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1 __________________________ ¹ Graduado em Engenharia Civil pela Faculdade Madre Thais – FMT em Ilhéus – BA. Pós graduando em Engenharia de Avaliações e Perícias e MBA em Orçamento, Planejamento e Controle na Construção Civil pela União Brasileira de Faculdades – UNIBF em Paraíso do Norte – PR. E-mail: gustavo.sza.almeida@gmail.com ² Graduado em Engenharia Mecânica pela Faculdade Anhanguera em Ribeirão Preto – SP. Pós graduado em Engenharia e Gerenciamento de Manutenção e MBA Executivo em Gestão de Projetos pela União Brasileira de Faculdades – UNIBF em Paraíso do Norte – PR. E-mail: abgaloni@hotmail.com ³ Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Estácio de Sá – UNESA em Niterói-RJ. Especialista em Engenharia da Qualidade e Engenharia Elétrica com ênfase em instalações residenciais pela Universidade Candido Mendes – UCAM em Rio de Janeiro – RJ. E-mail: joao_emn@hotmail.com 4 Graduado em Engenharia de Produção pelo Centro Universitário Módulo em Caraguatatuba – SP. Especialista em Gestão Industrial pela Universidade de São Paulo – USP em São Paulo – SP. Especialista em Logística Integrada e Supply Chain pela Universidade Cruzeiro do Sul em São Paulo – SP. E-mail: ma.carvalho100@hotmail.com SOLO-CIMENTO COMO ALTERNATIVA PARA SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA NA CONSTRUÇÃO DE RESIDÊNCIAS POPULARES. Gustavo Souza de Almeida1 Almir Bruno Galoni2 João Carlos Esteves Moreira Neto3 Matheus Lobão de Carvalho4 RESUMO Apesar da importância econômica e social da construção civil, o setor ainda utiliza tecnologias antigas, há algumas poucas inovações, mas a base dos materiais continua a mesma e as poucas inovações que se apresentam no setor buscam apenas a redução de custo, enquanto que as inovações deveriam ter como objetivo também a redução dos impactos ambientais e sociais. Nesse sentido, o presente estudo busca analisar a viabilidade ambiental e econômica da utilização do tijolo solo-cimento, também conhecido por tijolo ecológico, como alternativa para a construção de residências populares sustentáveis e com baixo custo. Através de revisão bibliográfica é realizado o estudo da viabilidade ambiental do tijolo ecológico e a busca de dados para realizar um comparativo de custos com as residências feitas em alvenaria convencional com bloco cerâmico. Como resultado, obteve-se uma redução de 15,33% no custo da alvenaria. Acerca da viabilidade ambiental, notou-se que a utilização do tijolo ecológico causa redução dos impactos ambientais desde a sua produção, por não necessitar da queima, causando redução na emissão gases nocivos ao meio-ambiente pelo setor da construção civil e durante a execução da alvenaria, o tijolo ecológico contribui para redução do desperdício de materiais e geração de resíduos. Palavras-chave: Sustentabilidade; Solo-cimento; Construção sustentável; Residências populares. 2 INTRODUÇÃO Apesar da importância econômica e social da construção civil para o cenário nacional, a indústria da construção civil brasileira ainda utiliza tecnologias antigas e não inova. Houve inovações, mas a base dos materiais continua a mesma. As poucas inovações que aparecem no setor são voltadas apenas para reduzir os custos das obras. É necessário modificar esse pensamento, as inovações devem ser pensadas além da redução dos custos, e ter como objetivo também a redução dos impactos ambientais e sociais (JOHN, 2011). O solo-cimento caracteriza-se como um material alternativo, de baixo custo, obtido pela mistura de solo, água e um pouco de cimento. Após ser compactada a massa obtida passa pelo processo de cura e sofre um endurecimento gradativo, ganhando em poucos dias consistência e durabilidade suficientes para diversas aplicações na construção civil, podendo ser empregado em paredes, blocos, pisos e até muro de arrimo. O sistema construtivo de solo-cimento, advém de técnicas construtivas passadas, como adobe e a taipa. Os blocos de solo-cimento eram usados desde os anos 30 no Brasil, exclusivamente para pavimentação de estradas. Nos anos 