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EAD_CIDADANIA_bloco 04

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Cidadania
Fée
POR LUIZ GOMES DE MOURA
2
FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE
COORDENAÇÃO GERAL DE GRADUAÇÃO
CIDADANIA E FÉ
CIDADANIA E FÉ EM REGIME DE EAD
POR LUIZ GOMES DE MOURA
RECIFE, 2016
3
FICHA CATALOGRÁFICA
Moura, Luiz Gomes. 
Cidadania e fé em regime de EAD. [recurso 
eletrônico]. Luiz Gomes Moura. – Recife: 
Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), 2016.
1. Educação cristã. 2. Humanismo social 
cristão 3. Cidadania cristã 4. Teologia social 5. 
Cidadania e fé – Educação à distância I. Título.
CDD 261.5
Elaborada por Lenice Moura CRB-4/564.
4
SUMÁRIO
06 A condição do humano..................................................................... BL4
11 Cidadamia ou política........................................................................ BL4
14 “Cidadania e Fé” em Gentileza......................................................... BL4
20 Onde está sua titulação - Pedagogia............................................... BL5
30 Ética da Vida - Ciênicias Biológicas.................................................. BL5
37 Economia comprometida - Administração/Ciências Contábeis.. BL5
41 Cidadania, fé e literatura em Ariano Suassuna............................... BL5
47 Religião e Psicologia de Nosso Povo - Psicologia............................ BL5
53 “Pela Lei de Deus e pela Lei dos Homens
 quem está com fome tem direito de furtar”.................................... BL6
58 Comer Beber Juntos - A Comensalidade........................................ BL6
62	 A	Cultura	de	Paz	num	Mundo	em	Conflito.......................................	BL6
Cidadania
Cidadania
e Fé 
Aplicadas
aos Cursos
Bloco 04
6
Capítulo 08 - A CONDIÇÃO DO HUMANO
Nada mais misterioso que o ser humano, o único animal que questiona a si próprio. Quem 
sou eu? De onde vim? Para onde vou? É também o único que não consegue responder. É 
complexo. Não é apenas biológico; é também ser de transcendência. O salmista já dizia: 
“mas que coisa é o homem para que dele vos lembreis” (Cf. Salmo 8). 
Teu nome, Senhor é tão bonito
Tu moras no céu, lá nas alturas
Até criancinhas que ainda mamam 
Já sabem que vences o inimigo. 
Olhando	pro	céu	que	tu	fizeste
Eu vejo as estrelas, vejo a lua/
Entendo que o homem vale muito
Pois	tudo	pra	ele	tu	fizestes.
Menor um pouquinho do que os anjos
Mas cheio de glória e de valor/
De Ti recebeu poder e força
De tudo vencer e dominar. 
Os bois e as ovelhas nos currais
E o gado que pasta pelo campo
Os peixes do mar e os passarinhos
E tudo o que corta o ar e as águas.
Foto retirada do site: http://www.sinaisdoreino.
com.br/?cat=1&id=2591
Salmo 8, 
na versão d
e 
Pe. Jocy Ro
drigues
7
O salmo 8 foi escrito alguns séculos antes de Cristo, mas 
hoje o homem continua com o mesmo questionamento. 
Vamos escutar um depoimento de um artista das letras que 
questiona a condição humana, tal qual o salmista. 
Carlos Drummond de Andrade, em “Especulações em tor-
no da palavra homem”, assim se expressa com muita arte:
Foto retirada do site: http://www.escritas.org/pt/multi-
media/carlos-drummond-de-andrade
Mas que coisa é ho
mem,
que há sob o nome
:
uma geografia?
um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmo
nte?
Como pode o hom
em
sentir-se a si mesm
o,
quando o mundo s
ome?
Como vai o homem
junto de outro hom
em,
sem perder o nome
?
E não perde o nom
e
e o sal que ele com
e
nada lhe acrescent
a
nem lhe subtrai
da doação do pai?
Como se faz um ho
mem?
