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Cidadania Fée POR LUIZ GOMES DE MOURA 2 FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE COORDENAÇÃO GERAL DE GRADUAÇÃO CIDADANIA E FÉ CIDADANIA E FÉ EM REGIME DE EAD POR LUIZ GOMES DE MOURA RECIFE, 2016 3 FICHA CATALOGRÁFICA Moura, Luiz Gomes. Cidadania e fé em regime de EAD. [recurso eletrônico]. Luiz Gomes Moura. – Recife: Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), 2016. 1. Educação cristã. 2. Humanismo social cristão 3. Cidadania cristã 4. Teologia social 5. Cidadania e fé – Educação à distância I. Título. CDD 261.5 Elaborada por Lenice Moura CRB-4/564. 4 SUMÁRIO 06 A condição do humano..................................................................... BL4 11 Cidadamia ou política........................................................................ BL4 14 “Cidadania e Fé” em Gentileza......................................................... BL4 20 Onde está sua titulação - Pedagogia............................................... BL5 30 Ética da Vida - Ciênicias Biológicas.................................................. BL5 37 Economia comprometida - Administração/Ciências Contábeis.. BL5 41 Cidadania, fé e literatura em Ariano Suassuna............................... BL5 47 Religião e Psicologia de Nosso Povo - Psicologia............................ BL5 53 “Pela Lei de Deus e pela Lei dos Homens quem está com fome tem direito de furtar”.................................... BL6 58 Comer Beber Juntos - A Comensalidade........................................ BL6 62 A Cultura de Paz num Mundo em Conflito....................................... BL6 Cidadania Cidadania e Fé Aplicadas aos Cursos Bloco 04 6 Capítulo 08 - A CONDIÇÃO DO HUMANO Nada mais misterioso que o ser humano, o único animal que questiona a si próprio. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? É também o único que não consegue responder. É complexo. Não é apenas biológico; é também ser de transcendência. O salmista já dizia: “mas que coisa é o homem para que dele vos lembreis” (Cf. Salmo 8). Teu nome, Senhor é tão bonito Tu moras no céu, lá nas alturas Até criancinhas que ainda mamam Já sabem que vences o inimigo. Olhando pro céu que tu fizeste Eu vejo as estrelas, vejo a lua/ Entendo que o homem vale muito Pois tudo pra ele tu fizestes. Menor um pouquinho do que os anjos Mas cheio de glória e de valor/ De Ti recebeu poder e força De tudo vencer e dominar. Os bois e as ovelhas nos currais E o gado que pasta pelo campo Os peixes do mar e os passarinhos E tudo o que corta o ar e as águas. Foto retirada do site: http://www.sinaisdoreino. com.br/?cat=1&id=2591 Salmo 8, na versão d e Pe. Jocy Ro drigues 7 O salmo 8 foi escrito alguns séculos antes de Cristo, mas hoje o homem continua com o mesmo questionamento. Vamos escutar um depoimento de um artista das letras que questiona a condição humana, tal qual o salmista. Carlos Drummond de Andrade, em “Especulações em tor- no da palavra homem”, assim se expressa com muita arte: Foto retirada do site: http://www.escritas.org/pt/multi- media/carlos-drummond-de-andrade Mas que coisa é ho mem, que há sob o nome : uma geografia? um ser metafísico? uma fábula sem signo que a desmo nte? Como pode o hom em sentir-se a si mesm o, quando o mundo s ome? Como vai o homem junto de outro hom em, sem perder o nome ? E não perde o nom e e o sal que ele com e nada lhe acrescent a nem lhe subtrai da doação do pai? Como se faz um ho mem? ESCUTE A P OESIA DE DRUMMON D NA ÍNTEGRA 8 Responda essas questões se for possível! É próprio da essência humana não conseguir responder as questões que giram em tor- no de sua essência humana. Karl Marx, de ideologia materialista marxista, ao questionar a condição humana, encaminhava sua reflexão comparando o homem ao animal. O ser humano difere dos animais porque o homem é um ser que trabalha; o animal não trabalha. O ser humano é o único que ao trabalhar tem uma ação de reflexão antes. Antes de trabalhar ele pensa o tra- balho. O animal não pensa o trabalho; reproduz um instinto que eternamente existe