Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Icterícia 1 Icterícia Conceito icterícia → Icterícia é uma cor amarelada da pele e dos olhos, causada pelo excesso de bilirrubina no sangue → Podemos observar: na mucosa conjuntival e sublingual e na pele → Quando observada em escleras costuma estar acima de 2,5 - 3 mg/dl 💡 Hiperbilirrubinemia significa a concentração sérica de bilirrubina acima de 1,11 mg/dl Icterícia costuma ser acima de 2,5 mg/dl Definições Pseudoicterícia → a cor amarelada pode não ser apenas por hiperbilirrubinemia e sim por carotenemia (por exemplo) → alta ingestão de alimentos ricos em betacaroteno, a coloração amarelada nesse caso não afeta as escleras → outras possíveis colorações podem ser vista no mixedema (hipotireoidismo) e insuficiência renal com coloração amarelo pálida Metabolismo da Bilirrubinas Etapa pré-hepática → principal produto da reciclagem de eritrócitos senescentes → grupo heme é convertido em biliverdina → enzima: hemeoxigenase → biliverdina é convertido em bilirrubina → enzima: biliverdina-redutase → início: bilirrubina não conjugada → como é lipossolúvel é ligada à albumina (96% da bilirrubina plasmática) → não aparece na urina → ultrapassa barreira hematocefálica → potencialmente tóxico → relacionar com kernicterus Icterícia 2 → Bilirrubina não conjugada é transportada para o fígado onde sofre conjugação Etapa hepática → Captação da bilirrubina indireta → transporte facilitado e por difusão → dentro do hepatócito ligada a enzima glicoronosil-transferase → Conjugada em forma hidrossolúvel → é conjugada com ácido glicurônico (enzima UGT1A1) → Forma então a bilirrubina conjugada (ou direta) → Vai ser excretada para dentro da bile Etapa pós hepática → Bilirrubina direta vai para os ductos biliar e cístico, chega na vesícula → pode ser armazenada → encontra a luz do duodeno através da ampola de Vater → É filtrada pelos rins, aparece na urina → Transformada em urobilinogênio (no cólon) → parte excretado nas fezes → parte é reabsorvida e excretada pelos rins Produção bilirrubina → 80% é resultado da degradação da hemoglobina → 20% degradação de outras proteínas Efeitos fisiológicos → regulação do metabolismo do colesterol → níveis de adipocinas → melhora do controle glicêmico Principais diferenças entre as bilirrubinas Não conjugada ou indireta → lipofílica → ligada a albumina quando no sangue → ultrapassa a BHE → não encontra-se na urina Conjugada ou direta → hidrofílica → formada a partir da glicuronoconjugação da bilirrubina indireta → não ultrapassa a BHE → captada pelo rim Icterícia 3 → encontrada na urina em situações patológicas Aumento da bilirrubina indireta (BI) Pode ser por → aumento da produção → ex: reabsorção de hematomas → diminuição da captação → ex: por diminuição hepática → distúrbio da conjugação → ex: doença neonatal, Gilbert, C. Najjar → hemólise e eritropoiese ineficaz → pode estar relacionada a anemia falciforme, esferocitose e malária Aumento da bilirrubina direta (BD) Pode ser por → defeitos na excreção → obstrução biliar extra hepática Aspectos clínicos da icterícia → varia entre assintomáticos até pacientes graves → diagnóstico deve ser realizado em ambiente bem iluminado Buscar definir → se o início foi abrupto ou insidioso → se é a primeira vez que ocorre ou já ocorreu mais vezes → cogitar a possibilidade de quadro infeccioso (principalmente na presença de febre) Possíveis sintomas associados → dor adominal → emagrecimento → colúria → anemia → ascite → esplenomegalia → circulação portal Icterícia 4 Situações específicas de hiperbilirrubinemia indireta: Distúrbio de captação hepática: se a captação está prejudicada existe o acúmulo da bilirrubina forma indireta → pode ocorrer por drogas: rifampicina, probenecide, contrastes radiológicos Distúrbio na conjugação da bilirrubina: desbalanço entre a massa de bilirrubina produzida a partir do heme e seu ritmo de conjugação em nível