ESCUTE A P
OESIA DE
DRUMMON
D NA 
ÍNTEGRA
8
Responda essas questões se for possível! É próprio da essência 
humana não conseguir responder as questões que giram em tor-
no de sua essência humana. Karl Marx, de ideologia materialista 
marxista, ao questionar a condição humana, encaminhava sua 
reflexão	comparando	o	homem	ao	animal.	O	ser	humano	difere	
dos animais porque o homem é um ser que trabalha; o animal 
não trabalha. O ser humano é o único que ao trabalhar tem 
uma	ação	de	reflexão	antes.	Antes	de	trabalhar	ele	pensa	o	tra-
balho. O animal não pensa o trabalho; reproduz um instinto que 
eternamente existe dentro dele. 
É claro que quando Marx fazia essas considerações imaginava 
fazer uma crítica ao Capitalismo, onde o trabalho era para o 
homem um castigo e não uma atividade prazerosa. Criticava 
ainda no sentido de dizer que, no trabalho, era alienado dos bens que produzia. Ele fazia, 
mas	o	que	fazia	nada	era	seu.	Enfim.	O	homem	é	um	ser	que	trabalha.	
Para Marx, além disso, o homem é um ser que produz cultura. Ao trabalhar, o homem 
manifesta ser um ser cultural. Só o homem tem a capacidade de criar e de inventar. Uma 
casa construída no norte da Europa não é do mesmo jeito de uma outra construída no 
norte da África. Uma casa construída no nordeste do Brasil é diferente de uma outra cons-
truída no centro-sul. São culturas distintas. A casa que o João de Barro faz é eternamen-
te daquela forma. Assim é o mel feito de forma maravilhosa pelas abelhas. Os animais, 
diferentemente dos humanos, não produzem cultura, mas reproduzem eternamente um 
instinto que está dentro deles.
Foto retirada do site: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Karl_Marx
Foto retirada do site: http://bolsaoimoveis.com/prop-
erties/agent-with-contact-7-on-sidebar-left/
Foto retirada do site: http://leandragoncalves.blog.
uol.com.br/foto/
Casa Européia Casa Africana
Foto retirada do site: http://www.recriarcomvoce.
com.br/blog_recriar/casa-joo-de-barro/
Casa do João de Barro
9
Desde que o homem é homem manifesta também ser um ser religioso. Os 
primeiros objetos construídos pelo homem foram além de ser objetos de 
trabalho, foram também objetos religiosos: objetos materiais para atrair 
fertilidade ao campo para produzir mais alimento; objetos que eram co-
locados	sobre	seu	corpo,	tipo	figa,	para	atrair	sorte	e	bem-estar.
Medalhas,	escapulários	ou	fitas	e	outros	que	os	religiosos	põem	sobre	o	
corpo são um pouco a continuação desse costume tão antigo. É pró-
prio da condição humana ser um ser religioso.
Morte que dá sentido. Voltemos ao poeta, que continua os questionamento sobre a con-
dição do humano:
Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?
Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem
é medida de homem?
Como morre o homem,
como começa a?
Sua morte é fome
que a si mesma come?
Morre a cada passo?
Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
Discutindo em sala de aula com os alunos dos mais diversos cursos, alguém sabiamente 
refletiu	dizendo	que	a	morte	do	homem	dá	valor	à	vida.
Ninguém pediu para nascer e nasceu. Uma vez nascido sem ter pedido, agora o que se 
quer é viver. Ninguém pensa em morrer, mas a única certeza que se tem é que inevitavel-
mente se marcha para a morte. Vem a crise. Eu quero viver, mas sei que vou morrer. Boff 
afirma:	“E	somos	todos	mortais.	Custa-nos	acolher	a	morte	como	possível	passagem	para	
uma outra forma de vida e outro estado de consciência. E sofremos com a dramaticidade 
do destino humano, por vezes tão trágico” (BOFF, 2008, p. 166).
Gilberto Gil, artista, compositor, manifesta-se também como teólogo, sem nunca ter es-
tudado teologia, e deixa bela contribuição sobre a condição do humano, falando ou 
cantando sobre a morte.
