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Brasília-DF. Farmacologia aplicada à Estética E cosmEtologia Elaboração Érika Fuscaldi Gomes Gonçalves Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9 UNIDADE I INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA ....................................................................... 11 CAPÍTULO 1 FARMACOLOGIA GERAL: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E FARMACOCINÉTICA ......................... 11 CAPÍTULO 2 FARMACODINÂMICA ............................................................................................................. 15 CAPÍTULO 3 MEDIADORES INFLAMATÓRIOS ............................................................................................... 17 UNIDADE II CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS ..................................................... 20 CAPÍTULO 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM COSMETOLOGIA .................................................................. 20 CAPÍTULO 2 IMUNOLOGIA CUTÂNEA E COSMETOTOXICIDADE: VISÃO GERAL ............................................. 30 CAPÍTULO 3 INGREDIENTES COSMÉTICOS NATURAIS ................................................................................... 42 UNIDADE III COSMETOLOGIA APLICADA NA ACNE, COSMÉTICA MASCULINA E HIPERCROMIA CUTÂNEA .................... 55 CAPÍTULO 1 ACNE: CUIDADOS COSMÉTICOS ............................................................................................ 56 CAPÍTULO 2 COSMÉTICA MASCULINA ........................................................................................................ 64 CAPÍTULO 3 HIPERCROMIA CUTÂNEA IDIOPÁTICA DA REGIÃO ORBITAL ...................................................... 68 UNIDADE IV COSMETOLOGIA APLICADA NA ESTRIA, FIBROEDEMAGELOIDE (CELULITE), GORDURAS LOCALIZADAS.... 71 CAPÍTULO 1 ESTRIAS, CELULITES E GORDURAS LOCALIZADAS ...................................................................... 71 UNIDADE V COSMETOLOGIA APLICADA NA COSMÉTICA ANTI-AGING, ATUAÇÃO DE COSMÉTICOS DESPIGMENTANTES E INTRODUÇÃO AOS PEELING ........................................................................................ 78 CAPÍTULO 1 INGREDIENTES DOS COSMÉTICOS COM AÇÃO DESPIGMENTANTES ........................................ 78 CAPÍTULO 2 INTRODUÇÃO AOS PEELINGS ................................................................................................. 83 CAPÍTULO 3 COSMÉTICA ANTI-AGING E NEUROCOSMÉTICA ...................................................................... 89 UNIDADE VI COSMETOLOGIA E SEUS CUIDADOS..................................................................................................... 96 CAPÍTULO 1 CUIDADOS E COSMÉTICOS INICIAIS PARA A QUEDA CAPILAR.................................................. 96 CAPÍTULO 2 COSMÉTICOS PARA GRUPOS DE RISCO ................................................................................ 100 UNIDADE VII HIDRATAÇÃO CORPORAL, MANEJO DE COSMÉTICO COM AS CICATRIZES, NUTRICOSMÉTICA E NUTRACÊUTICOS ............................................................................................................................ 102 CAPÍTULO 1 HIDRATAÇÃO CORPORAL E PRODUTOS ANTIPOLUIÇÃO ......................................................... 102 CAPÍTULO 2 MANEJO DE COSMÉTICO EM CICATRIZES ............................................................................. 106 CAPÍTULO 3 NUTRICOSMÉTICA E NUTRACÊUTICOS ................................................................................... 111 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 115 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 116 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução A Farmacologia é uma ciência biomédica que estuda o comportamento de moléculas ativas para diagnosticar e tratar doenças com o objetivo de curar. A Cosmetologia é uma ciência farmacêutica que estuda como desenvolver produtos que possam vir desde a limpeza da pele até a sua restauração devido a alguma afecção. Atua também na parte da higiene como apenas retirar odores. Este material tem como objetivo trazer direcionamento e conhecimento dessa área da farmacologia aplicada à cosmetologia. São totalmente opostas, mas se comunicam de maneira efetiva para corrigir várias afecções estéticas. Na estética temos sempre que fundamentar a aplicação da farmacologia na cosmetologia, para que possamos ter segurança ao utilizar composições de maneira eficaz e sem nenhum prejuízo ao paciente. Para saber esse manejo precisamos sempre estudar muito ese embasar em artigos científicos e verificar a indicação do produto no rótulo. E como prioridade realizar sempre uma avaliação minuciosa do paciente pra que a nossa conduta seja correta. Nesse estudo que realizaremos, vamos dar o foco a aprender a parte teórica necessária para que possamos atuar identificar a afecção e atuar corretamente os cosméticos. Para isso é importante entender sobre os aspectos gerais da farmacologia e cosmetologia. Como estamos nos propondo a um curso EAD, cabe a nós neste aprimoramento ter bastante dedicação, empenhar-se no estudo no portal, no uso da tutoria (pois estamos aqui para ajudá-los, orientá-los e tirar dúvidas). E também sempre realizar buscas externas ao portal, pesquisando e lendo artigos científicos para ter sucesso nesse módulo e na vida profissional. Tendo em vista que nem sempre a disciplina da Farmacologia é ofertada nos cursos superiores da área da saúde com profundidade, recomenda-se ao estudante que consulte as literaturas referenciadas no fim do Caderno de Estudos para complementar os conceitos e visualizar mais exemplos práticos. Bons estudos! Objetivos » Elaborar um prontuário minucioso para identificar a afecção de pele para saber qual a conduta a se ter enquanto profissional. 10 » Aprender sobre os fármacos atuantes na estética. » Saber das suas incompatibilidades. » Saber como prescrever os cosméticos. » Ter uma noção da Farmacologia em geral na estética. 11 UNIDADE I INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA CAPÍTULO 1 Farmacologia geral: conceitos fundamentais e farmacocinética Fundamentação da farmacologia É a ciência que estuda todos os mecanismos de ação de substâncias que servem para serem utilizadas para se diagnosticar e curar doenças. Um fármaco é um agente químico que tem por objetivo conceder o efeito terapêutico. Os fármacos, em suas variadas formulações, recebem o nome de medicamento. A expressão “tratamento cosmético” é erroneamente utilizada entre profissionais do ramo, considerando que apenas os fármacos, nas formulações de medicamentos, são agentes de tratamento de doenças. O termo remédio, como citamos por algumas vezes como medicamento, na realidade de qualquer recurso que tenha efeito terapêutico para o paciente, podendo ser uma terapia manual ou um simples banho para relaxar. E no caso do medicamento terá a eficácia sobre a afecção de acordo com o componente mais indicado na situação para o seu tratamento. Existem diversas formas de como o medicamento é apresentado ao paciente: » Nas formas farmacêuticas sólidas são encontradas em formato de cápsulas e comprimidos. » Nas formas farmacêuticas líquidas temos os xaropes, suspensões e soluções. » Nas formas farmacêuticas semissólidas podemos ter o gel, creme, loção e pomada. 12 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA Cosméticos podem ser considerados remédios? Os cosméticos não são considerados remédios devido a sua finalidade não terapêutica. Farmacocinética A Farmacocinética é a parte da farmacologia que estuda o comportamento do organismo em relação ao fármaco, analisando o que o organismo faz com o fármaco e como ocorre seu processamento nos critérios de absorção, metabolização, distribuição, eliminação e biodisponibilidade. Figura 1. Etapas da farmacocinética. METABOLISMO Fígado DISTRIBUIÇÃO Transportadores ABSORÇÃO EXCREÇÃO Fonte: <https://www.eupati.eu/es/glossary/farmacocinetica/>. » Absorção: se dá pela passagem da substância ativa do local onde ocorreu a administração da substância até a corrente sanguínea sem ocorrer a desintegração. Pode-se dizer que existe absorção de cosméticos, considerando que levam substâncias com comportamento de fármacos, mas não são medicamentos? 