Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O esôfago é um tubo muscular oco que atravessa o mediastino posterior e interliga a hipofaringe ao estômago com um esfincter em cada extremidade. Podemos dizer que o esôfago possui três funções: • Conduzir o alimento da faringe ao estômago (peristalse, relaxamento dos esfíncteres). • Evitar a deglutição de ar, ou aerofagia, durante a respiração (tônus do EES). • Evitar que o alimento retorne do estômago (tônus do EEI). A maioria dos distúrbios do esôfago se deve à interferência nessas funções, que podem ser evidenciados por disfunção ou dor. Os principais distúrbios funcionais são problemas da deglutição e refluxo gastresofágico excessivo. A dor, algumas vezes indistinguível da dor torácica de origem cardíaca, pode ser causada por inflamação, infecção, distúrbios da motilidade ou neoplasia. Acalásia significa “não relaxamento” e é o distúrbio motor primário mais comum do esôfago, ocorrendo com maior frequência em pacientes de 25 a 60 anos de idade (especialmente antes dos 40 anos), caracterizado por: • Déficit de relaxamento fisiológico do esfincter esofagiano inferior (EEI) durante a deglutição. • Graus variados de hipertonia do EEI (incluindo tônus normal em alguns casos). • Substituição total da peristalse normal do corpo esofagiano por contrações anormais (peristalses anormais fracas na acalasia clássica, e fortes na acalasia vigorosa). “Os pacientes com acalásia comem devagar, bebem grandes quantidades de água para empurrar o alimento para o estômago e podem até contorcer o corpo (inclinando a parte superior do tronco, elevando o queixo e estendendo o pescoço), para ajudar o alimento a “descer”. Conforme mais água é deglutida, o peso da coluna líquida do esôfago aumenta, assim como a sensação de plenitude retroesternal, até que o EEI seja forçado a se abrir e um alívio repentino seja sentido à medida que o esôfago esvazia”. QUADRO CLÍNICO A obstrução faz com que o esôfago retenha material não digerido, podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu corpo – o paciente geralmente desenvolve sintomas de regurgitação e broncoaspiração desse material. A maioria dos pacientes com acalásia em estágios avançados desenvolve halitose. A perda de peso é uma constante, mas geralmente é insidiosa, além de ser leve a moderada na maioria das vezes – perda de peso importante e rápida deve levantar a suspeita de câncer de esôfago! Odinofagia não é um sintoma característico, mas pode ocorrer principalmente nos estágios iniciais da doença. A dor torácica (cólica esofagiana) é relatada apenas por alguns pacientes, e resulta de contrações vigorosas que tentam “vencer” o EEI. Tal fenômeno só costuma ser observado nas fases iniciais da acalásia, quando a contratilidade ainda não foi completamente perdida. DIAGNÓSTICO A acalásia pode ser detectada em exames convencionais, como a radiografia de tórax e a esofagografia baritada, mas tem na esofagomanometria o padrão-ouro para confirmação. RADIOGRAFIA SIMPLES DE TÓRAX Pode revelar: • Ausência de bolha gástrica (ar no estômago) • Massa mediastínica tubular ao lado da aorta D O E N C A S D O E S O F A G O • Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta, representando material estagnado no esôfago. ESOFAGOGRAMA BARITADO Pode mostrar: • Dilatação do corpo esofágico (megaesôfago) • Imagem de estreitamento em “bico de pássaro” na topografia de EEI. • Atraso no esvaziamento esofagiano. • Presença de contrações esofagianas não peristálticas. A esofagografia também permite classificar a doença em diversos estágios (classificação de Rezende, criada para o megaesôfago chagásico): 1. FORMA ANECTÁSICA: esôfago de calibre normal (até 4 cm), com pequena retenção de contraste, um minuto após a deglutição. 2. ESÔFAGO DISCINÉTICO: pequeno aumento de calibre (entre 4 a 7 cm) e franca retenção do contraste (megaesôfago leve) 3. ESÔFAGO GRANCAMENTE DILATADO: megaesôfago clássico, entre 7 a 10 cm, atividade motora reduzida e grande retenção de contraste. 4. DOLICOLEGAESÔFAGO: maior que 10 cm ou tortuoso (dólico = alongado) ESOFAGOMANOMETRIA É o principal exame diagnóstico, principalmente quando os exames radiológicos são normais ou inconclusivos. Os principais achados manométricos são: • Não relaxamento do EEI em resposta à deglutição (principal) • Graus variados de hipertonia do EEI • Aperistalse (ausência de contrações eficazes) Perceber: a presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalásia!!! ENDOSCOPIA ALTA confirma a dilatação do corpo do esôfago e exclui uma possível obstrução mecânica como causa da disfagia. Uma “esofagite irritativa” (mas não de refluxo) pode ser detectada. ETIOLOGIA A acalásia pode ser dividida em primária (idiopática), forma mais comum, ou secundária. A principal causa secundária de acalásia no Brasil é a doença de Chagas, existindo diversas outras etiologias mais raras como amiloidose, sarcoidose e gastroenterite eosinofílica. TRATAMENTO O objetivo é promover o relaxamento do EEI. Não há método terapêutico que normalize a contratilidade do corpo esofagiano e, por isso, o tratamento da acalásia é considerado “paliativo”... Os nitratos (via sublingual) antes das refeições e os antagonistas de cálcio (10 mg nifedipina VO 6/6h) reduzem a pressão do EEI e podem ser usados em pacientes com sintomas leves a moderados. Outra abordagem farmacológica consiste na injeção intramural e circunferencial de toxina botulínica, que pode ser usada quando resultados imediatos são desejáveis (eficácia de 90% em um mês), porém, a duração de seus efeitos é de apenas 3-6 meses. Esta última abordagem é reservada principalmente para os casos de alto risco cirúrgico! A toxina atua pela inibição de neurônios excitatórios parassimpáticos (colinérgicos). “O Espasmo Esofagiano Difuso (EED) é um distúrbio da motilidade esofágica de etiologia neurogênica, no qual o peristaltismo normal é substituído por intensas contrações não propulsivas fásicas, principalmente nos 2/3 inferiores do esôfago”. Trata-se de uma doença incomum (cinco vezes menos frequente que a acalásia), e difícil de ser diagnosticada e tratada. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Esta condição causa caracteristicamente dor retroesternal (cólica esofagiana) associada à disfagia para l íquidos e sólidos. A dor pode ser intensa e se irradiar para as costas, para os lados do tórax, para ambos os braços e até para a mandíbula, durando de alguns segundos a vários minutos. Em geral ocorre no repouso, mas pode se associar à deglutição, à tensão emocional e, eventualmente, aos exercícios. Dessa forma, às vezes pode ser clinicamente indistinguível de uma angina pectoris – tais pacientes costumam ser submetidos a exames cardiológicos antes da suspeita diagnóstica correta. Os sintomas de EED devem ser diferenciados dos de refluxo gastroesofágico, até porque, algumas vezes, estes podem coexistir, ou mesmo o refluxo gastroesofágico ser o desencadeador das “crises” de espasmo esofagiano. Devemos sempre lembrar da possibilidade de EED para todo paciente com clínica típica de angina de peito, sem evidências objetivas, obtidas por exames complementares, de doença coronariana, principalmente se também houver queixa de disfagia. É interessante ainda ressaltar que a maioria dos pacientes com espasmo esofagiano difuso é do sexo feminino e possui distúrbios psicossomáticos associados. Ansiedade e depressão estão presentes em mais de 80% dos pacientes com anormalidades na contração esofágica pela manometria. DIAGÓSTICO ESOFAGOGRAMA BARITADO Pode revelar uma imagem conhecida como “esôfago em saca-rolha” ou em “contas de rosário”, resultante da contração anormal, incoordenada (não peristáltica), que produz múltiplas pequenas ondulaçõesna parede, saculações e pseudodivertículos. Tal aspecto, apesar de sugestivo, não é patognomônico de EED – indivíduos idosos assintomáticos também podem demonstrar o mesmo achado radiográfico, que nesta situação é chamado de presbiesôfago (literalmente “esôfago velho”). ESOFAGOMANOMETRIA é o melhor exame para avaliação objetiva, revelando contrações características, prolongadas (> 2,5s), de grande amplitude (> 120 mmHg) e repetitivas, que se iniciam de forma simultânea nos 2/3 inferiores do órgão. É preciso que mais de 30% (e menos de 100%) das contrações esofagianas sejam desse tipo. Os achados descritos não são patognomônicos de EED: tais alterações manométricas também são vistas no diabetes mellitus, na esofagopatia da esclerodermia, na amiloidose e na esofagite de refluxo, e é preciso excluir estas condições antes de se firmar o diagnóstico de EED! ESPASMO ESOFAGIANO DIFUSO TRATAMENTO Os espasmos esofagianos são difíceis de tratar. A única classe de drogas que mostrou benefício em um estudo controlado foram os ansiolíticos! Para muitos pacientes, o mero esclarecimento da etiologia esofágica para a dor torácica já pode trazer grande alívio, possuindo efeito terapêutico... Os nitratos (ex.: nitroglicerina sublingual 0,3 a 0,6 mg, ou dinitrato de isossorbida 10-30 mg antes das refeições), os antagonistas do cálcio (ex.: nifedipina 10-20 mg antes das refeições) e os antidepressivos tr icíclicos (ex.: amitriptilina 25-50 mg/dia, antes de dormir) podem ser úteis em alguns casos... A dilatação endoscópica com balão (risco de perfuração esofágica) e a injeção local de toxina botulínica (efeito por no máximo seis meses) são empregadas com relativo sucesso em pacientes refratários ou que não toleram a terapia medicamentosa. A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é uma patologia que apresenta alta prevalência e é caracterizada pela presença de sintomas relacionados à presença de refluxo de conteúdo esofágico no esôfago, que pode ou não ser acompanhado de alterações na mucosa esofágica. Através da endoscopia digestiva alta (EDA) essa doença pode ser dividida em Esofagite Erosiva, caracterizada por pequenas lesões erosivas na região da mucosa esofágica acometida pelo refluxo, ou Doença do Refluxo Gastroesofágico Não-Erosiva, quando a mucosa esofágica parece intacta à EDA, no entanto o paciente apresenta refluxo e sintomas de DRGE. CONCEITO! A presença de refluxo do conteúdo gástrico por si só não configura diagnóstico de DRGE. A DRGE é uma condição em que o refluxo está associado a sintomas significativos. EPIDEMIOLOGIA A prevalência da DRGE é alta, o que a torna uma das principais causas de busca ao atendimento primário por queixas gastrointestinais e, também, um dos principais motivos de consultas com os gastroenterologistas. Estima-se que a prevalência da doença é de 10 a 20% da população. Diversos fatores, como obesidade, uso de medicamentos, envelhecimento, prevalência da infecção pelo Helicobacter pylori (relação entre a bactéria e a DRGE não é controversa na literatura) e hábitos de vida são fatores que explicam as grandes diferenças da prevalência da doença entre os países e continentes. Helicobacter pylori é uma bactéria espiroqueta GRAM negativa, associada exclusivamente a mucosa gástrica. Seu gênero vem por conta do seu formato de hélice e esse seu formato a ajuda a penetrar mais facilmente a mucosa gástrica. Existem diversas outras espécies do gênero que foram encontradas em outro mamíferos no fígado, mas nunca nos seres humanos. Em lactentes, o refluxo pode ser fisiológico e resolve espontaneamente até os 4 anos de idade. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE Fisiologicamente, o esôfago apresenta função de impulsionar o alimento da boca para o estômago e proteger as vias aéreas durante a deglutição, possuindo esfíncteres esofágicos (superior e inferior) para proteção das secreções gástricas. Durante a deglutição, ocorre o peristaltismo primário após passagem pelo Esfíncter Esofágico Superior (EES), desencadeando o peristaltismo secundário durante movimento do bolo pela extensão do esôfago. Esse mecanismo natural pode ser afetado por diversos fatores, como drogas, hormônios e ações mecânicas. Existem diversos mecanismos que isoladamente ou em conjunto podem provocar a DRGE. A presença de refluxo esofágico por si só não é patológica desde que não seja acompanhada por sintomas e nem por alterações endoscópicas. O refluxo fisiológico costuma ocorrer em pequena quantidade e principalmente após as refeições. A presença de refluxo esofágico durante o sono é indicativa de refluxo esofágico patológico, sugerindo DRGE. ATENÇÃO! A presença de refluxo por si só não significa diagnóstico de DRGE. Existem também pacientes com DRGE assintomáticos, porém com alterações importantes visíveis através da EDA, com esofagite erosive e até mesmo Esôfago de Barrett – uma metaplasia do epitélio