hepático → alteração por exemplo da enzima glicoronosil-transferase 💡 Atenção: Icterícia Neonatal Considerada fisiológica: entre 2-5º dias; nos primeiros dias de vida as etapas do metabolismo da bilirrubina estão incompletas; defeito na conjugação é o principal (melhora com fototerapia) Associação com hemólise por incompatibilidade → Hiperbilirrubinemia indireta intensa → Kernicterus (>20 mg/dl, bilirrubina atinge o cérebro, danos irreversíveis e letais) Síndrome de Gilbert → Afeta entre 3-7% da população → 2ª-3ª década de vida: formas hereditárias – mutações no gene UGT1A1 (10-30% função) → Proporção homens x mulheres: 2 até 7:1 → Mecanismos (ligeira hiperbilirrubinemia não conjugada <6mg/dl – geralmente entre 3- 4mg/dl) → Aumento da produção → Redução da captação → Déficit na conjugação – atividade da glicuronil-transferase reduzida → Gatilhos: jejum prolongado, estresse, atividade física extenuante, infecções, uso de drogas com metabolização hepática e álcool – benigna 💡 Alerta: Necessidade de alerta com medicamentos de metabolização hepática Síndrome de Criegler-Najjar Icterícia 5 → Deficiência da enzima glicuronil-transferase Tipo I: ausência de atividade enzimática – risco de Kernicterus (neonatal) → BT: 10=8-45mg/dl → Herança autossômica recessiva → Ausente resposta ao fenobarbital Tipo II: redução acentuada (até 10%) → BT: 6-25mg/dl → Herança autossômica dominante → Resposta ao fenobarbital Situações específicas de hiperbilirrubinemia direta: Alteração na excreção de bilirrubina: Síndrome Dubbin-Johson e S. Rotor; doenças hepatocelulares, como hepatite e cirrose → a excreção da bilirrubina ocorre a partir de um processo ativo, então não é tão simples quanto parece. Bilirrubina conjugada não consegue avançar nas etapas do metabolismo → sem a excreção não terá transformação em urobilinogênio ou estercobilina → alteração da coloração das fezes → alteração da coloração da urina por concentração sanguínea da bilirrubina conjugada Síndrome de Dubbin-Johnson → condição autossômica recessiva benigna → mutação no gene MPR2/cMOAT → presença de hiperbilirrubinemia direta e bilirrubinúria → alteração na excreção da bilirrubina conjugada → biopsia hepática: possível observar grânulos de pigmento preto (fígado enegrecido) encontrados nos hepatócitos e células de Kupffer → BT entre 2 e 5 mg Síndrome de Rotor → similar a de Subbin-Johnson → diferença: fígado é normal na biópsia hepática → BT entre 3-5mg Hepatites Icterícia 6 Inflamação lobular que lesa o transporte de bilirrubinas conjugadas e libera estas no interior dos hepatócitos. Ou seja, alteração na excreção. → origem álcoolica → por infecção bacteriana, fúngicas, virais, por protozoários → exemplos: toxoplasmose, leptospirose, brucelose, Rickettsiose por Coxiella Burnetii → exemplos virais: hepatites A, B, C, D, E; febre amarela → pode ocorrer por medicamentos hepatotóxicos → exemplo paracetamol, penincilina e derivados, anticoncepcionais orais, clorpromazina, estrógenos, esteróides → autoimune: por ação de células citotóxicas → mais comum em mulheres jovens com alterações autoimunes pré existentes Cirrose → Cicatrização fibrosa (irreversível), resultado de diferentes agressões ao fígado → Arquitetura lobar descaracterizada Etiologia → álcoolica → cirrose biliar primária → hepatites crônicas → hepatites que levam a cronicidade B, C, D → doença de Wilson: distúrbio do metabolismo do cobre → transporte comprometido, com acúmulo tecidual: cérebro, córneas e rins → hemocromatose → Clinicamente: estigmas de doença hepática crônica e sinais e sintomas de hipertensão portal 💡 Lembrar: Hepatite B e C podem levar ao carcinoma hepatocelular Obstrução biliar extra hepática Processo obstrutivo da árvore biliar que pode ser por: → cálculos biliares → colangite: distensão, inflamação e infecção biliar/hepática por obstrução do ducto colédoco Icterícia 7 → coleciscite → coledocolitiase → tumores (da junção