dentro dele. É claro que quando Marx fazia essas considerações imaginava fazer uma crítica ao Capitalismo, onde o trabalho era para o homem um castigo e não uma atividade prazerosa. Criticava ainda no sentido de dizer que, no trabalho, era alienado dos bens que produzia. Ele fazia, mas o que fazia nada era seu. Enfim. O homem é um ser que trabalha. Para Marx, além disso, o homem é um ser que produz cultura. Ao trabalhar, o homem manifesta ser um ser cultural. Só o homem tem a capacidade de criar e de inventar. Uma casa construída no norte da Europa não é do mesmo jeito de uma outra construída no norte da África. Uma casa construída no nordeste do Brasil é diferente de uma outra cons- truída no centro-sul. São culturas distintas. A casa que o João de Barro faz é eternamen- te daquela forma. Assim é o mel feito de forma maravilhosa pelas abelhas. Os animais, diferentemente dos humanos, não produzem cultura, mas reproduzem eternamente um instinto que está dentro deles. Foto retirada do site: https://pt.wikipedia. org/wiki/Karl_Marx Foto retirada do site: http://bolsaoimoveis.com/prop- erties/agent-with-contact-7-on-sidebar-left/ Foto retirada do site: http://leandragoncalves.blog. uol.com.br/foto/ Casa Européia Casa Africana Foto retirada do site: http://www.recriarcomvoce. com.br/blog_recriar/casa-joo-de-barro/ Casa do João de Barro 9 Desde que o homem é homem manifesta também ser um ser religioso. Os primeiros objetos construídos pelo homem foram além de ser objetos de trabalho, foram também objetos religiosos: objetos materiais para atrair fertilidade ao campo para produzir mais alimento; objetos que eram co- locados sobre seu corpo, tipo figa, para atrair sorte e bem-estar. Medalhas, escapulários ou fitas e outros que os religiosos põem sobre o corpo são um pouco a continuação desse costume tão antigo. É pró- prio da condição humana ser um ser religioso. Morte que dá sentido. Voltemos ao poeta, que continua os questionamento sobre a con- dição do humano: Quanto vale o homem? Menos, mais que o peso? Hoje mais que ontem? Vale menos, velho? Vale menos morto? Menos um que outro, se o valor do homem é medida de homem? Como morre o homem, como começa a? Sua morte é fome que a si mesma come? Morre a cada passo? Quando dorme, morre? Quando morre, morre? Discutindo em sala de aula com os alunos dos mais diversos cursos, alguém sabiamente refletiu dizendo que a morte do homem dá valor à vida. Ninguém pediu para nascer e nasceu. Uma vez nascido sem ter pedido, agora o que se quer é viver. Ninguém pensa em morrer, mas a única certeza que se tem é que inevitavel- mente se marcha para a morte. Vem a crise. Eu quero viver, mas sei que vou morrer. Boff afirma: “E somos todos mortais. Custa-nos acolher a morte como possível passagem para uma outra forma de vida e outro estado de consciência. E sofremos com a dramaticidade do destino humano, por vezes tão trágico” (BOFF, 2008, p. 166). Gilberto Gil, artista, compositor, manifesta-se também como teólogo, sem nunca ter es- tudado teologia, e deixa bela contribuição sobre a condição do humano, falando ou cantando sobre a morte. Foto retirada do site: https://domvob.wordpress. com/2012/07/16/nossa-senho- ra-do-carmo-e-a-devocao/ 10 Se a morte faz parte da vida E se vale a pena viver Então morrer vale a pena Se a gente teve o tempo para crescer Crescer para viver de fato O ato de amar e sofrer Se a gente teve esse tempo Então vale a pena morrer Gil vincula o sentido da morte ao sentido da vida. Se a vida de uma pessoa é carregada de sentido, então sua morte também será carregada de sentido. A morte de Martin Luther King foi uma morte carregada de sentido porque dedicou sua vida inteira à luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Assim foi a morte de Gandhi, que lutou pela libertação da Índia ao jugo inglês. No Brasil o exemplo de D. Hélder Câmara é também paradigmático,pois tornou-se um porta-voz contra a falta de liberdade no tempo da Di- tadura Militar. Para Boff (2011), “na morte se dá o verdadeiro nascimento do homem (...); não vivemos para morrer. Morremos para