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@jesmartinss Odontologia - UFSC Farmacocinética I A farmacocinética é o estudo do movimento do fármaco pelo organismo, o que envolve 4 eventos principais, sendo eles: Absorção, distribuição, metabolismo/biotransformação e eliminação/excreção. Absorção Absorção é o transporte do medicamento do local de administração, que irá depender da via de administração, as principais são: via oral, intravenosa, subcutânea e intramuscular... Até a corrente sanguínea. Fatores que afetam a absorção de fármacos 1) Membranas celulares 2) Ph no local de absorção/ionização do fármaco 3) Área de superfície 4) Forma farmacêutica 1) Como os fármacos podem atravessar as membranas celulares Lipossolúveis: Os fármacos que são lipossolúveis (solúveis em lipídeos) atravessam a membrana através de difusão pelos lipídios. Hidrossolúveis: Os fármacos que são hidrossolúveis (solúveis em água), irão atravessar a membrana através de difusão por canais aquosos. Fármacos: São moléculas grandes, por isso precisam utilizar transportadores. Os transportadores são proteínas que ficam na membrana celular e permitem que o fármaco passe do espaço extracelular para o intracelular. Os transportadores são saturáveis, então este processo é passível de competição, seja por fármacos diferentes sendo administrados ao mesmo tempo ou a competição dos fármacos com alimentos. Isto ocorre, pois, a quantidade de transportadores na membrana plasmática é limitada. 2) PH e ionização O pH e a ionização são fatores que interferem na absorção do fármaco. De forma geral, os fármacos são ácidos fracos ou bases fracas, presentes em solução sob forma ionizada ou não ionizada. Considerando a via de administração oral, o trato gastrointestinal tem diferentes pH (oral é básico, estomago ácido e o do intestino básico). Então os fármacos que são ácidos fracos, no meio ácido do estômago, se encontram na forma não ionizada, tendo então uma melhor absorção. Já os fármacos que são bases fracas, no ph do intestino irão se apresentar na forma menos ionizada facilitando absorção. 3) Área de superfície A área de superfície interfere na absorção do fármaco. O TGI (via oral) e os pulmões (via inalatória) oferecem extensa área para absorção de fármacos. @jesmartinss Odontologia - UFSC Principais vias de administração Via oral Vantagens • Maior segurança, comodidade, economia. • Esquemas terapêuticos fáceis de serem cumpridos pelo paciente. • Absorção favorecida pela grande superfície de vilosidades intestinais Desvantagens - Irritação da mucosa do TGI - Metabolismo de primeira passagem - Variação do grau de absorção - Alteração do pH do TGI - Flutuações na motilidade TGI - Alimentos no TGI Metabolismo de primeira passagem: É quando o fármaco administrado pela via oral, chega no estômago e intestino, mas antes de atingir a circulação sistêmica ele passa pelo fígado sofrendo metabolização hepática. Essa metabolização vai transformar parte do fármaco em um metabolito diferente do fármaco original antes dele chegar na circulação sistêmica. Ou seja, é a metabolização hepática de um fármaco antes da sua entrada na circulação sistêmica. Alguns Fármacos são inativados de maneira mais acentuada do que outros por conta disso. Então, quando um fármaco é administrado por via oral, sabendo do metabolismo de primeira passagem, é necessária uma dose maior do fármaco quando administrado por via oral, para descontar esse efeito de perda gerado pelo metabolismo de primeira passagem. Via sublingual Vantagens • Absorção rápida de substâncias lipossolúveis • Atinge diretamente a circulação sistêmica • Evita metabolismo de primeira passagem. Pois pela via sublingual o fármaco não vai passar pelo estômago, intestino e fígado. Ele vai direto para a circulação sistêmica. Desvantagens • Imprópria para substâncias irritantes ou de sabor desagradável Via intravenosa Na via intravenosa não há a absorção do fármaco, pois a absorção é a passagem do fármaco do local de administração para a circulação sistêmica. E nessa via o fármaco é administrado diretamente na circulação sistêmica, com isso a etapa de absorção é “pulada”, pois já vai ser diretamente distribuído. Vantagens • Obtenção rápida do efeito @jesmartinss Odontologia - UFSC • Atinge diretamente a circulação sistêmica • Evita metabolismo de primeira passagem Desvantagens • Superdosagem • Infecção por contaminantes (bacteriana, virótica, fúngica) • Reações anafiláticas Via intramuscular Vantagens • Absorção rápida • Adequada para volumes moderados, veículos aquosos, não aquosos e suspensões Desvantagens • Dor • Lesões cutâneas • Aparecimento de processos inflamatórios Influência da via de administração sobre a farmacocinética Intravenoso: No tempo 0 a concentração