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39
À Procura das Causas 
 
As Causas Biológicas: 
A Teoria da Etiologia Específica 
 
Pensar que agentes vivos pudessem dar origem a doenças infecciosas não era novidade, em 
meados do século passado. Desde a antigüidade remota, aventava-se a hipótese de serem estas 
doenças transmitidas por contágio, e causadas por “sementes”, “animálculos” ou “vermes”. 
Na Idade Média, a primeira reação ao aparecimento da Morte Negra, no século XIV, foi o 
pânico. Buscava-se a salvação na fuga, mas nem todos podiam, ou queriam, fugir. Além disso, as 
comunidades se negavam a admitir pessoas vindas de áreas onde houvesse a doença. Assim, era 
imperioso tomar medidas que protegessem os sadios e controlassem o mal. A experiência ganha com 
o combate à lepra fez com que o princípio do isolamento se desenvolvesse de forma rápida e 
generalizada. 
Além de se tomarem medidas no interior da própria comunidade, era preciso evitar a entrada da 
peste. Para isso, usava-se o método de isolar e observar pessoas e objetos durante um período, sob 
condições rigorosas, até se estabelecer que não estivesse com a peste. Assim surgiu a quarentena. 
Deu-se o primeiro passo, neste sentido, em Veneza, principal porto para entrada de produtos vindos 
do Oriente. De início, tratava-se de um isolamento de quinze dias; a seguir, trinta e, afinal, quarenta 
dias. 
Desde o séc. XVII já se havia demonstrado que a escabiose (popularmente conhecida como 
sarna) se devia ao ácaro Sarcoptis scabiei e não, como afirmou um autor da época, “ao Humor 
Melancólico de Galeno, nem ao ácido corrosivo de Sylvius, nem ao Fermento particular de Van 
Helmont, nem aos Sais Irritantes no Soro da Linfa, dos Modernos, mas às contínuas mordidas desses 
Animálculos na Pele”. Estas observações, entretanto, não tiveram qualquer conseqüência prática. As 
descobertas e os relatos de Leeuwenhoek (1632-1723), feitos com a utilização de um microscópio, 
despertaram algum interesse pela teoria do contágio animado, mas também sem resultados notáveis. 
Em meados do século XIX, alguns autores defendiam a idéia de que organismos vivos eram os 
responsáveis pelas doenças contagiosas e infecciosas. Esta teoria, entretanto, permanecia inaceitável 
para muitos clínicos importantes e para outros profissionais do mundo científico. A doutrina do 
“contágio animado” era tida como uma elaboração artificial da mente, uma fantasia sem qualquer base 
científica. 
 
I - Seres Invisíveis 
 
I.a - A “Geração Espontânea” 
 
 
 
40
Desde Aristóteles, e inclusive na era 
medieval e na renascença, se acreditava que 
seres vivos surgiam espontaneamente. Ao 
longo do tempo, esta idéia havia sofrido 
poucas contestações importantes, mas em 1688 
o médico italiano Francesco Redi demonstrou 
que não se desenvolviam larvas, quando se 
utilizava uma gaze para proteger a carne 
deteriorada da contaminação das moscas. A 
seguir, ele acompanhou todas as fases da 
metamorfose dos ovos, a larvas e até moscas. 
Sua demonstração, mais tarde 
confirmada por outros experimentadores, 
contribuiu para o descrédito da “geração 
espontânea” de organismos visíveis a olho nu. 
No entanto, mesmo depois da descoberta de 
seres microscópicos, em fins do século XVII, 
tal origem ainda era defendida para os 
pequenos “animálculos”, encontrados nas 
infusões de feno e outras matérias orgânicas. 
Em 1799, o abade Lazzaro Spallanzini 
declarou que se impediria o aparecimento de 
animálculos case se fervessem as infusões 
durante, no mínimo, 40 minutos. O químico 
Louis Pasteur interessou-se pelo problema e, a 
7 de abril de 1864, organizou uma 
demonstração pública na Sorbonne. Ele, 
depositou um caldo nutritivo em alguns 
frascos e lacrou-os: mesmo depois de muitos 
anos não havia qualquer sinal de vida dentro 
deles. A refutação do conceito de geração 
espontânea, nascido com Aristóteles, foi uma 
das condições preliminares para a aceitação da 
teoria do germe como causa de doenças. 
 