Foto retirada do site: 
https://domvob.wordpress.
com/2012/07/16/nossa-senho-
ra-do-carmo-e-a-devocao/
10
Se a morte faz parte da vida
E se vale a pena viver
Então morrer vale a pena
Se a gente teve o tempo para crescer
Crescer para viver de fato
O ato de amar e sofrer
Se a gente teve esse tempo
Então vale a pena morrer
Gil vincula o sentido da morte ao sentido da vida. Se a vida de uma pessoa é carregada 
de sentido, então sua morte também será carregada de sentido. A morte de Martin Luther 
King foi uma morte carregada de sentido porque dedicou sua vida inteira à luta pelos 
direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Assim foi a morte de Gandhi, que lutou pela 
libertação da Índia ao jugo inglês. No Brasil o exemplo de D. Hélder Câmara é também 
paradigmático,pois tornou-se um porta-voz contra a falta de liberdade no tempo da Di-
tadura Militar.
Para Boff (2011), “na morte se dá o verdadeiro nascimento 
do homem (...); não vivemos para morrer. Morremos para res-
suscitar,	para	viver	mais	e	melhor.	A	morte	significa	a	meta-
morfose para esse novo modo de ser em plenitude. Ao mor-
rer, o ser humano, deixa para trás de si um cadáver. É como 
um casulo que continha a crisálida. Cai o casulo e irrompe 
irradiante borboleta, a vida em sua inteira identidade. (...) O 
sentido que damos à vida depende do sentido que damos 
à	morte.	Se	a	morte	é	fim	derradeiro,	então	de	pouco	valem	
tantas	lutas,	empenho	e	sacrifício.	Mas	se	a	morte	é	fim-meta-alcançada,	então	significa	
um peregrinar para a fonte” (BOFF, 2011, p. 153)
Afinal, o que é o homem?
Uma pergunta de difícil resposta; tudo que se disser a respeito do homem é provisório e 
relativo. Leonardo Boff, em seu trabalho “Homem: satã ou anjo bom?” faz uma dessas 
tentativas	de	resposta,	ao	afirmar:	“o	ser	humano	é	um	ser	não	circunscrito	a	um	hábitat	
ou a um determinado espaço e tempo. Ele não conhece fronteiras. Esta é a sua estrutura: 
aberto ao outro, ao mundo e à totalidade do ser. Por mais que se abra, sempre deixa um 
vazio, que é a expressão de sua abertura insaciável. Biologicamente é carente. Não pos-
sui nenhum órgão especializado. Para sobreviver deve se abrir ao mundo e transformá-lo. 
O que daí resulta é a cultura. Mas essa abertura ao mundo não se exaure nela mesma. 
Sempre	o	apelo	do	todo	e	do	infinito”	(BOFF,	2008,	p.	178).	Nessa	mesma	obra,	afirma	Leo-
nardo:	“o	ser	humano	(cuja	origem	filológica	vem	de	“húmus”	=	terra	fértil	e	boa)	é	a	pró
ESCUTE 
ESSA MÚSIC
A!
Foto retirada do site: http://www.sampexdesen-
tupidora.com.br/blog/curiosidades/o-ciclo-de-vi-
da-de-uma-borboleta/
11
pria terra que sente, que pensa, que ama, que cuida e que venera. Terra e humanidade 
possuem o mesmo destino” (BOFF, 2008, p. 104).
Em outra obra, Leonardo Boff acrescenta: “o homem é um ser portador de espírito. Espírito 
é aquele momento do ser humano corpo-alma em que ele escuta estas interrogações e 
procura dar-lhes uma resposta” e continua: “espírito é a capacidade do ser humano de 
continuamente criar sentidos e inventar símbolos. Não se contenta com fatos. Neles dis-
cerne	valores	e	significações.	Escuta	as	coisas	que	são	sempre	mais	que	coisas	porque	se	
transformam	em	indicações	de	mensagens	a	serem	descodificadas”	(BOFF,	2011,	p.	150).
CIDADANIA OU POLÍTICA?