res- suscitar, para viver mais e melhor. A morte significa a meta- morfose para esse novo modo de ser em plenitude. Ao mor- rer, o ser humano, deixa para trás de si um cadáver. É como um casulo que continha a crisálida. Cai o casulo e irrompe irradiante borboleta, a vida em sua inteira identidade. (...) O sentido que damos à vida depende do sentido que damos à morte. Se a morte é fim derradeiro, então de pouco valem tantas lutas, empenho e sacrifício. Mas se a morte é fim-meta-alcançada, então significa um peregrinar para a fonte” (BOFF, 2011, p. 153) Afinal, o que é o homem? Uma pergunta de difícil resposta; tudo que se disser a respeito do homem é provisório e relativo. Leonardo Boff, em seu trabalho “Homem: satã ou anjo bom?” faz uma dessas tentativas de resposta, ao afirmar: “o ser humano é um ser não circunscrito a um hábitat ou a um determinado espaço e tempo. Ele não conhece fronteiras. Esta é a sua estrutura: aberto ao outro, ao mundo e à totalidade do ser. Por mais que se abra, sempre deixa um vazio, que é a expressão de sua abertura insaciável. Biologicamente é carente. Não pos- sui nenhum órgão especializado. Para sobreviver deve se abrir ao mundo e transformá-lo. O que daí resulta é a cultura. Mas essa abertura ao mundo não se exaure nela mesma. Sempre o apelo do todo e do infinito” (BOFF, 2008, p. 178). Nessa mesma obra, afirma Leo- nardo: “o ser humano (cuja origem filológica vem de “húmus” = terra fértil e boa) é a pró ESCUTE ESSA MÚSIC A! Foto retirada do site: http://www.sampexdesen- tupidora.com.br/blog/curiosidades/o-ciclo-de-vi- da-de-uma-borboleta/ 11 pria terra que sente, que pensa, que ama, que cuida e que venera. Terra e humanidade possuem o mesmo destino” (BOFF, 2008, p. 104). Em outra obra, Leonardo Boff acrescenta: “o homem é um ser portador de espírito. Espírito é aquele momento do ser humano corpo-alma em que ele escuta estas interrogações e procura dar-lhes uma resposta” e continua: “espírito é a capacidade do ser humano de continuamente criar sentidos e inventar símbolos. Não se contenta com fatos. Neles dis- cerne valores e significações. Escuta as coisas que são sempre mais que coisas porque se transformam em indicações de mensagens a serem descodificadas” (BOFF, 2011, p. 150). CIDADANIA OU POLÍTICA? O que é cidadania O que aqui é dito sobre cidadania está expresso no livro de Leonardo Boff – Homem: Satã ou anjo bom? O autor começa dizendo que Cidadania é o resgate da dignidade, mas continua: “é o processo histórico-social mediante o qual a massa humana se capacita a forjar as condições de consciência, de organização e de elaboração de sua autonomia, deixando assim de ser massa e passando a ser povo que participa dos destinos da socie- dade e de sua própria vida” (BOFF, 2008, p. 87). Leonardo continua destrinchando e desenvolvendo de que forma este conceito pode ser vivenciado no dia a dia da pessoa: “Esta cidadania possui uma dimensão econômico- -produtiva. É a capacidade de, por meio de seu trabalho, garantir os meios de vida para os seus. Um pobre que desconhece as razões de sua pobreza dificilmente se liberta de sua pobreza e alcança a cidadania” (Idem, p. 87-88). E continua: “A cidadania comporta uma dimensão político-participativa. Só os interessa- dos se fazem cidadãos e não devem esperar sua cidadania do estado ou de qualquer classe aliada. A autonomia e a liberdade se conquistam, não se ganham” (Idem, p.88). Outra dimensão importante é a ética: “A pessoa deve ser vista como valor e deve ser res- peitada em sua visão de mundo, em sua cultura e em sua religião” (Idem, p. 88). Boff faz uma crítica à atual concepção burguesa de cidadania que é vivida por aqueles que estão dentro do processo social e produtivo e, propõe, em contraposição, a dimen- são popular da cidadania: “É importante que a cidadania seja popular, inclusiva e exerci- da nos movimentos sociais, nas associações e comunidade. Aí ela aparece como ‘conci- dadania’, quer dizer articulação de cidadãos que, por sua conta, sem pedir autorização do estado, das Igrejas, dos partidos ou dos sindicatos se articulam com outros