biliopancreáticas): → câncer de pâncreas: principalmentede cabeça de pâncreas) → câncer de vias biliares: colangiocarcinoma → câncer de ampola de Vater → Comprometimento de lifonodos peri-hepáticos: linfonodomegalias peri-hilares (doença metastática hepática) Outras causas: estenoses pós cirúrgicas, pancreatite aguda e crônica, cistos colédoco, bolo de áscaris, pancreatite aguda ou crônica (edema e/ou formação de pseudocistos); gravidez; AIDS; icterícia pós cirúrgica por reabsorção de hematomas e degradação de hemácias pós transfusão ❗ Informações importantes - Anamnese e exame físico Identificação → Idade: certas condições são mais comuns de acordo com a idade. Exemplo: hepatite A em crianças e adolescentes; câncer de vias biliares em pacientes mais idosos → Profissão: relação com exposição; profissionais de saúde (risco de hepatite) → Raça: anemia falciforme (negros) Viagens/regiões endêmicas → Esquistossomose → Malária → Febre amarela, leptospirose História Mórbida Pregressa → Transfusões de sangue ou derivadas → Antecedente de cirurgia, particularmente em vias viliares → Antecedente de tumores → Uso de medicamentos e exposição a tóxicos → inclusive fitoterápicos e usos de chás Hábitos → Etilismo → Drogas injetáveis (relação com hepatite B e C) → Contato profissional com hepatotóxicos Icterícia 8 História da doença atual Icterícia: tempo de evolução; fatores de alívio/agravo; sintomas associados Pródromos de hepatite: náusea; anorexia; febre Dor abdominal: cólica biliar; dor ou desconforto no hipocôndrio direito: aumento rápido do volume do fígado; dor pancreática – pancreatites/tu Colúria: hiperbilirrubinemia direta Acolia/hipocolia fecal: deficiência de excreção de bilirrubina para o intestino; obstrução biliar extra- hepática Prurido cutâneo: comum em doenças hepáticas colestáticas intra ou extra-hepáticas Sinais e sintomas associados: → artralgia/mialgia → anorexia/perda ponderal → dor abdominal → prurido → alterações nas fezes → rebaixamento do nível de consciências → ascite → hepatoesplenomegalia → telangectasias → eritema palmar → prurido → xantelasma, hiperceratose, hiperpigmentação → aumento de parótidas → ginecomastia → atrofia testicular → linfonodomegalia fossa supraclavicular (Virchow) → linfonodomegalia periumbilical (Sister Mary-Joseph) → circulação hipertensão portal "cabeça medusa" (Cruveilhier-Baungarten) O que podemos encontrar no exame físico Geral → Icterícia → Febre baixa, sem calafrios (hepatite aguda viral/alcoólica) Icterícia 9 → Febre com calafrios (colangite, sepse)* → Mucosas descoradas (anemias hemolíticas, hipertensão portal/ cirrose, neoplasia) → Perda de peso – não descartar neoplasia → Desorientação – encefalopatia hepática** → Verificar: Asterixis/flapping 💡 Lembrar da Tríade de Charcot* Dor abdominal em hipocôndrio direito, icterícia e febre com calafrios 💡 Pêntade de Reynolds** Dor abdominal em hipocôndrio direito, icterícia, febre com calafrios, confusão mental e hipotensão Abdome Inspeção → cabeça de medusa → ascite → cicatrizes cirúrgicas Ausculta: em geral normal Percussão: macicez móvel Palpação → Vesícula biliar palpável (Sinal de Mirizzi) → Obstrução biliar extra-hepática/ coledocolitíase → Neoplasia justa-ampolar → Hepatomegalia dolorosa (Sinal de Courvoisier) → Hepatites agudas/ colangites → Tumores → Congestão hepática → Fígado nodular – tumores e cirrose → Fígado diminuído de tamanho – hepatite grave/cirrose → Esplenomegalia Icterícia 10 → Síndrome de hipertensão portal → Hemólise Cabeça → Telangectasias → Icterícia: esclera também e mucosas amareladas → Anel de Keyser Fleischer Tórax → Ginecomastia e redução de pelos em tórax (insuficiência hepática) MMSS → asterixis → eritema palmar → contratura de dupuytren → unhas → unhas de Terry: unhas "metade-metade"; Unhas brancas, muitas vezes com o leito ungueal apresentando uma zona fina de coloração castanha a cor-de-rosa na borda distal da