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FICHAMENTO: Filosofia Política Moderna e o conceito de Estado - Sílvio Gallo. O texto em questão faz uma exposição sobre as concepções e conceitos do Estado debruçando-se na filosofia moderna. O autor utiliza o referencial teórico de Noberto Bobbio ao agrupá-las em duas grandes vertentes. O modelo jusnaturalista e o modelo hegelo- marxiano. O primeiro modelo possui como objetivo essencial o desenvolvimento de uma teoria racional do Estado, rompendo com a análise tradicional aristotélica que explicava o Estado como uma construção histórica, partindo de círculos menores para círculos mais complexos. Família Polis Estado Os autores dessa vertente vão se dedicar a reconstituir racionalmente o Estado, elaborando hipóteses que permitam a percepção do sentido do Estado. A questão central é caracterizar a construção racional da legitimidade desse estado e o ponto comum das análises desse modelo é a noção de pacto ou contrato social. A ideia central do contrato social é que os indivíduos abdicam cada um de sua própria autoridade, delegando-a a autoridade única do soberano. Ele marca a transição do estado de natureza para o estado civil. O que fundamenta o Estado, no jusnaturalismo, é o desejo dos indivíduos de viverem de acordo com a razão e não dos seus interesses puramente individuais. No entanto, um questionamento importante nessa perspectiva, derivada do pensamento liberal, é “como conciliar o bem individual da liberdade com a necessária obediência que cada um dos indivíduos deve prestar ao Estado.” Com o objetivo de caracterizar em que medida os teóricos do jusnaturalismo pensavam essa relação entre soberano/Estado e individuo, Silvio Gallo trabalha com três filósofos contratualistas dessa corrente, Thomas Hobbes, John Locke e Jeans Jacques Rousseau. HOBBES Para Hobbes, essa questão não se coloca. O indivíduo assume uma renúncia quase total, prestando obediência ao soberano instituído pelo pacto em nome de sua segurança. Essa perspectiva deve-se a concepção que Hobbes apresenta sobre o estado de natureza como uma guerra total de todos contra todos, caracterizando o homem como “o lobo do homem”. Através do pacto social, um poder político surgirá – caracterizado como Estado - e submeterá a todos com o objetivo maior de garantir o direito de posse e a segurança do indivíduo. LOCKE Diferente de Hobbes, Locke não vê no estado natural uma guerra permanente. No estado da natureza de Locke os homens seriam governados pela lei natural da razão. O objetivo principal da união dos homens em comunidade, com a criação do Estado pelo pacto social, é facilitar a fruição do direito de propriedade que, embora seja possível no estado natural, é incerta e consequentemente não o preserva. Quanto à questão posta entre liberdade do indivíduo e obediência ao Estado, Locke não vê uma contradição. Para ele o contrato social é a garantia dos direitos naturais, não há renúncia da liberdade, mas sim a instauração de uma nova modalidade dela, a liberdade civil, que não se contrapõe a liberdade natural, mas a preserva e alarga. Diferença de perspectivas na instituição do Estado. X Pacto de submissão – visa instaurar uma situação contrária ao estado de natureza, em nome da segurança. Pacto de consentimento – os indivíduos, longe de se submeterem a um poder comum, concordam em instituir leis que preserve e garanta tudo àquilo que eles já desfrutavam no estado de natureza. ROUSSEAU Se aproximando de Locke, Rousseau também caracterizava o estado natural como fonte da liberdade e da igualdade, sendo essencialmente bom. Ao contrário das perspectivas anteriores, ele afirmava que a sociedade política era a fonte da guerra, pois era ela que instaurava a desigualdade entre os homens. Rosseau caracterizava o contrato social como um pacto de elites, não de todos os indivíduos, na tentativa de garantirem para si as benesses da propriedade, acumular riquezas e gerar desigualdades. No entanto ele não considera a instituição política como essencialmente má e contrária ao estado natural, podendo, portanto, ser organizado de forma a preservar os direitos naturais e a igualdade dos indivíduos. Nesse sentido, ele faz algumas defesas: 1. Para que possa ser garantia de igualdade, sem alienar a liberdade humana, o pacto social deve abranger a todos os indivíduos. 