13 INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA │ UNIDADE I Os cosméticos não possuem ação terapêutica por não ser absorvido pela pele. Outro aspecto importante é que as moléculas ativas geralmente são muito grandes para passar pela pele. » Metabolização: a hidrossolubilidade se dá pelo conjunto de reações químicas que tornam a molécula ativa ou com a facilidade de absorção. Sobre os cosméticos de uso interno é importante estudar alguns aspectos sobre o metabolismo hepático. » O fígado possui uma rede de processamento de substâncias que chegam até ele via circulação, feito pelo sistema de enzimas do tipo mono- oxigenases, do citocromo P450. » Essas enzimas podem sofrer aumento da atividade através do aumento do número de Enzimas (indução). Este efeito pode ou não causar toxicidade, isso vai depender da substância que está sendo processada. » O fígado também é responsável pelo efeito de primeira passagem. Portanto, alguns fármacos sofrem metabolização tão extensa que a quantidade que chega à corrente sanguínea acaba sendo muito menor que a quantidade administrada e absorvida. O efeito de primeira passagem é um evento positivo ou negativo? Em que situações é positivo ou negativo? » Eliminação: é a saída dos fármacos do organismo que é analisado por termos de Clearance, que é o volume de plasma sanguíneo livre do fármaco por unidade de tempo. » Distribuição: é a passagem da substância ativa da corrente sanguínea para os tecidos que são os locais de ação dos fármacos relacionadas à doença. » Biodisponibilidade: é a estimativa da velocidade e tempo gasto para uma molécula chegar à corrente sanguínea, bem como qual a quantidade disponível. A administração de fármacos tem que ser realizada com muita atenção A prescrição correta é fundamental para não ocorrer danos devido a sua atuação. Alguns fármacos tem 14 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA a capacidade de se acumular no tecido adiposo, nos ossos, dentes, olhos, atravessarem a barreira hematoencefálica e a barreira placentária. Fatores que influenciam no sucesso terapêutico » forma farmacêutica administrada; » via de administração (oral, tópica, injetável – intramuscular, intravenosa, entre outras); » forma de movimento do fármaco no organismo. A movimentação do fármaco no organismo está relacionada ao modo como a molécula ativa que entra na célula. Os três movimentos principais 1. Difusão simples: passagem direta pela membrana, sem gasto de energia na forma de ATP, comum para moléculas lipossolúveis. 2. Difusão facilitada: por canais iônicos que são canais formados por proteínas carreadoras que levam a molécula de fora para dentro da célula, sem gasto de energia. 3. Transporte ativo: ocorre por meio de canais proteicos e com gasto de energia. 15 CAPÍTULO 2 Farmacodinâmica A Farmacodinâmica é a parte da Farmacologia que estuda o mecanismo de ação do fármaco e quais modificações geradas no organismo. Os fármacos agem no organismo através de interações com elementos que chamamos de alvos. Alvo é um local específico onde o fármaco vai ter a atuação em nível molecular. Os principais alvos são: » As enzimas podem ser inibidas ou ter sua atividade aumentada. » As moléculas transportadoras podem ser bloqueadas ou ter sua atividade aumentada. » Os canais iônicos podem ser abertos ou fechados. » Os receptores específicos, estes são os locais de ligação de substâncias endógenas onde fármacos com estrutura química semelhante às substâncias endógenas se ligam. » Agonista: na ação nos receptores, pode ocorrer ligação do fármaco para simular o efeito de uma substância endógena. O intuito é de aumentar o efeito fisiológico causado ativando o receptor e cascatas de sinalização dentro da célula. Exemplo: o corpo libera naturalmente adrenalina na corrente sanguínea, que se liga a seus receptores específicos em determinados órgãos. Existem moléculas para o tratamento da asma, por exemplo, que possuem estrutura semelhante à da adrenalina, para ligar-se aos mesmos receptores apenas nas vias aéreas e ativá-los, causando dilatação para maior passagem de ar. » Sinergismo: entre fármacos acontece quando duas ou mais moléculas, quandoassociadas na administração, potencializam um único efeito, por mecanismos semelhantes ou diferentes. Exemplos em cosmetologia: controladores de oleosidade e adstringentes, quando associados, favorecem a eliminação de comedões, no tratamento da acne. » Antagonistas: são os fármacos que se ligam a um receptor para bloquear a ação das substâncias endógenas. 16 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA Exemplo: existem moléculas semelhantes à adrenalina que se ligam aos receptores para adrenalina no coração, visando reduzir a frequência cardíaca e a força de contração, no intuito de controlar a pressão arterial sem a ligação de adrenalina. O coração não recebe estímulo para fazer mais força e contrações do que o necessário, o que colabora para o abaixamento da pressão arterial. » Natureza da atividade farmacológica: são as diferenças existentes para receptores de ação reguladora sobre funções fisiológicas. As classificações são: » Antagonismo competitivo: quando duas substâncias disputam a ligação pelo mesmo alvo vencendo a que tiver o melhor perfil químico para se ligar a este alvo. » Antagonismo químico: ocorre alteração da estrutura química de um fármaco causando a perda da função original. » Antagonismo fisiológico: ocorre alteração da função de um fármaco por outro sem ocorrer a alteração da estrutura química. » Antagonismo farmacocinético: ocorre alteração dos parâmetros farmacocinéticos (absorção, metabolismo, distribuição, excreção) de um fármaco por outro. Como prevenir erros de prescrição conhecendo a natureza da atividade farmacológica das substâncias? Não devem ser associadas na mesma formulação nem administradas simultaneamente caso duas ou mais substâncias apresentarem qualquer tipo de antagonismo. Quando um fármaco é administrado de maneira contínua ou repetida (não necessariamente por erros de medicação), existe o risco de desenvolvimento de taquifilaxia, que é a perda do efeito do fármaco por alterações causadas ou mesmo perda dos alvos no organismo. Diferentemente desta condição, enquadra-se o conceito de adaptação fisiológica, que é a redução do efeito de um fármaco por respostas do organismo que tendem à condição de homeostase, o que gera tolerância ao fármaco. 17 CAPÍTULO 3 Mediadores inflamatórios Figura 2. Processo inflamatório. PATÓGENO SINAIS QUÍMICOS O TECIDO LESADO LIBERA SINAIS QUÍMICOS (HISTAMINA, PROSTAGLANDINA). VASOS SANGUÍNEOS OCORRE VASODILATAÇÃO, AUMENTO DA PERMEABILIDADE DO VASO E DIAPEDESE. OS FAGÓCITOS CONSOMEM OS PATÓGENOS E OS RESTOS DE CÉLULAS MORTAS. O TECIDO SE RECUPERA. FAGÓCITOS Fonte: <https://www.educabras.com/ensino_medio/materia/biologia/anatomia_e_fisiologia_2/aulas/alergias>. O processo inflamatório é uma resposta do organismo que se inicia nos vasos sanguíneos em direção aos tecidos quando há lesão por qualquer agente etiológico. A inflamação tem como função proteger o organismo por meio de mecanismos para destruição e eliminação do agente etiológico e reparar a área afetada. Existem diversos tipos e intensidades de inflamação, variando o agente e a área afetada. Quando são exagerados, os processos inflamatórios causam doenças como processos dolorosos, alergias, autoimunidades e destruição tecidual. O controle da inflamação atualmente é feito principalmente com anti-inflamatórios não esteroidais e corticoterapia. 18 UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA Não existe uma sequência exata estrita para os eventos da inflamação, pois as etapas podem ocorrer simultaneamente. Porém três fases principais podem ser identificadas: 1. Fase aguda de fenômenos vasculares: ocorre vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade vascular, com extravasamento de proteínas e outras biomoléculas. 2. Fase tardia: ocorre infiltração de células do sistema imune como neutrófilos e outros fagócitos por diapedese e migração dessas células para o local da inflamação, para captura e destruição do agente causador da inflamação. 3. Fase de degeneração tecidual com fibrose: conhecer as substâncias que envolvem a inflamação, porque dará conhecimento de como ocorrem os processos inflamatórios, para assim planejar os cuidados cosméticos para a diversidade de afecções de pele como a acne e as cicatrizes. Os mediadores da inflamação são os responsáveis pelo caráter considerado uniforme dos processos inflamatórios, não importando se o agente etiológico é uma bactéria, um corpo estranho ou radiação. Como podem existir diferentes tipos de inflamação se o processo é uniforme, considerando que os mediadores envolvidos são geralmente os mesmos? A depender da doença (ex.: alergias, neoplasias malignas, psoríase), apesar dos mediadores serem quimicamente semelhantes, as associações fisiologicamente programadas variam inclusive na quantidade. Principais mediadores dos processos inflamatórios » Histamina: encontrada pré-formada na maioria dos tecidos corporais. Tem sua ação condicionada aos receptores onde se liga. » Receptores H1 (várias regiões corporais): contração da musculatura lisa, brônquios, bronquíolos; edema, eritema, prurido, aumento da secreção de muco e da permeabilidade de capilares; indução de vômito. » Receptores H2 (estômago): estimula a secreção de suco gástrico. » TXA2 (Tromboxano A2): faz vasoconstrição e estimula a agregação plaquetária. 19 INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA E À COSMETOLOGIA │ UNIDADE I » Fator de Agregação Plaquetária (PAF): estimula a agregação plaquetária, é vasodilatador, aumenta a permeabilidade vascular e tem ação quimiotática (atração) de células imunológicas para o local da inflamação. » Bradicinina: ação vasodiltadora, aumenta a permeabilidade vascular, estimula a contração do intestino. Em que situações, ao se tratar de inflamação, é importante que haja contração do intestino? Em casos em que há parasitoses intestinais envolvidas, a contração do intestino é importante para a eliminação do parasita nas fezes. Prostaglandinas » PGE2: reduz o limiar da nocicepção, tem ação sinérgica com substâncias que causam dor por estimulação das terminações nervosas, causa febre e broncoconstrição. » PGI2: tem ação vasodilatadora e anti-agregação plaquetária. Leucotrienos » LTB4 (Leucotrieno B4): promove adesão, ativação e proliferação de células imunológicas. » LTC4 (Leucotrieno C4): broncoconstritor. » LTD4 (Leucotrieno D4): vasodilatador. » LTE4 (Leucotrieno E4): vasoconstritor. Como o organismo organiza o processo inflamatório considerando que alguns mediadores possuem ações antagônicas? A organização é regida pela programação do sistema imune. Quando há falhas no controle da imunidade, podem ocorrer doenças como as autoimunidades. 