O que é cidadania
O que aqui é dito sobre cidadania está expresso no livro de Leonardo Boff – Homem: Satã 
ou anjo bom? O autor começa dizendo que Cidadania é o resgate da dignidade, mas 
continua: “é o processo histórico-social mediante o qual a massa humana se capacita a 
forjar as condições de consciência, de organização e de elaboração de sua autonomia, 
deixando assim de ser massa e passando a ser povo que participa dos destinos da socie-
dade e de sua própria vida” (BOFF, 2008, p. 87).
Leonardo continua destrinchando e desenvolvendo de que forma este conceito pode ser 
vivenciado no dia a dia da pessoa: “Esta cidadania possui uma dimensão econômico-
-produtiva. É a capacidade de, por meio de seu trabalho, garantir os meios de vida para 
os	seus.	Um	pobre	que	desconhece	as	razões	de	sua	pobreza	dificilmente	se	liberta	de	sua	
pobreza e alcança a cidadania” (Idem, p. 87-88).
E continua: “A cidadania comporta uma dimensão político-participativa. Só os interessa-
dos se fazem cidadãos e não devem esperar sua cidadania do estado ou de qualquer 
classe aliada. A autonomia e a liberdade se conquistam, não se ganham” (Idem, p.88).
Outra dimensão importante é a ética: “A pessoa deve ser vista como valor e deve ser res-
peitada em sua visão de mundo, em sua cultura e em sua religião” (Idem, p. 88).
Boff faz uma crítica à atual concepção burguesa de cidadania que é vivida por aqueles 
que estão dentro do processo social e produtivo e, propõe, em contraposição, a dimen-
são popular da cidadania: “É importante que a cidadania seja popular, inclusiva e exerci-
da nos movimentos sociais, nas associações e comunidade. Aí ela aparece como ‘conci-
dadania’, quer dizer articulação de cidadãos que, por sua conta, sem pedir autorização 
do estado, das Igrejas, dos partidos ou dos sindicatos se articulam com outros cidadãos e 
inventam	iniciativas	livres	que	os	beneficiam”.
Leonardo Boff, em sua exposição sobre a cidadania, manifesta uma dimensão nova e di- 
12
ferente que não aparece em nenhum outro autor ou pesquisador: a dimensão planetária 
e	terrenal.	Diz	ele:	“habitamos	a	casa	comum	e	somos	filhos	e	filhas	da	terra	e,	como	tais,	
cidadãos terrenais com responsabilidade coletiva pelo futuro comum.
Cidadania com criatividade
Tendo presente essa concepção de cidadania, é que na América Latina se desenvolve-
ram movimentos de grande força: a cultura popular e a religiosidade popular, mediante 
as quais os pobres e oprimidos conseguiram “espaço de respiração em que puderam 
formular seus sonhos, celebrar suas alegrias, chorar sua tragédia e louvar as divindades 
do jeito que gostavam. Então surgiram espaço de liberdade com grande originalidade 
e criatividade. A teologia da libertação surgiu como expressão desses anseios libertários 
do povo religioso e oprimido. A marca registrada dessa teologia é a opção pelos pobres, 
contra a pobreza e em favor da dignidade. Seu objetivo principal é resgatar a dignidade 
dos oprimidos e excluídos e também a dignidade de toda a vida, principalmente da terra, 
nossa casa comum” (BOFF, 2008, p. 88-89).
E	conclui	o	autor:	“Até	o	juízo	final	os	excluídos	e	injustamente	empobrecidos	têm	o	direito	
de resistir e de lutar por sua dignidade e por seus direitos. E não descansarão até que a 
terra seja o lar dos livres e dos irmãos e das irmãs sob o mesmo arco-íris da graça e da be-
nevolência humana e divina” (BOFF, 2008, p. 89)
Foto retirada do site: http://protestantedigital.com.br/
13
Hino da Cidadania
Letra: Antonio Camargo de Maio
Compositor e cantor: Jose Ribeiro “Tijolo”
É tão triste ao caminhar pela cidade
Ver de perto a realidade
Que atravessa essa nação.