unha; são um sinal de insuficiência hepática ou renal crônica. → Linhas de Muehrcke: linhas brancas transversais atravessando toda unha e com desaparecimento à compressão (indica hipoalbuminemia; albumina < 2 g/dl) MMII: edema periférico Alterações e característica dentro de cada fase Características Pré hepática (hemolítica) Intra-hepática (hepatocelular) Pós-hepática (obstrutiva) Bilirrubina indireta aumentada normal normal Bilirrubina direta normal aumentada aumentada Colúria ausente presente presente Acolia ausente ausente presente Avaliação do paciente Outros causadores de colestase intra-hepática → Nutrição parenteral prolongada https://www.notion.so/Bilirrubina-indireta-e1a0dadc4536478ca0cd31ff1addc5d7 https://www.notion.so/Bilirrubina-direta-0b9b55b3083546d494e27b2a5522b328 https://www.notion.so/Col-ria-81aafb1702f14b6f9b12dc0c6ee23671 https://www.notion.so/Acolia-d5e8055a42d84bf5b6fb154171c8102e Icterícia 11 → hepatite por nutrição parenteral total → Septicemia/choque séptico → Colestase benigna do pós-operatório → Processos neoplásicos: Hodgkin, carcinoma de tireoide medular, carcinoma renal de células claras, linfoma células T, câncer de próstata, tumores gastrointestinais → Drogas causadoras de colestase intra-hepática: → Anabolizantes → Anticoncepcionais orais → Clorpromazina, imipramina, cimetidina, eritromicina → STM + trimetoprima, ampicilina, clavulinato → Icterícia pós-operatória è aumento enzimas intracanaliculares → Pacientes vulneráveis (fígado com doença pré-existente) → Reabsorção de hematomas, degradação hemácias pós-transfusão → Coledocolitíase → Cálculo retido em vias biliares → Lesão iatrogênica de vias biliares → Hepatite viral aguda, hepatite pós-transfusional → Isquemia hepática Avaliação laboratorial → Bilirrubinas → Fosfatase alcalina → TGO, TGP → TAP → Albumina Possíveis interpretações → F. alcalina e transaminases normais: sem lesão hepática ou d. biliar → Aumento principal de f. alcalina: obstrução biliar ou colestase intra-hepática → Predomínio de elevação de transaminases: doença hepatocelular intrínseca → Alargamento RNI (resposta a vitamina K) Se suspeita de lesão intra-hepática → Sorologia para hepatites → Anticorpos microssomais (colangite biliar primária) → Anticorpos anti-músculo liso (hepatite auto-imune) → Ferro, ferritina, transferrina (hemocromatose) → Testes tireoideanos Icterícia 12 → Desproporção: enzimas canaliculares (fosfatase alcalina, G-GT) e transaminases → Marcadores tumorais → CEA è cólon, gástrico, vias biliares, pâncreas → CA 19-9 è pâncreas, colorretal (metastático), vias biliares → CA-125 è presença de ascite, doença metastática → Alfa-fetoproteína (AFP) è hepatocarcinoma → USG-abdome (ênfase nas vias biliares) → Endoscopia digestiva alta (atentar à possibilidade de realizar eco-endoscopia) → TC-abdome total → RM – colangioRM → Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica(CPRE): remoção de cálculos, implante de “stents”. → Colonoscopia Câncer de pâncreas → Incidência crescente, alta letalidade. → Projeta-se como segunda mortalidade por câncer → EUA, 2030 → Idade média (em 2010): 71 anos → Tendência atual è doença em pacientes mais jovens (impacto dos pacientes metabólicos) → Dificuldade diagnóstica: sintomatologia vaga e inespecífica, com diagnóstico → Somente 15-20% dos pacientes serão operados Colangiocarcinoma → Raros, com alta letalidade (diagnóstico com doença avançada) → Tumores extra-hepáticos: vesícula biliar, ductos extra- hepáticos, ampola de Vater → Tumores intra-hepáticos: primários do fígado → Colangiocarcinoma: tumores dos ductos biliares com origem intra-hepática, peri-hilar ou árvore biliar extra- hepática/ distal → Apresentação: sintomáticos a partir da obstrução da drenagem das vias biliares (icterícia, prurido, hipocolia fecal, colúria); dor abdominal QSD(30-50%); perda de peso (30- 50%); febre (20-25%) Nathália Farias Icterícia 13 @medicinathy
Compartilhar