20 UNIDADE II CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS CAPÍTULO 1 Conceitos fundamentais em cosmetologia » Cosméticos: formulações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas para uso externo (cabelo, pele, unhas, lábios, dentes e mucosa da cavidade oral) com finalidade exclusiva de limpar, alterar a aparência, perfumar e/ou corrigir odores corporais com o objetivo de proteger a pele ou mantê-la em estado de homeostase. » Cosmecêuticos: termo não reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nem pelos órgãos regulatórios de produtos cosméticos e farmacêuticos internacionais. Indica cosméticos cujas fórmulas possuem propriedades terapêuticas associadas, sendo usados nos “tratamentos cosméticos”. São produtos para acne, caspa, esmalte para micoses e outros. » Grau de risco I: produtos isentos de registro do Ministério da Saúde, oferecendo riscos mínimos ao usuário. Ex.: shampoos/condicionadores comuns, hidratantes etc. » Grau de risco II: produtos que devem ter segurança e eficácia comprovadas, além do registro no Ministério da Saúde. Ex.: produtos para acne, despigmentantes, anticaspa, para micoses, para área dos olhos, filtros solares, para uso nas mucosas comoas soluções para bochechos e os produtos de uso infantil. » Cosméticos naturais: estendem seus efeitos para todo o organismo. As fases oleosas são feitas com ceras e esqualeno naturais, além da lanolina e ésteres, fosfolipídios derivados biológicos. Não são usados produtos 21 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II sintéticos nem conservantes sintéticos. Os ativos são todos naturais. Ex.: Blend, que é mistura de óleos naturais. » Produtos orgânicos: produtos com certificação diferencial conferida por órgão competente (como o EcoCERT), cuja formulação não leva itens sintéticos como silicones, fragrâncias, polietileno glicol (PEG), corantes, derivados do petróleo nem produtos de origem animal. Todos os componentes da fórmula são exclusivamente naturais e seguem rígidos padrões de produção sem agrotóxicos, processamento em indústrias de padrão trabalhista outro, sendo, portanto, certificados. Não são feitos testes em animais. No mínimo 95% dos produtos envolvidos e a empresa devem ser certificados. Os produtos são livres de metais pesados, toxinas e OGM (organismos geneticamente modificados – os transgênicos). Figura 3. Produtos de manipulação e/ou cosmetologia. Fonte: <https://ibeco.com.br/categoria-produto/cursos/>. Cosméticos tradicionais podem ter ingredientes naturais. Vias de penetração da pele e de hidratação É fundamental diferenciar: » Óstio: local de saída da secreção gerada pela glândula sebácea e dos pelos. » Poro: local de saída de glândula sudorípara. São vias de penetração dos princípios ativos na pele: » Transdérmica: substâncias de baixo peso molecular, caráter anfótero que são hidrossolúveis e lipossolúveis que passam pela pele e caem na corrente sanguínea. Uso exclusivo de medicamentos. 22 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS » Transfolicular: passam entre o folículo piloso e a papila dérmica. Área com pouco pelo especialmente em idosos, tem hidratação mais difícil por deficiência neste mecanismo, já que o folículo fica obstruído. » Transcelular: por difusão, os ativos passam de uma célula para a outra. Ocorre principalmente com ativos lipofílicos. O pH alcalino aumenta emoliência da pele por clivagem da queratina da camada córnea. Por isso, o caráter alcalino tem maior permeabilidade da pele que é um fator de risco para uso dos produtos. A importância da hidratação A redução da espessura da pele e do tecido subcutâneo, por ação química e/ou ambiental, são os principais mecanismos de desidratação, além da nutrição inadequada. A perda de água transepidermal, entendida como a evaporação da água dos tecidos mais profundos até a epiderme, ocorre naturalmente na pele, até mesmo para regulação de temperatura corporal. É importante que qualquer produto cosmético possa proporcionar hidratação, para garantir a integridade do tecido e para que o ativo exerça sua função corretamente. São vias de restauração da hidratação da pele por cosméticos: » Oclusão: é quando os poros estão obstruídos, contudo, a água da pele não consegue evaporar. » Umectação: são usados ativos higroscópicos com o objetivo de reduzir a volatização da água da superfície da pele. » Restauração: realizada por meio de elementos originais da pele como as proteínas, os colágeno, os carboidratos e os lipídeos que são inseridos nas fórmulas. Formas de apresentação dos cosméticos (variações de veículos) » Cremes: são emulsões óleo/água ou água/óleo de boa consistência (maior viscosidade). » Loções: microemulsões de baixa ou média viscosidade. » Géis: redes poliméricas hidratáveis (natrosol, carbopol, aristoflex, pemulen, sepigel etc.) de boa consistência em geral. São os veículos mais escolhidos para peles oleosas. 23 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II » Leites: microemulsões de pouca viscosidade para limpeza de pele. » Tônicos: soluções vasodilatadoras, refrescantes, rubefacientes e cicatrizantes. São próprias para recuperar a nutrição, pH e tônus da pele (izotonizantes). Finalizam a etapa de limpeza. » Sticks: preparações sólidas de ácidos graxos e álcool etílico solidificados por estearato de sódio. Podem ser hidratantes e despigmentantes. » Óleos: preparações de origem vegetal/animal, líquidos à temperatura ambiente. » Sabonetes: líquidos, glicerinados, barra (tradicionais), shower gel, esfoliantes e antissépticos (íntimos). » Shampoos: De pH alcalino, podem ser: hidratantes, anticaspa, antirresíduos, infantis e antiqueda. Conceitos de química » pH: índice de acidez tolerado por áreas corporais ou substâncias ativas. Varia de 0 a 14, sendo que até 7 o pH é ácido, em 7 é neutro e de 7 a 14 é alcalino ou básico. O pH das diferentes áreas corporais está no quadro a seguir. Quadro 1. Faixas de pH do corpo. Axilas 6,3 a 6,5 Costas 4,5 a 4,8 Cabelo 4,5 a 4,7 Coxas 6 a 6,1 Mãos 4,3 a 4,6 Nádegas 6,4 a 6,5 Pés 7 a 7,2 Face 4 a 4,8 Seios 6 a 6,2 Tornozelos 5,9 a 6,1 Fonte: Batistuzzo, 2009. 24 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS Conhecer o pH das diferentes áreas corporais é fundamental para a escolha do cosmético: produtos muito ácidos ou muito alcalinos podem causar danos sérios às áreas onde são aplicados, como queimaduras e lesões. Observar o pH das substâncias é fundamental para que possam ser associadas sem que haja incompatibilidades. » Solubilidade: capacidade de uma substância se dissolver na presença de outra. Podem ser classificadas em: insolúveis (caráter hidrofílico/ fábico), pouco solúveis, livremente solúvel, solúvel. » Fotossensibilidade: característica das substâncias que podem ser alteradas/inativadas pela luz. » Higroscopicidade: capacidade de uma substância agregar água para sua estrutura. Ex.: as substâncias com sódio (Na+2). Por que certos produtos cosméticos importados mudam de aspecto/odor quando chegam ao Brasil? Produtos fabricados na França são planejados para serem estáveis nas condições climáticas locais. Trazer estes produtos para zonas climáticas diferentes implica provável perda da estabilidade. Sobre a pele e cosméticos Temos a classificação tradicional dos fototipos de pele concedida por Fitzpatrick. Outra classificação da pele ocorre em 16 tipos e os mesmos foram definidos em 2006 pela dermatologista norte-americana Leslie Baumann. Tem sido muito utilizada, pois fornece critérios de seleção como tendência à ruborização e descamação. Pele oleosa, sensível, não pigmentada com tendência a rugas Apresenta poros dilatados e rugas precoces por ter camada fina, não bronzeia, mas queima. » Fotoproteção constante/creme oil-free ou gel. Usar anti-inflamatórios e calmantes suaves (evitar corticoides) em todos os produtos. Ex.: extratos glicólicos de camomila, calêndula e alfabisabolol. 