40, foi construído um conjunto residencial usando a técnica, que ficou sendo um caso isolado. Sendo apenas nos anos 70 apresentado como alternativa para remediar o déficit habitacional, pelo Eng. Francisco Casanova, que a partir de então o solo- cimento passou a ter utilização significativa na indústria da construção civil. Embora não seja a única opção, o concreto armado é a técnica mais utilizada em todo o mundo para construção de estruturas. Esta solução surgiu da necessidade de mesclar a resistência à compressão e durabilidade da pedra com as características do aço. O resultado é um material que tem como vantagens poder assumir qualquer forma com rapidez e facilidade, além de proporcionar proteção contra a corrosão para as armaduras de aço. Apesar de convencional, o uso do concreto armado normalmente não se apresenta como a solução mais econômica e sustentável para construção de edificações, principalmente devido a necessidade de fôrmas, sendo adotada normalmente as de madeira, que são descartadas após o término da obra, causando assim prejuízo financeiro e ambiental, além de ser uma tarefa que demanda muito tempo, o que encarece o custo final da obra. 3 Em decorrência do déficit habitacional e a necessidade de se ter residências populares mais econômicas e sustentáveis, o uso do solo-cimento tem sido apresentado como uma possível solução para tais demandas. De acordo com Pezzuto (2010), devido às novas demandas, principalmente sociais e ambientais, o mercado vem exigindo inovação no setor da construção civil, buscando métodos construtivos novos, que possibilitem edificações mais baratas, sustentáveis e compatíveis com o poder aquisitivo de maior parte da população. Com isso, deve-se atentar para o desenvolvimento de diferentes materiais e utilização de métodos construtivos não convencionais. Portanto, faz-se necessário buscar soluções alternativas de baixo custo, simples, e com impactos ambientais reduzidos em comparação com os materiais e métodos construtivos convencionais. Diante do exposto, o emprego do solo-cimento se apresenta como alternativa para a demanda atual do setor da construção civil e como solução para construção de habitações populares, no que diz respeito à redução dos impactos ambientais, custos da obra e tempo de execução. Podendo ser utilizado o tijolo modular de solo-cimento, também conhecido como tijolo ecológico, que leva tal denominação devido ao seu processo de fabricação não ser utilizado a queima, reduzindo significativamente os impactos ambientais se comparado com a produção do bloco cerâmico. Neste sentido, a presente pesquisa teve como objetivo, investigar a redução dos impactos ambientais e custos na construção de residências populares com emprego do sistema construtivo solo-cimento. Além disso houve etapas complementares visando avaliar o desempenho ambiental do tijolo ecológico, por meio de revisão bibliográfica, elaborar planilha de custo para a alvenaria de uma residência popular com uso do tijolo solo-cimento, elaborar planilha de custo para a alvenaria de uma residência popular convencional, com uso do tijolo cerâmico e comparar os custos da alvenaria convencional com a alvenaria de tijolo solo-cimento. 1 DESENVOLVIMENTO A presente pesquisa é fundamentada em uma revisão bibliográfica, com intuito de investigar os impactos ambientais e as vantagens da utilização do tijolo solo- cimento na construção de residências populares. Para que fosse feita a análise do tijolo solo-cimento como solução econômica e sustentável para construção de 4 residências populares, analisou-se inicialmente os impactos ambientais causados pelo uso do tijolo ecológico, feito através de revisão bibliográfica e posteriormente realizou-se uma análise dos custos fazendo um comparativo entre a alvenaria convencional com a alvenaria de tijolosolo-cimento. Foram utilizadas referências bibliográficas de estudo. As buscas foram realizadas em duas bases de dados bibliográficas – Google acadêmico e Portal de periódicos CAPES/MEC, sendo selecionados apenas os artigos escritos em português. Além de