escamoso do esôfago por epitélio colunar, causada pelo refluxo que resulta em agressões repetidas em à mucosa esofágica. As alterações que ocorrem na parede esofágica não são decorrência do mero efeito químico da secreção ácida no esôfago. Há indícios que, na verdade, a lesão decorrente da DRGE é mediada através de citocinas, o que é corroborado pelo estudo anatomopatológico dos tecidos acometidos, que mostram a presença de infiltrado de leucócitos (predominantemente linfócitos) em camadas mais profundas do epitélio, e não na camada superficial que tem contato direto com o ácido. Dessa forma, a secreção ácida exerceria efeito indireto, mediado através do desencadeamento de uma reação inflamatória crônica na mucosa do esôfago. A presença de diversas alterações pode favorecer o aumento do volume de secreção gástrica que reflui para o esôfago, resultando em um processo chamado incompetência gastroesofágica. Esse processo pode ocorrer através de diferentes mecanismos como: • hipotonia do esfíncter esofágico inferior (EEI) • relaxamentos transitórios do esfíncter esofágico inferior • alterações anatômicas da junção gastroesofágica. Acredita-se que alguns pacientes com DRGE apresentam uma redução do tônus do EEI, o que aumentaria o volume de refluxo gastroesofágico. Diversos fatores podem contribuir para a redução do tônus do EEI, como sobre distensão gástrica, tabagismo e o consume de certos alimentos. Por sua vez, o relaxamento transitório do EEI parece ser um dos principais mecanismos relacionados ao aumento do refluxo nos pacientes com DRGE. Eles apresentam mais episódios de relaxamento do EEI do que pacientes saudáveis, e frequentemente esse relaxamento dura mais do que o normal (mais do que 10 segundos). Por fim, alterações anatômicas, sendo uma das principais a hernia de hiato esofágico, contribuem para o refluxo em uma pequena parcela dos pacientes DRGE. Diversos outros mecanismos contribuem também para o estabelecimento da doença, como a redução da eficácia do esvaziamento esofágico que tende a ocorrer com o envelhecimento, o que mantém o conteúdo do refluxo em contato por mais tempo com a mucosa esofágica. Isso pode ocorrer por redução da produção de saliva ou por alterações da peristalse esofágica. Os principais fatores de risco para a DRGE são obesidade, gravidez, hernia de hiato, dieta inadequada e uso de alguns fármacos. A obesidade parece contribuir com o DRGE ao aumentar a pressão intra-abdominal, resultando em uma alteração do gradiente de pressão da junção gastroesofágica. O mecanismo da gravidez é semelhante ao da obesidade, em virtude da presença do útero gravídico comprimindo as outras vísceras. Alimentos gordurosos, cafeína, chocolate e fármacos como anticolinérgicos, bloqueadores do canal de cálcio, benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos emuitos outros são associados ao desenvolvimento de DRGE ao predispor à hipotonia do EEI. QUADRO CLÍNICO A queixa típica dos pacientes com DRGE é dor, retroesternal, em queimação, normalmente de moderada intensidade e ocorrendo mais no período pós-prandial. Deve-se suspeitar de DRGE em pacientes que apresentam esse quadro álgico duas vezes ou mais por semana. Associado a isso, o outro sintoma mais característico da DRGE é a regurgitação de secreção ácida em pequeno volume, que pode ser sentida pelo paciente na hipofaringe ou até mesmo chegar até a boca. Sintomas menos frequentes são disfagia, sialorreia, odinofagia, tosse, rouquidão e náuseas. Sintomas como rouquidão e tosse são resultado da exposição da laringe ao refluxo ácido da DRGE, causando irritação e edema nas cordas vocais, o que desencadeia o reflexo da tosse e causa rouquidão. A sialorreia pode ser um reflexo da presença de conteúdo ácido na boca do paciente. O quadro de tosse crônica e seca pode ser confundida principalmente com condições alérgicas como asma e rinite alérgica com gotejamento nasal. Para excluir outros diagnósticos, deve-se investigar minuciosamente na anamnese fatores ligados a tosse • relação postural • relação alimentação • outros sintomas como dor/desconforto abdominal • história negativa de sibilo ou asma na família • ausência de rouquidão ou estridor • melhora do sintoma com o teste terapêutico SE LIGA! Teste terapêutico: indicado para pacientes com idade < 40 anos com manifestações típicas, frequência < 2x/semana, sem manifestações de alarme tempo de história por tempo inferior a 4 semanas. A adotada conduta diagnóstica inicial terapêutica com inibidores de bomba protônica (IBP) e observada resposta, a resposta satisfatória confirma diagnóstico. O CBDRGE recomenda realização do exame endoscópico prévio para exclusão de outras causas. Existem sinais de alarme em pacientes com diagnóstico ou suspeita de DRGE. A presença desses sinais deve levantar o alerta para presença de malignidade, principalmente no trato gastrointestinal superior. São alterações que algumas vezes podem até estar presentes em casos de DRGE, no entanto, esses achados se correlacionam com risco aumentado de presença de neoplasia do TGI. Esses sintomas são: • queixa de dispepsia iniciada em pacientes com mais de 60 anos • evidência de sangramento gastrointestinal • anemia ferropriva • anorexia • disfagia (principalmente se de caráter progressive) • perda de peso não intencional • odinofagia • vômitos persistentes • história familiar de câncer do trato gastrointestinal O exame físico não costuma ser de grande auxílio na investigação de pacientes com DRGE, normalmente se apresentando sem alterações. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares não são necessários em todos os pacientes com diagnóstico ou suspeita de DRGE, mas pode ser úteis como forma de auxiliar a formulação diagnóstica em pacientes com quadros não típicos e avaliar complicações. Um dos principais exames complementares usado na avaliação da DRGE é a Endoscopia Digestiva Alta. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): pode ser utilizada em pacientes com suspeita de DRGE que não apresentam resposta satisfatória após início do tratamento, para aqueles com fatores de risco para esôfago de Barrett e para os pacientes com os sinais de alarme para presença de malignidade que foram citados anteriormente. Pacientes com história de DRGE há mais de 5 anos e mais de 2 dos seguintes fatores de risco apresentam risco elevado de desenvolver esôfago de Barrett, apresentando indicação para realização de EDA: • idade acima de 50 anos • sexo masculino • caucasianos (brancos) • obesidade • hérnia de hiato • refluxo noturno • história familiar de adenocarcinoma esofágico ou de esôfago de Barrett • história de tabagista A ilustração mostra a imagem endoscópica do esôfago de Barrett. A região mais escurecida ao redor do EEI representa a área de metaplasia. Apenas cerca de 30% dos pacientes com DRGE que não iniciaram tratamento apresentarão alterações macroscópicas sugestivas de esofagite na endoscopia digestiva alta, e há pouca ou nenhuma correlação entre a gravidade dos sintomas e a presença de lesões na EDA, isso explica por que ela só deve ser solicitada em pacientes com indicações criteriosas. No entanto, 2/3 dos pacientes com suspeita de DRGE e sem alterações macroscópicas na EDA, apresentam alterações histológicas como a presença de infiltrado inflamatório. É importante também levar em conta que essas alterações não apresentam alta especificidade para DRGE, e podem estar presentes em outras doenças esofágicas como a esofagite eosinofílica. No caso específico da esofagite eosinofílica, trata- se de uma doença que faz parte do diagnóstico diferencial de pacientes com quadro compatível com DRGE, no entanto ela não é relacionada com a presença de refluxo, mas sim com a inflamação da parede do esôfago que pode ocorrer em pacientes atópicos. O quadro clínico normalmente se apresenta através de sintomas que possuem intercessão com a DRGE, como disfagia e dor retroesternal. Frequentemente esses pacientes são tratados empiricamente para DRGE, mas não apresentam a melhora esperada e só descobrem a etiologia do seu problema quando é realizada EDA, coleta de material da parede esofágica e anatomopatológica do tecido biopsiado. Em caso de esofagite erosiva documentada na EDA, a gravidade deve ser classificada. Um dos principais escores utilizados com esse intuito é a Classificação de Los Angeles, que classifica a esofagite em graus de A a D. • Los Angeles A: Uma ou mais rupturas na mucosa esofágica ≤ 5mm. • Los Angeles B : No mínimo um ponto de ruptura esofágica medindo > 5mm, mas não grande o suficiente para abranger toda extensão entre duas subsequentes dobras da mucosa esofágica. • Los Angeles C : Uma rupture que abrange toda a extensão entre duas dobras subsequentes da mucosa esofágica, no entanto, a lesão não é afeta toda 3⁄4 da circunferência da mucosa esofágica. • Los Angeles D: Lesão que abrange ao menos 3⁄4 da circunferência da mucosa esofágica. Exemplo da imagem de uma lesão por esofagite erosiva grau C de Los Angeles. AVALIAÇÃO DO PH ESOFÁGICO: Esse exame é útil para confirmar o diagnóstico de DRGE em pacientes com quadro clínico atípico e ausência de alterações sugestivas na EDA, e, também, para acompanhar a eficácia do tratamento. É utilizado um cateter com sensor de pH, passado por via nasal até a mucosa esofágica. Lá esse sensor é utilizado para avaliar o pH das secreções que recobrem a mucosa esofágica, principalmente na sua porção distal. Pode ser útil para detector casos incomuns de refluxo alcalino, que também pode ser lesivo à mucosa esofágica. O teste, normalmente, dura 24 horas e apresenta alta sensibilidade e especifidade para o diagnóstico de DRGE. MANOMETRIA ESOFÁGICA: Deve ser utilizada nos pacientes com suspeita de DRGE com quadro clínico atípico e sem alterações na EDA. Esse teste é utilizado para avaliar a peristalse esofágica e o tônus do EEI, sendo importante para realizar o diagnóstico diferencial com doenças motoras do esôfago. DIAGNÓSTICO Pacientes com a queixa típica de desconforto retroesternal em queimação que ocorre mais de duas vezes por semana, ocorre mais no período pós-prandial e é associado a regurgitação de conteúdo ácido podem ter diagnóstico presumido de DRGE sem a realização de exames complementares e iniciar tratamento para inibir a secreção ácida e reduzir os sintomas. Para aqueles pacientes com fatores de risco para esôfago de Barrett, sinais de alarme, queixas atípicas (como queimação retroesternal não relacionada com a alimentação e sem regurgitação) ou com falha do tratamento, existe indicaçãoda realização dos exames complementares previamente citados. O diagnóstico da DRGE é clínico! Em muitos casos, exames complementares, principalmente a EDA, são úteis para guiar o tratamento ou sanar dúvidas diagnósticas, no entanto, pacientes com quadro clínico sugestivo (desconforto retroesternal em queimação associado a regurgitação de conteúdo ácido), podem iniciar o tratamento para DRGE sem nenhum exame complementar, exceto nos casos de indicação de EDA supracitados. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Como foi dito previamente, pacientes com queixas de dor retroesternal em queimação que apresentam alto risco cardiovascular e dor associada ao esforço, devem realizar exames como eletrocardiograma e teste ergométrico (caso se suspeite de doença coronariana crônica) para excluir dor de origem isquêmica. Diversas outras doenças também apresentam sobreposição de sintomas com a DRGE. Pacientes com queixas típicas de DRGE podem apresentar na verdade outras doenças esofágicas como esofagite infecciosa ou esofagite eosinofílica. Pacientes que se queixam de disfagia podem apresentar na verdade estenoses esofágicas, tumores esofágicos ou alterações da motilidade do esôfago, por isso a avaliação desses pacientes com EDA é essencial. TRATAMENTO O tratamento depende da gravidade do quadro, frequência dos sintomas e da presença de esôfago de Barrett ou de esofagite erosiva associada aos sintomas. O principal mecanismo do tratamento conservador da DRGE é a terapia antiácida, que busca inibir a secreção ácida do estômago, reduzindo assim a lesão induzida pelo ácido que ocorre na parede esofágica. Em caso de alterações anatômicas ou de refratariedade ao tratamento, é possível também agir buscando reduzir o próprio refluxo, através de fármacos ou tratamento cirúrgico. Independente da gravidade dos sintomas, deve ser recomendado medidas ambientais para controle e melhora dos sintomas. O controle ambiental é fundamental para o controle da doença, pois otimiza o funcionamento e fisiologia local, evitando estímulo maléficos. Semelhante a doenças como diabetes, hipertensão