Como pode um país tão fascinante
Vermos coisas tão chocantes
Que nos corta o coração.
Um menino que devia estar na escola
Estudar, brincar de bola
E jamais ser esquecido,
Mas está no farol pedindo esmola
Seu brinquedo é crack, é cola,
Seu futuro é ser bandido.
Aonde estão os homens que têm o dever
E a obrigação de fazer,
Mudar essa realidade?
Aonde estão?
Eu sei que ainda existe alguém
Honesto, honrado e de bem
Que ama o Brasil de verdade.
Vem a noite, outra vez começa o drama:
A calçada vira cama,
O jornal é o cobertor…
Como pode num país que é tão rico
Vermos coisas desse tipo
Que nos causa tanta dor?
Na verdade são tratados como bichos,
Como feras, como lixo
Um descaso dos humanos.
É o retrato da miséria e da pobreza.
O que assusta é a frieza,
O descaso e o abandono.
Aonde estão os homens que têm o dever
E a obrigação de fazer
Mudar essa realidade?
Aonde estão?
Eu sei que ainda existe alguém
Honesto, honrado e de bem
Que ama o Brasil de verdade.
HINO DA C
IDADANIA
https://www
.youtube.com
/
watch?v=4FL
cUNoX-7Y
14
“CIDADANIA E FÉ” EM GENTILEZA
Conceituamos cidadania, conceituamos fé, resta agora aplicar o conceito em alguma 
realidade social. Fomos longe para essa aplicação. Buscamos o exemplo no Rio de Janei-
ro,	numa	figura	exótica.	Exótica	significa	literalmente	fora	de	ótica.	Uma	figura	exótica	é	
um personagem que, aos nossos olhos, se assemelha a um louco, é um alguém que quan-
do é avistado tudo pára e acompanha com os olhares e comentários. 
Gentileza
Essa apresentação é baseada na exposição de Leonardo Boff (2011), quando dedica al-
gumas páginas do seu livro “Saber Cuidar” ao profeta Gentileza: seu nome é José Datrino 
(1917 – 1996).
José Datrino tinha uma pequena empresa de transpor-
te e trabalhava como qualquer trabalhador simples, 
quando no dia 17 de dezembro ocorreu um grande in-
cêndio em Niterói.Cerca de 400 pessoas morreram na 
tragédia, a maioria crianças. Foi a partir desse aconte-
cimento que surgiu a vocação profética de José Da-
trino. Dizia que recebeu um chamamento divino para 
abandonar tudo e dedicar sua vida ao consolo das 
vítimas. Tomou um de seus caminhões, comprou duas 
pipas de vinho e, em Niterói, começou a distribuir vinho para todos sem cobrar nada, só 
por gentileza. Depois acomodou-se por 4 anos no local do incêndio, transformando-o em 
um grande jardim. Na entrada escreveu: Bem-vindo ao Paraíso Gentileza.
Consolava	todos	os	desesperados	dizendo:	seu	pai,	sua	mãe,	sua	filha,	seu	filho	não	mor-
reram; morreu o corpo, o espírito não. Deus chamou. Simbolicamente ele comparava o 
mundo com o circo: o mundo é redondo e o circo é arredondado. A saída para esse mun-
do acabado reside na vivência da gentileza e na atitude do ‘agradecer’.
Era visto com um roupão branco, estandarte na mão 
carregado de mensagens de gentileza, circulando pe-
las ruas, pregando nas praças e vivendo no meio do 
povo. Peregrinou também pelo Brasil pregando a gen-
tileza, especialmente pelo Norte e Nordeste.
Suas mensagens foram deixadas no que é chamado 
de ‘livro urbano’, a partir de 1980. Esse livro urbano é o 
que está escrito nas 55 pilastras do viaduto do Caju, na 
parte do Rio, próximo à rodoviária antiga. Nessas 
Foto retirada do site: http://www.cultura.rj.gov.br/artigos/
livro-urbano-de-gentileza
José Datrino ou José Agradecido
Foto retirada do site: http://lounge.obviousmag.org/univer-
sos/2012/04/o-livro-urbano-de-gentileza.html
15
mensagens denunciava as ameaças que pesam sobre a natureza. Para ele, o capitalismo 
é fruto do capeta capital – capetalismo. 
