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Caso clínico Paciente de 4 anos é levado ao prontoatendimento com história de 2 meses de febre irregular, evoluindo com adinamia, palidez e aumento do volume abdominal. Mãe percebeu que a criança aparenta estar mais magra e se angustia devido a história familiar positiva para doenças neoplásicas. Ao exame, paciente encontra-se em regular estado geral, hipoativo, febril, hipocorado e hidratado. Ausculta cardiopulmonar normal. Abdome globoso, com fígado a 6cm do RCD e baço a 8cm do RCE. Extremidades perfundidas, com edema distal. Epidemiologia 2001-2016: 55.530 casos humanos nas Américas ▪ Média anual de 3.457 casos ▪ Brasil é responsável por 96% dos casos 2017: 22.145 casos novos, sendo 94% destes em 7 países. Leishmaniose presente em 21 das 27 unidades federativas do Brasil Em 2017: destaque para Minas Gerais, Maranhão, Pará e Ceará Urbanização da doença, atingindo grandes centros urbanos. Número estável de casos no nordeste com aumento em outas regiões (centro-oeste, sudeste e norte) Maior letalidade: menores de 1 ano e maiores de 50 anos!!! No Ceará: De janeiro de 2007 a outubro de 2019, foram confirmados 6.946 casos (média de 534 casos/ano) e 414 óbitos (principalmente em crianças menores -<1 anos- e idosos) Incidência com tendência cíclica, com maiores valores em 2007 e 2011 Agente etiológico Leishmania l chagasi: parasita intracelular obrigatório de células do sistema fagocítico mononuclear (macrófago) Vetor Flebotomíneo do gênero Lutzomya Inseto hematófago, pequeno, cor de palha, chamado mosquito palha, cangalha ou cangalhinha Inseto transmite através da saliva formas promastigotas Reservatorios: cachorro, raposa... O parasita Etapas para infecção- doença Internalização da Leishmanias pelos macrófagos teciduais→Transformação em amastigotas→ Multiplicação por divisão binária→Rotura de macrófagos com liberação de amastigotas→ Fagocitose das amastigotas por outros macrófagos. LV – Período de Incubação – 2 a 24 meses, em média 2 a 6 meses Órgãos afetados: ▪ Baço (“santuário da leishmania”) ✓ Parasitismo intenso ✓ Hiperplasia ✓ Sequestro ✓ Hiperesplenismo Pct com esplenomegalia febril em zona endêmica= ATENÇÃO!!! ▪ Medula óssea ✓ Parasitismo intenso ✓ Recrutamento de células inflamatórias ✓ Diminuição da produção (pode ter anemia, leucopenia e plaquetopenia) ▪ Fígado ✓ Parasitismo menos intenso ✓ Hiperplasia das células de Kuppfer ✓ Infltrado inflamatório ✓ Diminuição da produção de albumina (↑globulina e ↓ albumina= inversão) ▪ Linfonodos ▪ Intestinos: Parasitismo nas placas de Peyer→ diarréia (geralmente sem muco ou sangue) ▪ Pulmões: Parasitismo dos macrófagos pulmonares→ pneumonite (queixa de tosse seca) ▪ Rins: ✓ Cilindrúria ✓ Hematúria (microscópica e sem queixas) ✓ Proteinúria ▪ Outros Síndrome clínica ✓ Febre ✓ Hepatomegalia ✓ Esplenomegalia ✓ Pancitopenia Espectro clinico 1. Inaparente ou assintomático 2. Período inicial ▪ Febre (< 4 semanas) ▪ Palidez cutâneomucosa ▪ Esplenomegalia (<5cm) ▪ Hepatomegalia * ▪ Tosse, diarreia e micropoliadenopatia 3. Período de estado ▪ Febre irregular ▪ Emagrecimento progressivo ▪ Palidez cutaneomucosa ▪ Hepatoesplenomegalia evidente 4. Período final ▪ Febre continua ▪ Estado geral