e asma, o DRGE exige compartilhamento da responsabilidade com o paciente, este sendo responsável pela mudança dos hábitos de vida. CONTROLE AMBIENTAS PARA A DRGE DRGE com sintomas leves que ocorram 2 vezes ou menos por semana Para esses pacientes, o tratamento pode ser iniciado com anti-histamínicos que agem no receptor H2 em baixas doses, associados ao uso de antiácidos (como carbonato de cálcio e hidróxido de alumínio) em caso de sintomas de DRGE. A histamina age nas células parietais e é responsável por uma das vias de sinalização celular que induz a secreção ácida de HCl no estômago. Com a inibição dessa via metabólica, há acentuada redução da secreção de ácido clorídrico. Uma das principais drogas dessa classe é a ranitidina, que pode ser iniciada na dose de 75mg. Em caso de ausência de melhora dos sintomas com o uso da ranitidina 75mg por 4 semanas, associada a antiácidos nos momentos dos sintomas e mudança dos hábitos alimentares, cessação do etilismo e tabagismo, a dose pode ser aumentada para 75mg 2 vezes ao dia. Os antagonistas do receptor H2 da histamina são drogas efetivas no tratamento da DRGE, no entanto elas apresentam uma taxa elevada de recorrência dos sintomas com uso prolongado. Isso ocorre porque a histamina é apenas um dos mecanismos de sinalização celular para produção de secreção ácida no estômago. Com a inibição dessa via celular, outras vias, como a via dependente da ação da gastrina, são mais ativadas, levando novamente a elevação da produção ácida com o tempo e retorno dos sintomas. Se ainda assim o paciente não apresentar melhora, deve ser iniciado um inibidor da bomba de prótons, droga que inibe a bomba de H+, bloqueando diretamente a bomba responsável pela secreção ácida das células parietais. Essas drogas apresentam maior eficácia na inibição da secreção gástrica do que os inibidores do receptor H2, e apresentam maior eficácia terapêutica. A droga mais acessível dessa classe é o omeprazol e, que pode ser iniciado na dose de 10mg ao dia, porém existem diversos outros representantes mais caros e com eficácia ligeiramente melhor como lanoprazol, pantoprazol e esomeprazol. Uma vez que o tratamento ideal (aquele que controla os sintomas do seu paciente) foi alcançado, ele deve ser mantido por ao menos 8 semanas. DRGE com sintomas persistentes ou associada a esofagite erosiva Nesses pacientes, busca-se iniciar o tratamento desde o início com inibidores de bombas de prótons (IBP) em dose otimizada, reduzindo a dose desses fármacos enquanto não surgirem sintomas após 8 semanas de tratamento com dose otimizada. Se esses pacientes continuarem sem sintomas em uso da dose mínima dos IBP, então é feita a substituição por inibidores do receptor H2, e caso o paciente continue sem sintomas na dose mínima dessas drogas, então pode ser realizada a retirada total da farmacoterapia. Os pacientes com esofagite erosiva grave (classe C e D de Los Angeles) ou esôfago de Barrett são exceções. Nesses pacientes, o tratamento com IBP em dose otimizada deve ser mantido mesmo na ausência de sintomas. DRGE refratária ao tratamento com IBP Nos pacientes que apresentam sintomas refratários ao tratamento com IBPs, o tratamento deve ser guiado pela presença ou não de refluxo ácido pela avaliação do pH esofágico. Em caso de persistência de refluxo ácido, pode ser então adicionado o alginato de sódio. Os inibidores do receptor H2 também podem ser adicionados aos IBPs, seja em associação ou não com o alginate de sódio. Porém, a efetividade dos inibidores H2 é reduzida drasticamente com o uso crônico. O baclofeno, uma droga que age no Sistema nervosa atuando como agonista do receptor GABA exibe eficácia na redução do refluxo. Essa droga age especificamente contra o refluxo, e não contra a acidez da secreção gástrica, no entanto faltam estudos de qualidade que comprovem a eficácia dessa droga como adjuvante aos IBPs no tratamento da DRGE. Ele deve ser iniciado na dose de 5mg, duas vezes ao dia (antes das refeições) e pode ser aumentado até a dose de 20mg 3 vezes ao dia. Por apresentar ação no Sistema nervosa central, essa droga apresenta muitos efeitos colaterais como sonolência, tontura e tremores. Seu uso deve ser mantido por no mínimo 4 semanas para avaliar a responsividade do paciente à essa droga. Para pacientes que apresentam sintomas incongruentes com a lesão visível na EDA, é possível que haja hipersensibilidade visceral, causando hiperalgesia. Esses pacientes podem apresentar boa resposta ao tratamento com moduladores da dor como antidepressivos tricíclicos (nortriptilina) ou inibidores da recaptação da serotonina (fluoxetina). CIRURGIA Pacientes que mantém queixas e lesões na EDA apesar de terapia medicamentosa otimizada podem realizar tratamento cirúrgico ou endoscópico O procedimento cirúrgico de escolha na maioria dos casos é a fundoplicatura de Nissen por via laparoscópica. Nesse procedimento, o cirurgião utiliza o próprio fundo gástrico como uma segunda válvula antirreflexo, passando-o ao redor da cárdia. Novas opções são os procedimentos endoscópicos, seja por radiofrequência ou pela fundoplicatura endoscópica. Esses tratamentos são novos, e aparentam apresentar boa eficácia no tratamento da DRGE, no entanto não há ainda resultados consistentes sobre a eficácia desses tratamentos à longo prazo. Esofagite é a inflamação da mucosa do esôfago, cuja principal causa é a DRGE. Porém, existem outros tipos: eosinofílica, infecciosa e medicamentosa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Odinofagia • Disfagia • Emagrecimento • Desidratação • Dor subesternal • Náusea e vômito • Febre • Sangramentogastrointestinal • Anemia • Lesões orais É uma entidade clinicopatológica, crônica que pode ser caracterizada por apresentar sintomas similares aos da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e infiltrado eosinofílico no epitélio esofágico. A esofagite eosinofílica, do ponto de vista histológico, é definida pela presença de 15 ou mais eosinófilos por campo de grande ampliação (CGA), de forma isolada, na mucosa do esôfago. A esofagite eosinofílica é uma doença mediada pelo sistema imunitário do esôfago resultando em inflamação predominante de eosinófilos no esôfago. Isso ocorre provavelmente, devido a uma resposta imunitária a antígenos alimentares em pacientes com suscetibilidade genética, os alérgenos ambientais também podem desempenhar algum papel. A inflamação esofágica crônica não tratada pode, por fim, levar ao estreitamento e estenose esofágica. EPIDEMIOLOGIA A esofagite eosinofílica é uma doença que tem distribuição mundial, com prevalência ainda não conhecida, mas que parece ser crescente. É mais comum no sexo masculino, contudo pode acometer pacientes de todas as faixas etárias e sexo. Sugere-se um componente genético potencial, além da predominância em homens, pois é mais frequente em caucasianos. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da esofagite eosinofílica é marcada pela presença de uma inflamação alérgica que ocorre por meio da ativação de um subgrupo de células T auxiliares (Th), denominadas células Th2, que definem os perfis específicos de citocinas pró- alérgicas, incluindo IL-4, IL-5 e IL-13, que promovem a formação de anticorpos IgE e recrutamento, maturação e ativação de mastócitos e eosinófilos. Essa inflamação é identificada pelo aumento de imunoglobulina E (IgE) específica positiva no soro ou em testes cutâneos alérgeno alimentares, demonstrando, assim, que há um processo inflamatório alérgico patológico na EEo. Os principais alérgenos alimentares relacionados são leite, soja e ovo. A implicação da alergia alimentar tem sido respaldada, não apenas na elevada frequência de sensibilização a alimentos encontrada nestes doentes, mas também na evidência da resposta clínica e histológica na sequência de dietas de evicção alimentar. Além disso, constatou-se que a reintrodução dos alimentos provocou novamente os sintomas de esofagite eosinofílica, provando a relação causal entre a EEo e os antigénios alimentares. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS acomete indivíduos de todas as faixas etárias, desse modo os sintomas podem variar conforme a idade. No lactente e nas cr ianças em idade pré-escolar, a má progressão estatoponderal, a regurgitação al imentar, os vômitos e a recusa alimentar são as manifestações mais frequentes. Na criança em idade escolar, irá ocorrer a presença de sintomas, como a regurgitação alimentar, os vômitos, a epigastralgia e a pirose compõem o quadro clínico habitual. Já os adolescentes e adultos apresentam-se, com muita frequência, queixa de pirose retroesternal e disfagia. Nos adultos, o diagnóstico costuma ocorrer entre a terceira e a quarta décadas de vida, sendo a disfagia o sintoma mais característico, geralmente intermitente, e frequentemente acompanhada por impactação alimentar. Os sintomas podem perdurar durante muitos anos, e sua característica intermitente tende a dificultar ou retardar o diagnóstico. Cerca de metade dos pacientes com esofagite eosinofílica apresentam sintomas alérgicos, incluindo eczema, rinite alérgica e broncoespasmo. Tal fato, pode dificultar na diferenciação da DRGE. A inflamação crônica da mucosa esofágica faz prever um processo irreversível de remodelação e progressão para fibrose e estenose esofágica, que se desconhece se dependente do processo inflamatório subjacente e se pode ser prevenido pelas medidas terapêuticas. É válido salientar alguns fatores que ajudam a diferenciar a EEo da DRGE, como por exemplo, idade jovem, pois a EEo acomete todas as faixas etárias, já a DRGE costuma acometer adultos. ACHADOS ENDOSCÓPICOS Os achados endoscópicos na EEo, incluem friabilidade da mucosa, eritema e perda da vascularização normal do esôfago, pregueamento linear vertical, placas brancas ou exsudatos esbranquiçados, anéis concêntricos (traquealização esofágica), mucosa delicada em papel crepom, lacerações e estreitamentos ou estenoses da luz esofágica. ACHADOS HISTOLÓGICOS Em casos sugestivos de esofagite eosinofílica, algumas alterações histológicas são marcantes, como por exemplo, o epitélio geralmente contém uma infiltração densa de mais de 15 ou 20 eosinófilos por campo de alta definição (CAD), os eosinófilos podem ser encontrados frequentemente ao longo da camada superficial do epitélio, além disso, micro abscessos eosinofílicos (mais de quatro eosinófilos aglomerados) podem ser vistos em 40 a 50% das seções do tecido afetado. Tais anormalidades histológicas sugestivas podem se estender desde o esôfago proximal até a parte distal. COMPLICAÇÕES Algumas complicações são recorrentes nos casos de esofagite eosinofílica, como por exemplo, estenose, impactação alimentar e desnutrição. A estenose é o estreitamento, ou seja, a diminuição do calibre do esôfago, dificultando ou impedindo que a saliva e os alimentos progridam até o estômago. Algumas pessoas já nascem com anéis ou membranas fibróticas que causam o estreitamento. Já outras adquirem o problema como consequência de doenças como refluxo gastroesofágico, como a EEo. Estenose esofágica Em casos de estenose, pode-se constatar alguns sintomas, como engasgos, dificuldade de engolir (disfagia) ou a deglutição dolorosa (odinofagia). DIAGNÓSTICO Sintomas como vômitos, refluxo, impactação alimentar, dificuldades de alimentação, azia ou dor abdominal podem ajudar no diagnóstico. O diagnóstico é fechado através da Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Traqueinização do esôfago: presença de anéis esofágicos concêntricos lembrando uma traqueia, depressões lineares e exsudatos puntiformes. o endoscopista deve procurar os achados endoscópicos, anéis esofágicos, sulcos longitudinais, exsudatos, edema, estenoses ou esôfago de calibre estreito, que podem sugerir a presença de uma esofagite eosinofílica. EXAMES COMPLEMENTARES Alguns exames complementares são necessários para confirmar o diagnóstico em EEo. EDA: pela endoscopia digestiva alta, pode-se localizar, macroscopicamente, alterações inespecíficas, como eritema, edema, friabilidade e alterações sugestivas, mas não patognomônicas, de esofagite eosinofílica, como presença de estrias lineares, anéis concêntricos, estreitamentos proximais, exsudado puntiforme esbranquiçado e ausência da rede vascular. EED: é um exame de contraste do esôfago- estômago-duodeno, ele analisa o tamanho, a forma, ou seja, a anatomia e a funcionalidade do esôfago, estômago e uma porção do intestino delgado. ENDOFLIP: o exame de impedâncio-planimetria é uma técnica recente que utiliza a tecnologia de planimetria por impedância para avaliar a distensibilidade de órgãos gastrointestinais. pHMETRIA