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CCJ0005-WL-LC-Aula 01 - Temas Classicos da Teoria Politica

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CURSO ON-LINE CIÊNCIA POLÍTICA PARA MPOG 
 
PROFESSOR MARCELO GONÇALVES 
 
 
 
AULA 1 
 
 
 
Conteúdo da Aula: 
1. Temas Centrais da Teoria Política Clássica; 
2. Política, Classes sociais e economia. 
3. Soberania 
 
 
 
TEMAS CENTRAIS DA TEORIA POLÍTICA CLÁSSICA 
 
 
 
Introdução 
Neste tópico, serão analisados os temas clássicos da teoria política, 
muitas vezes classificados, Teoria Política Moderna. Os desenhos da ordem 
política vigente hoje têm suas raízes nos postulados elaborados por este 
conjunto de autores europeus, os quais desenvolveram idéias sobre a 
constituição e manutenção da ordem pública, o contrato social, demarcação 
das esferas pública e privada, a separação de poderes etc. 
Para estudar esses temas, partiremos para uma análise do pensamento 
dos principais autores de forma individualizada – essa tem sido a maneira 
como os temas estão sendo cobrados nas provas de gestor – consideraremos, 
portanto, os seguintes autores: Nicolau Maquiavel (1469-1527), Barão de 
Montesquieu (1689-1750) Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632- 
 
1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Georg W. Friedrich Hegel (1770- 
 
1831) 1, John S. Mill (1806-1873) 
 
 
 
1. Maquiavel 
Nicolau Maquiavel foi um filósofo italiano que exerceu diversas funções 
de Estado, entre elas a de diplomata e conselheiro. Sua importância deriva da 
sua tentativa de elaborar um manual de governo que servisse ao ideal de 
fortalecer um príncipe, de tal maneira, que ele seria capaz de reconstruir a 
Itália, que na visão de Maquiavel, estava dominada pela anarquia. 
 
 
 
 
1 Hegel será abordado rapidamente, porque, até hoje, só caiu um único item sobre ele. 
 
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PROFESSOR MARCELO GONÇALVES 
 
Maquiavel é considerado por muitos o pai da ciência política, devido ao 
seu esforço de racionalizar a política, afastando-a da religião, da moral e do 
direito. Seu objetivo era descrer o governo, a política e o Estado como eles 
são, não como deveriam ser. Provavelmente essa postura seja influência direta 
em seu pensamento do Renascimento. Movimento do qual, seu livro O 
Príncipe, sua principal obra política, é exemplo dada a ênfase que o autor dar à 
secularização, à importância da razão e à busca da construção do 
conhecimento pela observação e não apenas pela especulação ou divagação 
teológica. 
Além disso, Maquiavel também enfatizava a política como uma área de 
estudo, não apenas autônoma, mas de extrema utilidade, principalmente, por 
aqueles que se envolvem com os assuntos atinentes ao Estado. Para ele, o 
conhecimento da política não serviria apenas para erudição, pelo contrario, 
haveria uma utilidade muito mais relevante. O conhecimento da política, na 
realidade, era fundamental para agir politicamente. O saber aparece como algo 
útil, uma ferramenta que serve para ser usada para intervir na realidade. 
Maquiavel concebia o estudo da política como o caminho para estabelecer uma 
teoria do governo para arte do governo, a qual consistiria em conjunto de 
técnicas e procedimentos para conduzir ao sucesso o exercício de poder. 
Nesse sentido, o modelo de teoria política adotado por Maquiavel 
diverge fortemente da abordagem clássica em vigor na Idade Média, de cunho 
prescritivo-normativo e divagador. Nessa época a base do pensamento 
filosófico propunha que a teoria política deveria dizer qual seria governo (e o 
governante) ideal para a realização da boa sociedade. Maquiavel abandona 
essa leitura – e vai ser bastante criticado por isso, principalmente pelos 
pensadores ligados à igreja católica – e passa a trabalhar a política como um 
domínio autônomo em relação à moral e a teologia e voltado para a prática 
efetiva do governo, seja ele justo ou não. 
Rompendo com a tradição medieval, Maquiavel desenvolve um novo 
método cientifico para trabalhar a realidade política. Primeiramente, recusa os 
critérios normativos da política como deveria ser, e adota um “programa” de 
pesquisa que busca entender o Estado e a política como de fato são (é que ele 
 