buscas em revistas e sites voltados para a construção civil, como a revista Téchne e o site da Sahara Tecnologia, empresa voltada para construção de máquinas que produz prensas para produção de tijolo ecológico. Para que a pesquisa fosse concluída dentro do tempo disponível limitou-se o quantitativo de publicações a serem analisadas, adotando um limite de tempo para busca dos periódicos, foram analisados os periódicos publicados nos últimos 20 anos, de fevereiro de 1999 até fevereiro de 2019. Durante o processo de busca nas bases de dados, foram selecionados alguns termos que estão dentro da proposta de pesquisa, ao término da seleção, utilizou-se as seguintes palavras-chave: sustentabilidade; minha casa minha vida; solo-cimento; residências populares; construção sustentável; concreto armado; e tijolo ecológico. Foram utilizados tanto os termos isolados como combinações com as palavras-chave. 1.1 Referencial Bibliográfico 1.1.1 Histórico do uso do tijolo solo-cimento no Brasil O estudo cientifico da técnica do tijolo de solo-cimento teve início no Brasil em 1935. Tal técnica foi utilizada, inicialmente, na construção de bases e sub-bases na pavimentação de estradas, passando a ser utilizado nas edificações especificamente em 1948 no Rio de Janeiro. A primeira edificação construída com tijolos de solo- cimento no Brasil aconteceu na cidade de Petrópolis, no estado de Rio de Janeiro, especificamente na construção das casas do Vale Florido na Fazenda Inglesa. Após isso, em 1953, foi construído o Hospital Adriano Jorge em Manaus, que possui 10.800 m² e ainda está em utilização (FIQUEROLA, 2004). 5 Somente na década de 70 com a contribuição técnica sobre os materiais do Eng. Francisco Casanova, que os tijolos de solo-cimento passaram a ser amplamente utilizados em habitações pelo antigo Banco Nacional de Habitação (BNH), que passou a utilizar os tijolos de solo-cimento em sua residência, fazendo com que a técnica fosse disseminada no setor da construção civil. 1.1.2 Vantagens do tijolo solo-cimento Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), comprovaram que o tijolo de solo-cimento possui excelente isolamento termo acústico e também reduz os custos finais entre 20% e 40% em relação aos tijolos convencionais. O consultor Fernando Teixeira (2014) também afirma que “essa nova tecnologia não é muito comum em novas construções, porém, devido às suas vantagens, é uma técnica que deve começar a ser muito utilizada”. O uso do solo-cimento agiliza a execução e o componente apresenta boa durabilidade e resistência à compressão fazendo com que as construções tenham menor tempo de execução. (FIQUEROLA, 2004). Francisco Casanova (2004), afirma que o uso do solo-cimento reduz o desmatamento das florestas e os danos ambientais, pois não necessita passar pelo processo de queima pelo qual passa o bloco cerâmico cozido, que utiliza a madeira das florestas como combustível e lança resíduos tóxicos na natureza durante a queima. Outros fatores importantes para a economia são as características isotérmicas, o isolamento acústico e a possibilidade de uso da edificação sem revestimento, sendo indicado uma pintura de impermeabilização à base de látex, esmalte ou técnica similar, com intuito de aumentar sua durabilidade. Em suma, a praticidade do tijolo de solo-cimento torna a obra muito mais barata, pois há uma redução significativa no tempo de execução da obra e no desperdício de materiais, devido a facilidade de manuseio dos tijolos por se tratar de um sistema modular (Figura 1), fazendo com que se obtenha até 40% de economia no custo total da edificação. (TEIXEIRA, 2014). Em relação a execução desse sistema construtivo, Costa (2012) afirma que por se tratar de um sistema modular, sua execução requer mais cuidados se comparada 6 com a alvenaria convencional, pois estas permitem alterações e correções de anomalias e incompatibilidades, que venham a ocorrer, mais facilmente. Tanto o projetista, quanto o executor devem ter conhecimento sobre as técnicas de assentamento e grauteamento do tijolo ecológico. Além disso, devem ser bem planejadas e especificadas no projeto as instalações elétricas e hidráulicas para que todas as vantagens inerentes ao solo-cimento sejam aproveitadas. Figura 1: Registro de construção em andamento com tijolo solo-cimento. Fonte: COSTA, 2012. 