Conheça Gentileza na música de Gonzaguinha. Nessa música há um equívoco por parte 
do artista, de que Gentileza perdeu a família no incêndio do circo. Não é verdade.
Gentileza - Gonzaguinha
Feito louco/ Pelas ruas/ Com sua fé/ Gentileza/ O profeta
E as palavras/ Calmamente/ Semeando/ O amor/ À vida
Aos humanos/ Bichos/ Plantas/ Terra/ Terra nossa mãe.
Nem tudo acontecido/ De modo que se possa dizer
Nada presta/ Nada presta/ Nem todos derrotados
De modo que não dá pra se fazer/ Uma festa/ Uma festa.
Encontrar/ Perceber/ Se olhar/ Se entender/ Se chegar
Se abraçar/ E beijar/ E amar/ Sem medo/ Insegurança
Medo do futuro/ Sem medo/ Solidão/ Medo da mudança
Sem medo da vida/ Sem medo medo/ Das gentileza/ Do coração.
Conheserr
Inspirado em seu nome Da-trino, tudo nele era três; então universo era escrito dessa forma: 
UNIVVVERRSSO;	um	V	do	pai,	um	V	do	filho	e	um	V	do	Espírito	Santo.	O	amor	é	sempre	pen-
sado trinitariamente e é escrito dessa forma: AMORRR; há gravações de pequenos vídeos 
onde ele mesmo dá a devida explicação: amor material se escreve com um R; amor uni-
versal se escreve com três R: um R do Pai, um R do Filho e um R do Espírito Santo.
Em seus escritos espalhados pelas pilastras do Viaduto do Caju tudo é carregado de signi-
ficado.	VVVerde	tem	um	significado;	Jessuss	tem	um	significado.	
Certa vez alguém comentou a forma de escrever conheserr dessa forma: “Olha o louco 
aí gente! Não sabe escrever”. Ele respondeu: “Eu que não sei escrever ou você que não 
sabe ler”? Conheserr com S é conhecer o SER, é conhecer a si mesmo.
Gentileza gera gentileza
O princípio gentileza é o princípio norteador de tudo. Repetia sem cessar: “Gentileza gera 
gentileza”. “Deus Pai é gentileza que gera o Filho por Gentileza”. Recusa-se a dizer “muito 
obrigado” porque, argumentava, ninguém é obrigado a nada, pois todos devemos ser 
gentis uns com os outros. No lugar de “muito obrigado” devemos dizer “agradecidos”; ao 
invés de ‘por favor’ devemos usar ‘por gentileza’.
GENTILEZA -
 GONZAGUI
NHA
https://www
.youtube.com
/
watch?v=j5c
ewnEzcFY
16
Em sua bata branca e nas pilastras estavam assinalados valores de “Gentileza-amor-be-
leza-perfeição-bondade-riqueza-na natureza”. Não só pregou, mas vivenciou, tratando a 
todos com amabilidade. Quando o chamavam de maluco, respondia:
“Maluco para te amar, louco para te salvar; seja maluco como eu, mas seja maluco be-
leza, da Natureza, das coisas divinas”.
Durante a ECO 92 conclamava os representantes dos povos e os chefes de estado a vive-
rem a Gentileza e se aplicarem ao uso da Gentileza.
Univvverrsso Gentileza
Leonardo	Guelman,	 jovem	filósofo	brasileiro,	dedicou-lhe	um	minucioso	 trabalho	de	 re-
construção	e	de	análise	filosófico-cultural,	sob	o	título	Univvverrsso	Gentileza,	a	gênese	de	
um mito contemporâneo. Em sua obra, defende a idéia de que “Gentileza se volta para 
um sentido de humanização da vida na cidade contemporânea”.