 
 
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chamou de verità effetuale), sua preocupação é, portanto, com o que é, e não 
com o dever ser2. 
A conseqüência direta dessa abordagem foi que Maquiavel se tornou o 
fundador do pensamento político enquadrado hoje como realismo político 
(bastante influente nos estudos de relações internacionais). O qual recusa 
proposições de caráter utópico e parte para uma descrição mais “crua” da 
realidade política. 
Essa valorização da racionalidade e da objetividade dá um foco inovador 
ao seu pensamento, todavia, a valorização da razão – racionalização – o 
coloca em rota de colisão com o direito divino, o que contribuirá para seu livro 
figurar no índex de leituras proibidas da igreja católica por bastante tempo3. 
O empirismo também é um elemento muito importante do método 
científico maquiavélico. Ou seja, suas proposições são construídas a partir da 
reflexão critica feita com base na observação de homens da história e seu 
comportamento. Observando quais comportamentos foram mais adequados ou 
inadequados para os fins propostos por esses governantes no contexto em que 
atuavam. 
A partir da observação empírica, Maquiavel faz uma proposição 
fundamental de seu pensamento a respeito da sua concepção da natureza 
humana. Para o autor, a psicologia humana pode ser compreendida e ela 
aponta para o fato de que todos os homens são naturalmente “ingratos, 
volúveis, mentirosos, covardes e gananciosos”, além de egoístas e ambiciosos 
e que só recuam da prática do mal quando coagidos pela força da lei, isto é, 
pelo governante. Daí a necessidade de o governante ter que ser forte e não se 
preocupar em ser amado, pois o mais importante é ser temido4. Além disso, 
 
 
 
 
 
 
 
2 Seu pensamento propõe-se a seguir o que hoje chamaríamos de objetividade, em 
contraposição à normatividade da Idade Média. Não significa que, em seu pensamento, não 
haja qualquer proposição normativa. Há, todavia, estão baseadas em análise de cunho 
objetivo. 
3 Seus comentários sobre os processos de escolhas do pontífice não o ajudaram muito 
também. 
4 Segundo Maquiavel é melhor que o governante seja amado que odiado, não sendo possível, 
que seja pelo menos temido. 
 
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Maquiavel afirmava que era da natureza humana precisar de governo, pois o 
comportamento humano tende a levar à anarquia. 
O empirismo de Maquiavel leva-o a exaltar a história como um dos 
instrumentos mais importante para o governante. A importância da história, 
segundo ele, deriva da proposição segundo a qual, para governar, é 
fundamental o estudo do passado porque (1) a natureza humana é imutável 
(homens de hoje são iguais aos homens do passado) e (2) esse estudo 
possibilita compreender o que sucedeu aos governantes do passado e quais os 
meios que foram utilizados para enfrentar as diversas situações, dessa 
maneira, será possível encontrar, por analogia, lições para o presente. 
A base dessa argumentação repousa numa interpretação cíclica da 
história. Subentende-se que a história se desenvolve como ciclos que se 
renovam em movimentos de revolução em torno de si mesmos. Considerando 
então que os fatos históricos se repetem em linhas mestras, o sucesso de um 
príncipe conhecer dessas linhas está garantido. 
 
 
 
1.2. Conceitos fundamentais 
 
 
Alguns conceitos são caros para o pensamento de Maquiavel. 
Primeiramente, o conceito de Estado.Não foi Maquiavel quem cunhou o termo 
– seu autor é desconhecido – mas foi ele o primeiro a utilizar a palavra “Estado” 
com o significado hodierno, de maneira que a idéia de uma unidade abstrata 
guiada por um governo soberano, com autoridade sobre um território e uma 
população é uma concepção de origem maquiavélica. 
Outro conceito importante para a análise de Maquiavel é o de Virtú que 
consiste basicamente na a habilidade do príncipe para a arte do poder. É a 
vontade e a energia do indivíduo voltada para fazer política. Esse conceito está 
atrelado a outro também bastante importante que é o de Fortuna, o qual 
representa a sorte do indivíduo (seja ela boa ou má) que dita as circunstâncias 
em que ele deve atuar. É um fator do acaso, sem controle. 
Para o autor, o ideal é o príncipe tenha virtú e fortuna, mas ele 
reconhece que muitas vezes governantes ascendem ao trono sem nenhuma 
 
