista (os temas abordados) - guardam um certo direcionamento, visto que é necessário que o entrevistado reconheça os objetivos da mesma. 
Cabe ao entrevistador lidar com o direcionamento estabelecido pelo entrevistado, de forma a otimizar o encontro entre a demanda do sujeito e os objetivos da tarefa. (confrontando defesas, empaticamente reconhecendo um afeto ou pedindo um esclarecimento).
É tarefa do psicólogo facilitar a emergência de novos conteúdos relevantes para as demandas do sujeito. Assim, o entrevistador deve estar atento aos processos no outro, e a sua intervenção deve orientar o sujeito a aprofundar o contato com sua própria experiência. 
Características das Entrevistas Psicológicas Fechadas
As entrevistas estruturadas privilegiam a objetividade e são mais freqüentemente usadas para as pesquisas.
Raramente considera as necessidades ou demandas do sujeito avaliado – usualmente, ela se destina ao levantamento de informações definidas pelas necessidades de um projeto (entrevista epidemiológica).
As perguntas são quase sempre fechadas ou delimitadas por opções previamente determinadas e buscam respostas específicas a questões específicas. Quando respostas abertas são possíveis, geralmente são associadas a esquemas classificatórios operacionalizados, que facilitam a tradução da informação em categorias do tipo objetivo.
A entrevista de livre estruturação (aberta ou não-estruturada) é normalmente empregadas na clínica psicológica atendendo aos mais diversos objetivos. Ela permite conhecer o sujeito em profundidade de modo a compreender a situação que o levou à entrevista. Logo, elas conferem espaço para as manifestações individuais, mas exigem um maior preparo por parte do entrevistador para a manutenção do direcionamento necessário à satisfação dos objetivos.
Características das Entrevistas Psicológicas Abertas
O entrevistador tem clareza de seus objetivos, do tipo de informação necessária para atingi-los e de como essa informação deve ser obtida (perguntas sugeridas ou padronizadas), quando ou em que seqüência, em que condições devem ser investigadas (relevância) e como deve ser considerada (utilização de critérios de avaliação). 
Garante a obtenção da informação necessária de modo padronizado, aumentando a fidedignidade do procedimento.
Permite a criação de registros e bancos de dados para futuras pesquisas acerca da eficácia terapêutica e para o planejamento de ações de saúde (clínicas sociais, saúde pública, psicologia hospitalar, etc., p. ex.: aspectos mórbidos e psicodinâmicos associados a história e ao risco de tentativa de suicídio)
Características das Entrevistas Psicológicas Semi-Estruturadas
Aspectos Ético-Profissionais Relativos ao Beneficiário
O beneficiado direto normalmente é o entrevistado. Mas há situações em que existem terceiros envolvidos, como juízes, empregadores, empresas de seguros, etc., o que pode levar a conflitos de interesse e das questões éticas envolvidas.
 Quando há interesses múltiplos, deve-se definir quem são os clientes. Assim é preciso que as demandas sejam avaliadas quanto a sua adequação e a explicitação dos conflitos deve ser clara, ajudando o profissional a estabelecer a sua conduta relativa a cada um deles. 
Aspectos Específicos Relativos aos Objetivos
Existe uma interdependência entre abordagem e objetivos. 
Por exemplo, temos dois entrevistadores, um de abordagem psicodinâmica e outro comportamental. O objetivo geral de ambos é definir uma estratégia de intervenção terapêutica, mas o primeiro tem como objetivo específico explorar o desenvolvimento precoce e os processos inconscientes, defesas e conflitos predominantes, enquanto o segundo procuraria determinar as situações-problema e examinar os antecedentes que mantêm o comportamento na atualidade. 
A finalidade maior, comum a todas as formas de entrevista clínica, é descrever e avaliar para oferecer alguma forma de retorno. 
Qualquer que seja a abordagem, a entrevista clínica requer uma etapa de apresentação da demanda, o reconhecimento da natureza do problema e a formulação de alternativas de solução e de encaminhamento.
O primeiro contato com o entrevistado
A primeira entrevista é geralmente o primeiro contato entre o cliente e o terapeuta e prepara o palco para o relacionamento.