I.b - O Mundo Microbiano 
 
As pestes, e as várias doenças febris 
agudas, intrigavam os médicos. Nos escritos 
hipocráticos se defendia a idéia de serem as 
epidemias causadas por uma constelação de 
condições climáticas e circunstâncias do lugar. 
Hipócrates distinguiu as variações 
meteorológicas e o caráter das estações como 
os elementos determinantes da ascensão e do 
declínio das doenças epidêmicas, e das 
variações em suas incidências sazonal e anual. 
Este conceito de constituição epidêmica - um 
estado da atmosfera produtor de certas 
doenças, a se espalharem enquanto persistir a 
constituição particular – ganhou alento durante 
os séculos XVI e XVII. 
Thomas Sydenham (1624-1689), o 
grande clínico inglês, aprofundou essa maneira 
de ver. Em sua opinião, as doenças febris 
agudas se dividiam em dois grupos principais: 
as desordens epidêmicas - produzidas por 
mudanças atmosféricas - e as doenças 
intercorrentes - dependentes da 
susceptibilidade do corpo, e podendo, 
aparecer, portanto, independentemente do 
estado atmosférico. Peste, varíola e disenteria 
pertenciam ao primeiro grupo; escarlatina, 
amigdalite, pneumonia e reumatismo, ao 
segundo. Ao estado da atmosfera e às 
mudanças em que se produziam doenças, 
Sydenham chamou de “constituição 
epidêmica”. 
Os distúrbios epidêmicos aumentavam 
em gravidade e violência enquanto a força da 
constituição epidêmica crescia, e se atenuava à 
proporção que os elementos atmosféricos 
cediam lugar a uma nova constituição. Esta 
 
 
41
prevaleceria por um certo período e se lhe 
associavam outras doenças epidêmicas. 
Sydenham não tinha certeza quanto à natureza 
da mudança atmosférica, mas a atribuía a um 
miasma que se elevava da terra. E chegava a 
pensar em uma origem astrológica das 
epidemias. 
Girolamo Fracastoro (1478-1533), no 
tratado De Contagione Contagiosis Morbis et 
Eorum Curatione (“Sobre contágio, doenças 
contagiosas e suas curas”), tinha apresentado 
uma teoria do contágio. Esse livro representa 
um dos marcos na evolução de uma teoria 
científica da doença comunicável. A obra de 
Fracastoro se sustenta em um estudo da peste, 
do tifo, da sífilis e de outras doenças 
epidêmicas. Ele foi o primeiro a apresentar 
uma teoria da infecção, considerando-a uma 
conseqüência e não uma causa, a ser produzida 
por diminutos agentes - sementes ou seminaria 
, transmissíveis e que se reproduziam por si 
mesmos. A doença se instalava quando as 
sementes alteravam os humores e princípios 
vitais do corpo. 
Fracastoro não imaginava que as 
sementes se assemelhassem aos micróbios 
modernos; o mais provável é que as 
concebesse como substâncias químicas ou 
fermentos. Além disso, reconheceu três modos 
de contágio: por contato direto, de pessoa a 
pessoa; por agentes intermediários; à distância, 
e através do ar. Condições atmosféricas e 
astrológicas anormais favoreceriam as 
infecções. Fracastoro não descobriu, ou sequer 
previu, a existência das bactérias; mas, criou 
uma teoria contagionista, que, até finais do 
século XIX, rivalizou com a doutrina 
atmosféricomiasmática. 
Teoria Miasmática: os surtos das 
doenças epidêmicas seriam causados pelo 
estado da atmosfera. Aos poucos, esta teoria se 
modificou e se passou a considerar que as 
condições sanitárias ruins criariam um estado 
atmosférico que provocaria doenças. Muitos 
dos reformadores sanitários defendiam essa 
opinião e, assim, justificavam os esforços para 
melhorar o saneamento. 
Teoria Contagionista: o contágio 
específico era a única causa de infecção e 
doença epidêmica. 
Até a última parte do séc. XIX, dominou 
a doutrina mioasmática. No entanto, nenhum 
dos grupos tinha qualquer conhecimento de 
certos elos importantes na cadeia da infecção, 
tais como o portador humano e o inseto 
hospedeiro e vetor. 
Assim, embora existisse uma explicação 
para o mecanismo do contágio, as sementes da 
doença permaneceram obscuras. Aliás, até o 
séc. XVII não se levava muito a sério a idéia 
de diminutos organismos vivos causarem 
doenças tão graves. Entretanto, com a 
evolução das lentesde aumento simples e a 
aparição do microscópio composto, no séc. 
XVI, pôde-se investigar a natureza das 
diminutas seminaria de Fracastoro. 
O primeiro a observar bactérias e outros 
organismos microscópicos foi Antony van 
Leeuwenhoek (1632-1723), negociante de 
linho de Delft (Holanda). Em famosa carta à 
Real Sociedade de Londres, Leeuwenhoek 
descreveu as formas hoje conhecidas como 
cocos, bacilos e espirilos. Mas, aparentemente, 
não lhe ocorreu uma conexão entre seus 
“animálculos” e as doenças. Como ele os 
encontrara em meios inofensivos - água da 
 