 
 
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habilidade para governar. Igualmente, príncipes habilidosos, muitas vezes, não 
se perpetuam no governo porque são acometidos por uma série de infortúnios 
que minam sua autoridade. Todavia, é importante que se diga que o homem de 
boa fortuna, porém desprovido de virtú cai, mas o que tem virtú pode seduzir a 
fortuna (uma deusa que se deixa seduzir pelos mais aptos). 
Por fim o conceito de política. Maquiavel define política como a arte de 
conquistar e manter o poder, finalidades para as quais são legítimos todos os 
meios. 
 
 
 
1.3. Função do Estado 
 
 
A preocupação principal de Maquiavel é com a construção de um Estado 
capaz de impor a ordem, pois, na sua visão, a desordem leva os homens à 
barbárie. Essa preocupação com a ordem é derivada principalmente de sua 
experiência como italiano. Sua principal pergunta é: em meio a uma Itália 
perdida em constantes revoluções e reviravolta dos governos, qual seria o 
Estado capaz de instaurar a ordem de maneira estável? É uma pergunta 
parcialmente respondida. Segundo ele, o caminho é o trabalho de um príncipe 
virtuoso que poderia permitir a construção de uma ordem duradoura. 
Todavia, o próprio Maquiavel reconhece que a natureza da política 
nunca permitirá, contudo, uma ordem definitiva, pois esta depende sempre da 
fortuna e, principalmente da virtú do príncipe. 
 
 
 
1.4. Os tipos de governo 
 
 
Para Maquiavel haveria dois tipos principais de Estado: repúblicas e 
principados. As repúblicas seriam típicas de sociedades onde há equilíbrio de 
poder, a corrupção é controlada e os homens não têm liberdade de buscar 
inescrupulosamente seus interesses gananciosos. Os homens já tiveram suas 
inclinações educadas para a prática política. Este seria um estágio que toda 
sociedade deveria buscar, mas que não estaria ao alcance de todas de 
 
 
 
 
 
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imediato. De forma que, os países que precisariam evoluir deveriam ser 
governados por principados. 
Os principados são: (1) principados hereditários; (2) principados Novos: 
recém conquistados; (3) principados mistos: não são inteiramente novos, têm 
características semelhantes às do hereditário também e (4) Principado civil: 
quando o governante chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos. 
 
 
 
2. Montesquieu 
 
 
Charles-Louis de Secondat, o barão de Montesquieu, foi um dos 
grandes pensadores políticos do Iluminismo. Seu principal trabalho foi “O 
Espírito das Leis” e sua principal contribuição ao desenvolvimento político do 
ocidente foi a doutrina da repartição ou tripartição dos poderes. Na sua obra 
prima, Montesquieu trata da teoria da separação dos poderes, da formas de 
governo e influencia do clima no comportamento humano. O que vai nos 
interessar aqui é um panorama geral do pensamento seu pensamento e 
especialmente a doutrina dos três poderes. 
A busca fundamental de Montesquieu tem caráter de natureza liberal. 
Para ele, todo governo deve ser baseado em leis. Daí o fundamento de suas 
noções liberais concernentes à ação do Estado. Todavia, o que as leis seriam 
fruto de que? Para responder essa questão o Barão mergulha numa pesquisa 
de quase 30 anos, na qual ele analisa a estrutura e conexão interna dos fatos 
humanos e tenta formular um esquema rigoroso de interpretação do mundo 
histórico, social e político. 
Seu método de construção de conhecimento, como bom iluminista, é 
baseado no racionalismo, todavia, diferentemente de Maquiavel, não adota um 
método elaborado no empirismo. Acredita que a razão apenas pode garantir 
sucesso na sua empreitada filosófica, uma vez que, segundo ele, a lei deve ser 
vista como a encarnação da razão. 
Uma característica de Montesquieu, apesar de entender a necessidade 
de leis, é que o Barão se mostrava bastante cético com as leis em função da 
imperfeição dos legisladores que as construíam. Portanto, não se deve 
 