do fármaco esta alta, pois foi administrado diretamente na circulação sistêmica. Com o passar do tempo, a concentração do fármaco vai diminuindo, pois ele vai sendo distribuído, metabolizado e eliminado. Intramuscular: A concentração começa a aumentar, pois é preciso um tempo para o fármaco atravessar as células musculares e entrar na circulação sistêmica. Depois que o fármaco conseguiu ser absorvido ele será distribuído, metabolizado e eliminado. Diminuindo sua concentração. Subcutâneo: O fármaco demora mais tempo para ser absorvido do que os intramusculares, pois leva mais tempo para atravessar a gordura subcutânea. Mas à medida que o fármaco é absorvido, sua concentração no sangue e depois ele será distribuído, metabolizado e eliminado. Diminuindo a sua concentração. @jesmartinss Odontologia - UFSC Oral: É a via mais lenta. O fármaco será administrado e precisará passar pela cavidade oral, esôfago, passar pelo estômago, ser digerido e então começará a ser absorvido. Se for um ácido fraco será absorvido no estômago, mas se for uma base fraca será no intestino. Como isso leva mais tempo, a concentração da droga no sangue demora mais tempo para aumentar e irá diminuir com o tempo. Pois o fármaco será distribuído, metabolizado e eliminado. Biodisponibilidade Fração do fármaco administrado que alcança a circulação sistêmica na forma química inalterada. Intravenosa: O fármaco administrado pela via intravenosa, tem a concentração alta assim que é administrado, pois está sendo colocado diretamente na circulação sistêmica e não precisa ser absorvido. E à medida que o tempo vai passando, a sua concentração no sangue vai diminuindo, pois ele vai sendo distribuído, metabolizado e eliminado. Oral: O fármaco administrado pela via oral no tempo inicial tem uma concentração baixa, pois ele precisa ser absorvido pelas células do estômago ou intestino até chegar na circulação sistêmica, então é mais lento. Um detalhe importante desta via é o efeito de primeira passagem, onde parte do fármaco será metabolizado, não chegando na sua forma original ao plasma. Intravenosa x Oral: É possível dizer que o fármaco administrado por via intravenosa tem uma maior biodisponibilidade do que o administrado por via oral. Isto é medido através dos gráficos, medindo a área sobre a curva (ASC) intravenosa e ASC oral, onde a ASC intravenosa é maior. Isto ocorre pois na intravenosa o fármaco é colocado diretamente na circulação sistêmica, onde 100% do fármaco estará na sua forma química inalterada na circulação sistêmica ao contrário do administrado pela via oral. Pois o da via oral sofre metabolismo de primeira passagem, havendo uma quantidade menor de fármaco na sua forma química inalterada na circulação sistêmica. Farmacocinética II @jesmartinss Odontologia - UFSC Distribuição Fatores que afetam a distribuição de fármacos - Características físico-químicas do fármaco (hidrossolúvel ou hiposoluvel) - 1) Fluxo sanguíneo - 2) Permeabilidade capilar - 3) Ligação a proteínas plasmáticas1) Fluxo sanguíneo O fluxo sanguíneo interfere na distribuição de fármacos. Órgãos como cérebro, coração e rins possuem um alto fluxo sanguíneo. Então o fármaco se distribui rapidamente para estes órgãos ou tecidos. Já a pele, músculo esquelético e tecido adiposo possuem um baixo fluxo sanguíneo. Então o fármaco se distribui lentamente para estes órgãos ou tecidos. 2) Permeabilidade Capilar A permeabilidade capilar interfere na distribuição de fármacos. No fígado, as células endoteliais, tem fendas que permitem a ampla passagem do fármaco entre o sangue e o interstício hepático. Pois tem bastante espaço entre uma célula e outra. Já no caso de um capilar cerebral, as células endoteliais são justapostas, sua junção é bem estreitada, tornando difícil a passagem dos fármacos. Isto é conhecido como barreira hematocefalica. No caso de um fármaco ionizado, ele não consegue atravessar o capilar cerebral. Para atravessar a barreira hematocefalica o fármaco tem que ser lipossolúvel para se difundir pela bicamada lipídica ou ter a passagem mediada por transportador. Um exemplo é a morfina, que é lipossolúvel e atravessa a BHE e a Levodopa que utiliza transportadores. 