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13
O Império Romano e a Medicina Galênica 
 
 
Os romanos foram administradores, soldados, diplomatas, estadistas e advogados muito 
capazes. Entretanto, as circunstâncias de país dominador devem ter contribuído para Roma não se 
caracterizar pela criatividade científica stricto sensu. A medicina romana foi pobre enquanto “cura” 
(copiada da Grécia), mas teve ótimo desempenho em prevenção, no campo da “saúde pública”. O 
Império determinou, por exemplo, que a assistência médica fosse dada por profissionais das cidades, 
especialmente encarregados da saúde do povo; esses médicos eram os arquiatras, divididos em comuns 
e palatinos, os primeiros, dos cidadãos e os últimos, da nobreza. Em qualquer dos casos, o 
atendimento era universal e gratuito. 
O atendimento da saúde pública ia além: o fornecimento de água limpa existia em Roma e em 
outras cidades importantes do Império. Roma tinha nove aquedutos e consumia três milhões de litros 
de água, por dia, só para “banhos públicos”, de início destinados à nobreza mas, depois, 
popularizados. Havia trezentos locais para estes banhos, com água fria ou aquecida. O abastecimento 
de mantimentos era organizado e a coleta de lixo era regular; promovia-se a vigilância sobre o estado 
das edificações, realizava-se o controle da saúde das prostitutas, e faziam-se censos regulares da 
população. 
O saneamento de Roma era adiantado e difundido aos países de todo o Império, como o de 
Segóvia, na Espanha. Os esgotos eram de excelente qualidade, como se vê pela Cloaca Máxima, 
mandada construir pelo quinto rei de Roma, Tarquínio Prisco, e ainda hoje parte do sistema de esgotos 
da capital italiana. Os cadáveres, pela Lei das Doze Tábuas, deveriam ser sepultados ou cremados fora 
dos muros da cidade. 
Celso () escreveu um tratado de clínica e cirurgia (“De Re Medica”- Das Coisas Médicas), no 
primeiro século da era cristã. Entretanto, a figura mais importante dentro da medicina de Roma foi 
Claudio Galeno (129 – 201 d.C.), um grego que exerceu influência sobre a medicina durante cerca de 
1.500 anos. 
 
I - Características da Medicina Galênica 
 
 
A principal doutrina patológica de 
Galeno se baseava no balanço adequado de 
naturais, não naturais e contranaturais. O que 
se altera no corpo humano durante a doença 
são três coisas: em primeiro lugar, as funções 
vitais (cuja conseqüência é a doença, 
propriamente); em segundo, a causa da doença; 
e, em terceiro, os sintomas ou manifestações 
concretas de mudanças nas funções vitais. 
Finalmente, Galeno agregou ao conceito de 
diátesis (tendência natural) outros dois 
conceitos de grande importância para sua 
patologia: “pathos” (alterações passageiras, 
que desaparecem quando se elimina a causa da 
doença) e “nósos” (o que persiste, sob as 
mesmas circunstâncias). 
 
