Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GIARDÍASE ● Introdução A giardíase é uma doença causada pelo protozoário Giardia lamblia (G. duodenalis ou G. intestinalis). Pertence ao super-grupo excavata (apresentam �agelo), grupo metamonada. Responsável por causar infecções intestinais mais comum no mundo, principalmente em países desenvolvidos. Acomete cerca de 200 milhões de pessoas por ano. Sua prevalência está relacionada a sua resistência aos procedimentos comuns de tratamento de água, e a ausência de imunidade. Esse parasito não apresenta mitocôndria, mas sim uma organela similar, o mitossoma. Seu metabolismo é do tipo anaeróbico facultativo. ● Sintomas As manifestações clínicas vão ser características de infecções no trato gastrointestinal, onde o indivíduo vai apresentar diarreia volumosa com bastante gordura, nesse caso devido a disfunção na absorção de nutrientes, principalmente compostos lipídicos. Ainda, vai apresentar gases, azia, dor abdominal, perda de peso associado à desnutrição proteica/calórica (também relacionado à capacidade do parasito de causar uma má absorção) e fezes amarelas. ● Características genéticas Essa doença acomete a maioria dos mamíferos, de maneira bem frequente. Os grupos de genótipo A e B apresentam potencial zoonótico, apresentando prevalência maior em animais. Com isso, animais que estão mais próximos dos humanos, como gatos e cachorros, passam a fazer parte da cadeia epidemiológica. Existem outras espécies que são mais especí�cas para outros animais, como a G. psittaci e G. ardeae, parasitas de aves; e G. muris, parasita de roedores. ● Aspectos morfológicos A forma de trofozoíto é bastante característica e de fácil identi�cação, apresentando aspecto piriforme, binucleado, com presença de corpos medianos que possuem uma similaridade com os corpos cromatóides, discos adesivos para �xação do parasito, além de cinetossomo ligado a emergência de �agelos, que são quatro pares. A forma de cisto é oval ou elipsóide, apresentando entre o citoplasma e a parede cística um espaço perceptível, além dos quatro núcleos, fragmentos dos discos ventral e axonemas. ● Ciclo evolutivo O ambiente onde se tem a G. lamblia de forma mais prevalente sempre vai ser aquele ambiente onde não se tem adequações sanitárias, políticas públicas, saneamento básico e vulnerabilidade socioeconômica. O ciclo se inicia com o indivíduo se infectando com água ou alimentos contaminados com o cisto, ou então através de artrópodes que podem carrear o parasito de forma mecânica. Um fator importante na dinâmica de transmissão desse parasito é a presença de animais, que podem estar infectados com os genótipos zoonóticos (A e B) da G. lamblia e passam a funcionar como reservatórios e fontes de transmissão. ● Ciclo e Equilíbrio com microbiota Durante o processo de desenvolvimento, o parasito sai do estômago, com pH ácido, e vai para o duodeno, com pH mais básico, ocorrendo o desencistamento com formação de trofozoíto denominado excyzoite (com 4 �agelos e 4 núcleos), mas que ao passar pelo duodeno se diferencia no trofozoito que irá colonizar o intestino delgado. No duodeno ocorre maior absorção de nutrientes, onde a presença do parasito irá interferir nessa absorção, sendo inicialmente re�etido na absorção de compostos lipídicos, mas com a progressão da doença interfere também na absorção de outros compostos. Da mesma forma que ocorre com a E. histolytica, a infecção maciça por G. lamblia vai levar a uma disbiose sistêmica de bactérias comensais aeróbicas e anaeróbicas, ocorrendo todo um acometimento pós infecção associado a esse distúrbio nesse microambiente. Nesse caso, esse processo se inicia no duodeno, onde, na presença da G. lamblia, e dependendo do indivíduo e dos mesmos fatores comentados na E. histolytica (resposta imune, dieta, alcoolismo, estado nutricional, dentre outros.), ela irá consumir arginina (fonte de energia), em contraponto a diminuição do óxido nítrico no tecido, associado a atividade proteolítica da giárdia gerando um desbalanço em relação a microbiota e a estrutura da mucosa intestinal sob o ataque enzimático. A partir daí se tem um comprometimento da proteção natural do intestino, da microbiota comensal que ajuda na boa resposta imunológica. Assim como a E. histolytica, ela possui cisteínas proteases que ajudam nesse processo, ocorrendo também clivagem de quimiocinas pró-in�amatórias (CXCL-8). Quando ocorre quebra da integridade da mucina, já abre e fragiliza o epitélio intestinal. A partir daí se inicia toda uma cascata, onde