 
42
chuva, solo, excreções humanas sadias - isso 
não chegava a surpreender. Entretanto, graças 
ao achado de Leeuwenhoek, vários 
microscopistas passaram a caçar os germes das 
doenças. No entanto, suas deficiências 
técnicas e teóricas produziram relatos confusos 
e contraditórios, e terminaram por levar a uma 
reação contra a teoria dos germes. 
A descoberta das bactérias, por 
Leeuwenhoek, fez reviver a questão: estas 
diminutas criaturas eram geradas 
espontaneamente ou nasciam de sementes? 
Investigadores logo descobriram a associação 
entre esses organismos e os processos de 
fermentação e putrefação, e sua presença no 
leite azedo, na carne podre, no caldo de carne 
estragado, enfim, onde decomposição ou 
putrefação ocorressem. Dos estudos que se 
seguiram, o mais importante foi o de Theodor 
Schwann, que concluiu não se dever a 
putrefação ao ar, mas a algum elemento que 
estava no ar. Schwann inferiu que este 
processo ocorria quando germes ou sementes 
alcançavam, pelo ar, a matéria orgânica e, 
nutrindo-se dela, se desenvolviam. 
Após o trabalho de Antony von 
Leeuwenhoek, os aperfeiçoamentos técnicos 
do microscópio, introduzidos no final do 
século XIX, reacenderam o interesse pelas 
formas de vida invisíveis a olho nu. Ferdinand 
Cohn foi um dos pioneiros do estudo 
sistemático da bacteriologia. Determinou que 
espécies individuais de bactérias se 
comportam de modo previsível, quando 
cultivadas de maneira específica, e podem, 
portanto, ser identificadas e classificadas. 
O primeiro relatório científico sobre 
uma doença provocada por um 
microorganismo parasitário transmissível foi 
feito por Agostinho Bassi, em 1835. Bassi, 
advogado italiano que dedicava parte de seu 
tempo à ciência, descreveu o organismo 
responsável pela muscardina (a doença do 
bicho-da-seda), de conseqüências econômicas 
desastrosas. Bassi descobriu que a transmissão 
da doença se fazia por contato, ou pelo 
alimento contaminado. Esse trabalho não 
impressionou os médicos da época. 
 
II - Um Tiro no Escuro 
 
No início do século XVIII, a varíola era 
endêmica nas cidades da Grã-Bretanha e do 
continente, e uma das principais causas de 
morte. Os boletins de mortalidade indicam que 
a metade de todas as mortes devidas à 
enfermidade ocorria entre crianças menores de 
5 anos. Na Inglaterra, em 1714, nasceu uma 
idéia para se enfrentar essa situação: a 
“variolização”. Desde séculos já se sabia que 
um ataque de varíola conferia imunidade. 
Seguindo esse princípio, se havia 
desenvolvido, e usado por muito tempo, em 
especial no Oriente, um procedimento de 
prevenção: inoculava-se matéria variólica de 
um caso benigno em um indivíduo sadio, para 
provocar um caso benigno, que iria conferir 
proteção contra qualquer ataque sério no 
futuro. 
Edward Jenner (1749-1823), um médico 
rural inglês, se interessava pela relação entre 
 
 
43
vacina e varíola e fazia inoculações. Em sua 
prática, ele encontrou pacientes nos quais a 
inoculação não vingava, porque eles já haviam 
tomado a vacina. Assim, Jenner teve a idéia de 
inocular um indivíduo com matéria vacinal de 
uma pessoa que tivesse contraído a doença 
naturalmente, e de utilizar a matéria colhida 
desse indivíduo para inocular outros, e assim 
por diante. 
Em 1796, a oportunidade de testar essa 
idéia se apresentou. Jenner inoculou um 
menino com matéria vacinal tirada da mão de 
uma ordenhadora que tinha apanhado a doença 
de modo natural; passadas várias semanas, ele 
inoculou o menino com a varíola. A 
inoculação não resultou em nada, o garoto 
estava imune! 
Jenner ofereceu suas observações à 
Sociedade Real, mas esta recusou-se a publicar 
seu artigo, e o próprio autor acabou por fazê-
lo, em 1798. Embora a recepção inicial não 
parecesse muito promissora, logo vieram 
confirmações da descoberta de Jener. 
Rapidamente se adotou a nova prática, e até 
1801 ao menos 100 mil pessoas haviam sido 
vacinadas, só na Inglaterra. A difusão da 
vacinação, por todo o mundo, foi espantosa. 
Em poucos anos, o artigo de Jenner tinha 
recebido traduções para as principais línguas 
européias. 
A descoberta de Jenner ofereceu um 
instrumento poderoso para o controle de um 
importante problema de saúde: a varíola. Não 
obstante, uma apreciação mais completa do 
impacto da vacinação no controle das doenças 
comunicáveis teria que aguardar a última parte 
do século XIX. 
 