ruim ▪ Desnutrição (cabelos, pele, cílios) ▪ Hemorragias ▪ Icterícia ▪ Ascite ▪ Infecções Modelos de prognóstico Ultrapassou o 6 clinico laboratorial= maior risco de gravidade! Diagnóstico PADRÃO OURO: VISUALIZAÇÃO DOS AMASTIGOTAS Material para diagnóstico: ▪ Medula óssea (mielograma) ▪ Figado ▪ Baço ▪ Linfonodos ▪ Outros: pele, sangue, TGI, liquido pleural, liquor) Como obter? ▪ Aspiração ▪ Biopsia (geralmente, em crianças se faz a punção na crista ilíaca) Exames sorológicos: ▪ Imunofluorescência indireta (RIFI) ▪ Testes rápidos imunocromatográficos (K39) ▪ Ensaio imunoenzimático (ELISA) Exames complementares: ▪ Hemograma (pancitopenia) ▪ VHS (↑) ▪ Proteínas totais e frações (inversão albumina globulina) ▪ Coagulograma (pode estar alterado em casos mais graves) ▪ Provas de função hepatica e renal ▪ Sumário de urina (ITU secundaria e achados específicos no rim) Tratamento A relação entre o parasito e o hospedeiro humano é complexa e caracteriza-se pela persistência da infecção e espectro clínico de gravidade variável O tratamento é realizado com drogas de difícil administração, toxicidade elevada e alto custo Os critérios de resposta ao tratamento estão baseados em aspectos clínicos Encontrar a “droga ideal” ▪ Via oral ▪ Dose única diária ▪ Baixa toxicidade ▪ Baixo custo ▪ Que não estimule resistência ▪ Com boa correlação entre os testes de sensibilidade in vitro e a resposta in vivo PROBLEMAS: ▪ Conhecimento parcial sobre o metabolismo do parasito ▪ Conhecimento parcial sobre o mecanismo de ação das drogas disponíveis ▪ Toxicidade elevada / via de administração parenteral / custo elevado PROBLEMAS ▪ Conhecimento parcial sobre o metabolismo do parasito ▪ Conhecimento parcial sobre o mecanismo de ação das drogas disponíveis ▪ Toxicidade elevada / via de administração parenteral / custo elevado Drogas recomendadas: Primeira escolha: antimonial pentavalente Alternativas: ▪ Anfotericina B lipossomal ▪ Anfotericina B desoxicolato ▪ Outros Antimoniais pentavalentes (Glucantime): ▪ Não é absorvido por VO (IV ou IM) ▪ Doses repetidas produzem aumentos discretos dos níveis séricos mínimos ▪ Mecanismo de ação: atuam no mecanismo bioenergético das formas amastigotas do parasito, inibindo a glicólise e a beta oxidação dos ácidos graxos ▪ Primeira escolha ▪ Cardiotoxico (tem que fazer controle pelo ECG) Anfotericina B: ▪ Antibiótico poliênico ▪ A mais potente das drogas de primeira linha ▪ Não depende de resposta imune ▪ Mecanismo de ação: união aos esteróis neutros da membrana parasito (ergosterol) ▪ Administração IV Conduta no abandono de tratamento Considerar o número de doses, o estado clínico atual e o tempo decorrido da última dose. Caso o paciente retorne antes de 7 dias de interrupção da droga, COMPLETAR O TRATAMENTO Após 7 dias, considerer o Quadro: Critérios de cura: ▪ Desaparecimento da febre em torno do 5° dia de tratamento ▪ Redução da hepatoespleno nas primeiras semanas (40% de redução ao final do tempo de tratamento) ▪ Melhora dos parâmetros hematológicos na segunda semana ▪ Melhora visível do apetite e do estado geral ▪ Seguimento com 3, 6 e 12 meses. ▪ Sem indicação de controle parasitológico ou sorológico Questoes...
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