Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
10/08/2010 Adam Smith – A riqueza das Nações Aqui temos um dos clássicos liberais. É autor altamente atual – no pós-guerra fria, falava-se coisas muito iguais. As escolas econômicas são meio cíclicas, as teorias vão e voltam com forças diferentes. O liberalismo agora ficou um pouco estremecido com essa crise mundial, mas não há paradigma hoje em dia, mas as idéias não morrem, elas vão e voltam. Mas nos anos 90, houve um fortalecimento dessas idéias de 2 séculos atrás, como exemplificado pelo nosso governo da época, FHC. LIVRO I – Cap I. A Divisão do Trabalho (DT) 1. Relação entre produtividade e divisão do trabalho. Ex: Fábrica de Alfinetes 2. Efeitos da divisão do trabalho a. Maior destreza b. Eliminação do tempo de troca de tarefas c. Invenção de máquinas A idéia básica de Smith é que o comércio traz riqueza. O comércio é tanto doméstico quanto internacional e Smith analiza os dois. Numa sequencia de livros, concatena logicamente seu argumento de porque o comercio é a riqueza das nações. Ele identifica na Inglaterra de seus tempos o fenomeno da divisão do trabalho. Como o próprio nome diz, há a divisão de operações entre operários. O exemplo clássico é a fabricação de alfinetes, onde a produtividade aumenta de acordo com a especialização do trabalho, a divisão da produção em etapas. Num dia, eles conseguiriam produzir 4800 alfinetes, com a divisão de trabalho. Então o primeiro fenomeno que é responsavel pela riqueza é a divisão de trabalho, elevando a produtividade dentro das unidades. Os efeitos positivos dessa divisão do trabalho são que, quando a pessoa se especializa, vai dominar melhor aquela tarefa, vai faze-lo mais rápido pois sua destreza vai aumentar. Não precisa dominar as 15 técnicas de se fazer o alfinete, mas especializa-se em uma partezinha do processo produtivo – aumento de destreza proporcional à simplicidade da técnica. Mas também, se ele está reservado a uma tarefa ou duas no máximo, elimina o tempo de troca entre as duas tarefas – com isso, o tempo de readaptação também é economizado. Algo importante: para a revolução industrial em curso na época de Smith, as máquinas que dela fizeram parte, elas não surgiram na inglaterra de uma revolução científica, mas no seio das fábricas. Pessoas ligadas ao processo produtivo queriam melhorá-lo. Inglaterra estava muito atrás da escócia nessa época em termos de instituições de ensino, nao podia fazer sua revolução a não ser por um viés empírico, como o foi. Smith capta isso e fala que, quando um operário se especializa em uma tarefa, acaba por, para facilitar sua tarefa, inventar instrmentos que aumentem seu processo produtivo. O resultado então é aumento significativo da produtividade dada a estas 3 razões. Cap II. O Princípio que dá origem à divisão do trabalho 1. Propensão à troca a. O auto-interesse 2. Habilidade (Destreza) como consequencia da DT A divisão do trabalho não acontece só dentro da unidade produtiva. Em uma sociedade mais primitiva, podemos imaginar isso ocorrendo também pelo sistema de trocas. O marceneiro, o padeiro, etc, cada um fabrica algo que pode no mercado trocar por algo que precise. O mercado e a divisão de trabalho que ele tem acaba funcionando como instituição, um local onde cada um perseguindo seu próprio interesse acaba satisfazendo as necessidades materiais dos outros. A origem da DT então é a propensão a troca – voce sozinho não consegue satisfazer todas as suas necessidades materiais. Com o resultado de sua atividade laboral, o trabalhador troca seu produto por tudo aquilo que ele não produz. Se não houvesse a DT, a vida seria paupérrima – não haveria tanto conforto como no caso do mercado. Cada casaco, por exemplo, passa por diversos processos produtivos que não poderiam ser feitos por um operário comum. O mesmo acontece com garfos, facas, etc. O bem estar desse indivíduo na sociedade é então proporcional à DT nessa sociedade, ainda no plano doméstico. Produzir coletivamente gera mais riqueza do que a produção social. Mas como se viabiliza essa produção social? Pela troca, pelo mercado. O auto-interesse do indivíduo: ele produz algo e troca pelo o que necessita e nesse momento se constitui o mercado. Com as palavras mais simples, a divisao do trabalho vem da sua incapacidade de produzir tudo o que se necessita – uma necessidade social. Uma das coisas mais interessantes das ciencias sociais é que esse grande corpo social que se abastece mutuamente e que conjuntamente produz muito mais do que se cada um fosse sozinho é movido não pelo altruísmo, mas pelo auto-interesse. Ao trocar parte de seu excedente, o indivíduo não quer oferecer pão à pessoa que fabrica talheres, ele quer o talheres. Não quer abastecer o outro, mas a si mesmo. O auto-interesse então acaba gerando