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Maria Paula M. Mattei – Tutorial 4 UC 17 (Psiquiatria) P ág in a1 Transtornos Psicóticos Esquizofrenia Induzidos por substâncias Transtorno esquizofreniforme Transtorno esquizoafetivo Transtorno delirante Transtorno psicótico breve Transtorno psicótico devido a condição médica em geral Esquizofrenia Epidemiologia - Transtorno psicótico mais comum - Afeta 1% da população mundial - Uma das 10 doenças mais incapacitantes - Mulheres e homens são igualmente afetados Homens tem início mais precoce (20-25 anos) Mulheres têm início mais tardio (25-30 anos) - A grande maioria dos casos têm início aos 15 – 25 anos - Risco de desenvolvimento é até 10x maior em familiares de primeiro grau de indivíduos afetados - A comorbidade mais frequente em pacientes esquizofrênicos é o TOC (12x mais comum que em indivíduos saudáveis) - 30% dos óbitos são por suicídio - Vivem em média 15 a 25 anos a menos do que a população em geral, em decorrência de terem mais doenças e condições físicas (além de obesidade e condições cardiovasculares, diabetes, doenças pulmonares, infecções, entre outras) e hábitos e estilo de vida de maior risco para a saúde Fatores de risco: → História familiar de esquizofrenia → Problemas pré-natais (infecções maternas e desnutrição) → Complicações neonatais (hipóxia) → Eventos estressores na infância (abuso físico e sexual) → Imigrantes e moradores de centros urbanos → Drogas Maconha: pode antecipar e intensificar distúrbios psicológicos em usuários com predisposição a transtornos mentais, sendo um fator de risco independente para o desencadeamento de episódios psicóticos agudos, prejuízos cognitivos, alterações comportamentais, exacerbação de sintomas e consequências negativas no curso dos transtornos. por meio das possíveis interações existentes com os os neurotransmissores gabaérgicos, glutamatérgicos, serotoninérgicos e noradrenérgicos Fisiopatologia Doença de origem multifatorial: Aspectos Neuroquímicos Teoria Dopaminérgica a = via dopaminérgica nigroestriatal → faz parte do sistema nervoso extrapiramidal e controla a função motora e o movimento. b = via dopaminérgica mesolímbica → envolvida em muitos comportamentos, como sensação de prazer, recompensa, motivação, euforia intensa produzida por uso abusivo de substâncias psicoativas, bem como delírios e alucinações da psicose. c = via dopaminérgica mesocortical → medeia os sintomas cognitivos e sintomas afetivos da esquizofrenia porque é uma via controladora da cognição, funções executivas, emoções e afeto. d = via dopaminérgica tuberoinfundibular → controla a secreção de prolactina. Dopamina na via mesolímbica (vai do mesencéfalo ao sist. límbico), o que causaria os sintomas positivos. Dopamina na via mesocortical (mesencéfalo ao córtex pré- frontal), o que causaria os sintomas negativos Maria Paula M. Mattei – Tutorial 4 UC 17 (Psiquiatria) P ág in a2 Teoria Glutamatérgica Deficiência dos receptores glutamatérgicos do tipo N-metil- Daspartato (NMDA), estimulando excessivamente outros receptores não NMDA. Isso produz um transtorno psicótico em humanos normais que se assemelha muito aos sintomas da esquizofrenia. Serotonina vai estar aumentada Aspectos Genéticos → Doença poligênica Aspectos Ambientais O uso de maconha durante a adolescência já está bem estabelecido como desencadeador de psicose esquizofrênica, principalmente em indivíduos com a variação no gene da enzima COMT. Aspectos Neuroanatômicos Neuroimagem apontam notável alargamento de ventrículos laterais e redução da espessura cortical Quadro Clínico Indícios aparecem na adolescência ou primeiros anos da idade adulta → período prodrômico (antes do episódio psicótico) Isolamento social, crenças esquisitas e anormalidades sensoperceptivas, com consciência clara e a capacidade intelectual preservadas Os principais grupos de sintomas são: → Negativos o Perda da vontade e iniciativa (dificuldade de realizar tarefas que exijam iniciativa, motivação, organização e persistência) e empobrecimento do pensamento e da linguagem o Empobrecimento global da vida afetiva, cognitiva e social (associabilidade) ▪ perda da capacidade de se sintonizar afetivamente com as pessoas, de ter e/ou demonstrar ressonância afetiva no contato interpessoal o Anedonia → diminuição da capacidade de experimentar e sentir prazer, sem que o paciente sinta isso como algo ruim (diferente da depressão) o Negligência a si mesmo → higiene pobre, roupas malcuidadas, descuido da aparência e/ou dos cuidados com a saúde, cabelos sujos, dentes apodrecidos... o Falta de insight (não se incomoda com os sintomas negativos) ☆ Identificar se esses sintomas negativos são primários (decorrente da própria doença) ou secundários (decorrentes de efeitos colaterais dos medicamentos antipsicóticos, de depressão ou de privação e isolamento social) → Positivos o Alucinações ▪ Tipo mais frequente → auditiva (paciente ouve vozes) ▪ Outros tipos: gustativas (sente gosto de veneno nos alimentos); olfativas (sentir cheiro de pus ou podridão dentro do abdome) o Delírios ▪ Frequentemente persecutórios ▪ Os que têm conteúdo implausíveis, bizarros, assim como não congruentes com o humor basal do paciente, são indicadores robustos de esquizofrenia. o Distorção da realidade que não são delírios (ideias deturpadas da realidade, sobre os fatos do mundo, sobre a sua própria história) o Sintomas de primeira ordem segundo Scheineder (sintomas positivos que teriam um peso maior para o dx de esquizofrenia): Percepção delirante (normalidade recebe instantaneamente um significado delirante) Alucinações auditivas características → vozes que acompanham as ações do paciente com observações, que fazem comentários ou que transmitem ordens ao paciente. Eco do pensamento → indivíduo escuta seus pensamentos ao pensá- los Divulgação dos pensamentos → indivíduo tem a sensação de que seus pensamentos são ouvidos pelos outros, no momento em que os pensa. Roubo do pensamento → indivíduo tem a sensação de que seu pensamento é inexplicavelmente extraído de sua mente; Distúrbios da vivência do eu → sente que uma força ou um ser externo age sobre seu organismo, influenciando as funções corporais, tocando seus genitais, tendo relações sexuais consigo → Desorganização o Pensamento desorganizado o Fala desorganizada o Comportamentos bizarros e inadequados (vestimenta, adornos, aparência e expressão geral bizarra) o Afeto inadequado e incongruente → Psicomotores/catatonia o Lentificação e empobrecimento psicomotor o Restrição do repertório gestual e motora o Estereotipias de movimentos s (atos, gestos, atitudes mais complexos que os tiques, repetidos de forma mecânica, sem finalidades) o Catatonia → mesmo com nível de consciência preservada, apresentam diminuição marcante até ausência de atividade psicomotora (paciente fica no leito, parado, sem fazer nada, sem responder a solicitações, sem se alimentar e às vezes sem sair para urinar ou defecar) o Catalepsia → paciente fica na posição que o colocam, mesmo em posições dos membros contra a gravidade Maria Paula M. Mattei – Tutorial 4 UC 17 (Psiquiatria) P ág in a3 o Ecolalia → repetir mecanicamente palavras do interlocutor o Mucitação → repetição de palavras que ele mesmo pensa o Ecopraxia → repetir mecanicamente atos dos outros → Prejuízos cognitivos o Atenção o Memória episódica o Memória de trabalho o Velocidade de processamento o Funções executivas o Déficits na cognição social ▪ dificuldades na percepção e no gerenciamento de emoções (perceber emoções pelas expressões faciais, tom de voz e gestos) ▪ déficit na percepção social (compreender o contexto social, decodificar e identificar dicas sociais de acordo como ambiente) → Sintomas de humor o Redução da experiência e da expressão emocional o Aumento da reatividade emocional Paradoxo emocional da esquizofrenia Pacientes esquizofrênicos, em geral, não acham que têm qualquer problema ou doença às vezes, reconhecem a presença dos sintomas, mas atribuem-nos a outras causas ou fatores (nervosismo, influências espirituais, religiosas, ação do demônio, dificuldades na vida que todos têm, etc.). É comum negarem que precisem do tratamento Exame Físico: Sintomas neurológicos inespecíficos: − olfato (déficits na identificação e na discriminação de odores) − Hipoalgesia (sensibilidade diminuída à dor) − Alterações dos movimentos sacádicos dos olhos Diagnóstico Subtipos: → Os subtipos clínicos da esquizofrenia foram abandonados pelos sistemas de classificação atuais (CID-11 e DSM-5), pois não se revelaram suficientemente úteis Paranoide: - Predominam delírios e alucinações (principalmente auditivas) - Afeto menos embotado do que os outros subtipos - Perturbação do humor: irritabilidade, raiva, receio, suspeita. - Sintomas negativos não são predominantes Hebefrênica ou desorganizada: - Mudanças afetivas proeminentes - Maneirismos - Delírios e alucinações que terminam de forma rápida (fugazes – não predominantes) - Comportamento irresponsável e imprevisível - Pensamentos e discursos altamente incoerentes - Sintomas negativos com evolução rápida - Início precoce (15 – 25 anos) Catatônica: - Hipercinesia e estupor - Ações violentas Indiferenciada - Não se enquadram em nenhuma das acima Residual: - Fase tardia da esquizofrenia - Predominam sintomas negativos *Exige apenas 1 mês de sintomas Maria Paula M. Mattei – Tutorial 4 UC 17 (Psiquiatria) P ág in a4 *Deve haver no mínimo 6 meses de sintomas (podendo incluir as fases prodrômica e residual) e, nesse período, deve haver no mínimo 1 mês de sintomas de psicose Dx diferencial: − Outros transtornos psicóticos − Depressão − Bipolaridade − Transtorno de estresse pós-traumático − Autismo − Lúpus (FAN, anti-DNA, anti-P) − Uso de drogas − Envenenamento − Hiperuremia − Encefalopatia Pedir: − Hemograma − B12 − Eletrólitos − Glicemia − Screening para drogas em urina − Eletroencefalograma − TSH − VHS − Sífilis, HIV − Exames de neuroimagem Tratamento Doença crônica, com surtos recorrentes; não há, de modo geral, remissão completa depois dos surtos A evolução da vida social e econômica implica, geralmente, menores taxas de emprego e de independência econômica, e também há maior probabilidade de o indivíduo acometido ficar em situação de rua ou ser preso. Monoterapia de antipsicóticos (não associar antipsicóticos): 1ª opção: antipsicótico atípico (olanzapina, risperidona, quetiapina) vai ajustando a dose por 4 a 8 semanas e mantém por toda a vida Se não ocorrer resposta: Primeiro considerar má adesão, interação medicamentosa e uso de substâncias Usar outro antipsicótico de mesma classe Se o paciente não responde à mudança de dosagem, mudança de fármaco e mudança de classe → clozapina por pelo menos 6 meses Internar se: agitação psicomotora, agressividade, ideação suicida ou homicida, recusa alimentar e má adesão Para má adesão, usar antipsicóticos de longa duração: haloperidol, risperidona e paliperidona Efeitos Colaterais dos Antipsicóticos DA na via nigroestriatal = Distúrbios do movimento (parkinsonismo) Na doença, essa via tem dopamina em níveis normais, os antipsicóticos a diminuem DA na via tuberoinfundibular = prolactina = galactorreia, amenorreia, disfunção sexual Antipsicóticos Típicos (1ª Geração): Bloqueiam os receptores pós-sinápticos de DA (D2) com afinidade Potentes antipsicóticos, mas com sintomas extrapiramidais Haloperidol, tioridazina, clorpromazina, levomepromazina Causam: Neurolepsia: forma extrema de alentecimento ou ausência de movimentos motores, bem como indiferença comportamental Sintomas extrapiramidais: Quando um número substancial de receptores D2 é bloqueado na via DA nigroestriatal, pode provocar vários distúrbios do movimento, que podem se assemelhar muito aos da doença de Parkinson. Se foram bloqueados constantemente, causa discinesia tardia → provoca movimentos faciais e da língua - mastigação constante, protrusão da língua, caretas e movimentação dos membros – que podem ser rápidos, espasmódicos ou coreiformes (em “dança”) Prolactina Xerostomia, constipação intestinal e embotamento cognitivo: antagonizam receptores colinérgicos muscarínicos Sínd. Neuroléptica Maligna: emergência neurológica com risco de vida caracterizada pela tétrade clínica: alteração do estado mental, rigidez, febre e disautonomia. - Causado por rápido aumento da dose, associação de antipsicóticos de alta potência e uso da via IM. Maria Paula M. Mattei – Tutorial 4 UC 17 (Psiquiatria) P ág in a5 - Exames: CPK e hemograma (Aumento da CPK) - Manejo: suspensão imediata do antipsicótico, suporte (hidratação, monitoramento do equilíbrio hidroeletrolítico e da função renal), relaxantes musculares (dantrolene VO), agonistas dopaminérgicos (bromocripitina VO) - o tratamento deve ser continuado por 5 a 10 dias - após melhora clínica, deve-se considerar a reintrodução cuidadosa do antipsicótico de baixa potência mais comum causador é o haloperidol, mas qualquer antipsicótico pode causar Acatisia: agitação motora, impossibilidade de estar parado - inquietação, ansiedade, formigamento (parestesia), agitação e vontade de mover-se todo o tempo. Distonia: movimentos involuntários musculares – opistótono ou crise oculogírica (usar agentes anticolinérgicos como biperideno) Discinesia tardia: movimentos involuntários repetitivos (não há tratamento eficaz – reduzir antipsicótico) Parkinsonismo: Tremor, rigidez muscular e bradicinesia (reduz ou troca a dose do antipsicótico, antiparkinsoniano {biperideno}, anticolinérgico ou agonista dopaminérgico) Antipsicóticos Atípicos (2ª Geração): Bloqueiam os receptores pós-sinápticos de DA (D2) com afinidade + Bloqueiam os receptores pós-sinápticos de serotonina em alta afinidade (o que aumenta a dopamina mesocortical) Risperidona, olanzapina, quetiapina, clazapina Bloqueiam fortemente os sintomas positivos, mas com poucos sintomas extrapiramidais e menos hiperprolactinemia, mas com: - Ganho de peso (com risco de obesidade) - Dislipidemia - Diabetes - Doença cardiovascular Bloqueiam os receptores histamínicos que aumentam o apetite e o bloqueio dos receptores colinérgicos e causam sínd. metabólica Referências: CANTILINO, Amaury; MONTEIRO, Dennison Carreiro. Psiquiatria Clínica: um guia para médicos e profissionais de saúde mental. Medbook, 2017. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3. ed. Artmed, 2019. STAHL, Stephen M.. Stahl Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações práticas. 4. ed. Guanabara Koogan, 2014. Organização Mundial da Saúde. Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Artmed, 1992. American Psychiatric Association. DSM - 5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Artmed, 2014.
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