III - A Bacteriologia 
 
Louis Pasteur (1822-1895) era químico, 
interessado em cristalografia. Em 1854, foi 
nomeado professor de Química e Reitor da 
Faculdade de Ciências de Lille. As indústrias 
de fermentação eram importantes para a vida 
econômica daquela cidade e um de seus 
fabricantes lhe propôs as seguintes questões: 
“Por que, algumas vezes, o vinagre se 
estragava durante sua produção?”; “O que 
fazia com que a fabricação de vinho e cerveja, 
por vezes, não desse certo, se havia uma rotina 
que era seguida de forma inalterável?”. 
Pasteur atacou primeiro o problema do 
azedamento do leite e da formação do ácido 
láctico, e demonstrou a participação de 
microrganismos no azedamento, embora não 
conseguisse isolá-los do leite. A seguir, 
investigou a fermentação alcoólica do vinho e 
da cerveja, a formação do ácido acético para 
fazer o vinagre e o aparecimento do ácido 
butírico, quando a manteiga tornava-se 
rançosa. Em 1871, em seu clássico Études sur 
la bière (Estudos sobre a cerveja), descreveu 
os resultados encontrados. Pasteur concluiu 
serem as diversas atividades bioquímicas 
(produção de álcool, ácidos láctico, butírico e 
acético) ocasionadas por microrganismos 
específicos. 
Com um interesse constante pela 
importância prática da ciência, Pasteur passou 
a dedicar seu trabalho a diversas “doenças” 
que afetavam a indústria de vinho. Para 
 
 
44
espanto dos produtores, ele diagnosticou 
anormalidades como “vinho viscoso”, “vinho 
oleoso” e “vinho amargo”, simplesmente ao 
examinar uma gota no microscópio e ao 
verificar quais micróbios cada uma das 
amostras continha. 
Pasteur não só pesquisou porque o 
processo de fermentação se tornava anormal, 
mas também como prevenir essa situação. Ele 
mostrou como suprimir as atividades de todos 
os organismos, com o aquecimento do vinho, 
por um curto período, a uma certa temperatura. 
Esse é o método conhecido como 
pasteurização , hoje aplicado ao leite e a 
outros produtos alimentícios. Ao estudar a 
fermentação, Pasteur descobriu, também, a 
existência de vida anaeróbica, ao notar que 
certos organismos não crescem na presença do 
ar, mas na sua ausência. 
A seguir, passou a aplicar a uma série de 
doenças humanas e de animais - como o 
carbúnculo, a cólera das galinhas, a erisipela 
do porco e a raiva - os ensinamentos obtidos 
com os estudos da fermentação. Em todas 
essas pesquisas, sempre teve dois objetivos 
principais: isolar e cultivar o organismo 
responsável pela doença e desenvolver 
métodos para controlar a infecção. 
Em 1879, quase casualmente, Pasteur 
descobriu que as galinhas inoculadas com uma 
cultura envelhecida de bacilos de cólera de 
galinha não desenvolviam a doença. Aprendeu, 
assim, a usar a “atenuação”, um 
enfraquecimento da virulência dos 
microrganismos, sem se alterar sua capacidade 
de proporcionar resistência. A atenuação veio 
a ser a base de diversas vacinas. 
Se Pasteur estivesse certo, ao considerar 
organismos específicos como responsáveis por 
alterações fermentativas - e pudesse 
demonstrar quesua exclusão impedia a 
ocorrência de fermentação - a doutrina da 
geração espontânea não mais se sustentaria. 
Pasteur provou, então, que os micróbios 
estavam universalmente presentes na 
atmosfera e que, submetidos à lei da 
gravidade, podiam assentar sobre líquidos ou 
sólidos e desencadear as mudanças da 
fermentação ou da deterioração. No entanto, 
se, por exemplo, se filtrasse o ar através de 
algodão cru tornava-se impossível desencadear 
esses processos. Em suma, Pasteur 
demonstrou, de forma experimental, o caráter 
fictício da teoria da geração espontânea. 
Um apelo urgente interrompeu suas 
pesquisas sobre a fermentação, em maio de 
1856. Uma epidemia misteriosa e prolongada 
vinha dizimando os viveiros de bicho-da-seda 
da França e levando os distritos atingidos a um 
estado de calamidade industrial. Embora 
Pasteur nunca tivesse visto um bicho-da-seda, 
pediram-lhe para estudar o problema. 
A carreira de Pasteur contém exemplos 
seguidos da interação de necessidade técnica e 
descoberta científica. Ele lidava com 
problemas de importância econômica imediata, 
embora seu interesse sempre ultrapassasse o 
problema específico, e se prolongasse até 
ramificações mais distantes. Assim, ao estudar 
a fermentação, ele já havia pensado em uma 
possível relação causal entre germes e doença. 
Após trabalhar dois anos com o bicho-da-seda, 
Pasteur se convenceu de que esse animal vinha 
sendo atingido por duas doenças 
 