a ação enzimática gera um processo in�amatório, associado a essa quebra da mucina, causando encurtamento das microvilosidades do epitélio em escova. O processo de digestão vai ser comprometido, podendo gerar acometimentos como uma intolerância à lactose secundária. Ocorre ruptura do citoesqueleto associado a arquitetura das vilosidades intestinais, causando rearranjo do complexo de junção apical. Não ocorre invasão por parte da G. lamblia como ocorre com a E. histolytica, mas a quebra da proteção faz com que toxinas e bactérias invadam o tecido, gerando efeitos tóxicos da microbiota disbiotica. Isso tudo leva a indução de fatores pró-apoptóticos e quebra do equilíbrio imunológicos patogênicos. ● Interação Parasito-hospedeiro A adesão da G. lamblia na parede do intestino ocorre pelo disco adesivo, formado por microtúbulos, micro�lamentos e proteínas contráteis. Essa maciça aderência vai causar uma das principais patogenicidades desse parasito, que é a má-absorção de nutrientes, inicialmente de compostos lipídicos, re�etindo em diarreias volumosas de coloração amarela. Mas com a progressão da infecção ocorre uma má-absorção de forma generalizada resultando em hiperplasia das criptas e atro�a das vilosidades. Com a in�amação da mucosa e apoptose de enterócitos, ocorre aumento da permeabilidade intestinal, que pode favorecer invasão de bactérias patogênicas. Associado a isso temos a liberação, pelo parasito, de enzimas proteases que agem sobre as glicoproteínas e lisam as células do intestino. Importante destacar que a arginina é o substrato precursor do óxido nítrico, que contribui para eliminar os trofozoítos de G. lamblia. Mas, de forma competitiva, o parasito é capaz de absorver e metabolizar a arginina como fonte de energia, consequentemente reduzindo os níveis de óxido nítrico no tecido. O organismo produz INF alfa para induzir a produção de NO na tentativa de contrabalancear esse processo. ➔ Variação antigênica Apesar dessa doença gera memória imunológica (IgA no epitélio intestinal), a Giárdia pode infectar o mesmo indivíduo outras vezes pois, após o encistamento e desencistamento, o antígeno principal da superfície muda (variação antigênica). ➔ Período de negativação Durante o processo de colonização da mucosa intestinal, vai ocorrer o período de negativação onde, durante alguns dias, não há liberação de cistos, mesmo o indivíduo apresentando toda uma sintomatologia. Por isso que o exame direto para pesquisa de trofozoítos nas fezes é algo fundamental no diagnóstico dessa doença. ● Fisiopatologia e Sintomatologia Vai ocorrer processos inerentes a giardia e processos desencadeados pelo organismo devido a ação da giardia. A aderência às microvilosidades do intestino delgado e ação mecânica e enzimática leva a lise das células intestinais. A partir daí ocorre uma resposta in�amatória com produção de IgA e IgE. A resposta imune com ativação de mastócitos e liberação de histamina resulta em edema e contribuir para o aumento da motilidade e diarreia gordurosa. ➔ Sinais e Sintomas O período de pré-patente ocorre entre 8 e 10 dias, podendo chegar até 36 dias para detecção da Giárdia nas fezes, sendo caracterizado por sintomas mais gerais inespecí�cos. Em indivíduos que são acometidos por uma infecção mais grave, pode ocorrer diarreia moderada ou mais grave, com aumento da secreção de cloreto, acúmulo de líquidos no lúmen intestinal, �atulência, anorexia, dores abdominais agudas, síndrome de má-absorção, intolerância lactose secundária. ● Diagnóstico O diagnósticovai depender do estado do paciente. Se ele está com uma diarreia profusa, vai haver uma di�culdade de encontrar cisto (ou não encontrar – período de negativação), por isso é feito a busca de trofozoítos por microscopia das fezes ou conteúdo duodenal do paciente. Em caso de uma diarreia não tão profusa, com fezes mais pastosas, pode se ter a observação de cistos. A coloração utilizada é o lugol (corante a base de iodo), através do método de Faust ou HPJ. Nessa doença é interessante fazer o exame de amostra seriada. Também podem ser utilizados ELISA, PCR (principalmente nas águas de consumo humano) e Imunocromatogra�a (ultimamente vem sendo mais utilizado). ● Tratamento ● Aspectos epidemiológicos os casos de giardíase são mais prevalentes em crianças (o pico se encontra entre menos de 1 ano até os 10-14 anos) geralmente associado com algum tipo de desnutrição proteica/calórica. Implantação, ampliação ou melhoria de sistemas de esgotamento sanitário para prevenção e controle de agravos.
Compartilhar