 
 
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extrapolar a justiça das leis, pois nem sempre refletem a realidade que os 
cidadãos julgariam a mais justa para eles. 
Mas e as leis, o que são? Montesquieu assume certo determinismo para 
tratar dessa questão: para ele, as coisas têm natureza própria e as leis devem 
ser relações necessárias que derivam dessa natureza intrínseca das coisas, 
mas não bastam para explicar um país. As leis formam um sistema de relações 
onde o „espírito das leis‟ consiste nas varias relações que as leis podem ter 
com outras variáveis (clima, constituição, costumes). 
Assim as leis de uma sociedade são resultado de sua realidade 
complexas e sua essência deve ser buscada na natureza das coisas que 
cercam essa sociedade e que influenciam seus fatos sociais. Todavia, 
Montesquieu faz uma advertência, para ele, as instituições políticas sempre 
devem estar em harmonia com condições físicas e sociais das nações a que 
servem. Do contrário, sofrerão de irremediável fragilidade. 
 
 
Para Montesquieu as leis não devem promover a igualdade absoluta, 
pois isso não passa de uma utopia. Além disso, para o Barão, o poder não 
pode cair nas mãos do baixo povo, inapto para exercer o poder político. 
 
 
 
2.1. Teoria da separação dos poderes: 
 
 
Apesar de a doutrina da separação de poderes ser bastante simples, 
sua influência no mundo ocidental é enorme e dispensa maiores comentários. 
Seu fundamento é a idéia dos pesos e contrapesos, a qual consiste na 
proposição de que o poder, em um sistema político-social, deve ser dividido 
entre as instituições e que estas devem controlar umas às outras. Assim, um 
poder controlaria o outro, de forma que se tornaria bastante difícil para 
qualquer um deles contrariar a lei. 
Apesar de a divisão que temos hoje em nosso país ser baseada na 
doutrina de Montesquieu, é preciso observar que, na apresentação original, o 
autor utiliza termos diversos dos nossos, para ele, os três poderes são: 
 
 
 
 
 
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1. Poder legislativo: responsável pela elaboração e correção das 
leis; 
2. Poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes: 
faz paz ou guerra, envia e recebe embaixadas, estabelece a 
ordem, prevê invasões, etc. (seria o nosso Executivo); 
3. Poder executivo das coisas que dependem do direito civil: pune 
crimes e julga dissídios dos particulares – poder de julgar e de 
dizer o direito (seria o nosso judiciário). 
 
 
 
2.2. Sistema Político e Solução de Conflitos em Montesquieu 
 
 
A preocupação com a solução dos conflitos e a manutençãoda 
estabilidade aparece de forma clara em Montesquieu e pode ser expressa 
através da noção de moderação como elemento essencial para o 
funcionamento estável dos governos. A idéia básica da obra de Montesquieu é 
encontrar elementos capazes de substituir o efeito moderador da nobreza na 
monarquia. A teoria dos poderes elaborada por ele pressupõe que a 
equipotência entre os diferentes poderes (forças sociais) seria uma condição 
de estabilidade porque asseguraria a existência de um equilíbrio entre os 
poderes através da possibilidade de contraposição mútua entre eles. A divisão 
dos poderes em Montesquieu não pressupõe uma divisão de funções, e sim, 
visa estabelecer um cenário em que as diferentes forças da sociedade são 
capazes de se contraporem umas às outras. As instituições e as leis deveriam 
evitar que uma força prevalecesse entre as demais e que os conflitos de 
interesses minassem a estabilidade do governo. A despersonalização da 
estrutura de poder através da criação de instituições garantiria que o governo 
fosse menos vulnerável à ação de um indivíduo ou grupo. 
O modelo de Montesquieu se baseia na monarquia constitucional inglesa 
e busca através de um regime misto equilibrar as posições da monarquia, da 
aristocracia e do povo através da representação balanceada dos interesses 
desses grupos. A criação de instituições capazes de promover esse equilíbrio 
seria essencial para a manutenção da estabilidade dos governos. 
 