cidadãos e inventam iniciativas livres que os beneficiam”. Leonardo Boff, em sua exposição sobre a cidadania, manifesta uma dimensão nova e di- 12 ferente que não aparece em nenhum outro autor ou pesquisador: a dimensão planetária e terrenal. Diz ele: “habitamos a casa comum e somos filhos e filhas da terra e, como tais, cidadãos terrenais com responsabilidade coletiva pelo futuro comum. Cidadania com criatividade Tendo presente essa concepção de cidadania, é que na América Latina se desenvolve- ram movimentos de grande força: a cultura popular e a religiosidade popular, mediante as quais os pobres e oprimidos conseguiram “espaço de respiração em que puderam formular seus sonhos, celebrar suas alegrias, chorar sua tragédia e louvar as divindades do jeito que gostavam. Então surgiram espaço de liberdade com grande originalidade e criatividade. A teologia da libertação surgiu como expressão desses anseios libertários do povo religioso e oprimido. A marca registrada dessa teologia é a opção pelos pobres, contra a pobreza e em favor da dignidade. Seu objetivo principal é resgatar a dignidade dos oprimidos e excluídos e também a dignidade de toda a vida, principalmente da terra, nossa casa comum” (BOFF, 2008, p. 88-89). E conclui o autor: “Até o juízo final os excluídos e injustamente empobrecidos têm o direito de resistir e de lutar por sua dignidade e por seus direitos. E não descansarão até que a terra seja o lar dos livres e dos irmãos e das irmãs sob o mesmo arco-íris da graça e da be- nevolência humana e divina” (BOFF, 2008, p. 89) Foto retirada do site: http://protestantedigital.com.br/ 13 Hino da Cidadania Letra: Antonio Camargo de Maio Compositor e cantor: Jose Ribeiro “Tijolo” É tão triste ao caminhar pela cidade Ver de perto a realidade Que atravessa essa nação. Como pode um país tão fascinante Vermos coisas tão chocantes Que nos corta o coração. Um menino que devia estar na escola Estudar, brincar de bola E jamais ser esquecido, Mas está no farol pedindo esmola Seu brinquedo é crack, é cola, Seu futuro é ser bandido. Aonde estão os homens que têm o dever E a obrigação de fazer, Mudar essa realidade? Aonde estão? Eu sei que ainda existe alguém Honesto, honrado e de bem Que ama o Brasil de verdade. Vem a noite, outra vez começa o drama: A calçada vira cama, O jornal é o cobertor… Como pode num país que é tão rico Vermos coisas desse tipo Que nos causa tanta dor? Na verdade são tratados como bichos, Como feras, como lixo Um descaso dos humanos. É o retrato da miséria e da pobreza. O que assusta é a frieza, O descaso e o abandono. Aonde estão os homens que têm o dever E a obrigação de fazer Mudar essa realidade? Aonde estão? Eu sei que ainda existe alguém Honesto, honrado e de bem Que ama o Brasil de verdade. HINO DA C IDADANIA https://www .youtube.com / watch?v=4FL cUNoX-7Y 14 “CIDADANIA E FÉ” EM GENTILEZA Conceituamos cidadania, conceituamos fé, resta agora aplicar o conceito em alguma realidade social. Fomos longe para essa aplicação. Buscamos o exemplo no Rio de Janei- ro, numa figura exótica. Exótica significa literalmente fora de ótica. Uma figura exótica é um personagem que, aos nossos olhos, se assemelha a um louco, é um alguém que quan- do é avistado tudo pára e acompanha com os olhares e comentários. Gentileza Essa apresentação é baseada na exposição de Leonardo Boff (2011), quando dedica al- gumas páginas do seu livro “Saber Cuidar” ao profeta Gentileza: seu nome é José Datrino (1917 – 1996). José Datrino tinha uma pequena empresa de transpor- te e trabalhava como qualquer trabalhador simples, quando no dia 17 de dezembro ocorreu um grande in- cêndio em Niterói.Cerca de 400 pessoas morreram na tragédia, a maioria crianças. Foi a partir desse aconte- cimento que surgiu a vocação profética de José Da- trino. Dizia que recebeu um chamamento divino para abandonar tudo e dedicar sua vida ao consolo das vítimas. Tomou um de seus caminhões, comprou duas pipas de vinho e, em Niterói, começou a distribuir vinho para todos sem cobrar nada, só por gentileza. Depois acomodou-se por 4 anos no local do