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LIMITES FORMAIS DO PODER CONSTITUINTE

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LIMITES FORMAIS DO PODER CONSTITUINTE 
 
O constitucionalismo moderno, na sua matriz 
norte-americana, assim como na sua evolução 
europeia, funda-se em Constituições rígidas, e não em 
Constituições flexíveis. Da rigidez constitucional 
resulta a existência de um procedimento específico 
para reforma do texto constitucional, que há de ser 
mais complexo do que o adotado para a aprovação 
da legislação ordinária. 
Esse procedimento envolverá, normalmente, regras 
diferenciadas em relação à iniciativa, ao quórum de 
votação das propostas de emenda e às instâncias de 
deliberação. Praticamente todas as Constituições 
contemporâneas seguem esse modelo. 
A inobservância dos limites formais impostos pela 
Constituição sujeita os atos emanados do poder de 
reforma a um juízo de inconstitucionalidade. 
A doutrina costuma advertir para os riscos do excesso 
de rigidez, fato que leva a uma de duas situações: que 
o texto não seja reformado diante de necessidade 
imperiosa, convertendo-se a Constituição em letra 
morta, sem maior relevância política; ou que a 
Constituição se adapte às novas demandas sociais por 
mecanismos ilegais e sub-reptícios, em mutações 
constitucionais inconstitucionais . 
Na França, embora não tenha havido ruptura 
institucional com a Constituição de 1946, a 
elaboração da Constituição de 1958 deu-se sem 
observância das regras próprias em vigor. Também a 
revisão de 1962, que instituiu eleições presidenciais 
diretas, refugiu à legalidade formal. Em ambos os 
casos, é certo, houve posterior referendo popular. Esses 
exemplos apenas documentam a dificuldade de a 
Constituição conter integralmente o processo político, 
sobretudo em situações de crise. 
Como assinalado, a generalidade das 
Constituições contemporâneas é de natureza rígida. 
A técnica mais difundida de dificultar a reforma 
constitucional é a exigência de maiorias 
qualificadas para sua aprovação. 
Por essa via, exige-se consenso mais amplo e 
concede-se poder de veto às minorias. Uma segunda 
técnica, menos comum, é a previsão de aprovação da 
reforma por legislaturas diferentes. Vale dizer: o 
procedimento de reforma é mediado por uma eleição 
parlamentar e o texto aprovado deverá ser ratificado 
pelo novo parlamento. Por fim, uma terceira técnica, 
essa mais frequentemente utilizada, é a realização 
de referendo popular. 
Certas Constituições instituem disciplinas 
diversas para a revisão total e para a revisão parcial. 
Outras preveem procedimentos distintos de reforma, 
em função de circunstâncias temporais ou materiais. 
No exemplo já citado de Portugal, o texto 
constitucional contempla a revisão ordinária, que 
pode ser realizada a intervalos de cinco anos, e a 
revisão extraordinária, que pode ser feita a qualquer 
tempo. No primeiro caso, o quórum será de dois terços 
e no segundo, de quatro quintos. 
Na Espanha, a Constituição contempla duas 
possibilidades: a reforma, de natureza parcial, que 
exige quórum de três quintos e referendo facultativo; 
e a revisão, que envolve a mudança total ou de partes 
«protegidas» do texto. 
Nesse segundo caso, aprovada a revisão, o 
Parlamento se dissolve, elegendo-se um novo, que 
deverá ratificar a alteração. Em seguida, a reforma 
aprovada deve ser submetida a referendo. 
No Brasil, a Carta Imperial de 1824, de caráter 
semirrígido, previa que a reforma de dispositivo 
constitucional seria mediada por uma eleição, 
cabendo à legislatura seguinte a ratificação da 
mudança ou adição. 
A Constituição de 1891 instituiu o quórum de 
dois terços e disciplinou o procedimento em duas 
etapas: aprovada a proposta de reforma, ela deveria 
ser objeto de nova deliberação no ano seguinte. A 
Constituição de 1934 contemplou duas possibilidades 
de reforma: a emenda e a revisão. 
A distinção se fez em razão das matérias a serem 
alteradas, com previsão de procedimento e de quórum 
diversos – dois terços no primeiro caso; maioria 
absoluta no segundo, com submissão à legislatura 
seguinte. 
A natimorta Carta de 1937 previu que a 
deliberação seria por maioria simples, mas assegurou 
a supremacia do Chefe do Executivo também no 
procedimento de reforma constitucional. 
Em mais de uma oportunidade, o Supremo 
Tribunal Federal já exerceu controle de 
constitucionalidade sobre a correção formal do 
procedimento de aprovação de emenda à 
Constituição. Primeiramente, assentou a Corte que a 
tramitação do projeto de emenda não envolve 
questão meramente regimental – interna corporis –, 
sendo tema de clara estatura constitucional. Em 
outras decisões, pronunciou-se no sentido de que o 
início da tramitação da proposta de emenda pode 
dar-se tanto na Câmara dos Deputados quanto no 
Senado Federal, tendo em vista que a 
Constituição confere poder de iniciativa aos membros 
de ambas as Casas. 
A propósito da necessidade de aprovação da 
proposta de emenda por ambas as Casas, a regra é a 
de que, havendo modificação do texto em uma delas, 
a proposta deve retornar à outra. 
 
Referência Bibliográfica: 
Barroso, Luís Roberto ; Curso de direito constitucional 
contemporâneo: os conceitos fundamentais e a 
construção do novo modelo / Luís Roberto Barroso. – 
9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020.

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