25 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II » Evitar usar chá verde e zinco (pelo forte sinergismo para ação secativa) e vitamina C (pela tendência à ruga). São ativos para absorver a oleosidade excessiva: sebonormine, silica shells (anti-oil spheres), matipure. Usar clareadores com pH mais próximo de 7. Pele oleosa, sensível, não pigmentada e firme Poros não muito dilatados, vascularização aparente e fácil ruborização, com descamações. » Fotoproteção constante: loção/creme oil-free ou gel. » Usar anti-inflamatórios e calmantes suaves (evitar corticoides). » Chá verde e zinco: podem ser usados para efeito secativo associado, silicatos em caso de extrema oleosidade, nas primeiras semanas de tratamento. Evitar o uso de DMAE. Pele oleosa, sensível, pigmentada e propensa a rugas Pode apresentar acne e dermatites fortes. Bronzeia fácil, com rugas precoces por ter camada fina. Manchas são comuns. » Usar filtro solar físico (óxido de zinco/dióxido de titânio). » Tensores: elastinol+R, Lys-lastine. » Evitar chá verde/zinco/vitamina C (sensibilidade da pele/propensão às rugas). » Clareadores:usar os com pH próximo a 7. Pele oleosa, sensível, pigmentada e firme Pode apresentar acne e processos inflamatórios muito fortes. Muitas reações alérgicas e possíveis sardas. Manchas mais resistentes aos tratamentos. » Usar ácido kógico, ácido salicílico, microesponjas de retinol. » Chá verde, zinco, vitamina C: podem ser usados junto com glucans. » FPS em gel creme/creme oil-free. 26 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS Pele oleosa, resistente, pigmentada e propensa a rugas » Aparência lustrosa, poros dilatados e acne rara. » FPS em creme oil-free. » Usar coenzima Q10 e lipossomas hidratantes, DMAE, ácido glicólico, microesponjas de retinol. » Usar silicatos com zinco para reduzir a oleosidade. Pele oleosa, resistente, pigmentada e firme » Poucas rugas e acne. Pele mais comum em negros. » Em peles claras: sardas e manchas. Usar chá verde, zinco, vitamina C e silicatos. FPS em gel. » Despigmentante: azeloglicina. Pele oleosa, resistente, não pigmentada e propensa a rugas » Brilho moderado, pouca acne e rugas precoces. » Tensor podem ser o argireline, elastinol + hidratar mais à noite. » Esfoliar pelo menos 2 vezes por semana. Pele oleosa, resistente, não pigmentada e firme » Dificilmente bronzeia. Apresenta manchas, vermelhidão ou ressecamento raros. » Peeling de ácido salicílico mensal: controle rápido da oleosidade (até 3 vezes ao mês). » Esfoliação com ácido glicólico ou salicílico. Pele seca, sensível, pigmentada e propensa a rugas » Fina, seca, descama e tem alta frequência de inflamações. 27 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II » Evitar adstringentes e esfoliantes. » Despigmentantes, podem-se usar pH mais próximo do neutro. Se ácidos, usar o glicólico/lático com glicirenídeos em creme e em alternados, passar camadas finas. Pele seca, sensível, pigmentada e firme » Mãos secas, manchas ásperas e grosseiras no rosto e pescoço. Alergias e descamações frequentes. » Fotoproteção em creme. Usar anti-inflamatórios e calmantes. » Hidratação: óleos de macadâmia e silicones. Pele seca, sensível, não pigmentada e propensa a rugas » Ressecada, áspera, sem brilho, acne moderada e rugas precoces. Eritema de fácil ocorrência. » Hidratação reforçada à noite em creme. » Evitar vitamina C. » Lipomoist firming, óleos naturais em baixa concentração, com anti-inflamatórios em gel ou creme. Pele seca, sensível, não pigmentada e firme » Descamação, acne ocasional, eritema e prurido. » Hidratação: lactato de amônio e peptídeos (structurine). Pele seca, resistente, pigmentada e propensa a rugas » Bronzeia fácil, sem alergias, acne ou rugas até mais ou menos 40 anos. » Usar clareadores de vitamina C e ácido glicólico. Fotoproteção em creme. Pele seca, resistente, pigmentada e firme » Descamações no rosto e pescoço. Sardas e manchas são comuns. 28 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS » Clareamento: vitamina C, vitamina K. Hidratar com vitamina A e E. » Renovação celular: microesponjas de retinol, alfa-hidroxiácidos (AHA – ex.: ácido glicólico, ácido mandélico) em baixa porcentagem. » Fotoproteção em creme. Pele seca, resistente, não pigmentada e propensa a rugas » Pele clara, delicada (fina), sem sardas ou manchas. » Para as linhas de expressão: lipomoist firming, coenzima Q10 (lipossoma), chá verde. Pele seca, resistente, não pigmentada e firme Não bronzeia fácil. Hidratar com produtos à base de glicerina e evitar adstringentes. » Para todas as formas de pele seca: ácido hialurônico e óleos como o de macadâmia e rosa mosqueta (cicatrizante) de 3 a 4%. Aquaporine active e outros peptídeos também são boas opções. Alterações físicas e químicas dos cosméticos Os cosméticos quando mal conservados ou se forem mal formulados podem apresentar alterações físicas e/ou químicas, que impossibilitam o uso do produto pelo risco de causar algum efeito colateral no usuário ou mesmo nenhum efeito pela inativação da substância ativa. As principais alterações são de cor, odor, separação de fases, formação de precipitados e presença de alteração de odor. A elaboração do prontuário Os registros servem para documentar as ações desenvolvidas e os produtos utilizados, fornece evidências de que as necessidades do tratamento estão sendo atendidas e proporcionar melhoria contínua dos protocolos de tratamento. O prontuário em si, por se tratar de um documento, destina-se ao dispensador dos produtos que é o farmacêutico, especialmente se a receita for destinada à manipulação. Os produtos indicados são destinados ao paciente. 29 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II Na receita deve conter » o nome completo do paciente; » as instruções ao farmacêutico como os percentuais desejados que tenham nos componentes da fórmula; » instrução de uso do produto; » nome do profissional solicitante e data do dia que emitiu a receita. Erros de prescrição Para evitar transtornos ao paciente e ao dispensador, é fundamental observar os seguintes cuidados para a prescrição cosmética: » Falta do modo de administração do produto prescrito. » Pode ser também enquadrado nesta categoria a falha na orientação do paciente em relação aos cuidados propostos, buscando compreensão e aderência ao tratamento; com o objetivo de que o paciente não utilize os produtos corretamente. » O tempo de administração e a frequência devem ser claramente apresentados em cada produto, evitando erros de administração. O que deve constar na ficha de registro e controle de sessões do paciente » Nome completo do paciente, a idade, o seu endereço, telefone, a descrição da pele, qual tratamento o paciente está realizando, o que é feito em cada sessão em cabine e home care (em casa) e quais são seus cuidados diários com a pele. » Precisa ter o máximo de informações da sua condição de pele e da afecção apresentada para que possamos traçar a conduta de tratamento de maneira efetiva e segura. 30 CAPÍTULO 2 Imunologia cutânea e cosmetotoxicidade: visão geral Conceitos de citologia e histologia As células são microcompartimentos que concentram substâncias orgânicas, inorgânicas e organelas de diferentes funções, circundadas pela membrana plasmática, a bicamada lipídica. A membrana plasmática é uma película fina composta de fosfolipídios, colesterol e outros lipídios. Possui também as proteínas transmembrana, canais de proteína para transporte, enzimas, glicoproteínas e outras biomoléculas. As principais funções da membrana: » proteção celular; » limitar o citoplasma; » controlar a entrada e saída de substâncias (permeabilidade seletiva). Principais organelas e respectivas funções » Retículo endoplasmático: é um sistema de canais membranosos e vesículas, disponível no citoplasma na forma lisa (neutraliza substâncias tóxicas, sintetiza lipídios) e rugosa (sintetiza proteínas e ribossomos). » Complexo de Golgi: agrupamento de vesículas e cisternas que atuam no transporte de substâncias e formação de lisossomas (vesículas com enzimas de digestão celular). » Ribossomos: realizam a síntese de proteínas através de informação genética. » Mitocôndria: realiza a respiração celular (processamento de o2) e produção de ATP. É a principal molécula energética do organismo. » Núcleo: armazena as informações genéticas. É separado do citoplasma pelo envelope nuclear, uma bicamada lipídica. 31 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II Junções celulares » Junção compacta ou de oclusão: seu funcionamento é como um zíper, previne o trânsito livre por difusão passiva de pequenas moléculas e íons na membrana. » Junção aderente: promove a adesão de células vizinhas e atua na formação e manutenção da estrutura e da função das outras junções. » Junção comunicante: conjunto de canais hidrofílicos que conectam os citoplasmas de suas células vizinhas.Acelera a condução do impulso nervoso. Tecido epitelial Responsável pelo revestimento e formação de alguns órgãos e glândulas. Protege os tecidos subjacentes de lesões e choques, atua na absorção de biomoléculas, percepção sensorial, transporte transcelular de moléculas e controle do fluxo de substâncias através das junções aderente e comunicante. A pele é um tecido de revestimento pavimentoso estratificado queratinizado. Possui células superficiais achatadas anucleadas com revestimento de queratina, composta de células velhas, colesterol, proteínas e lipídeos como os triglicerídeos, fosfolipídios, ácidos graxos livres, entre outros. Sua divisão é dada em epiderme e derme, possui uma camada mais profunda de tecido adiposo que constitui um tecido conjuntivo frouxo que conecta a derme à musculatura e faz isolamento térmico que é a hipoderme. A epiderme se subdivide em: 1. Estrato córneo: apresenta células mortas, sem núcleo ou organelas, onde está depositado o manto hidrolipídico. 2. Camada granular: camada com queratinócitos achatados. 3. Camada espinhosa: apresenta células novas altamente compactadas que mantém a resistência do tecido. 4. Lâmina basal: possui elevada quantidade de células tronco, por isso é chamada de camada germinativa. Nesta camada estão os melanócitos e a junção dermoepidérmica que realiza a nutrição das camadas mais superiores, que por sua vez não são irrigadas. 