ESOFÁGICA: utilizado para diagnosticar casos mais graves de esofagite eosinofílica, tendo em vista que em casos de EEo o pH esofágico é normal. Portanto, a presença de esofagite grave, intratável, que se encontra após o bloqueio de ácido agressivo, na presença de uma pHmetria normal, é virtualmente diagnóstico de esofagite eosinofílica. BIÓPSIA: exame utilizado para avaliar amostras da mucosa superficial, contudo sempre é necessário avaliar se a inflamação se estende a outros órgãos. EUS: O ultrassom endoscópico pode ser utilizado para determinar se a inflamação do esôfago se estende para além da mucosa. TRATAMENTO O tratamento clínico da esofagite eosinofílica é baseado em três pilares os “3Ds”: dieta, drogase dilatações. DIETA: consiste em um tratamento que possui três tipos de abordagens, a primeira delas é a dieta de evicção dos alimentos conhecidos como mais alergênicos, há também a dieta de evicção guiada pelos resultados da avaliação alergológica e a dieta elementar baseada numa fórmula de aminoácidos (DEFA). DROGAS: Uma das drogas mais utilizadas é o inibidor de bomba de prótons (IBP). A bomba de próton tem relação fisiopatológica com a EoE. De modo geral, a dose recomendada é de 1 mg/kg duas vezes ao dia até a dose máxima no adulto por pelo menos 8 a 12 semanas. Após esse período, recomenda-se que ocorra uma nova endoscopia para verificar se há persistência de eosinófilos no esôfago. DILATAÇÕES: A dilatação endoscópica com balões ou bougies guiados por fio-guia é um procedimento recomendado, seguro e eficaz para o tratamento de estenoses esofágicas em pacientes com esofagite eosinofílica. A dilatação do esôfago e remoção endoscópica de alimentos podem ser necessárias em alguns pacientes com esofagite eosinofílica. A dilatação deve ser conservadora, pois há o risco de laceração e mesmo de perfuração. Estão relacionadas com imunossupressão, seja medicamentosa ou secundária a AIDS. Contudo, há relatos ocasionais e raros de esofagite infecciosa em indivíduos saudáveis, mas nesses casos a presença de alguma imunodeficiência sistêmica sutil ou um fator causador de imunodeficiência esofágica é provável. Um exemplo é em pacientes com acalasia (esôfago não esvazia comprometendo os mecanismos de defesa esofágica). Seu principal sintoma diferencial da DRGE é a odinofagia, porém também é comum a presença de disfagia, dor torácica e hemorragia. ETIOLOGIAS Suas principais causas são fúngicas e virais. A infecção fúngica mais comum é esofagite por Cândida. As esofagites virais são geralmente causadas por um dos dois vírus: herpes vírus simples ou citomegalovírus. ESOFAGITE POR CÂNDIDA É a causa mais comum de esofagite infecciosa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A grande marca da candidíase esofágica é a odinofagia (dor ao engolir), geralmente acompanhada de dor retroesternal. A esofagite e candidíase oral geralmente ocorrem juntas em pacientes imunossuprimidos e a presença dessa infecção oral pode ajudar a determinar a causa dos sintomas esofágicos. No entanto, a ausência de candidíase oral não impede o diagnóstico de esofagite. Para seu desenvolvimento, existe a colaboração de 3 fatores: a lteração do sistema imunológico, da motilidade esofágica e do metabolismo de carboidrato. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de esofagite por Candida geralmente é feito na endoscopia quando são observadas placas brancas na mucosa e há suspeita clínica a partir da história do paciente. A classificação de Wilcox avalia o grau de acometimento do esôfago pela infecção por cândida a partir de endoscopias. Essa classificação foi criada por Schwartz Wilcox em 1996. A biópsia confirmatória mostra a presença de leveduras e pseudo-hifas que invadem as células da mucosa, e a cultura revela o fungo. Imagens obtidas através de EDA demonstrando diferentes graus de acometimento esofágico pela candidíase: (A) Grau I; (B) Grau II; (C) Grau III e (D) Grau IV. Uma abordagem alternativa de diagnóstico que tem sido usada em pacientes com AIDS é tratar com agentes antifúngicos sistêmicos com base na história do paciente. A confirmação do diagnóstico vem com a melhora da odinofagia dentro de alguns dias. Se os sintomas não melhorarem em três a quatro dias, a endoscopia e a biópsia devem ser realizadas, pois é provável que seja uma doença diferente ou uma doença além da esofagite por Candida esteja presente, como a coinfecção da Candida com a Herpes Simples e/ou o Citomegalovírus. O diagnóstico é fechado através da Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Presença de placas amarelo- esbranquiçadas distribuídas difusamente. TRATAMENTO Fluconazol oral, 400 mg no primeiro dia (dose de ataque) e, em seguida, 200 a 400 mg/dia, por 14 a 21 dias é o tratamento preferido. Os pacientes resistentes ao fluconazol podem responder ao itraconazol (20mg/dia) ou voriconazol (200mg 2x por dia). Como alternativa, os pacientes que não respondem satisfatoriamente ou que não conseguem deglutir fármacos orais podem ser tratados com uma equinocandina intravenosa (caspofungina 50 mg/dia, durante 7 a 21 dias). ESOFAGITE HERPÉTICA São causadas pelo herpes vírus simples tipo 1 ou 2, vale ressaltar que em crianças, o vírus varicela- zóster também pode cursar com esofagite. HSV-1 causa esofagite por herpes simples mais frequentemente que o HSV-2 em adultos. EPIDEMIOLOGIA Grande parte da população adulta do mundo é soropositiva para o vírus do herpes simples (HSV), mas muitas vezes o vírus permanece latente e não é patogênico. Infecção primária ou reativação de o vírus pode, no entanto, resultar em doença clinicamente significativa. FATORES DE RISCO Existem vários fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de esofagite por HSV, incluindo malignidade hematológica, tumores sólidos, queimaduras extensas, doença auto-imune, e infecção pelo HIV. São raros os casos da descritos em indivíduos imunocompetentes, apesar da elevada prevalência da infecção na população geral. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sinais e sintomas mais frequentes são febre, odinofagia, disfagia e dor retroesternal de início recente. As lesões herpéticas orolabiais estão habitualmente ausentes, logo sua ausência não exclui o diagnóstico do acometimento esofágico. DIAGNÓTICO As biópsias podem ser feitas com somente a borda das úlceras, já que o acometimento é apenas do epitélio escamoso. Apresentam-se classicamente como lesões vesiculares que evoluem para úlceras superficiais com vermelhidão na base (enantema) e halo hiperemiado, podem apresentar também úlceras em forma de vulcão, causada pelo intenso processo inflamatório na borda da lesão. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é fechado através da Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Ulceração com bordas elevadas, dando aspecto de bordas em vulcão. Na herpes faz-se a biópsia no halo da lesão (Herpes – Halo). Já no CMV, faz-se a biópsia no Centro da lesão. TRATAMENTO O tratamento com aciclovir (200 mg VO 5 vezes ao dia por 7 a 10 dias) pode ser usado em hospedeiros imunocompetentes, embora a doença seja geralmente autolimitada após um período de 1 a 2 semanas em tais pacientes. Os pacientes imunocomprometidos são tratados com aciclovir (400 mg VO 5 vezes ao dia por 14 a 21 dias), fanciclovir (500 mg VO 3 vezes ao dia) ou valaciclovir (1g VO 3 vezes ao dia). Em pacientes com odinofagia grave, o aciclovir intravenoso (5 mg/kg a cada 8h por 7 a 14 dias) reduz a morbidade. CITOMEGALOVÍRUS (CMV) São exclusivas de pacientes imunossuprimidos. Sua patogênese está relacionada ao importante processo inflamatório desencadeado pelo CMV, associado a lesões endoteliais, que resultam em isquemia tecidual. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações gastrointestinais mais comuns da infecção por CMV são a colite e esofagite, respectivamente. Outros sintomas apresentados incluem febre, náusea, vômito, disfagia, dor epigástrica, dor torácica subesternal e sangramento gastrointestinal, desses, náuseas e vômito devem ter destaque por serem sintomas característicos apenas da esofagite por CMV. Sintomas sistêmicos são comuns, pois mais de um sistema orgânico pode estar envolvido. Em geral, os sintomas da esofagite por CMV tendem a ser mais graduais que os causados pelo HSV. EXAMES COMPLEMENTARES No exame endoscópico, se apresentam como úlceras serpiginosas, são únicas, planas e profundas, normalmente, situadas no terço médio e distal do esôfago. Como ela infecta fibroblastos e células endoteliais, a biópsia deve ser realizada nocentro da lesão, onde pode ser visualizado corpúsculos de inclusão, que se assemelham a olhos de coruja e são patognomônicos da doença. A aparência endoscópica da esofagite por CMV é variável. A maioria dos pacientes apresenta múltiplas úlceras localizadas no esôfago médio e distal. As úlceras esofágicas do citomegalovírus são tipicamente rasas ou de profundidade intermediária, com apenas uma minoria com profundidade profunda ou aparência amontoada. As úlceras tendem a ser lineares e discretas com mucosa normal. HISTOPATOLOGIA Existe uma sobreposição significativa nos achados endoscópicos entre a esofagite por CMV e HSV e a histopatologia pode ser necessária para diferenciar essas entidades. Em alguns pacientes, a coinfecção com infecção por CMV e HSV pode estar presente. A histopatologia na esofagite por CMV demonstra inflamação e inclusões nucleares e citoplasmáticas. As células citomegálicas também são conhecidas como células oculares da coruja devido à sua aparência característica de uma inclusão intranuclear basofílica cercada por um halo claro (olhos de coruja) e inclusões intracitoplasmáticas. As culturas virais e as escovas citológicas têm pouco benefício clínico para o diagnóstico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de esofagite por CMV é feito usando uma combinação de história clínica, achados endoscópicos e características histológicas. Esofagite por citomegalovírus apresenta-se classicamente com odinofagia. O diagnóstico é fechado através da Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Úlceras normalmente são únicas, planas e profundas. Na biópsia do centro da lesão pode ser visualizado corpúsculos de inclusão, que parecem olhos de coruja. TRATAMENTO A terapia de indução consiste em um curso de 3 a 6 semanas de ganciclovir ou foscarnet. Embora ambos os agentes antivirais tenham eficácia semelhante e sejam agentes de primeira linha aceitáveis, ganciclovir (5mg/kg/dose IV 12/12h) é preferido devido ao custo e efeitos colaterais renais associados a foscarnet. No entanto, o foscarnet é o medicamento de escolha para pacientes com contraindicações ao ganciclovir, como trombocitopenia moderada a grave ou resistência ao ganciclovir. Existem dois mecanismos fisiopatogênicos pelos quais medicamentos podem resultar em esofagite: por efeito direito, que é a irritação da mucosa esofágica causada pela permanência prolongada do medicamento, acometendo locais de estreitamento do esôfago, e o segundo mecanismo seria o rompimento da barreira citoprotetora, comumente provocada por AINEs e AAS, que inibem a produção de prostaglandinas no estômago e esôfago. Esses pacientes costumam ter história típica de ingesta de comprimido sem água ao se deitar. O aspecto mais importante de seu manejo é frear o processo lesional, através da interrupção medicamentosa ou substituição por formulações líquidas; uso de IBPs (uma vez que a DRGE exacerba a lesão), atenção a nutrição e hidratação do paciente, que algumas vezes precisa ser feita de forma parenteral. A síndrome de Mallory-Weiss é definida como a laceração do esôfago distal e do estômago proximal, que ocorre em resposta a vômitos vigorosos. É comum em alcoólatras, já que estes frequentemente experimentam intensos episódios eméticos. A presença de hipertensão portal com varizes esofágicas aumenta muito o risco de surgir a síndrome. Vale lembrar que qualquer situação de aumento súbito da pressão intra-abdominal pode gerar laceração da junção esofagogástrica (tosse intensa, grande esforço durante evacuação etc.). As lacerações não são transmurais, acometendo somente a mucosa. O local mais acometido é a mucosa gástrica próximo à junção escamocolunar, mas qualquer parte da mucosa esofagiana pode ser envolvida. O sintoma mais importante e comum é o sangramento gastrointestinal alto, podendo ser de grande volume. O tratamento consiste em hemostasia endoscópica. Em alguns casos graves ocorre perfuração ou ruptura esofágica, o que origina mediastinite e derrame pleural. Atenção: a ruptura espontânea do esôfago é denominada síndrome de Boerhaave.
Compartilhar