 
45
transmissíveis, causadas por diferentes 
microorganismos. 
Em 1868 ele pôde indicar as causas 
dessas doenças e o modo de as controlar, 
assim salvando outra das grandes indústrias da 
França. Além disso, essas pesquisas deram 
grande sustentação à teoria microbiana das 
doenças. 
Em 1868, Pasteur sofreu um acidente 
vascular encefálico e seu estado de saúde 
limitou suas atividades. Apenas em 1877 ele 
retomou o estudo das doenças infecciosas em 
animais e no homem, mas, chegou a uma 
solução apenas parcial do problema. A prova 
final teria que esperar pela criação de técnicas 
para o controle rigoroso dos experimentos. 
Robert Koch (1843-1910) vivia em uma 
cidade de interior, onde clinicava e servia 
como funcionário médico do distrito. Além 
disso, tinha instalado em casa um pequeno 
laboratório, onde encontrou tempo para 
estudar o antraz (carbúnculo). Ele inoculou 
camundongos com o sangue de gado enfermo, 
e logo encontrou os mesmos bastonetes 
considerados responsáveis pela doença. A 
seguir, estudou o ciclo de vida dos bastonetes, 
inclusive a fase de esporos, uma fase de seu 
ciclo vital muito resistente ao calor e a outras 
condições adversas. 
Esse fato explicava a persistência da 
doença e sua reincidência na zona rural 
infectada: os esporos podiam sobreviver no 
solo, e causar nova infecção, muitos anos 
depois. Por fim, provou que o Bacillus do 
antraz, e nenhum outro microorganismo, 
produz a doença em um animal suscetível. 
A meticulosidade com que comprovava 
sua argumentação marcou os trabalhos de 
Koch e firmou-o na carreira científica. Assim, 
nascia a Bacteriologia Médica: pela primeira 
vez a origem microbiana de uma doença tinha 
sido reconhecida e sua história natural bem 
explicada. 
Durante as duas décadas seguintes, 
ocorreram avanços com extrema rapidez e, em 
geral, ao longo de duas linhas. Uma, 
característica do trabalho de Koch, levou ao 
desenvolvimento de técnicas para o cultivo e o 
estudo das bactérias. Pasteur e seus 
colaboradores tomaram outra direção, levaram 
sua atenção para os mecanismos da infecção e 
para as conseqüências desse conhecimento na 
prevenção e no tratamento das doenças 
contagiosas. 
Com os métodos criados por Koch, 
tornou-se possível estudar, de modo mais 
sistemático, os agentes de várias doenças 
infecciosas. Talvez, o maior legado de Koch 
tenha sido insistir na necessidade de um 
conjunto de rigorosos postulados, cada um dos 
quais tinha a ser preenchido antes que se 
pudesse considerar o organismo como o agente 
de uma doença específica. 
Entre 1879 e 1900 foram descobertos os 
agentes causais de, no mínimo, vinte e duas 
infecções. Entretanto, à medida que se 
confirmava o papel patogênico dos 
microorganismos, surgiam perguntas sobre os 
mecanismos da ação microbiana. Como se 
produzia a infecção? Como preveni-la? Como 
tratar suas conseqüências? 
A partir de 1877, a Bacteriologia 
francesa, nas mãos de Pasteur e seus 
colaboradores, se aplicou a responder essas 
perguntas, e se reconheceu a resistência à 
infecção como um problema importante. Neste 
 
 
46
processo, surgiu a idéia de se prevenirem 
doenças infecciosas por meio de vacinas 
preparadas com cepas atenuadas. Essas 
pesquisas levaram ao desenvolvimento da 
Imunologia e viriam a ter, no século XX, um 
impacto profundo e prático sobre a criação de 
um programa científico para a medicina. 
Assim, na última década do século XIX, 
várias questões importantes sobre as causas 
das doenças já haviam sido respondidas. 
Entretanto, alguns fatos permaneciam sem 
explicação. Em algumas doenças, como na 
febre tifóide e no cólera, novos casos ocorriam 
em pessoas sem contato direto com os 
indivíduos enfermos; em outras doenças, 
continuavam sadias pessoas expostas aos 
doentes. 
Nos primeiros anos de nosso século, 
uma série de brilhantes investigações 
revelaram a participação de vetores ou 
intermediários na transmissão de doenças 
comunicáveis. Descobriram-se seres humanos 
saudáveis portadores de organismos 
patogênicos, e se confirmaou a opinião de Max 
von Pettenkofer (1818-1901). Pettenkofer, 
médico higienista alemão, defensor da teoria 
miasmática das epidemias, em 1855 havia 
sugerido que portadores humanos, sadios, 
transmitiam o cólera. 
Por volta de 1900, Pettenkofer, aos 74 
anos de idade, ingeriu deliberadamente uma 
cultura com milhões de bacilos de cólera, 
isolados de um caso fatal. A seguir, apesar de 
apresentar uma imensa quantidade de bacilos 
de cólera nas fezes, sofreu apenas uma leve 
diarréia. 
A experiência do higienista alemão 
demonstrava a necessidade de se relativizar a 
teoria da etiologia específica. Na verdade, 
Pasteur e Koch não lidaram com eventos 
naturais, mas com situações experimentais. O 
pesquisador não consegue, nem tenta, 
reproduzir a natureza no laboratório. Isto 
significa que o agente etiológico é parte da 
questão, mas que muitos outros elementos 
devem ser considerados, ao se buscar a origem 
de uma doença. De fato, tão logo os 
bacteriologistas aperfeiçoaram os métodos de 
investigação, tornou-se claro ser possível 
encontrar um grande número de cepas 
patogênicas em indivíduos com excelente 
saúde. 
 