3) Ligação a proteínas plasmáticas A ligação a proteínas plasmáticas interfere na distribuição de fármacos. Fármacos ácidos: Possuem preferência por se ligar a albumina. Fármacos básicos: Tem preferência por se ligar na Alfa-1-glicoproteína-ácida. Um fármaco com baixa ligação a proteína plasmática terá um efeito rápido, mas de baixa duração. Pois ao mesmo tempo em que ele exerce um efeito rápido, ele será rapidamente biotransformado e eliminado. Um fármaco com alta ligação com proteína plasmática só terá efeito em sua forma livre. Este tipo de fármaco irá demorar mais tempo para exercer efeito, mas o efeito será mais prolongado. Pois ele será biotransformado e eliminado na sua forma livre mais lentamente. Volume de distribuição (Vd) O volume de distribuição é a relação entre a quantidade de fármaco no organismo e a sua concentração no sangue ou plasma. @jesmartinss Odontologia - UFSC Vd baixo: Implica que a droga está contida no espaço vascular. E esse tipo de fármaco, com volume de distribuição baixa, vai exercer o efeito rapidamente e será metabolizado rapidamente. Vd alto: Implica que a droga está amplamente distribuída nos tecidos. E esse tipo de fármaco, com volume de distribuição alta, vai demorar mais tempo para ter efeito, pois ele precisa sair do tecido e ir para a circulação sistêmica exercer o seu efeito. Mas ele será metabolizado de forma mais lenta. Metabolismo/Biotransformação O metabolismo/biotransformação são reações químicas que alteram os fármacos no organismo. Sendo o fígado o principal órgão envolvido neste metabolismo. Capacidade de biotransformação elevada: Fígado Capacidade de biotransformação moderada: Pulmão, rins, intestino e pele. Capacidade de biotransformação baixa: Testículos e adrenal. As microbiotas/bactérias que habitam o trato gastrointestinal também podem metabolizar/biotransformar os fármacos. Pode alterar os fármacos de 4 maneiras importantes 1) Fármaco ativo pode ser convertido em fármaco inativo 2) Fármaco ativo pode ser convertido em um metabólito ativo ou tóxico. Ex.: Paracetamol é convertido em um metabólito hepatotoxico. 3) Pró-fármaco inativo pode ser convertido em fármaco ativo. Ex.: Prednisona é convertida em predinisolona através do metabolismo hepático. 4) Fármaco não excretavel pode ser convertido em metabólito passível de excreção. Ex.: Fenitoína. Fases do metabolismo do fármaco O metabolismo possui duas fases principais, conhecidas como Fase 1 e Fase 2. Possuem o objetivo de tornar o fármaco mais hidrossolúvel para a eliminação renal na forma de urina. Fase 1: Há a adição de grupos funcionais reativos como a hidroxila, carboxila, sulfidrilas (-OH, -COOH, -SH, -O-, NH2). Influencias O metabolismo/biotransformação sofre influência de: • Interações medicamentosas • Dieta e fatores ambientais (ex.: Cigarro) • Doenças concomitantes (ex.: Insuficiência hepática ou renal) • Idade • Gênero • Genética @jesmartinss Odontologia - UFSC Eliminação Os rins são os principais órgãos responsáveis pela eliminação de fármacos, mas há outros. Fluxo plasmático renal 20% é filtrado pelo glomérulo (filtração glomerular). Os fármacos ligados a proteínas plasmáticas não são filtrados, pois as proteínas são muito grandes para passar pelo glomérulo renal. Se o fármaco não está hidrossolúvel o suficiente ele será reabsorvido. 80% não é filtrado, os fármacos são transferidos para a luz do túbulo, através de transportadores. Este processo é conhecido como secreção tubular. E daí vai para urina para ser eliminado. Eliminação renal Filtração glomerular: Passagem de água e da maioria dos solutos do plasma para a cápsula glomerular. Aqui, fármacos ligados a proteínas plasmáticas não são filtrados. Reabsorção tubular: Reabsorção da maior parte da água e dos solutos úteis. Aqui, fármacos lipossolúveis sofrem reabsorção, pois eles precisam estar em uma forma bastante hidrossolúvel para ser eliminado na forma de urina. Secreção tubular: Secreção de substâncias no filtrado que passa pelos túbulos renais (ex: fármacos). A maior parte dos fármacos sofrem secreção tubular, que dependem de transportadores para colocar o fármaco do plasma para a urina. Outras formas de eliminação Os fármacos podem ser eliminados também pelas fezes, aleitamento materno, saliva e suor. Meia vida T1/2 É o tempo necessário para que metade do fármaco seja eliminado do organismo. Indica duração do efeito do fármaco em um indivíduo. Tem o objetivo de determinar o intervalo entre doses (posologia). A meia vida de um fármaco não depende da quantidade da dose administrada. Resumo da farmacocinética Farmacocinética: são os processos que o organismo exerce sobre o fármaco. Absorção: Sofre influência de fatores importantes como as membranas biológicas, pH/pKa, área de superfície e forma farmacêutica. Distribuição: Depois de absorvido, o fármaco será distribuído e ele pode viajar sozinho ou ligado a proteínas plasmáticas. Metabolismo/Biotransformação: Será metabolizado principalmente pelo fígado, que faz a conversão química em uma molécula ativa ou inativa ou a transformação dos fármacos, tornando passível de excreção. @jesmartinss Odontologia - UFSC Eliminação: Será excretado principalmente pelos rins, mas a excreção também ocorre através das fezes, pulmão, suor, saliva ou leite materno.
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