32 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS A derme é rica em colágeno e elastina, de modo que confere resistência à pele. É formada de tecido conjuntivo, inervação, irrigação, além de folículos e glândulas sudoríparas e sebáceas. Imunologia A imunologia é uma ciência biológica que trata dos mecanismos e respostas complexas desenvolvidas pelo organismo para reconhecimento e consequentemente eliminar ou conter substâncias ou corpos estranhos que invadem o organismo, como vírus, microrganismos, proteínas e outras moléculas que podem alterar o funcionamento normal do corpo. Existe também o reconhecimento de substâncias próprias do organismo, para que não sejam inclusas nestas vias de defesa, o que aponta um alto nível de organização e segurança destes mecanismos, chamado de imunidade. A resposta imune é uma via integrada composta por mecanismos complexos e simultâneos de defesa. A resposta imune se divide em dois ramos: 1. Resposta Imune Inata: é a imunidade que já vem desde o nascimento. Os mecanismos desta imunidade se instalam de maneira rápida como componente de defesa e agem de maneira inespecífica para diferentes agressores, usando o mesmo mecanismo de defesa para qualquer agente reconhecido como estranho ao organismo. A amamentação é importante para este mecanismo, uma vez que os anticorpos da mãe são transmitidos ao feto pelo leite, fazendo assim a primeira defesa orgânica à criança. Por isso, aconselha-se amamentar pelo menos 6 meses até 2 anos. As respostas da imunidade inata são feitas por células chamadas de fagócitos, (células capazes de capturar o agente agressor e destruí-lo com substâncias presentes em grânulos no citoplasma): › basófilos; › eosinófilos: atuam principalmente em defesa contra parasitas; › macrófagos: localizados nos tecidos internos; › células NK; 33 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II › sistema de complemento: proteínas que complementam a defesa contra microrganismos de maneira geral. Existem agentes agressores que podem ser mais fortes que outros, havendo necessidade de tratamento por medicação, as dosagens e o tipo de medicamento costumam variar significativamente. A esta propriedade dos agentes agressores dá-se o nome de virulência. O fato de a imunidade inata não agir de maneira diferenciada para diferentes agressores, indica que os mecanismos inatos podem não ser eficientes em determinados casos, já que o nível da defesa deve ser proporcional ao da virulência (que podemos entender também como nível de periculosidade), e não existe esta variação na imunidade inata. Para desenvolver respostas mais eficientes e específicas, existem os mecanismos da imunidade adaptativa: 2. Imunidade adaptativa: é adquirida ao longo da vida do indivíduo por meio de contato direto com o agressor por exposição, vacinas, transfusão, entre outros. Atua através de diversos mecanismos de forma específica para o combate, sendo capaz de agir rapidamente caso um agente agressor previamente combatido entre no organismo novamente (capacidade de memória imunológica), como nas vacinas e reinfecções. A imunidade adaptativa realiza a vigilância imunológica, que é o monitoramento da entrada e presença de agentes agressores e substâncias relacionadas. Se ocorrer falhas podem causar neoplasias malignas. A imunidade adaptativa se desenvolve principalmente a partir de anticorpos e antígenos. Os anticorpos (também conhecidos por imunoglobulinas) são glicoproteínas que reconhecem os agentes agressores (antígenos) de maneira específica e ligam-se a estes (para cada antígeno é produzido um tipo de anticorpo). Esta ligação funciona como um mecanismo de marcação do antígeno, avisando aos demais componentes do sistema imune que há algo de estranho no organismo que deve ser eliminado. Os antígenos são moléculas que possuem a capacidade de serem reconhecidas pelas células e moléculas do sistema imune, que são capazes de se ligarem aos receptores celulares e anticorpos. O antígeno pode ser uma fração da estrutura de bactérias, vírus, fungos, protozoários, helmintos ou substâncias solúveis produzidas por microrganismos e outras células. A maioria dos antígenos são proteínas, porém, alguns são polissacarídeos, lipídeos ou glicolipídios. 34 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS Os antígenos normalmente possuem vários locais onde o anticorpo pode se ligar que são chamados de epítopos. Existem epítopos que podem induzir uma resposta imune mais forte, como podem ter resposta mais fraca. Esta resposta depende da sua estrutura química, que definirá o nível da força de ligação (complexação) ao anticorpo. Os antígenos são chamados de imunogênicos quando são capazes de induzir uma resposta imune, são chamados de alergênicos quando induzem reações de hipersensibilidade (alergias) e são chamados de tolerogênicos quando são capazes de inibir o desenvolvimento de uma resposta imune. Na imunidade adaptativa, o antígeno é capturado pelo linfócito B (célula imunológica) e processado para geração do epítopo. Este fragmento do antígeno é então apresentado ao linfócito T (os linfócitos possuem capacidade de memória e especificidade), que libera substâncias (citocinas) que estimulam o linfócito B a produzir anticorpos específicos para o antígeno capturado. Estes anticorpos se ligam a outras células imunológicas. Quando o antígeno se ligar ao anticorpo, a célula imunológica libera substâncias presentes no seu interior para eliminar o antígeno, por meio do rompimento da membrana celular, o que chamamos de desgranulação. Desta forma estabelecendo os mecanismos de defesa. Como a imunidade inata e adaptativa podem influenciar a resposta aos cosméticos aplicados na pele? A imunidade inata pode responder por meio dos fagócitos, de maneia inespecífica. A imunidade adaptativa responde mediante desenvolvimento de anticorpos específicos para determinado antígeno. Hipersensibilidades As hipersensibilidades são transtornos imunológicos caracterizados por erros na programação fisiológica do sistema imune, de modo que atuam de maneira inadequada, prejudicando a saúde do indivíduo. 1. Hipersensibilidade tipo 1 (alergias): é caracterizada pelo excesso de produção de anticorpos IgE para mínimas quantidades de antígenos, geralmente inertes para a maioria da população. 35 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II Os fagócitos liberam o conteúdo dos seus grânulos, causando sinais e sintomas diversos, a dependerdo órgão afetado, como rinite, dermatite, conjuntivite e rinossinusite. 2. Hipersensibilidade tipo 2: também chamada de citotóxica, ocorre quando o anticorpo se liga a uma superfície celular e não a reconhece como normal, estimulando o sistema imune a destruí-la. O caso mais clássico é a anemia hemolítica do recém-nascido, em que os anticorpos da mãe destroem as hemácias do feto em caso de variação do fator RH. 3. Hipersensibilidade tipo 3: ocorre quando há a formação de imunocomplexos patogênicos com forte potencial inflamatório, por excesso de anticorpos ou por erros na programação da avidez. 4. Hipersensibilidade tipo 4: chamada de tardia, envolve a participação de células imunológicas (linfócitos T, macrófagos etc.) sem anticorpos livres, na geração de resposta inflamatória. Os sinais são percebidos no mínimo 48h depois do início, por isso recebe o nome de tardia. Dermatites As dermatites são afecções da pele que podem ser de causa alérgica, infecciosa, por agentes físicos ou químicos. Quando a causa é desconhecida se tem o nome de idiopática. O estudo das dermatites em cosmetologia é importante para a prevenção e prestação dos primeiros cuidados ao paciente vítima de efeitos colaterais dos produtos de uso tópico. Não necessariamente o paciente com reações adversas utilizou o produto incorretamente, afinal cada indivíduo é único. Portanto, as defesas da pele podem não reconhecer determinadas substâncias como inertes iniciando processos que tendem a eliminá-las. O caso mais clássico é a vermelhidão por utilização de peróxido de benzoíla a 4 ou 5% para o tratamento da acne ou mesmo o uso de ácidos para fazer a renovação celular. É importante registrar todo o histórico de utilização de produtos do paciente, a fim de não repetir erros de prescrição, caso apresente alguma reação ou tenha já tido algum fator acometedor na sua história pregressa. São os principais tipos de dermatite: » Dermatite Atópica: inflamação da pele que é parte das manifestações da atopia, a predisposição genética ao desenvolvimento de alergias. 