IV - As Causas Sociais ou “A Doença é a Vida em Condições Anormais” 
 
Desde o final do século XVI e o começo 
do século XVII, todas as nações européias se 
preocuparam com o estado de saúde de sua 
população, em um clima político, econômico e 
científico característico do período 
mercantilista. O mercantilismo não era apenas 
uma teoria econômica, mas, também, uma 
prática política que consistia em controlar os 
fluxos monetários entre as nações, os fluxos de 
mercadorias e a atividade produtora da 
população. A política mercantilista consiste, 
essencialmente, em aumentar a produção da 
população, a quantidade de população ativa, a 
produção de cada indivíduo ativo e, em 
estabelecer fluxos comerciais para haver a 
entrada, no Estado, da maior quantidade 
possível de moeda. 
 
 
47
Rudolf Ludwig Carl Virchow (1821-
1902) nasceu na Pomerânia, região noroeste da 
Alemanha. Simultaneamente ao seu trabalho 
clínico, Virchow iniciou estudos de química e 
histologia. Por seu talento e dedicação, tudo 
indicava que cedo alcançaria posição de 
destaque no meio médico alemão e, até, 
internacional. Entretanto, suas idéias e ações 
políticas, e suas convicções pessoais (era 
liberal, agnóstico e anticlerical), o levaram a 
opor-se e a combater o governo prussiano, de 
quem dependiam seus empregos. 
Pelas mesmas razões, participou 
ativamente da revolução alemã de 1848e 
publicou, durante cerca de um ano, uma 
revista semanal (“A Reforma Médica”) onde 
fazia críticas severas ao governo e defendia a 
necessidade urgente de uma mudança radical 
na estrutura da sociedade, a fim de se 
proporcionar um nível de vida melhor para as 
pessoas, vida baseada na democracia total e 
sem limites, assim como na educação, na 
liberdade e na prosperidade. 
Formado em medicina em 1843, 
Virchow dirigiu-se à Berlim com este 
propósito um ano após Theodor Schwann 
anunciar uma descoberta tão decisiva para a 
história da medicina quanto para a sua própria: 
a célula animal. Em 1838, soube-se que os 
animais, tal como já se sabia acerca das 
plantas, tinham células nucleadas como sua 
unidade biológica básica. A partir daquele 
momento, pareceu então ser possível realizar o 
estudo científico dos fenômenos elementares 
da doença. De início, porém, uma dificuldade 
detinha os pesquisadores: “qual era a origem 
da célula?”. Virchow foi o primeiro a refutar 
com veemência a teoria dominante – a 
“geração espontânea” a partir do blastema, 
uma substância rudimentar, indiferenciada e 
homogênea - e provar que uma célula sempre 
provém de outra, que o fenômeno da vida 
consistia de uma “legítima sucessão de 
formações celulares”, “onde surge uma célula, 
uma célula deve ter previamente existido, tal 
como um animal só pode nascer de outro 
animal e uma planta de outra planta”: omnis 
cellula e cellula. 
Para melhor compreensão das 
características e do alcance da obra de 
Virchow, pode-se dividi-la em três períodos de 
duração desigual. O primeiro, se estende até o 
ano de 1849 e diz respeito à iniciação 
científica e a um intenso ativismo social e 
político. Por um lado, registra-se o início de 
seu interesse sobre as células, seus estudos 
sobre a leucocitose, sobre a triquinose (que 
determinou o início do controle sanitário da 
carne, na Alemanha), sobre alguns tumores 
hepáticos, sobre a flebite e os fenômenos da 
trombose e do embolismo, e é impressionante 
o grau de permanência de seus conceitos e 
termos técnicos. Por outro lado, havia seu 
engajamento apaixonado na cena política, se 
não determinado, ao menos em muito 
influenciado por um episódio marcante em sua 
atuação como médico. 
No verão de 1847, irrompeu na região 
da Alta Silésia uma epidemia que veio a ser 
conhecida como “tifo da fome”. Como as 
autoridades locais vissem o fracasso de seus 
esforços, em fevereiro de 1848 o governo 
central de Berlim enviou uma comissão (da 
qual Virchow era membro) com a tarefa não 
apenas de explicar o fenômeno, mas de 
resolvê-lo. De pronto, Virchow reconheceu a 
 