2 PRODUÇÃO DO TIJOLO SOLO-CIMENTO 2.1 Preparo da mistura Para produção do tijolo ecológico é imprescindível a realização da mistura de solo-cimento da maneira adequada, observando os inúmeros fatores necessários para garantir a qualidade do material, tais como, a natureza e características do solo, a dosagem de cimento, o teor de umidade e o nível de compactação do material. As características do solo-cimento dependerão das características dos materiais que compõe a mistura, a granulometria do cimento, a quantidade de água e a temperatura ambiente interferem diretamente na adesão do solo-cimento. Devendo a quantidade de cada material a ser utilizado na mistura ser determinada através de ensaios laboratoriais. Durante o manuseio deve-se tomar cuidados para que não 7 ocorra contaminação da água utilizada, fazendo o controle da presença de sulfatos e/ou matéria orgânica que são agressivos ao cimento. (BAUER, 1994). O teor de cimento empregado na mistura pode apresentar variações, o engenheiro pode optar por acrescentar mais cimento à mistura, o que resultará em vantagens como redução da umidade, aumento de resistência à compressão e torna o material mais durável, por gerar menor permeabilidade. Entretanto, caso haja excesso no acrescimento de cimento e as situações de cura forem inapropriadas, pode ocorrer fissuras nos tijolos, em decorrência da retração por secagem. (Mieli, 2009). 2.2 Etapas para a produção dos tijolos Após analisada as características e determinada a quantidade de cada material, é feita a produção dos tijolos, que varia conforme a sua utilização. Seguindo orientações da fabricante de máquinas Sahara, para fabricar os tijolos ecológicos é necessária uma prensa manual ou semiautomática, um triturador de solo JAG ou peneira, solo areno argiloso (70% areia e 30% argila), cimento e água. De posse dos materiais e ferramentais, são seguidas as etapas para fabricação dos tijolos: Preparo do solo, regulagem da máquina para iniciar produção, compactação dos tijolos, empilhamento dos tijolos recém compactados, ajuste do equipamento para produzir outras peças, limpeza da prensa e por último, a cura dos tijolos. Durante o procedimento de cura, deve-se atentar para molhar os tijolos no primeiro dia, deixando-os coberto com uma lona, no segundo dia deve-se fazer uma pulverização com água e do terceiro ao quinto dia, deve-se molhar bem os tijolos com uma mangueira, após o quinto dia pode-se estocar os tijolos, devendo estes permanecerem estocados até 15 dias após o início do processo de cura, sendo recomendado seu transporte apenas 28 dias após a produção. 2.3 Custos para produção do tijolo ecológico Os custos de produção do tijolo de solo-cimento variam conforme preço do cimento, da mão de obra na região, e principalmente da disponibilidade de matéria prima principal (solo areno argiloso) nas proximidades do local onde será realizada a produção, quanto mais longe o local de extração mais custosa será a produção. 8 Observa-se que o processo de produção do tijolo de solo-cimento é simples, o que resulta em um material de baixo custo, segundo a fabricante de máquinas Sahara, o custo para produção dos tijolos dependeda quantidade produzida por dia, utilizando- se uma prensa Sahara Semiautomática, pode-se produzir até 2 mil tijolos por dia, com os custos apresentados a seguir (Tabela 1). Tabela 1: Custo de produção do tijolo solo-cimento QUANTIDADE MÃO DE OBRA (R$) MATÉRIA PRIMA (R$) CIMENTO (R$) CUSTO TOTAL (R$) CUSTO UNITÁRIO (R$) 1.000 300,00 150,00 140,00 590,00 0,59 2.000 300,00 300,00 280,00 880,00 0,44 Fonte: Sahara, 2018. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Viabilidade ambiental do tijolo solo-cimento De acordo com a Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica (ANAB), a construção civil é responsável pelo consumo de 40% dos recursos naturais, 34% do consumo de água, 55% do consumo de lenha não certificada, gerando 67% da massa total de resíduos sólidos urbanos e 50% de volume total desses resíduos. Levando- se em consideração a geração desses resíduos e os impactos ambientais diretos e indiretos causados pela construção civil, a utilização do tijolo ecológico surge como alternativa para preservação do meio ambiente e construção de edificações sustentáveis. Uma das grandes vantagens ambientais de se utilizar o tijolo solo-cimento está na fase de produção dos tijolos, pois seu processo de cura não utiliza a queima de biomassa, processo que utiliza uma grande quantidade geralmente de madeira, resultando em uma redução na emissão de gases que provocam o efeito estufa, sendo a emissão do CO2, bem como a economia dos recursos renováveis utilizados na queima, e que de forma indireta estaria relacionada com a economia dos recursos naturais (SANTANA et al., 2013). O tijolo solo-cimento é comumente chamado de tijolo ecológico, tal nomenclatura se deve ao seu processo de produção, que não é necessária a etapa 9 de queima, nem a utilização de formas, que geralmente são feitas de madeiras, gerando redução no uso de madeira na construção civil. Além disso, o consumo de água é inferior se comparado com o processo de fabricação do bloco de alvenaria convencional (CHAGAS et al. 2015). Pouca argamassa convencional e concreto são aplicados na construção de edificações em tijolo solo-cimento, podendo gerar uma economia de 70% no uso de concreto, limitando-se o uso da argamassa na primeira fiada, onde os tijolos são alinhados e aprumados. Para as demais fiadas, utiliza-se cola branca ou cimento, aplicados com bico de confeiteiro ou própria embalagem no caso da cola branca, resultando em pouco ou nenhum desperdício de argamassa, que são significativos na construção de alvenarias convencionais, o que gera prejuízo financeiro, desperdício de recursos naturais e geração de resíduos (COSTA et al., 2011). Os furos nos tijolos contribuem para o isolamento térmico e acústico, tal característica reduz a necessidade do uso de aparelhos de refrigeração/aquecimento pelos usuários residência gerando economia de energia. Além disso, os furos proporcionam economia de materiais na confecção dos tijolos e servem para passagem de instalação elétrica, hidráulica e sanitária (Figura 2), evitando a quebra das paredes como acontece nas alvenarias convencionais, reduzindo o desperdício de materiais e geração de resíduos (COSTA et al., 2011). Figura 2: Instalações hidráulicas e sanitárias em alvenaria de tijolo solo-cimento. Fonte: Tijolos ecológicos trindade, 2016. 10 Dentre as vantagens do tijolo ecológico, pode-se destacar a utilização de matéria prima natural de baixo custo e alta disponibilidade no meio-ambiente, pois o solo é o material de maior quantidade na mistura. Além disso, por se tratar de um tijolo modular, produz uma menor quantidade de resíduos e entulhos se comparado com os tijolos cerâmicos, além da redução de materiais como tabuas, pregos e arames, já que a estrutura é encaixada, tendo pouco uso desses materiais, que são empregados apenas na execução de vergas e contra vergas (AMARAL; SCHINEIDES; OLIVEIRA, 2014). Por apresentarem características estéticas agradáveis (Figura 3), as edificações feitas com tijolo solo-cimento dispensam o reboco e acabamento, ficando sob preferência do proprietário realizar ou não estas etapas (ECO PRODUÇÃO, 2010). Figura 3: Residência construída com tijolo ecológico. Fonte: Tijolo inteligente,2018. 