36 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS Os pacientes com dermatite atópica costumam apresentar outros quadros alérgicos como asma, rinite e problemas alérgicos oculares, e costumam ter casos prévios na família. Esta dermatite é uma forma de hipersensibilidade tipo 4 e pode ser causada pelos mesmos alérgenos que desencadeiam os demais transtornos alérgicos, além de substâncias irritantes (toxinas, metais, perfumes e desinfetantes) e alimentos, podendo também ter causa emocional. Pode durar de horas a dias, a depender do nível de exposição do indivíduo. Principais sinais e sintomas: › Em jovens e adultos, as áreas mais acometidas por eritema e forte prurido são as regiões flexoras (joelhos, cotovelos, entre outros), mas também podem acometer o pescoço e a face (mais comum em crianças). › Hipercromia da região orbital. › Tendência a infecções cutâneas. O manejo deste paciente é feito com medicamentos, demandando encaminhamento para médico alergista ou dermatologista. » Dermatite de Contato: também conhecida como eczema de contato, é uma patologia inflamatória causada pelo contato com substância irritante. Não é de origem alérgica, e dura de poucos minutos a algumas horas. Os mecanismos são inflamatórios e desencadeados por diversos agentes, água quente, água fria, sabonetes, ácidos, saliva, urina e cosméticos. A cura total é vista quando a substância irritante é afastada/suspensa totalmente. Manejo em cabine Se ocorrer a dermatite, é indicado que a substância seja totalmente removida com gaze seca (caso esteja em veículo semissólido) e a área deve ser lavada com sabonete neutro, se possível glicerinado. Para efeito de alívio, a região afetada pode ser tratada com soro fisiológico frio, que é inerte e capaz de fazer vasoconstrição, o que é importante em caso de vermelhidão. Géis em pH 7 com extratos naturais calmantes são úteis nesta etapa. A associação de alfabisabolol com extratos glicólicos de camomila e calêndula tem efeito sobre a pele do paciente em pouco tempo. Recomenda-se que este produto seja aplicado frio também para vasoconstrição. Não há necessidade de remover logo após aplicação. 37 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II » Dermatite Seborreica: processo inflamatório que afeta as áreas mais ricas em glândulas sebáceas do couro cabeludo e da face. As causas são desconhecidas, e a presença do fungo Pityrosporum ovale agrava a doença. Ocorre descamação intensa, eritema, prurido forte, manchas, formação de crostas. As crostas de dermatite podem ser removidas manualmente após emoliência feita com óleos vegetais (óleo de oliva, macadâmia, girassol, entre outros). O uso de shampoos anticaspa é importante para o controle da doença. A recomendação é que sejam utilizados em dias alternados e que o shampoo de cetoconazol seja usado por apenas 30 dias. A associação de ingredientes naturais com atividade antisséptica como o extrato de própolis, óleo de melaleuca, dentre outros, é benéfica, contudo as dosagens devem ser observadas com atenção, já que costumam ser produtos de odor forte característico, o que pode ser desagradável ao paciente. Além do risco de tonalização capilar, um desconforto ainda maior. Proponha cuidados cosméticos para manutenção da barreira hidrolipídica cutânea. A hidratação com ingredientes avançados, ou mesmo com óleos, manteigas e ceras, é importante para manutenção da barreira cutânea. Devemos orientar sobre os banhos quentes e uso de sabonetes adequados. Cosmetotoxicidade A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações de substâncias químicas com o organismo. A toxicidade é a capacidade potencial de geração de danos às estruturas biológicas que é o foco. A toxicologia de cosméticos se dá por reações adversas e os efeitos decorrentes do uso inadequado ou da susceptibilidade individual aos produtos. Agente tóxico ou toxicante é a substância capaz de causar dano a um sistema biológico, em condições específicas de exposição. Os xenobióticos são substâncias que o organismo reconhece como estranho, através de mecanismos imunológicos. 38 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS Intoxicação é um processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas, caracterizado por desequilíbrio fisiológico gerado pelas alterações bioquímicas no organismo. Na intoxicação aguda, os sintomas surgem geralmente em algumas horas após curto período de exposição ao agente tóxico. A manifestação pode ser de forma leve, moderada ou grave. Vai depender também da quantidade de substância absorvida e da sensibilidade do organismo. A intoxicação subcrônica indica exposição moderada ou pequena a produtos alto ou medianamente tóxicos e as consequências surgem mais lentamente. A intoxicação crônica tem surgimento em meses ou até anos, após exposição a agentes tóxicos, podendo causar danos irreversíveis à saúde do indivíduo. Principais vias de intoxicação por cosméticos » A via dérmica é a mais comum de intoxicações pela maioria dos agentes. Pois sua absorção depende principalmente da composição da formulação, do tempo de exposição, de solubilidade, do grau de ionização, da dimensão das moléculas, se ocorre hidrólise no pH da epiderme, seu estado de hidratação da camada córnea, umidade ambiental, temperatura do corpo e do ambiente e exposição à luz solar. Consequências da intoxicação por via dérmica » Fotolergia: indução de resposta alérgica da pele semelhante à mediada pela radiação UV. » Fototoxicidade: potencial do material de induzir uma resposta irritante da pele mediada por irradiação UV. » Teratologia: toxicidade potencial para o feto. Mais comum para produtos de uso interno. São elementos fundamentais na toxicologia cutânea a composição e dosagem da formulação, o nível de exposição, a quantidade da substânciapermeada, a classe do cosmético na qual o ativo pode ser utilizado, o método, a duração e a frequência de aplicação, a quantidade de produto em cada aplicação e a possível exposição do produto à luz solar. » Via respiratória: as vias aéreas são revestidas de mucosas altamente irrigadas, portanto, o potencial de absorção nesta área é considerado 39 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II elevado. Produtos que geram gases, fumaças, neblinas e poeiras, principalmente em espaços confinados ou com pouco arejamento, podem causar intoxicação. Considerando de maneira geral os cosméticos, podemos constatar que são produtos seguros quando utilizados de maneira adequada e seguindo as recomendações do fabricante. As reações adversas com esses produtos não são frequentes, e, quando ocorrem, na maioria dos casos, é devido ao uso de forma inadequada ou de maneira acidental. Há tempos muitos ingredientes foram banidos da composição de cosméticos em todo o mundo pela maneira prejudicial como o hexaclorofeno (conservante), compostos de mercúrio e halogenados, propelentes de clorofluorcarbono e ingredientes geradores de nitrosaminas. Garantindo a segurança de produtos de higiene, cosméticos e perfumes, é necessário a comprovação do histórico de segurança do produto e de suas matérias-primas até a realização de ensaios toxicológicos específicos. Todo produto cosmético, de grau de risco 1 ou 2, o fabricante tem obrigação relatar todos os dados de segurança. Considerações a serem feitas por tipo de produto » Produtos para uso infantil: irritação cutânea primária. » Produtos para a área dos olhos: irritação ocular cumulativa. » Produtos para os cabelos, como tinturas e alisantes de cabelo: irritação dérmica e do couro cabeludo. » Produtos para proteção das radiações solares: testes de fototoxicidade e fotoalergia. » Produtos para a higiene íntima: testes clínicos de irritação de mucosa genital em humanos. » Produtos destinados à pele sensível: testes de irritabilidade acumulada, sensibilização, fototoxicidade e fotoalergia cutânea. » Produtos que no rótulo contenham as expressões “hipoalergênico”, “não comedogênico”, “não acnogênico”, “dermatologicamente oftalmológico + ginecologicamente testado”, “clinicamente testado”, “produto para gengiva 40 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS sensível” e “produto para pele + couro cabeludo sensível”: testes comprobatórios dessas propriedades. Também, sempre que a rotulagem mencionar atributos, tais como “não irritante”, “não arde os olhos” etc. Problemáticas em toxicologia dos cosméticos 1. Corantes: as moléculas tintoriais podem causar irritações à pele e ao couro cabeludo, uma vez que são produtos sintéticos e geralmente misturas de variados polímeros. Muitos fabricantes têm optado por retirar os produtos coloridos do mercado quando há suspeitas de toxicidade, devido aos seus altos custos para provar a sua segurança não justificarem economicamente a permanência no mercado. 2. Fragrâncias: também são produtos sintéticos, e o sintoma inicial mais comum é o aparecimento de rinite com a aplicação tópica do produto. 3. Formaldeído: substância de elevado potencial carcinogênico, com o uso permitido pela Anvisa como conservante (até 0,2%) e até 5% para endurecer unhas. O uso nas concentrações permitidas não proporciona alisamento capilar, com risco de forte queda após o procedimento. 4. Tensoativos: como são moléculas anfifílicas, o manto hidrolipídico pode ser removido e a perda de água transepidermal facilitada, especialmente os de cadeia pequena, que podem se instalar na pele com mais facilidade. Atualmente existe uma tendência para opção por fosfolipídios orgânicos, que são mais semelhantes aos lipídios da pele. 5. Parabenos (sistema conservante): além do risco de dermatite de contato, existe o risco de lesão de queratinócitos em caso de exposição solar e potencial cancerígeno com uso prolongado. O uso de conservantes naturais tem sido uma opção interessante para a indústria cosmética e para a manipulação, especialmente os produtos orgânicos e de apelo green-concept. 