incêndio, transformando-o em um grande jardim. Na entrada escreveu: Bem-vindo ao Paraíso Gentileza. Consolava todos os desesperados dizendo: seu pai, sua mãe, sua filha, seu filho não mor- reram; morreu o corpo, o espírito não. Deus chamou. Simbolicamente ele comparava o mundo com o circo: o mundo é redondo e o circo é arredondado. A saída para esse mun- do acabado reside na vivência da gentileza e na atitude do ‘agradecer’. Era visto com um roupão branco, estandarte na mão carregado de mensagens de gentileza, circulando pe- las ruas, pregando nas praças e vivendo no meio do povo. Peregrinou também pelo Brasil pregando a gen- tileza, especialmente pelo Norte e Nordeste. Suas mensagens foram deixadas no que é chamado de ‘livro urbano’, a partir de 1980. Esse livro urbano é o que está escrito nas 55 pilastras do viaduto do Caju, na parte do Rio, próximo à rodoviária antiga. Nessas Foto retirada do site: http://www.cultura.rj.gov.br/artigos/ livro-urbano-de-gentileza José Datrino ou José Agradecido Foto retirada do site: http://lounge.obviousmag.org/univer- sos/2012/04/o-livro-urbano-de-gentileza.html 15 mensagens denunciava as ameaças que pesam sobre a natureza. Para ele, o capitalismo é fruto do capeta capital – capetalismo. Conheça Gentileza na música de Gonzaguinha. Nessa música há um equívoco por parte do artista, de que Gentileza perdeu a família no incêndio do circo. Não é verdade. Gentileza - Gonzaguinha Feito louco/ Pelas ruas/ Com sua fé/ Gentileza/ O profeta E as palavras/ Calmamente/ Semeando/ O amor/ À vida Aos humanos/ Bichos/ Plantas/ Terra/ Terra nossa mãe. Nem tudo acontecido/ De modo que se possa dizer Nada presta/ Nada presta/ Nem todos derrotados De modo que não dá pra se fazer/ Uma festa/ Uma festa. Encontrar/ Perceber/ Se olhar/ Se entender/ Se chegar Se abraçar/ E beijar/ E amar/ Sem medo/ Insegurança Medo do futuro/ Sem medo/ Solidão/ Medo da mudança Sem medo da vida/ Sem medo medo/ Das gentileza/ Do coração. Conheserr Inspirado em seu nome Da-trino, tudo nele era três; então universo era escrito dessa forma: UNIVVVERRSSO; um V do pai, um V do filho e um V do Espírito Santo. O amor é sempre pen- sado trinitariamente e é escrito dessa forma: AMORRR; há gravações de pequenos vídeos onde ele mesmo dá a devida explicação: amor material se escreve com um R; amor uni- versal se escreve com três R: um R do Pai, um R do Filho e um R do Espírito Santo. Em seus escritos espalhados pelas pilastras do Viaduto do Caju tudo é carregado de signi- ficado. VVVerde tem um significado; Jessuss tem um significado. Certa vez alguém comentou a forma de escrever conheserr dessa forma: “Olha o louco aí gente! Não sabe escrever”. Ele respondeu: “Eu que não sei escrever ou você que não sabe ler”? Conheserr com S é conhecer o SER, é conhecer a si mesmo. Gentileza gera gentileza O princípio gentileza é o princípio norteador de tudo. Repetia sem cessar: “Gentileza gera gentileza”. “Deus Pai é gentileza que gera o Filho por Gentileza”. Recusa-se a dizer “muito obrigado” porque, argumentava, ninguém é obrigado a nada, pois todos devemos ser gentis uns com os outros. No lugar de “muito obrigado” devemos dizer “agradecidos”; ao invés de ‘por favor’ devemos usar ‘por gentileza’. GENTILEZA - GONZAGUI NHA https://www .youtube.com / watch?v=j5c ewnEzcFY 16 Em sua bata branca e nas pilastras estavam assinalados valores de “Gentileza-amor-be- leza-perfeição-bondade-riqueza-na natureza”. Não só pregou, mas vivenciou, tratando a todos com amabilidade. Quando o chamavam de maluco, respondia: “Maluco para te amar, louco para te salvar; seja maluco como eu, mas seja maluco be- leza, da Natureza, das coisas divinas”. Durante a ECO 92 conclamava os representantes dos povos e os chefes de estado a vive- rem a Gentileza e se aplicarem ao uso da Gentileza. Univvverrsso Gentileza Leonardo Guelman, jovem filósofo brasileiro, dedicou-lhe um minucioso trabalho de re- construção e de análise filosófico-cultural, sob o título Univvverrsso Gentileza, a gênese de um mito contemporâneo. Em sua obra, defende a idéia de que “Gentileza se volta para um sentido de