 
48
causalidade social da epidemia, fazendo de seu 
relatório uma veemente condenação ao regime. 
Após uma pormenorizada análise da situação 
local, que se estendia desde aspectos clínicos, 
epidemiológicos e culturais, até o 
levantamento do número de escolas, fábricas e 
estabelecimentos públicos, e a recomendações 
sobre o tratamento dos casos individuais, 
apresentou a seguinte conclusão: “Todos 
sabem que o proletariado de nossa época foi 
trazido à existência pela introdução e pela 
melhoria da maquinaria; que, à proporção em 
que agricultura, manufatura, navegação e 
transporte por terra - graças ao 
aperfeiçoamento de instrumentos – adquiriram 
uma extensão sem precedentes, a energia física 
do homem perdeu de todo sua autonomia e os 
seres humanos foram incorporados como 
meras engrenagens na empresa mecânica, 
tratados como se não tivessem mais valor do 
que matéria morta ... Deve ser este o 
significado último da maquinaria na história 
da civilização? Os triunfos do gênio humano 
devem levar a apenas isto, a que a raça 
humana se torne mais miserável? ... Nosso 
século deu início à chamada era social e o 
objetivo de suas atividades deve ser o de 
reduzir, ao máximo, as partes puramente 
mecânicas da atividade humana ... ele não 
devia desperdiçar suas melhores energias na 
produção de capital ... ao menos, o capital e a 
força de trabalho devem ter direitos iguais, e 
as energias vivas não devem mais estar 
subordinadas ao capital morto.” (Virchow, 
1985: 308-311) Quanto ao tratamento desta 
epidemia e prevenção das demais, prescreveu: 
“democracia completa e ilimitada, liberdade, 
educação e prosperidade”. 
Talvez por sua fama, ou pela ilusão de 
poder tê-lo a seu lado, o governo tolerou as 
críticas de Virchow por bastante tempo. Até 
que, em 1849, despediu-o de todos os seus 
cargos. A reação dos médicos e estudantes foi 
tamanha e tão ruidosa que, quinze dias depois, 
Virchow estava de volta ao trabalho. Antes do 
fim deste ano, ele aceitou a primeira cátedra 
alemã de anatomia patológica, onde 
permaneceu por sete anos. Tinha, então, 28 
anos de idade e um sólido prestígio, não 
apenas por suas contribuições originais sobre 
temas como trombose e embolia, mas também 
por suas idéias sobre saúde pública, 
epidemiologia e antropologia. 
Em 1856, Virchow foi convidado a 
assumir a cátedra de patologia em Berlim, 
onde trabalhou pelos 46 anos seguintes, até o 
fim de sua vida. Aí, além de continuar suas 
carreiras de patologista, higienista e 
antropólogo, iniciou uma quarta atividade: 
regressou à prática ativa da política, tornando-
se conselheiro da cidade para assuntos 
sanitários e participando da fundação do 
Partido Progressista Alemão. 
É curioso notar que, para Virchow, suas 
diversas atividades nada tinham de 
antagônicas, ao contrário, mostravam-se como 
diferentes faces da mesma realidade. Por 
exemplo, ele afirmava que a medicina era uma 
ciência social, que “a política nada mais é do 
que a medicina em grande escala”, que o 
“problema de saúde pública é um somatório de 
transtornos físico/biológicos adicionados a 
limitações de ordem social” e “a doença é a 
vida em condições anormais”. Para Virchow, 
os problemas médicos deveriam, em 
primeiríssimo lugar, ser resolvidos através da 
 
 
49
prevenção e, depois, de acordo com a 
gravidade, através da cura, alívio ou consolo. 
De uma maneira geral, Rudolf Virchow 
defendia os seguintes princípios: a saúde do 
povo é um assunto de interesse social 
prioritário; a sociedade tem a obrigação de 
proteger e assegurar a saúde de seus membros; 
as condições sociais e econômicas exercem um 
efeito importante sobre a saúde e a doença e há 
necessidade de considerar essas relações em 
uma investigação científica. 
Ele indicava, ainda, que uma das 
principais funções da saúde pública era o 
estudo das condições de vida dos vários 
grupos sociais e a determinação dos efeitos 
dessas condições sobre a saúde; com base 
nesse conhecimento, seria possível agir. 
Concluía, então, que os passos para promover 
a saúde e combater a doença deviam ser 
sociais e médicos. Neste sentido, não apenas 
propôs a oferta de serviço médico para os 
pobres, como defendeu a inclusão, na 
constituição, do direito do cidadão ao trabalho. 
Porém, com a derrota da revolução de 
1848, Virchow perdeu a disputa política para o 
primeiro ministro von Bismarck que, em 1861, 
conseguiu unificar a Alemanha. Curiosamente, 
a partir de 1865, Virchow iria aproveitar-se da 
prosperidade alemã, proporcionada por 
Bismarck, para promover diversas reformas 
municipais em Berlim, como a instalação de 
drenagem e água potável corrente. 
 