o bem maior. Estamos acostumados com a idéia de que o egoísmo é algo ruim. Nesse momento surge então a legitimação do egoísmo, idéia muito importante para o capitalismo. Por mais paradoxal que seja dentro de nosso conjunto de valores e princípios, isso vai dar certo, pois todos vão se abastecer de acordo com suas necessidades materiais. Isso é característica clássica do liberalismo. Nesse momento, informação interessante: a habilidade não é algo inrente. Se habilidade é importante para tarefa, alguns nascem melhor para determinada tarefa, mas não. A destreza se dá apenas pela especialização, que faz com que aquele individuo adquira habilidades especificas na fabricação de pão. A divisão do trabalho que desenvolve a destreza e não o contrário. LIVRO IV. Sistemas de economia política • Dinheir e riqueza são sinônimos o Mercantilismo • O dinheiro representa pequena parte da riqueza nacional -> Meio de troca • “O dinheiro corre atrás das mercadorias” • Uma guerra prolongada não pode ser custeada com entesouramento. Aqui começamos a entrar na parte internacional. Ele começa falando do comércio doméstico, onde conclui que mesmo o individuo de vida mais simples vive muito melhor do que se tentasse viver produzindo tudo o que necessita. Resultado é que todos vivem melhor porque trocam, fazem parte do esforço coletivo de produção onde todos tem seu papel no trabalho. Aqui está o primeiro argumento na defesa no comércio como insturmento de elevação do padrão de vida. No livro quatro começa a falar da parte internacional. Em termos de POLECO, é o que mais nos interessa. Já ouvimos falar de mercantilismo, segundo o qual seria mais rico quem acumulasse mais. Dentro dessa concepção smithiana de comércio, há um conflito entre mercantilismo e as idéias de smith. Se a riqueza é o acumulo de capitais, se exporta muito, mas há aversão à importação. Ao desistimular a importação, se está prejudicando uma via de comércio do país e o bem-estar está ligado ao comércio, não estando ligado à quantidade de metais preciosos, mas de bens materiais, que aumentam em quantidade quando há trocas entre nações. Assim, vai desenvolver teoria das vantagens absolutas. Dinheiro e riqueza não são sinônimos no caso – isso é muito importante em termos de inovação de pensamento. A riqueza seria produção – a capacidade de através de trocas conseguir outras mercadorias. Consegue-se aquilo que se precisa não simplesmente acumulando metais preciosos. Na verdade, ao colocar que “dinheiro corre atás da mercadoria”, quer dizer que não adianta ficar com protecionismo – tem que se produzir e comerciar, ato através do qual se consegue recursos que se necessita para comprar aquilo que se está precisando. O foco se desloca então do dinheiro para mercadoria. A riqueza está na capacidade produtiva que atrai dinheiro através do comércio – isso é visão produtiva da riqueza. Nesse sentido, dinheiro é apenas pequena parte da riqueza de um país. Smith tinha sua dosede realismo – ele tinha sua dose liberal mas sabia estar dando conselhos a soberanos. Sabia que um dos atrativos do mercantilismo era ter dinheiro para guerrear. Mas ele fala que o entesouramento (acumulação) não é capaz de sustentar uma guerra de folego. Pegar todo o dinheiro para sustentar guerra de longo prazo, não se conseguiria custeá-las. Inglaterra só conseguia sustentar guerra comerciando, financiando guerras com impostos cobrados sobre produtos. Então temos a inteligencia de sua argumetnação: não fala só para o burgues, uma classe, tem o realismo de argumentar também com o soberano. Até para isso o foco no comércio internacional é mais vantajoso que o mercantilismo. Cap II. Restrições a Importação. • Efeitos do pretecionismo na alocação de recursos o Vantagens naturais ou absolutas • A defesa do livre-comércio o Especialização e divisão internacional do trabalho • Casos em que se justifica a proteção: o Segurança o Isonomia tributária o Prejuízos advindos de liberalização abrupta. Aqui vamos ver mais detalhadamente sua proposta contra o mercantilismo. Nesse sistema, acontece que não se quer exportar ouro – comprar algo no exterior e pagar com ouro. Mas, ao mesmo tempo, necessito de uma mercadoria. Se eu não tenho, protejo a industria nascente, ela se fortalece, eu tenho o que necessito e daí não preciso importar, mantendo o ouro nos meus cofres. O que há de errado nisso? Para Smith, em cada país, em cada economia, há um emprego mais eficiente dos recursos. O exemplo de Ricardo é clássico: inglaterra produz tecidos e portugal vinho – inglaterra não tem temperatura para produzir vinho, precisaria gastar muito com estufas, etc; portugal não produz tecido tão barato como inglaterra. Mais vale então a transição entre as duas nações do que cada uma tentar produzir os dois, então devem alocar seus recursos