 
 
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Em Montesquieu, o povo deveria ser o detentor do poder legislativo. No 
entanto, como os indivíduos são muitos e, normalmente, não detém o 
conhecimento sobre os assuntos públicos, a solução seria a eleição de 
representantes capazes de fazer aquilo que o povo não é capaz de fazer por si 
mesmo5. Para ele, é preciso que os indivíduos sejam conduzidos por 
representantes nos quais confiem, o que depende da eleição desses 
representantes pela escolha do povo. Como representantes do corpo do povo, 
os deputados devem prestar contas aos representados, elaborar leis e 
observar se essas leis estão sendo implementadas. A participação popular é 
restrita à escolha dos representantes através do voto, todos teriam direito a dar 
seu voto para escolher os representantes, no entanto, Montesquieu exclui o 
caso em que os cidadãos “sejam de condição tão baixa que se considera que 
não possuem vontade própria”6. Outra distinção feita por Montesquieu diz 
respeito à separação do Legislativo em duas casas (representantes do povo e 
da nobreza) como forma complementar de controle sobre os representantes do 
povo. A nobreza seria representada por uma casa específica em função da sua 
participação diferenciada na sociedade e seria um poder „regulador‟ para a 
promoção do equilíbrio entre os poderes do monarca e do povo. 
 
 
 
3. Hobbes 
 
 
O contexto em que Thomas Hobbes desenvolve o seu pensamento é 
caracterizado pelo início da ascensão do iluminismo e pela forte influência do 
racionalismo como fundamento das construções filosóficas e científicas. As 
idéias medievais estavam em franca crise, entre elas a idéia do direito divino 
dos reis e, conseqüentemente, o absolutismo. 
O poder absoluto dos reis já não se justificava, ou legitimava, por meio 
da crença na origem divina do poder real, era preciso encontrar outros 
fundamentos para justificar o domínio absolutista, tornava-se forçoso 
 
 
 
 
5 “O povo é admirável para escolher aqueles a quem deve confiar parte de sua autoridade. 
Para deliberar, não dispõe senão de coisas que não pode ignorar e de fato lhe são palpáveis” 
(ALBUQUERQUE, 1995, 128). 
6 ALBUQUERQUE, 1995, 176. 
 
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racionalizar esse sistema de poder. As principais contribuições de Hobbes ao 
desenvolvimento do pensamento político moderno derivam desse esforço. 
Entender o pensamento de Hobbes é ter em mente, necessariamente, a sua 
defesa do absolutismo. 
A principal obra política de Hobbes é “O Leviatã”. Neste trabalho, ele 
desenvolve um amplo esforço de racionalização do direito absoluto 
(absolutismo), valendo-se de uma leitura claramente individualista e de um 
conceito, então, na moda, o estado de natureza. 
O individualismo hobbesiano enquadra-se no clima da época, que 
rechaçava a concepção orgânica de indivíduo e sociedade típica da sociedade 
medieval. Por concepção orgânica entende-se o conjunto de idéias que 
descreviam a sociedade como um organismo construído por Deus, no qual 
cada indivíduo nascia com uma função pré-determinada, de maneira que 
caberia a cada pessoa saber qual o lugar que nasceu, a qual classe pertence e 
aceitar esse fato, cumprindo a missão divina que lhe foi passada com o dom da 
vida. 
A leitura individualista de Hobbes fica evidente quando ele explica a 
formação da sociedade civil por meio do contrato e da leitura que o autor faz do 
indivíduo para justificar a confecção deste contrato. 
Para Hobbes, o comportamento individual é orientado por apetites, 
paixões e, conseqüentemente, aversões. Por isso, os homens seriam 
naturalmente egoístas e violentos, sendo que a sua busca pela realização de 
seus desejos não pode gerar outra coisa senão a morte. Assim, o Estado de 
natureza7 seria caótico, anti-social, irracional e não-político. Sua leitura desse 
estágio de evolução humana é completamente negativo. Seria uma situação 
em que homem não tem a mínima condição de realizar, construir e prosperar. 
 