 
14
Galeno considerava a doença como um 
estado do corpo humano, a afetar a um ou 
vários de seus componentes naturais 
(elementos, humores, espíritos, faculdades, 
etc.). Nada mais. Fora do corpo - seja no meio 
ambiente, seja no espírito - não podia haver 
doença como tal. Todas as coisas não humanas 
foram agrupadas em seis gêneros: ar e 
ambiente, comida e bebida, trabalho e 
descanso, sonho e vigília, excreções e 
secreções, movimentos e sentimentos da alma. 
Estas coisas podiam ser importantes como 
causas de doenças ou como elementos do 
tratamento, mas de forma alguma faziam parte 
da doença. Galeno negava a qualquer elemento 
subjetivo da doença uma existência real e 
independente das sensações do indivíduo. E 
afirma que a doença é uma “coisa”, distinta do 
corpo onde se encontra, mas tão real e objetiva 
como este mesmo corpo e formada pelos 
mesmos elementos. 
Seguindo fielmente Hipócrates e 
Aristóteles, Galeno se preocupava em 
estabelecer as causas das doenças. Recusava, 
com veemência, a teoria religiosa, que atribuía 
a doença ao castigo divino. Distinguia três 
tipos de causas principais: 1) causas externas 
ou primitivas (protocatárticas): devidas a 
alterações do tipo de vida ou de agentes 
físicos, e subdivididas em necessárias e não-
necessárias; 2) causas internas ou dispositivas 
(proegúmenas): determinadas pela constituição 
diferente dos diversos indivíduos, o que 
determina uma resposta variável a uma mesma 
causa protocatártica; este conceito é uma das 
primeiras formulações do papel da constituição 
genética do indivíduo; 3) causas continentes, 
conjuntas ou imediatas (sinéticas): alterações 
localizadas que resultam da ação combinada 
das anteriores e que desencadeiam o processo 
patológico propriamente dito, como um 
cálculo vesical é causa de anúria. 
A doutrina dos quatro elementos - fogo, 
ar, água e terra - a das quatro qualidades 
fundamentais - o quente, o frio, o seco e o 
úmido - continuava a dominar o mundo 
científico. Os quatro humores fundamentais, 
no seu equilíbrio e na correta proporção de sua 
mistura (crase) eram a condição de um estado 
de saúde. Dos humores dependiam também os 
diversos temperamentos dos indivíduos e a sua 
perturbação era a própria doença. 
Galeno acreditava serem as diferentes 
partes do corpo humano formadas da maneira 
mais perfeita e adequada à sua finalidade. Essa 
perfeição, verificada até nos mais ínfimos 
pormenores, revelava de maneira evidente a 
ação de uma inteligência superior, criadora e 
ordenadora do Universo. Tal doutrina 
harmonizava-se perfeitamente com as 
concepções religiosas de judeus, cristãos e 
maometanos. Este fato contribuiu para que os 
fiéis destas religiões acatassem e venerassem 
Galeno. 
 
• Anatomia e Fisiologia 
 
 
Em Galeno, não se pode dissociar a 
anatomia da fisiologia, intimamente unidas e 
integradas. Entretanto, fora de Alexandria, 
onde tinha estudado o cadáver humano e, 
particularmente, o esqueleto, Galeno só teve 
oportunidade de praticar dissecções e 
 
 
15
vivissecções em animais (cães, porcos, cabras, 
macacos). 
A descoberta dos efeitos da secção, 
completa ou parcial, da medula sobre a 
motilidade e a sensibilidade, e das 
conseqüências das diversas lesões 
experimentais do cérebro e do cerebelo, entre 
outras, fazem de Galeno um notável 
neurofisiologista. Entretanto, para ele, o 
problema central da fisiologia era a respiração, 
considerada o fenômeno vital por excelência. 
O coração (mais precisamente, o ventrículo 
esquerdo) aparecia como o órgão central da 
função respiratória, a fonte do calor intrínseco 
do organismo. O ar, a penetrar pela traquéia e a 
encher os pulmões em cada inspiração, 
transmite ao sangue uma “qualidade”. E, ao 
chegar ao ventrículo esquerdo, essa qualidade 
dá origem a uma espécie de “combustão 
invisível”, sem chama, a fonte de calor do 
corpo. Os pulmões, dispostos em torno do 
coração, insuflam ar e mantêm a chama acesa. 
Se a respiração cessa, logo se extingue a 
“chama da vida”. Galeno prova, 
experimentalmente, que não havia variação 
substancial entre o volume de ar inspirado e 
expirado. Logo, aquilo que no pulmão passava 
para o sangue não era uma substância material, 
mas um “fator vital”. Quando este fator perdia 
aquela “qualidade”, esgotava-se sua 
propriedade de alimentar as combustões ou o 
calor intrínseco dos animais, e devia ser 
renovado. 
Galeno distinguiu as artérias das veias, 
pela função e pelas características da parede. 
As artérias conduzem o sangue carregado do 
espírito vital e a sua parede, mais consistente e 
espessa do que a das veias, é apropriada à 
retenção do pneuma. As veias levam aos 
órgãos e às diferentes partes do corpo o sangue 
nutriente, espesso e escuro, e a sua parede é 
mais delgada e mais flácida do que a das 
artérias. O fígado é o órgão formador do 
sangue e, ao mesmo tempo, a origem das veias. 
Nele reside uma forma de pneuma: o “pneuma 
physicon” ou espírito natural. O fluxo do 
sangue faz-se a partir do fígado, de forma 
centrífuga. O movimento no sentido contrário 
era feito em certas horas do dia, para que se 
pudesse realizar a nutrição. A possibilidade do 
sangue se deslocar dentro das veias em um 
sentido, ouno contrário, era admitida sem 
dificuldade, numa época em que as válvulas 
venosas eram completamente desconhecidas. 
A causa da pulsação arterial foi interpretada 
como uma “dilatação ativa da parede arterial”.
 