6. Metais: a toxicidade por metais pesados é um problema antigo. Além da indução de dermatites, o potencial tóxico se expande para a carcinogênese, por exemplo, no caso dos sais de alumínio usados em formulações antiperspirantes. Normalmente os produtos cosméticos são raramente associados com sérios danos à saúde. Mas isto não significa que produtos cosméticos sejam sempre seguros, especialmente 41 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II considerando os efeitos em longo prazo. Considerando que estes produtos podem ser usados durante um amplo período de tempo, é preciso garantir sua segurança e eficácia, controlando a toxicidade do produto final e dos seus ingredientes. Identifique quais cosméticos são os maiores causadores de toxicidade em homens e mulheres e aproveite este delineamento para evitar prescrever estes produtos. 42 CAPÍTULO 3 Ingredientes cosméticos naturais Produtos cosméticos são chamados de naturais quando não há uso de produtos sintéticos na sua formulação. Entretanto, produtos tradicionais podem ter produtos naturais na fórmula, de modo que adquirem características únicas, especialmente se tratando de essências e cores. Os ingredientes citados a seguir têm algumas características em comum: » Podem ser usados em ampla faixa de pH. » Podem ser prescritos pela esteticista quando de uso tópico. » A maioria pode ser utilizada em qualquer veículo, de modo que praticamente não existem incompatibilidades. É importante diferenciar os produtos cosméticos naturais dos orgânicos: produtos orgânicos possuem certificação diferencial conferida por órgão competente (como o EcoCERT), e a formulação não leva itens sintéticos como silicones, fragrâncias, polietileno glicol (PEG), corantes, derivados do petróleo nem produtos de origem animal. Todos os componentes da fórmula são exclusivamente naturais e seguem rígidos padrões de produção (sem agrotóxicos, fabricado em indústrias de padrão trabalhista ouro etc.). A lista abaixo será de grande valia para a prescrição das fórmulas. A nomenclatura INCI NAME (International Nomenclature Cosmetic Ingredient) refere-se ao nome químico do produto, no qual pode ter diversos nomes comerciais conforme escolher o fabricante. O que pode diferenciar dois extratos da mesma substância é a via de produção. Extratos Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Aveia › Avena sativa (Oat) Meal Extract. › Hidratante, anti-irritante e emoliente. » Camomila › Chamomilla recutita (Matricaria) Flower Extract. 43 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II › Anti-irritante, calmante e suavizante. » Chá Verde › Camelia sinensis Leaf Extract. › Antirradicais livres, estimulante e refrescante. » Hera › Hedera helix (Ivy) Extarct. › Aplicações: venotônico, tonificante e lipolítico. » Própolis › Propolis Extract. › Antisséptico, antiacne e cicatrizante. » Uva › Vitis Vinifera (Grape) Fruit Extract › Anti-aging, protetor e antioxidante. Manteigas Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Cacau › Hydrogenated theobroma cacao oil. › Manteiga derivada da semente de cacau caracterizada por propriedades de cristalização diferenciada e excelente estabilidade. Possui propriedades umectantes e hidratantes. É recomendado para a incorporação em emulsões e sistemas anidros. » Karitê › Shea butter butyrospermum parkii. › Proporciona emoliência acentuada, auxilia na restauração do manto hidrolipídico, além de prevenir o ressecamento da pele e dos cabelos. Incorporação em cremes anti-aging, loções, hidratantes, pomadas, cremes de massagens, produtos solares e produtos capilares (cremes e máscaras). 44 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAISÓleos e extratos oleosos Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Abacate Óleo › Persea Gratissima (Avocado) Fruit Extract. › Emoliente, lubrificante, dermoprotetor e restaurador da camada lipídica. » Abacate EO › Persea Gratissima (Avocado) Fruit Extract. › Emoliente, lubrificante, dermoprotetor e restaurador da camada lipídica. » Aloe Vera EO* › Aloe Barbadensis Leaf Extract. › Cicatrizante, emoliente e vasoprotetor. » Algodão Óleo › Perea Gratissima Dulcis. › Emoliente, amaciante, suavizante, condicionador e hidratante. » Amêndoas Doce Óleo › Prunus Amygdalus Dulcis › Emoliente, amaciante e protetor dos tecidos. » Andiroba Óleo › Carapa Guaianensis Seed Oil › Antisséptico, anti-inflamatório e emoliente. » Canola Óleo › Canola Oil › Emoliente, dermoprotetor e antioxidante. » Castanha da Índia EO* › Aesculus Hippocastanum (Horse Chestnut) Seed Extract. 45 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II › Emoliente, restaurador da camada lipídica, formador de filme oclusivo, protetor dos tecidos cutâneos, amaciante e condicionador. » Castanha do Pará Óleo › Bertholletia Excelsa Seed Oil. › Hidratante, emoliente e amaciante. » Cenoura EO › Daucus Carota Sativa (Carrot) Extract. › Emoliente, lubrificante e estimulador bronzeado. » Coco EO › Cocos Nucifera (Coconut) Extract. › Amaciante, emoliente, lubrificante, hidratante e formador de filme. » Copaíba Óleo › Copaifera Oil › Antibiótico e anti-inflamatório natural. » Cupuaçu EO* › Theobroma Grandiflorum Fruit Extract › Hidratante, emoliente, condicionador e remineralizante. » Gengibre EO* › Zingiber Officinale (Ginger) Root Extract. › Estimulante cutâneo, antisséptico, descongestionante e refrescante. » Gergelim/Sesamo Óleo › Sesamum Indicum (Sesame) Seed Oil. › Lubrificante, emoliente e anti-inflamatório. » Germe de Trigo EO* › Triticum Vulgare (Wheat) Germ Extract. › Suavizante, hidratante, condicionador, restaurador e emoliente. 46 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS » Girassol Óleo › Helianthus Annuus (Sunflower) Seed Extract. › Condicionador, emoliente e antirradicais livres. » Jojoba Óleo › Simmondsia Chinensis (Jojoba) Seed Oil. › Emoliente, regenerador e antioxidante. » Macadâmia Óleo › Macadamia Ternifolia Seed Oil. › Emoliente, lubrificante e amaciante. » Maracujá Óleo › Passiflora Incarnata Oil. › Extraemoliente, nutritivo para a pele e cabelos. » Oliva Óleo › Olea Europaea (Olive) Oil. › Emoliente, dermoprotetor, restaurador e suavizante para pele e cabelos. » Pequi Óleo* › Caryocar Brasiliense Fruit Oil. › Emoliente, lubrificante e formador de filme oclusivo. » Prímula EO* › Primula Officinalis. › Melhora a função barreira cutânea, hidratante, emoliente e cicatrizante. » Rosa Mosqueta Óleo › Rosa Canina Fruit Oil. › Emoliente, hidratante, e cicatrizante. Melhora as cicatrizes e queloides. 47 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II Extratos glicólicos Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Açai EG › Euterpe oleracea fruit extract. › Adstringente, tônico e refrescante. » Acerola EG › Malpighia punicifolia (acerola) fruit extract. › Adstringente, purificante e refrescante. » Agrião EG › Nasturtium officinale extract. › Remineralizante e calmante. » Alcaçuz EG › Glycyrrhiza glabra (licorice) root extract. › Calmante, anti-inflamatório e suavizante. » Alecrim EG › Rosmarinus officinalis (rosemary) leaf extract. › Estimulante, dermoprotetor e antioxidante. » Algas Fucus EG › Fucus vesiculosus extract. › Lipolítico, firmador e hidratante. » Algas Gracilária EG › Algae Extract . › Hidratante, amaciante e umectante. » Amora EG › Morus nigra fruit extract. › Hidratante, dermoprotetor e antioxidante. 48 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS » Aquilea EG* › Achillea millefolium extract. › Adstringente, anti-inflamatório e purificante. » Arnica EG › Arnica montana flower extract. › Anti-inflamatório, venotônico e cicatrizante. » Aveia EG* › Avena sativa (oat) meal extract. › Hidratante, anti-irritante e amaciante. » Babosa EG › Aloe Barbadensis Leaf Extract. › Hidratante, cicatrizante e calmante. » Calêndula EG › Calendula officinalis flower extract. › Anti-inflamatório, suavizante e tonificante. » Camomila EG › Chamomilla recutita (matricaria) flower extract. › Anti-irritante, calmante e suavizante. » Cana-de-Açúcar EG › Saccharum officinarum (sugar cane) extract › Emoliente, hidratante, umectante e condicionante. » Capsicum EG › Capsicum annuum fruit extract. › Rubefaciante e estimulante da circulação. » Cartilagem EG › Fish cartilage extract 49 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II › Hidratante, restaurador e condicionador. » Castanha da Índia EG › Aesculus hippocastanum (horse chestnut) seed extract. › Venotônico e estimulante. » Cavalinha EG › Equisetum arvense extract. › Remineralizante, drenante e hidratante. » Centella Asiática EG › Centella asiática extract. › Anti-inflamatório, vasoprotetor e tonificante. » Cereja EG › Prunus Cereasus (Bitter Cherry) Extract. › Hidratante, amaciante e antioxidante. » Chá Verde EG › Camellia sinensis leaf extract. › Antioxidante, desodorante e estimulante. » Coco EG › Cocos nucifera (coconut) extract. › Emoliente, amaciante e lubrificante. » Cupuaçu EG › Theobroma grandiflorum fruit extract. › Emoliente, nutritivo e dermoprotetor. » Damasco EG › Prunus armeniaca (apricot) fruit extract. › Adstringente, hidratante e purificante. 