 
V - As Causas Mentais 
 
Sigmund Freud (1856-1939) foi o 
criador da psicanálise, fixador da noção de 
“inconsciente”, da divisão funcional da mente 
humana em ego, superego e id e o defensor da 
idéia de que a evolução do indivíduo marca o 
padrão de sua vida adulta. Para ele, a doença 
mental teria sempre esse matiz evolutivo, e 
não dependiam de lesões anatômicas cerebrais, 
embora estas também fossem importantes, 
como na oligofrenia, na sífilis terciária, etc. 
Ao longo de sua carreira, Freud teve que 
construir seus próprios instrumentos de 
trabalho. Por herança, só recebeu o conceito 
do inconsciente, que provém do séc. XVIII - 
por exemplo, com Leibniz (1646-1716). 
Em 1873, Freud ingressou na Faculdade 
de Medicina e, entre1876 e 1882, trabalhou 
em um laboratório de fisiologia, em pesquisas 
sobre a histologia do sistema nervoso. A essa 
altura, já revelava grande interesse pelo estudo 
das doenças mentais, bem como pelos métodos 
utilizados em seu tratamento. A necessidade 
de ganhar a vida obrigou-o a abandonar a 
pesquisa e a dedicar-se à clínica psiquiátrica. 
Em 1855, obteve uma bolsa para estudar 
em Paris, com Jean Martin Charcot (1825-
1893), o grande mestre da Neurologia. 
Segundo seu próprio relato, foi Charcot quem 
lhe chamou a atenção para as relações 
existentes entre a histeria e a sexualidade, tese 
de que nunca abriu mão. Nesta ocasião, 
concebeu um plano de trabalho destinado a 
distinguir as paralisias orgânicas das 
histéricas. A idéia central era demonstrar que, 
na histeria, as paralisias e as anestesias das 
diversas partes do corpo são delimitadas 
 
 
50
segundo uma representação não anatômica. 
Após seu regresso a Viena, recebeu violentas 
críticas por defender a idéia de que a histeria 
não era um quadro exclusivo das mulheres. 
Além disso, ao contrário de Charcot, Freud 
achava possível a existência de quadros 
histéricos em pacientes sem qualquer lesão 
orgânica. 
Entre 1882 e 1896 Freud trabalhou com 
Josef Breuer e descreveu a íntima relação entre 
os sintomas histéricos e certos episódios da 
infância. Em 1900, Freud publicou “A 
Interpretação dos Sonhos”. Em 1908, junto 
com um grupo de jovens médicos, fundou a 
Sociedade Psicanalítica de Viena e realizou, 
em Salzburg, o primeiro congresso de 
psicanálise. Em 1910, deu-se, em Nuremberg, 
o segundo congresso, ocasião em que foi 
fundada a Associação Psicanalítica 
Internacional, dividida em seções locais. Com 
o advento do nazismo e as crescentes pressões 
sobre os judeus Freud mudou-se para Londres, 
em 1938, onde veio a falecer, de câncer. 
Sigmund Freud conceituava a 
psicanálise como: a) um método para a 
investigação de processos mentais, de outro 
modo inacessíveis; b) um método, baseado 
nessa investigação, para o tratamento de 
desordens neuróticas; c) uma série de 
concepções psicológicas, a formarem uma 
nova disciplina. 
Assim, a psicanálise apresenta-se como 
uma prática (a cura analítica) e uma técnica (o 
método da cura), a proporcionarem a 
construção de uma teoria. Na verdade, a 
psicanálise se conceitua como uma técnica de 
interpretação. As curas que, por seu 
intermédio, se obtêm seriam apenas 
decorrência. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
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EISENBERG, L. Rudolf Ludwig Karl Virchow, Where are you now, that we need you?. The 
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_______ . Uma História da Saúde Pública . trad. Marcos Fernandes S. Moreira. São Paulo: Hucitec. 
Rio de Janeiro: Abrasco, 1994. 
 
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TAMAYO, P.R. El Concepto de Enfermedad - Su evolución a través de la historia - Tomo I. 
Guadalajara: Fondo de Cultura Economica, 1988. 
 
VIRCHOW, RLK. Collected Essays on Public Health and Epidemiology - Volume 1. Bethesda, 
Maryland: Science History Publications, 1985.

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