humanização da vida na cidade contemporânea”. Conclui Leonardo Boff: “Em plena selva de pedra, em que se transformaram as cidades modernas, o profeta anuncia um ethos capaz de inspirar um novo paradigma civilizatório: a Gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essen- ciais. Esse paradigma tem mais chances de integração e de humanização que aquele que afundou junto com o circo em Niterói, o velho paradigma do modo de ser trabalho/domina- ção”. (Cf. BOFF, 2011 p. 179 a 184) A canção GENTILEZA de Marisa Monte é mais intuitiva, comer- cial e por isso mesmo mais conhecida; veja também o vídeo- -clip da cantora sobre Gentileza http://www.cienciaefe.org.br/online/0404/gentileza.htm GENTILEZA - Marisa Mon te https://www .youtube.com / watch?v=Rr4 W_wF0nso Foto retirada do site: https://kuanblog.wordpress.com/2013/06/24/profeta-gentileza/ 17 Gentileza Marisa Monte Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza A palavra no muro Ficou coberta de tinta Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza Só ficou no muro tristeza e tinta fresca Nós que passamos apressados Pelas ruas da cidade Merecemos ler as letras e as palavras de gentileza Por isso eu pergunto a você no mundo Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria O mundo é uma escola A vida é um circo Amor palavra que liberta Já dizia o profeta Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza Só ficou no muro tristeza e tinta fresca Por isso eu pergunto a você no mundo Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria O mundo é uma escola A vida é um circo Amor palavra que liberta Já dizia o profeta Em um artigo ou crônica com o título de “Espírito de Gentileza”, publicado em algum jor- nal do país, Leonardo Boff escreve: “Blaise Pascal (1623-1662), gênio da matemática, inventor da máquina de calcular, fi- lósofo e místico, percebeu, de golpe, a grande contradição dos tempos modernos que acabavam de se firmar: a desarticulação entre dois princípios que ele chamou de esprit de géométrie e esprit de finesse. Espírito de geometria representa a razão calculatória, instrumental-analítica, que se ocupa das coisas, numa palavra, a ciência moderna que 18 com seu poder mudou a face da Terra. Espírito de finura que nós traduzimos por espírito de gentileza representa a razão cordial - logique du coeur (a lógica do coração) segun- do Pascal - que tem a ver com as pessoas e as relações sociais, numa palavra, com outro tipo de ciência que cuida da subjetividade, do sentido da vida, da espiritualidade e da qualidade das relações humanas. Ambas as razões são necessárias para darmos conta da existência. Que faríamos hoje sem a ciência? Que seríamos sem a ética, os caminhos espirituais e a psicologia? O drama da modernidade consiste na desarticulação destas duas razões imprescindíveis. De início, se combateram mutuamente, depois, marcharam paralelas e hoje, buscam convergências na diversidade, no esforço, ainda que tardio, de salvar o ser humano e a integridade da natureza. O fato é que o espírito de geometria foi inflacionado; com ele criamos o mundo dos artefatos, bons e perversos, desde a geladeira até a bomba atômica. O espírito de gentileza nunca ganhou centralidade, por isso somos tão vazios e violentos. Hoje ele é ur- gente. Ou seremos gentis e cuidantes ou nos entredevoraremos. Por que escrevo tudo isso? Por causa da violência do Rio de Janeiro. Esta cidade foi uma das mais ridentes da Terra. O esplendor da naturezahavia celebrado um casamento fe- liz com a cordialidade das pessoas. Perdemos a cordialidade e a natureza não é mais a mesma. Ela está lá mas não nos dá mais alegria porque nossos olhos se turvaram pelo quadro da violência e o nosso coração dispara de medo e de desconfiança. Temos que ouvir o apelo de quem conhece a cidade partida, o mestre Zuenir Ventura: precisamos do espírito de gentileza”. José Datrino – o Gentileza – alquebrado, quis regressar à cidade onde nascera, Cafelên- dia, SP. Mas morreu em Mirandópolis, no dia 28 de maio de 1996, aos 79 anos de idade.
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