3.2 Comparação de custo As edificações populares construídas pelo Governo Federal através do programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foram os modelos utilizados como parâmetro para a confecção do projeto arquitetônico utilizado como base para confecção dos custos da alvenaria. O padrão construtivo e projeto arquitetônico do PMCMV varia conforme a faixa de renda do grupo a ser atendido. Buscando a redução de custos, observa-se que as edificações voltadas aos públicos da faixa 1, sendo essas residências populares, se 11 apresentam como unidades pequenas, geralmente construídas em alvenaria estrutural, proporcionando assim ambientes pequenos e pouca ou nenhuma flexibilidade para alteração da arquitetura dos ambientes. O padrão utilizado não apresenta conforto aos usuários, principalmente se for utilizado por famílias com mais de três membros, entretanto a discussão sobre o conforto e arquitetura do projeto não é objeto deste estudo e será ignorada, conforme proposto, a análise será acerca dos impactos ambientais, econômicos e viabilidade da utilização do tijolo ecológico para construção de residências populares. Para analisar a viabilidade econômica e fazer a comparação de custo, foi utilizado como base um projeto de uma residência popular padrão de 39,00 m² de área, tendo cinco cômodos, formado por dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro social, conforme projeto arquitetônico (Figura 4). Figura 4: Projeto arquitetônico utilizado para comparação de custos da alvenaria. Fonte: Elaborado pelo autor. As planilhas de custos dos materiais para a comparação entre a alvenaria de tijolos convencionais e de tijolo solo-cimento foram feitas considerando os métodos e processos construtivos convencionais, sendo feito o orçamento com base no Sistema 12 Nacional de Pesquisa de Custos e Índices (SINAPI), para os serviços que não encontram-se listados no SINAPI, foi criada uma composição própria, através dos valores apresentados no trabalho sobre Tijolo de solo-cimento: Análise das características físicas e viabilidade econômica de técnicas construtivas sustentáveis, elaborado por CHAGAS et al., 2014. As tabelas 2 e 3 foram elaboradas levando-se em consideração a construção de uma residência popular, onde optou-se por não realizar o reboco da alvenaria de tijolo solo-cimento, por esta apresentar características estéticas agradáveis, utilizou- se como acabamento a aplicação de duas demãos de verniz diretamente nos tijolos. Os custos se referem a construção da alvenaria com um pé direito de 2,90 m, totalizando 98,41 m² de alvenaria, as paredes apresentam quatro janelas de 1,00 m de largura por 1,20 de altura, uma janela basculante de 0,60 x 0,60 no banheiro, duas portas de 0,70m nos quartos, uma porta de 0,60 m no banheiro e duas portas de 0,80 m na cozinha e na sala, todas com 2,10 metros de altura. Os custos apresentados a seguir (Tabela 2), se refere a construção da edificação com a utilização do bloco cerâmico de 9 furos, com dimensão de 19x19x11,5cm e utilização de concreto para cinta de amarração, verga e contra verga, foi aplicado revestimento cerâmico em todo banheiro e na cozinha nas paredes que estão o fogão e a pia, na altura de 1,80m. Tabela 2: Custos para construção da alvenaria convencional em tijolo cerâmico. Código Serviço Unidade Quantidade Custo unitário (R$) Total (R$) 87521 Execução da alvenaria de vedação para vãos maiores que 6m². AF_06/2014 m² 98,41 56,49 5.559,18 93205 Cinta de amarração de alvenaria feita in loco. AF_03/2016 m 37,5 46,67 1.750,12 93186 Verga p/ janelasmoldada in loco vãos até 1,5m. AF_03/2016 m 9,2 40,60 373,52 13 93188 Verga moldada in loco p/ portas vãos até 1,5m. AF_03/2016 m 3,6 37,00 133,20 87904 Chapisco aplicado manualmente em alvenaria. Traço 1:3. AF_06/2014 m² 196,82 6,64 1.306,88 87775 Emboço em argamassa traço 1:3:8 para panos de fachada, aplicada manualmente espessura 25mm. AF_06/2014 m² 63,98 39,38 2.519,53 87545 Emboço para recebimento de cerâmica, traço 1:2:8, aplicado manualmente em faces internas, espessura 10mm. AF_06/2014 m² 22,06 19,07 420,68 87548 Massa única para recebimento de pintura, traço 1:2:8, aplicada manualmente em faces internas, espessura 10mm. AF_06/2014 m² 112,68 18,32 2.064,30 89170 Revestimento cerâmico para paredes internas, para edificações m² 22,06 50,70 1.118,44 14 Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados do SINAPI. Os custos apresentados a seguir (Tabela 3), se refere a construção da edificação com a utilização tijolo ecológico, com dimensão de 30x15x7,5cm e utilização de concreto para cinta de amarração, verga e contra