• Diagnóstico e Tratamento 
 
O corpo é constituído por humores e 
partes sólidas, as doenças derivam da alteração 
dos humores ou da modificação da 
constituição das partes sólidas. Assim, o 
diagnóstico se sustenta não apenas na 
observação minuciosa dos sintomas objetivos e 
subjetivos, mas também no exame das 
excreções e dos produtos patológicos. Mereceu 
uma atenção especial o estudo do pulso, com 
mais de 40 variedades descritas. Galeno 
também escreveu todo um tratado de 
diagnóstico (“De locis affectis”), em que se 
ocupa, especialmente, da determinação da sede 
da doença. 
 
 
16
A terapêutica visava restituir o 
equilíbrio humoral perturbado pela doença. 
Além de uma complexa matéria médica, 
Galeno servia-se da dietética, da sangria, da 
aplicação de ventosas, do repouso, do 
exercício, da hidroterapia, da massagem, etc. 
As diferentes substâncias medicamentosas 
eram quase sempre empregadas em misturas, 
por vezes de grande complexidade. O exemplo 
mais radical é a célebre teriaga - antídoto 
contra todos os venenos, e remédio curativo e 
preventivo de valor universal; na receita de 
Galeno a teriaga se compunha de setenta e três 
ingredientes. 
 
II – Conclusão 
 
Durante cerca de doze séculos, Claudio 
Galeno será uma presença obrigatória na 
Medicina: será copiado, traduzido, comentado, 
invocado por todos os autores subseqüentes, e 
venerado como autoridade incontestável. Com 
se pode explicar o “fenômeno Galeno”? É 
certo que os 600 anos transcorridos entre a 
morte de Galeno e a instalação do Império 
Árabe foram testemunhas do surgimento, do 
desenvolvimento e da cristalização da 
autoridade política e espiritual mais absoluta 
que o mundo ocidental conheceu em toda a sua 
história: a Santa Igreja Católica Apostólica 
Romana, religião oficial de todo o Império 
Romano. Entretanto, em seu início, quando o 
majestoso Império Romano havia sido 
derrubado (413 d.C.) e de suas ruínas surgiam 
diminutos (nunca tímidos) os primeiros brotos 
do que seria o imenso poder do catolicismo, 
Galeno não contava nem com a presença árabe 
nem com a proteção eclesiástica do dogma. 
Paralelamente, a Teoria Humoral da 
Doença valeu-se do galenismo para remoçar e 
reforçar sua primitiva estrutura hipocrática, 
assim como para projetar-se no Império 
Bizantino, sobreviver à conquista de 
Alexandria pelos árabes (642 d.C.), e continuar 
sua existência e quase completa hegemonia no 
pensamento médico do mundo ocidental, até a 
conquista de Constantinopla pelos turcos (1453 
d.C.). Entretanto, não era a única que existia 
nesses tempos. A evolução do conceito 
religioso de enfermidade foi muito importante 
no início do cristianismo e na Idade Média. 
Além disso, deve-se citar a emergência de 
outras doutrinas (ou mistura de doutrinas) que 
tiveram grande influência sobre o pensamento 
médico, laico e profissional, na Idade Média: a 
alquimia, a astrologia e o ocultismo. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
GRANT, M. História Resumida da Civilização Clássica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. 
 
MARGOTTA, R. The Hamly History of Medicine. London: Reed International Books Ltda., 1996. 
 
 
17
ROSEN, G. Uma História da Saúde Pública. Trad.: Marcos Fernandes S. Moreira. São Paulo: Hucitec. 
Rio de Janeiro: Abrasco, 1994. 
 
SCARBOROUGH, J. Roman medicine. London and Southhampton: The Camelot Press, 1969. 
 
SOUZA, A. T. Curso de História da Medicina - das origens aos fins do século XVI. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbenkian, 1981. 
 
TAMAYO, P.R. El Concepto de Enfermedad - Su evolución a través de la historia - Tomo I. 
Guadalajara: Fondo de Cultura Economica, 1988.

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