naquilo em que produzem mais barato. O ingles teria que consumir um vinho muito mais caro que se comprasse o portugues, caso a inglaterra fechasse sua economia. A moral é que, fechando sua economia impedindo que se consuma produtos mais baratos no exterior, se está penalizando o consumidor doméstico. Mais vale produzir algo que produz bem e depois trocar pelo que não se produz bem. O resultado é o mesmo do nosso primeiro ponto de comércio: graças ao comércio internacional, indivíduos tanto de inglaterra quanto de portugal vao consumir mais barato e até mais. O dinheiro então teria maior poder de compra através do comércio internacional, aumentando novamente o bem-estar dos indivíduos. O corolário disso para o estado, em síntese, é que ele não deve interferir. A alocação de recursos deve ser parte da livre-iniciativa. O individuo sabe onde está a melhor aplicação de capital no mercado, de onde vai vir mais produtividade. Estado quando tenta se meter num raciocinio mercantilista no fundo está dirigindo a alocação de recursos para atividades menos produtivas. Em ultima instancia, num raciocinio louco, se ingalterra tentasse produzir tudo, recursos enormes teriam que ser desviados se gastos da pior forma possível, como no erguer de estufas para produzir vinho. Sem isso, a produtividade do capital será muito maior, de tal modo que com o excedente se possa trocar por aquilo que se abdicou de produzir pois não se produz bem, podendo procurar por economias que produzem mais barato que voce. O foco do bem-estar então é o indivíduo e não as nacÕes. A nação fica mais rica porque o somatório de indivíduos ficam mais ricos. Os agentes economicos através da troca melhoram seu bem-estar. Consumindo mais graças ao comércio, todos ficarão melhor. A nação fica melhor pois o individuo fica melhor – vamos retomar isso no Ulisses, a questao da unidade de análise do autor. Smith argumenta por final alguns casos em que se justifica o protecionismo. Ele nao é radical, advogando liberalismo em todos os casos. O primeiro desses é a segurança. O exemplo que ele dá é que inglaterra é uma ilha e precisa muito de sua marinha mercante para se abastecer e levar seus produtos, fazer comércio internacional, sendo ela estrategicamente muito importante para o país, não tendo como colocá-la nas mãos de outro país, podendo estrangular seu comércio a decisão errada de outrem. Então, a inglaterra precisa de marinha mercante nacional. Então, essa parte tem que ser protegida, a produção de navios, etc. Aqui então há brecha muito clara ao liberalismo. O segundo caso é simples: se eu cobro imposto sobre um produto doméstico, é de bom tom que eu cobre taxa equivalente sobre produto estrangeiro, para dar chances iguais a ambos. Não se deve distorcer o comércio de forma nenhuma. Já que se incide impostos sobre o produto nacional, deve haver tarifa de importação para colocar os dois em pé de igualdade – para que o bem estrangeiro não fique mais barato porque não tem imposto. Por último, imaginemos que Smith está certo em tudo. Um dos principais calcanhares de aquiles da implementação de políticas liberais é que, produtos estrangieros mais baratos tiram lugar de produtos domésticos, enfraquecendo industrias e gerando desemprego. Liberalização abrupta traz consequencia de desemprego no curto prazo em setores competitivos, onde não se tem a tal vantagem absoluta. Hoje, na epoca de aprofundamento da democracia isso é complicado – com sindicatos e sociedades patronais, etc. Mas já naquela época, Smith teve a sensibilidade de alertar para a imprudencia dessa manobra, que gera prejuízo social chamado deslocamento. Teoricamente vai levar algum tempo para a mao de obra que saiu do setor prejudicada ser alocada nos setores mais eficientes, entao no longo prazo, o resultado de uma liberalização é de perdedores e ganhadores. Os ultimos crescem e pelo menos teoricament contrarariam a mao de obra demitida dos setores mais ineficientes. Só que isso tem um tempo – não acontece de um dia para outro. Há um problema social aqui, que Smith capta de forma muito sensível e a divulga. Isso é importante até hoje – quando a sociedade mais evolui num sentido histórico, quanto mais a democracia se fortalece, há a economia política da liberalização que é complicada, por mais que se tenham governos favoráveis, há sempre as pessoas que vão perder e portanto se colocam politicamente contrários à liberalização. Resumindo, a idéia de Smith é que comércio traz bem-estar geral, tanto doméstico quanto internacionalmente. Então há crítica à política anterior do mercantilismo. Hoje há um neo- mercantilismo de políticas protecionistas – os termos desse debate sobrevivem até hoje. Proxima aula: teoria das vantagens comparativas, de Ricardo. Resumo feito por Ana Paula Pellegrino IRiscool/11
Compartilhar