verga. Optou-se por foi aplicar revestimento cerâmico em todo banheiro e na cozinha nas paredes que estão o fogão e a pia, na altura de 1,80m. Tabela 3: Custos para construção da alvenaria em tijolo solo-cimento. habitacionais unifamiliar. AF_11/2014 88483 Aplicação de selador Látex PVA para alvenaria, uma demão. AF_06/2014 m² 174,76 2,08 363,51 88489 Aplicação manual de pintura com tinta látex acrílica em parede, duas demãos. AF_06/2014. m² 174,76 10,26 1.793,04 CUSTO TOTAL (R$) 17.402,40 Código Serviço Unidade Quantidade Custo Unitário (R$) Total (R$) Composição criada Assentamento do tijolo ecológico com argamassa polimérica e rejunte. m² 98,41 86,34 8.497,72 Composição criada Grauteamento vertical em aço 8mm m³ 1,09 1.540,55 1.679,20 15 Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados do SINAPI. Através dos resultados acima, pode-se observar que a alvenaria construída com tijolo cerâmico apresentou custo total de 17.402,40 R$, já a construção feita com a utilização de tijolo solo-cimento totalizou 14.734,28 R$. Logo, percebe-se que houve uma redução de 15,33 % no custo da alvenaria com o emprego do tijolo ecológico, o que comprova sua viabilidade econômica. e amarrações entre as paredes Composição criada Grauteamento horizontal em aço 8mm para vergas e contra vergas. m³ 0,87 1.540,55 1.340,28 87545 Emboço para recebimento de cerâmica, traço 1:2:8, aplicado manualmente em faces internas, espessura 10mm. AF_06/2014 m² 22,06 19,07 420,68 89170 Revestimento cerâmico para paredes internas, para edificações habitacionais unifamiliar. AF_11/2014 m² 22,06 50,70 1.118,44 84677 Aplicação de verniz sintético brilhante em concreto ou tijolo, duas demãos. AF_03/2014 m² 174,76 9,6 1.677,96 CUSTO TOTAL (R$) 14.734,28 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos resultados obtidos, nota-se que o tijolo solo-cimento é uma alternativa viável para atender a demanda por residências populares de baixo custo e sustentáveis. Através do comparativo de custo analisado no trabalho, observou-se uma redução de 15,33% utilizando tijolo ecológico em comparação com a utilização de bloco cerâmico. Além da viabilidade econômica, a utilização do tijolo solo-cimento também resulta em redução dos impactos ambientais causados pela construção. Os benefícios ambientais do tijolo ecológico podem ser notados no processo de produção que tem como matéria prima o solo, que é uma matéria prima abundante, e não utiliza a queima no processo de cura, reduzindo a utilização de madeira e emissão de gases poluentes pelo setor da construção civil. Além da redução dos impactos ambientais em sua produção, durante seu uso na edificação, o tijolo ecológico contribui para redução do desperdício de materiais e geração de resíduos. As edificações construídas em solo-cimento apresentam boas características de isolamento térmico e acústico, contribuindo para o conforto do usuário e também com o meio ambiente, devido a redução da necessidade de aparelhos para refrigeração/aquecimento do ambiente se comparada com as residências convencionais. Apesar de pouco empregado no mercado nacional da construção civil, através dos resultados apresentados, nota-se que o tijolo ecológico é um material de potencial para obtenção de edificações baratas e sustentáveis, faltando estudos mais aprofundados em campo para uma análise mais minuciosa sobre a sua utilização do solo-cimento na construção de residências populares do PMCMV ou de outros programas governamentais voltados para redução do déficit habitacional. As autoridades e empreendedores precisam dar mais atenção e propor medidas que incentivem a utilização de materiais e processos alternativos para a construção civil, como o tijolo ecológico, que se apresentem como possíveis soluções para o déficit habitacional e redução dos impactos ambientais causados pelas edificações. 17 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NORMAS PARA SOLO CIMENTO. Disponível em <http://www.abnt.org.br>. Acessado em 13 de Fev de 2019 às 10:30. CAMPOS, Iberê M. 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