2. O conjunto dos indivíduos não abdica de sua liberdade em nome de um único indivíduo, ao qual se submete, mas entrega a si mesmo ao controle de um indivíduo coletivo. 3. A celebração do pacto social da origem a um corpo social – o Estado. Soberano aqui não é o monarca, mas o Estado enquanto união dos indivíduos. (Concepção de soberania do povo, enquanto conjunto dos indivíduos pactuantes). Quanto à questão posta inicialmente, em Rousseau, não há abdicação da liberdade para a instituição do Estado. Na perspectiva deste filósofo, o Estado enquanto corpo social deve ser a expressão da vontade geral. Ou seja, expressão geral das vontades individuais das partes pactuantes no que diz respeito às questões coletivas. Do modelo Hegelo-marxiano Se o modelo jusnaturalista é fundado na oposição estado de natureza estado civil, no modelo hegelo-marxiano baseia-se na oposição sociedade civil e sociedade política. “O modelo hegelo-marxiano só se constituirá como verdadeira antítese ao jusnaturalismo ao incorporar, sobre a estrutura pensada por Hegel, as considerações levantadas mais tarde por Marx, que retoma a concepção de Rousseau do Estado como instrumento de dominação para a manutenção da riqueza de alguns em detrimento de muitos outros, mas tomando essa característica como essencial e inerente ao conceito mesmo de Estado e não como uma corrupção contingente do conceito.” A crítica hegeliana Crítica ao conceito de estado natural. Para Hegel é impossível construir uma análise da sociedade (Estado e indivíduo) que seja ahistórica, isto é, conceber que haja um “estado” do indivíduo que seja anterior a uma concepção social. Dessa forma não há indivíduo anterior ao Estado, mas os indivíduos só são possíveis no e através do Estado, compondo uma unidade analítica conceitual dentro de uma acepção dialética. Existe uma razão de Estado que deriva da condição da racionalidade dos indivíduos, não sendo este fruto de um contrato abstrato entre indivíduos que abdicam de um estado de natureza anterior à formação social. Oposição sociedade civil x Estado (ou sociedade política) na concepção hegeliana 1. Sociedade civil – Estrutura de dependências recíprocas, “onde os indivíduos satisfazem suas necessidades através do trabalho, da divisão do trabalho e da troca; e asseguram a defesa de suas liberdades, propriedades e interesses através da administração da justiça e das corporações”. 2. Sociedade política – “Ela se contrapõe ao Estado político, isto é, a esfera dos interesses públicos e universais, na qual aquelas contradições estão superadas e mediatizadas”. A crítica marxiana “Relações jurídicas, tais como formas de Estado se enraízam nas relações materiais de vida.” Entendida por Hegel sob o nome da sociedade civil. Marx, ao contrário, defende que “a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na economia política”. Ele inverte a concepção de Hegel, de que o Estado é determinante da história, afirmando que “é a história da produção social dos homens, ao contrário, que determina a estrutura do Estado”. Divórcio da sociedade civil com o Estado O Estado reproduz e é produto das relações sociais de produção (que se corporificam na sociedade civil), que determinam classe dorminada e classe dominante, nele se encontra em disputa as condições que demarcama sociedade civil. Ele é “uma forma necessária apenas para as organizações sociais de exploração”, ou seja, é a estrutura que formalmente (juridicamente, por exemplo) organiza a sociedade. Existe, no âmbito da sociedade civil também uma disputa pelo controle do Estado, através do que Bresser-Pereira chamou de “ampliação das bases da sociedade civil”. Contribuição de Tocqueville As sociedades democráticas modernas substituíam a sociedade hierárquica antiga, mas nem por isso substituíam ou aboliam a hierarquia de suas entranhas. Ele identifica que “as mudanças ainda que profundas, rompem com uma certa estrutura, mas não a estrutura em si mesma, isto é, o Estado muda de mãos e de feições, mas continua Estado e, portanto, atrelado a uma certa estrutura política que deve privilegiar a dominação, seja ela qual for.”
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