 
 
 
 
 
7 Estado de natureza: construção teórica utilizada por diversos filósofos – e Hobbes não é o 
primeiro – para explicar o surgimento da sociedade, a qual será chamada por uns de sociedade 
civil, outros de sociedade políticas. O estado de natureza não é historicamente determinável, 
não se trata de uma experiência real e delimitada no tempo. 
A idéia central é que, antes da sociedade da sociedade, os homens vivem em uma situação 
livre e sem governo, mas em uma condição pré-social. A porta de saída é do estado de 
natureza é o contrato social. Também é um artifício teórico. 
 
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É irracional e anti-social porque o homem vive em constante guerra – daí a 
celebre frase tão repetida pelo Falcão “o homem é o lobo do homem”. 
Nessa situação, o indivíduo se ver diante de duas opções que ele pode, 
teoricamente, escolhe e são mutuamente excludentes: 
A. Pode manter a sua liberdade plena, ou seja, permanecer no estado 
de natureza e condenar-se a uma vida marcada pelo medo 
incessante e pelo risco constante de morte; 
B. Alternativamente, ele pode renunciar de seu poder pessoal em favor 
de um soberano. Nessa situação, abdicará da liberdade pessoal 
absoluta, mas ganhará em troca a segurança8 necessária para viver 
em paz. 
 
 
Na visão de Hobbes, a única escolha racional é a letra B, pois seria 
irracional permanecer em uma situação em que não se tem paz jamais. É 
impossível saber o que acontecerá a cada dia, há completa insegurança. A 
escolha é feita pelo Contrato. Uma vez firmando esse contrato, o estado de 
natureza é abandonado e é constituída a sociedade política. 
O contrato social é realizado uma única vez e significa renúncia 
completa de todo o poder individual. Esse poder é transferido para o soberano, 
que se torna titular do poder políticos e dos direitos da sociedade. 
Para Hobbes, existe um único contrato (irrenunciável9) no qual os 
homens com dois atos contíguos abandonam o estado de natureza. Primeiro,constituem a associação, a coletividade, com indivíduos se reunindo em 
sociedade e, depois, fazem um pacto de submissão, no qual é firmado um 
contrato que transfere o poder para um terceiro ou um grupo fora do contrato 
(o que Locke vai criticar veementemente, para este autor, não faz sentido um 
grupo de pessoas firmar contrato obrigando terceiros). 
 
Por fim, vale ressaltar o que é o leviatã. Na proposição originária de 
 
Hobbes, o leviatã é um ente fictício, que pode ser uma pessoa ou vários 
 
 
 
 
8 Saliente-se que segurança é a preocupação central de todo o pensamento de Hobbes. Essa 
ênfase é resultado, provavelmente, em função do ambiente extremamente turbulento do qual 
Hobbes foi testemunha na Inglaterra setecentista. 
9 Não se reconhece, na visão hobbesiana originária, o direito de insurreição. 
 
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indivíduos. Esse ente é escolhido pelos homens para governá-los e tem como 
principal função prover segurança para seus súditos. 
 
 
 
4. Locke 
 
 
Locke é egresso de família protestante e teve uma educação liberal. 
Tornou-se um dos pensadores mais importante para o desenvolvimento do 
pensamento político liberal e crítico ferrenho das proposições absolutistas de 
Hobbes. Seu pai combateu ao lado do parlamento antes da Restauração (na 
disputa entre whigs X tories). 
Inicialmente, não era um filósofo. Estudou no colégio de Westminster foi 
médico formado por Oxford. Desenvolveu atividade de tutor intelectual de 
famílias ricas, sendo protegido do conde de Shaftesbury (whigs - liberal) que se 
exilou na Holanda após desavenças com o rei. Na Holanda, foi apresentado a 
Guilherme de Orange (que se tornou rei constitucional da Inglaterra em 1688). 
Em 1689, volta para a Inglaterra no mesmo barco da rainha e, no ano seguinte, 
publica sua principal obra política o Segundo Tratado sobre o Governo Civil. 
Dessa curta biografia, é possível extrair aspectos importantes que 
influenciaram o pensamento de j. Locke. Sua ligação fundamental com o 
avanço do liberalismo e o constitucionalismo, o estreito vínculo desse tipo de 
pensamento com a ascensão política e social da burguesia e o anti- 
absolutismo. 
O Ponto principal da sua obra, que pode definido por ele como o 
objetivo que o leva a escrever o Segundo Tratado é o “anti-absolutismo, o 
violento desejo da autoridade contida, limitada pelo consentimento do 
povo, pelo direito natural, a fim de eliminar o risco do despotismo, da 
arbitrariedade – mesmo que isso abra uma brecha para a anarquia”. 
 