 
A entrevista inicial provoca ansiedade tanto no cliente/paciente como no terapeuta iniciante. Os dois principais objetivos da primeira entrevista é fazer com que o cliente se sinta confortável para fornecer as informações necessárias para o planejamento do início do tratamento. 
. 
A ansiedade do cliente se origina em suas próprias ambivalências relativas è busca e necessidade de ajuda para lidar com questões que suspeitam ser dolorosas. Além disso, muitas pessoas acreditam que procurar os serviços de saúde mental é um sinal de fraqueza ou loucura. 
Competências do Entrevistador para Facilitar o Rapport e a Exposição dos Motivos
estar presente, ou seja, estar inteiramente
disponível para o outro naquele momento, e poder ouvi-lo sem a interferência de questões pessoais; 
ajudar o paciente a se sentir à vontade e a desenvolver uma aliança de trabalho;
facilitar a expressão dos motivos que levaram a pessoa a ser encaminhada ou a buscar ajuda;
A aceitação das recomendações ou a permanência no tratamento dependem do primeiro contato. Logo, a eficácia terapêutica é altamente dependente de um conjunto de competências do entrevistador, que além de estar bem fundamento nos seus conhecimentos teóricos deve possuir grandes habilidade interpessoais. 
As necessidades do psicólogo devem ser conhecidas e estar suficientemente atendidas, para que a ansiedade pessoal (principalmente as inconscientes que levam à resistência) não interfira na escuta e na identificação dos conteúdos latentes na fala do entrevistado. 
A atenção e a colaboração são essenciais para o rapport – identificação e desenvolvimento da aliança terapêutica que é marcada pela percepção de estar recebendo apoio e o sentimento de estar trabalhando em conjunto.
O entrevistador deve ser receptivo às dificuldades e objetivos do pacientes, demonstrando que o compreende e o aceita, que reconhece suas capacidades e seu potencial, auxiliando na mobilização da capacidade pessoal de auto-ajuda. Essa postura fortalece a relação e favorece uma atitude colaborativa e participativa.
Nem sempre os motivos reais são conhecidos, e se apresentam de maneira latente, porque podem estar associados a afetos ou idéias difíceis de serem aceitos ou expressos.
As resistências dificultam o processo (há medo de auto-exposição, de confrontar a própria ambiguidade, de ter que crescer e assumir escolhas e responsabilidade, de modificar o modo com que percebe a si próprio e aos outros): A entrevista traz benefícios, mas também tem suas ameaças.
As fantasias (relativas ao problema, à solução e ao próprio tratamento) – que não necessariamente se opõem à realidade – refletem a realidade interna, subjetiva, expressam os afetos associados e influenciam o comportamento de maneira decisiva.
Assim , cabe ao entrevistador desenvolver a capacidade de facilitar a expressão de experiências, sentimentos e pensamentos relevantes.
buscar esclarecimentos para colocações vagas ou incompletas;
gentilmente, confrontar esquivas e contradições;
tolerar a ansiedade relacionada aos temas evocados na entrevista;
reconhecer defesas e modos de estruturação do paciente, especialmente quando elas atuam diretamente na relação com o entrevistador (transferência);
compreender seus processos contratransferenciais;
assumir a iniciativa em momentos de impasse;
dominar as técnicas que utiliza. 
A aquisição e a preservação destas competência dependem da contínua atualização, da participação em grupos de estudo e supervisão e da própria psicoterapia
O Enquadramento
Como o campo da(s) entrevista(s) é dinâmico, as variáveis intervenientes devem ser reduzidas para serem focados e observados o funcionamento e as flutuações que ocorrem na personalidade do entrevistado. Assim, é necessário realizar o enquadramento da entrevista psicológica segundo os seus objetivos – consulta, diagnóstico, orientação vocacional, seleção, etc. O enquadramento transforma as variáveis intervenientes em constantes. No enquadramento inclui-se não só a caracterização explícita dos objetivos, como a atitude técnica, o papel do entrevistador, a fixação do horário, local, duração e honorários referentes à entrevista.

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