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1/1 O dilema dos valores Goodrich Um caso verídico ocorrido no final da década de 60. A empresa B.F. Goodrich tinha um contrato com a força aérea norte-americana para equipar seus novos aviões A7D com freios de ar comprimido. O prazo de entrega era muito curto, mas os executivos resolveram cumprir o contrato a todo custo. Os primeiros testes mostraram que os freios estavam falhando. A data de entrega chegou e os freios foram entregues assim mesmo. O avião de prova teve um acidente. Uma investigação mostrou que as falhas do desenho original nunca foram corrigidas e que vários engenheiros tinham falsificado os relatórios dos primeiros testes para cumprir os prazos. O interessante é que todos eles estavam convencidos de que fizeram o que a empresa esperava que fizessem. (SROUR, Robert. Ética Empresarial. Elsevier: Rio de Janeiro, 2008, pgs.182- 183). Outro choque entre valores pode ser apreciado no filme The priest. Em segredo de confissão, um padre descobre que uma garota de 14 anos vem sofrendo repetidos abusos sexuais. E quem é o causador? O pai dela! A dor e o medo da garota são grandes, mas, embora o sigilo confessional proíba o sacerdote de falar ou de fazer algo, ele fica revoltado com as sevícias que lhe foram relatadas. Qual a orientação a seguir? O religioso arrisca insinuações e roga ao pai para que mude de comportamento. Este manda meter-se na própria vida! Logo depois, a mãe da garota descobre o drama da filha e pressiona o padre para que ele a ajude de algum modo. Preso a seus juramentos, este nada faz. A mãe, então, o amaldiçoa, predizendo-lhe os horrores do inferno! Aturdido pelo conflito de valores, o sacerdote fica dilacerado.Como fixar uma precedência entre o dever do sigilo, o anseio por justiça e a compaixão pelo sofrimento alheio? No filme, a primazia do segredo da confissão (sacramento da penitência) deixa o padre de mãos atadas. 2/3 Vejamos mais um exemplo na esfera empresarial. A Manville Corporation teve sérios problemas com pessoas que reclamaram por terem ficado doentes após 15 ou 20 anos de exposição aos produtos de asbesto (amianto). As demandas alcançaram a espantosa cifra de um bilhão de dólares. Daí em diante a empresa decidiu não mais fabricar ou vender produtos até que pudessem ser manufaturados e usados com segurança, não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Empenhou-se em testes exaustivos e passou a colocar rótulos nas embalagens, em 12 idiomas diferentes. Todos os rótulos apresentavam um grande “C”. Então, autoridades e clientes japoneses disseram à empresa que, se o rótulo viesse escrito em japonês, não fariam negócio! Se fosse em inglês, vá lá! A operação a ser desenvolvida com o Japão representava vinte milhões de dólares e estava à mercê de concorrentes dispostos a tudo. A Manville Corporation, todavia, não arredou pé de sua política. Em consequência, perdeu grande parte da operação. Aos poucos, porém, foi sendo recuperado o terreno perdido, pois os japoneses reconsideraram sua posição e o governo japonês fez saber à Manville que admirava sua coragem. Vale lembrar que a postura da Manville se deveu a uma reação ao seu passado repulsivo: ela havia ocultado deliberadamente de seus empregados os riscos de se trabalhar com o asbesto.
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