50 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS » Erva Doce EG › Pimpinella anisum (anise) fruit extract. › Antisséptico, refrescante, calmante, antioleosidade e suavizante. » Flores de Hibiscos EG › Hibiscus Sabdariffa Flower Extract. › Esfoliante suave, adstringente e antioxidante. » Guaraná EG › Paullinia cupana seed extract. › Estimulante, energizante e tonificante. » Ginkgo Biloba EG › Ginkgo biloba leaf extract. › Hidratante, antirradicais livres, ativador da microcirculação, anti- inflamatório e emoliente. » Hamamelis EG › Hamamelis virginiana. › Adstringente, anticaspa, antisseborreico, vaso protetor, vaso constritor, descongestionante e antiacne. » Hera EG › Hedera helix. › Antirradicais livres, anticelulítica, cicatrizante, vaso dilatadora, antioxidante, regenerador e vasoprotetor. » Hortelã (Menta Piperita) EG › Mentha piperita (peppermint). › Antisséptico, estimulante e refrescante. » Jaborandi Penna Tifolius EG › Jaborandi (Pilocarpus Jaborandi) › Adstringente, antisséptico, antioleosidade e estimulante capilar. 51 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II » Kiwi EG › Actinidia Chinensis (Kiwi). › Hidratante, amaciante e condicionante. » Laranja EG › Citrus Aurantium Dulcis (Orange). › Seborregulador, adstringente e esfoliante. » Malva EG › Malva Sylvestris (Mallow). › Adstringente, anti-inflamatório, antisséptico, cicatrizante e emoliente. » Maracujá EG › Passiflora Incarnata Fruit Extract. › Calmante, amaciante e hidratante. » Melancia EG › Citrullus Vulgaris (Watermellon). › Hidratante, amaciante e remineralizante. » Melão EG › Cucumis Melo (Melon). › Amaciante, remineralizante e refrescante. » Melissa EG › Melissa Officinalis Leaf Extract. › Adstringente suave, amaciante e refrescante. » Morango EG › Fragaria Vesca (Strawberry). › Hidratante, condicionante e amaciante. » Nogueira EG* › Juglans Regia (Walnut). 52 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS › Cicatrizante, antisséptico, anti-irritante,colorante, adstringente, anticaspa e antiqueda de cabelos. » Orquídea EG › Phalaenopsis Amabilis Extract. › Antioxidante, hidratante e calmante. » Papaya EG › Carica Papaya. › Esfoliante, amaciante e condicionante. » Própolis EG › Propolis Extract › Antisséptico, antiacne e cicatrizante. » Romã EG › Punica Granatum Extract. › Cicatrizante, regenerador, antioleosidade, mineralizante, refrescante e adstringente. » Rosa Branca EG › Rosa Centifolia Flower Extract. › Adstringente, cicatrizante, anti-inflamatório, antisséptico, calmante e refrescante. » Sálvia EG › Salvia Officinalis (Sage) Leaf Extract. › Dermopurificador, antiperspirante, adstringente e cicatrizante. Óleos essenciais Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Alecrim Intense OE › Rosmarinus officinalis 53 CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS │ UNIDADE II › Ação adstringente, indicado para tratamento de acne, caspa e cabelos oleosos. Também ativa a circulação. » Laranja Amarga Intense OE › Citrus aurantium. › Antilipêmico, adstringente. » Lavanda Mont Blanc Intense OE › Lavandula officinalis. › Calmante (peles sensíveis, irritadas e queimadas). » Lemongrass Intense OE › Cymbopogon Citratus. › Infecções, acne, tônico geral, celulite, tratamento da pele e repelente de insetos. » Limão Siciliano Intense OE › Citrus limon. › Lipolítico, produtos para celulite e gordura localizada e pele oleosa. » Melaleuca Intense OE › Melaleuca alternifolia l. › Antiacne, tratamento da pele oleosa, higiene íntima, fortalecedor de unhas e anticaspa. Esfoliantes físicos Alguns produtos com seu INCI name e suas aplicações: » Cristais de Quartzo › Silica. › Renovador celular e esfoliante mecânico orgânico obtido de cristais. » Microesferas de Polietileno › Polyethylene. 54 UNIDADE II │ CONCEITOS DE COSMETOLOGIA E ATIVOS COSMÉTICOS NATURAIS › Esfoliante físico, abrasivo e renovador celular. » Semente de Apricot › Prunus Armeniaca (Apricot) Seed Powder. › Possui propriedades regenerativas do tecido cutâneo, além de proporcionar hidratação e maciez da pele. Porque as manteigas e óleos são utilizados na composição de shampoos, se os tensoativos são capazes de remover substâncias lipídicas? Manteigas e óleos conferem hidratação e não são afetadas pelos tensoativos. 55 UNIDADE III COSMETOLOGIA APLICADA NA ACNE, COSMÉTICA MASCULINA E HIPERCROMIA CUTÂNEA Nessa unidade estudaremos os princípios ativos, suas faixas de concentração, pH e incompatibilidades. Desta forma, teremos a capacidade de planejar as formulações magistrais, que são aquelas elaboradas em Farmácias de Manipulação. E neste momento vêm as perguntas: “É seguro manipular?” “Qual a diferença do manipulado para o industrializado?” “Por que a diferença de preço é tão grande em alguns casos?” Não estamos aqui para criticar os produtos industrializados. Vamos apenas apresentar em que realmente consiste a manipulação magistral. Em muitos casos, o produto industrializado poderá ser a melhor opção, pois além de ter um prazo de validade maior já se encontra pronto para compra e consumo. A manipulação magistral é um processo seguro e necessário. Do contrário, várias pessoas estariam sem opção de tratamento, por questões de dosagens ou forma farmacêutica. Por exemplo, crianças que precisam tomar antidepressivos podem ter dificuldade em utilizar comprimidos. Você conhece alguma suspensão industrializada de algum antidepressivo? O que a Farmácia faz é proporcionar conforto ao paciente, que, por necessidades individuais, não pode consumir um produto industrializado, com a vantagem de se associar em ingredientes de maneira única, personalizando a fórmula. O preço dos produtos está ligado à quantidade adquirida: a compra do produto industrializado leva em conta toda a produção da fábrica. O manipulado foi feito sob medida, isto é, em escala muito reduzida. No Brasil, a Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), é o órgão competente que regula legalmente o ramo, juntamente com o Conselho Federal de Farmácia e Anvisa. A Anfarmag possui um sistema de acreditação das Farmácias, o selo SINAMM, que atesta a qualidade do funcionamento e dos produtos. Procure este selo ao selecionar uma Farmácia e, principalmente, o farmacêutico. 56 CAPÍTULO 1 Acne: cuidados cosméticos A acne é uma patologia crônica e multifatorial, na qual as causas podem ser: genéticas, hormonais, alimentares, climáticas, medicamentosas, cosméticas e o estresse podem desencadear a doença. É caracterizada pela hiperqueratinização e oclusão folicular, com hipersecreção sebácea e proliferação da bactéria Propioniumbacterium acnes. É mais comum entre adolescentes, mas pode se estender até os 30 anos, acometendo os homens com mais severidade. A procura masculina por tratamentos estéticos constitui a maior parte dos casos. Os locais mais afetados são: face, peitoral e o dorso. A maioria das pessoas desenvolvem em algum momento da vida. O uso de cosméticos pela população leiga é irracional, com alta incidência de reações adversas. O sucesso do tratamento depende da seleção correta dos produtos e procedimentos, da disciplina e da adesão do paciente às medidas planejadas. Alergias e bactérias resistentes, em especial do Propionibacterium acnes, após uso prolongado bactericidas tópicos são as principais causas de falhas do tratamento de boa adesão. Patogenia: ocorre processo inflamatório crônico do folículo pilossebáceo, com quatro fatores considerados principais: » Obstrução do folículo piloso, secundário à descamação anormal dos queratinócitos foliculares. » Aumento da oleosidade e produção sebácea. » Proliferação da bactéria anaeróbica Propionibacterium acnes (P. acnes) e seu metabolismo, gerador de produtos irritantes. » Desencadeamento de respostas imunes e inflamatórias induzidas pelo P. acnes ou Staphylococcus aureus (bactéria da foliculite). Os queratinócitos se descamam formando um tampão que obstrui o folículo. Essa alteração pode estar associada a mudanças na composição sebácea por defeito na proliferação celular controlada por hormônios andrógenos. A partir daí, ocorre a formação do microcomedão (lesão microscópica), a fase inicial da acne. Os comedões são essencialmente saturações dos folículos pilossebáceos por sebo 57 COSMETOLOGIA APLICADA NA ACNE, COSMÉTICA MASCULINA E HIPERCROMIA CUTÂNEA │ UNIDADE III e queratina. A dor, comum nas acnes graus 2 e 3, vem do processo inflamatório gerado pelo sebo. São tipos de comedões: » Comedão fechado: pequena estrutura que bloqueia o fluxo do sebo, obstruindo o folículo e levando ao acúmulo de fragmentos celulares, bactérias e lipídeos na luz do folículo. Inflama com facilidade (o conteúdo do sebo é altamente inflamatório). » Comedão aberto: se vasos linfáticos forem pressionados até a saída da linfa, o local pode ficar com acúmulo de melanina como mecanismo de resposta, constituindo o comedão aberto, a lesão enegrecida por depósito de melanina, que sofre oxidação pela luz e pelo ar. O aumento na produção do sebo pode ser devido ao aumento de andrógenos circulantes (caso da maioria dos adolescentes), por maior resposta da glândula aos andrógenos ou ambas as causas. A influência da testosterona na acne Na pele e no couro cabeludo, verifica-se a presença da enzima 5α-redutase, que converte testosterona em 5-dihidroxitestosterona (5-DHT). A 5-DHT tem ação cem vezes mais potente que a testosterona no tocante à produção de sebo, obstruindo os folículos, causando a inflamação da acne e também a queda capilar. Como a testosterona é predominante em homens, a acne ocorre com mais severidade, por causa deste mecanismo. Se o excesso de oleosidade em pacientes acneicos e a calvície são da mesma via hormonal, logo pacientes acneicos deveriam ser calvos ou vice-versa? Nenhuma das opções é válida, porque o processamento enzimático da
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