Conclui Leonardo Boff: “Em plena selva de pedra, em que 
se transformaram as cidades modernas, o profeta anuncia 
um ethos capaz de inspirar um novo paradigma civilizatório: 
a Gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essen-
ciais. Esse paradigma tem mais chances de integração e de 
humanização que aquele que afundou junto com o circo em 
Niterói, o velho paradigma do modo de ser trabalho/domina-
ção”. (Cf. BOFF, 2011 p. 179 a 184)
A canção GENTILEZA de Marisa Monte é mais intuitiva, comer-
cial e por isso mesmo mais conhecida; veja também o vídeo-
-clip da cantora sobre Gentileza
http://www.cienciaefe.org.br/online/0404/gentileza.htm
GENTILEZA -
 Marisa Mon
te
https://www
.youtube.com
/
watch?v=Rr4
W_wF0nso
Foto retirada do site: https://kuanblog.wordpress.com/2013/06/24/profeta-gentileza/
17
Gentileza
Marisa Monte
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só	ficou	no	muro	tristeza	e	tinta	fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras e as palavras de gentileza
Por isso eu pergunto a você no mundo
Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é um circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o profeta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só	ficou	no	muro	tristeza	e	tinta	fresca
Por isso eu pergunto a você no mundo
Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é um circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o profeta 
Em um artigo ou crônica com o título de “Espírito de Gentileza”, publicado em algum jor-
nal do país, Leonardo Boff escreve:
“Blaise	 Pascal	 (1623-1662),	 gênio	da	matemática,	 inventor	 da	máquina	de	calcular,	 fi-
lósofo e místico, percebeu, de golpe, a grande contradição dos tempos modernos que 
acabavam	de	se	firmar:	a	desarticulação	entre	dois	princípios	que	ele	chamou	de	esprit	
de	géométrie	e	esprit	de	finesse.	Espírito	de	geometria	 representa	a	 razão	calculatória,	
instrumental-analítica, que se ocupa das coisas, numa palavra, a ciência moderna que 
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com	seu	poder	mudou	a	face	da	Terra.	Espírito	de	finura	que	nós	traduzimos	por	espírito	
de gentileza representa a razão cordial - logique du coeur (a lógica do coração) segun-
do Pascal - que tem a ver com as pessoas e as relações sociais, numa palavra, com outro 
tipo de ciência que cuida da subjetividade, do sentido da vida, da espiritualidade e da 
qualidade das relações humanas.
Ambas as razões são necessárias para darmos conta da existência. Que faríamos hoje sem 
a ciência? Que seríamos sem a ética, os caminhos espirituais e a psicologia? O drama da 
modernidade consiste na desarticulação destas duas razões imprescindíveis. De início, se 
combateram mutuamente, depois, marcharam paralelas e hoje, buscam convergências 
na diversidade, no esforço, ainda que tardio, de salvar o ser humano e a integridade da 
natureza.	O	fato	é	que	o	espírito	de	geometria	foi	inflacionado;	com	ele	criamos	o	mundo	
dos artefatos, bons e perversos, desde a geladeira até a bomba atômica. O espírito de 
gentileza nunca ganhou centralidade, por isso somos tão vazios e violentos. Hoje ele é ur-
gente. Ou seremos gentis e cuidantes ou nos entredevoraremos.
Por que escrevo tudo isso? Por causa da violência do Rio de Janeiro. Esta cidade foi uma 
das mais ridentes da Terra. O esplendor da naturezahavia celebrado um casamento fe-
liz com a cordialidade das pessoas. Perdemos a cordialidade e a natureza não é mais 
a mesma. Ela está lá mas não nos dá mais alegria porque nossos olhos se turvaram pelo 
quadro	da	violência	e	o	nosso	coração	dispara	de	medo	e	de	desconfiança.	Temos	que	
ouvir o apelo de quem conhece a cidade partida, o mestre Zuenir Ventura: precisamos 
do espírito de gentileza”.
José Datrino – o Gentileza – alquebrado, quis regressar à cidade onde nascera, Cafelên-
dia, SP. Mas morreu em Mirandópolis, no dia 28 de maio de 1996, aos 79 anos de idade.

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