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AULA 14(Carlos Alberto)

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Rio, 10 de novembro de 2010 
Direito, psicologia e subjetividade
A emergência no ser humano da possibilidade de pensar e agir levando em conta outros interesses e necessidades além de nós próprios é uma conquista que pode ou não acontecer dependendo do contexto (do ambiente) – desde o primeiro ambiente, a família, até a sociedade como grupo maior no qual a pessoa está envolvida. O fato do sujeito se tornar um cidadão capaz de reconhecer o outro (motivado para se sujeitar àquilo que exprime a vontade coletiva) é uma conquista. 
A partir disso pode-se fazer a comparação entre uma leitura dinâmica, historicista de Winnicott e a leitura determinista de Freud. Para Freud, o sentimento de culpa torna o sujeito capaz de reconhecer o outro – a vida social teria uma motivação, portanto, bastante negativa.
Reflexão em torno do direito penal. Winnicott, no inicio do capítulo 11, indica que a capacidade de se envolver com o outro é um olhar positivo que na ótica freudiana era negativo (já que decorre do sentimento de culpa, para Freud era a razão de infelicidade do mundo). O ambiente pode permitir que o sentimento de culpa fique como uma doença ou se transforme em uma capacidade de responsabilidade social. Para Winnicott, o sentimento de culpa é um ganho: é algo que se conquista. É uma conquista pois é a conseqüência do individuo ter superado o narcisismo e ser capaz de se colocar no lugar do outro (como indica Rousseau, ter compaixão). Essa culpa pode se transformar em negativa ou positiva. 
Antes da integração, o sujeito não se vê como “eu”. Ele é apenas o centro narcísico de um todo. O olhar para o ambiente faz com que o “eu” surja. Isso ocorre por volta dos seis meses. Não há uma pulsão destrutiva inata para atacar o seio objetivando destruí-lo (como indicava Freud). Segundo Winnicott, isso não ocorre – o bebê ataca o seio para se nutrir, ele ainda não é capaz de um sentimento tão concreto. Nesse momento, não há mãe – apenas mãe-objeto, que é exclusivamente uma fonte de alimento. A mãe que confere carinho, por outro lado, é a mãe-ambiente. Ambas não são relacionadas para o bebê. Depois, a integração do eu acarreta a integração da mãe. Qual desses ocorreria primeiro? Qual é a causa e qual é o efeito? Essa pergunta não tem resposta adequada, porque isso não depende de explicação e sim de compreensão. A compreensão não opera com relações de causa e efeito. A palavra compreender significa dar a volta em algo o olhando por todo o lado. O processo de integração vai e volta – ele pode aparecer e desaparecer muitas vezes até que se consolida. Mesmo quando se consolida, não é total. Até mesmo pessoas sadias podem, diante de enorme pressão, perder o senso de eu. Quando se integra, o bebê percebe que ele excitado e ele calmo é o mesmo bebê. Portanto, ele começa a sentir responsabilidade pelo momento excitado que o levou a querer engolir parte da mãe (destruí-la). 
Como a criança se lida com aquilo que é externo? No começo, interno e externo são relativos (antes da integração). Após adquirir essa noção, o bebê não gosta da situação. O bebê busca destruir em sua mente essa mãe que lhe aparece como não-eu. Mas a mãe continua a existir. Além disso, ela não retalia – ela continua agindo como agia antes. Depois de tentar destruir a mãe várias vezes, ele passa a amar – só se pode amar aquele que se reconhece como diferente. A simbiose, portanto, não é amor – é necessidade. 
Nossa teoria política moderna está fundada na noção de que o homem é o lobo do homem. Winnicott indica que não necessariamente será assim: depende do ambiente. 
A culpa tende a evoluir no sentido do sujeito reconhecer a responsabilidade na convivência com o outro. Assim, ele conquista responsabilidade pelo que faz e pelo que sente. Nós sempre sentimos, mesmo nas melhores reações, um misto de sentimentos negativos e positivos. O sujeito precisa aprender a conviver com sua ambivalência. 
A depressão, em grande parte, é uma expressão do sentimento de culpa. 
A base da família é a capacidade de um envolver o outro em meio à família. Essa capacidade vai se exprimir, posteriormente, na vida social e na capacidade de trabalhar. A capacidade de se envolver não é opcional – é uma questão de saúde. Quem não se envolve é psiquicamente mutilado – nós somos constitutivamente animais sociais. Se o lado social não existe, uma parte importante de nós não se desenvolve. Para Winnicott, a capacidade de se envolver é uma proeza do homem. 
Winnicott usa o termo “círculo benigno” – oposto ao círculo maligno. Ele é um processo circular que vai provocar uma transformação fundamental. O bebê se integra, a mãe se integra, ele quer destruí-la, ela sobrevive, ele a reconhece, ele sente culpa, gera a responsabilidade social, etc. No psiquismo sempre existem movimentos de ida e volta – isso é importante.
Quando o bebê conquista um sentimento de culpa, o comportamento adequado no ambiente ajuda o bebê a se envolver. E quando o ambiente fracassar? O que acontece? Pode acontecer que a culpa fique lá e a pessoa tenha que viver com a culpa – os impulsos, por exemplo, podem ser inibidos. O sujeito também pode apelar para defesas bem radicais. Uma defesa pode ser a desintegração. Não-integração é normal (quando dormimos ela ocorre), desintegração não. A criatividade genuína ocorre sempre em estado de não-integração. A insônia pode ocorrer porque a pessoa tem pânico de se desintegrar. A desintegração é o abandono defensivo do processo de integração. Ocorre quando o indivíduo, por exemplo, retira a raiva de si – podem existir, por exemplo, duas personalidades sendo que uma é má. A desintegração é doentia, assim como não conseguir alcançar a integração. Ser integrado e se desintegrar é uma regressão.

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