 
 
4.1. Os Pressupostos Fundamentais 
 
 
O pensamento político de j. Locke assume alguns pressupostos de 
conseqüências graves. O primeiro deles assume que os homens são obra e 
 
 
 
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propriedade de Deus (“os homens sequer se possuem”), daí todos os homens 
serem livres e iguais. Logo, acima de um homem só pode está o próprio 
Deus. 
Essa postura é uma oposição crítica à Sir Robert Filmer, pensador 
conservador e absolutista bastante influente na época, o qual argumentava que 
os direitos absolutos dos reis eram de origem divina e uma continuação dos 
direitos de Adão e dos Patriarcas bíblicos. Seria a ordem natural das coisas, 
pois, Deus teria colocado alguns homens acima de outros e esse seria um fato 
observável desde as relações mais primárias dos homens. Seria assim na 
família pai sobre o filho, velhos sobre jovens, reis sobre os povos etc. Essa 
discussão assume um caráter marcadamente teológico e Locke dedica o 
primeiro tratado sobre governo civil unicamente ao esforço de refutar a tese de 
Filmer. 
O segundo pressuposto fundamental de Locke diz respeito à liberdade. 
Nitidamente criticando Hobbes, Locke afirma que a liberdade é fundamental 
para a realização da essência humana. Contudo, é preciso observar que ela 
nunca deve ser absoluta, pois, nem mesmo no estado de natureza ela é – 
diferentemente de Hobbes que propõe que a liberdade é absoluta no estado de 
natureza, por isso, surge o caos e anarquia para desespero dos homens! Locke 
vê de forma diferente, para ele algum tipo de restrição à liberdade individual é 
sempre fundamental, pois “onde não há leis, não há liberdade”. E no estado de 
natureza, a lei natural (de)limita a liberdade natural. 
A lei natural, para Locke, é conhecida no estado de natureza porque é 
uma expressão da vontade de Deus, que é chega aos homens por meio da 
razão (a qual é “voz de deus no homem”). Logo, a razão promulga a lei de 
natureza e, também, faz-nos livres. Isso é acontece ao mesmo tempo em 
que razão é igual à lei natural, a qual tem soberania sobre as ações humanas 
(decorrência natural da idéia segundo a qual razão e lei natural são a mesma 
coisa e, ao mesmo tempo, vontade e voz de Deus nos homens). 
Uma coisa deves ser ressaltada. Percebe-se, em todo o pensamento de 
Locke, uma extrema valorização da razão. Para ele, a razão significa a 
qualidade do ser humano, isto é, a razão é o que define o indivíduo como ser 
 
 
 
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humano. Além disso, a razão é o modo de cooperação entre os homens, que 
nos permite viver junto em sociedade e solidariedade, mesmo no estado de 
natureza, que inicialmente é bom – novamente diferente de Hobbes. 
Nesse contexto, a irracionalidade é um perigo que deve ser combatido 
com todas as forças. Para Locke, o indivíduo que age irracionalmente é um 
animal e, como tal, deve ser tratado. No sentido político, agir irracionalmente 
inclui um indivíduo dizer que está acima de alguém sem ser Deus. Neste caso, 
a pessoa é um animal “selvagem e nocivo” e deve ser tratado com tal. 
 
 
 
4.2. Estado de Natureza 
 
 
Sendo todos iguais, livres e racionais não é possível que o estado de 
natureza seja essencialmente ruim, como pregava Hobbes. Pelo contrário, é 
bom, porém, está sujeito a alguns inconvenientes que podem ser evitados pela 
sociedade civil (que é igual à sociedade pactuada por meio do contrato 
político). 
Mas o que é o estado de natureza para Locke? É a condição na qual o 
poder executivo da lei natural ainda está exclusivamente nas mãos dos 
indivíduos, não se fez comunal. Cada um pode executar a lei natural da 
maneira que achar mais conveniente/adequada. Assim, no estado de natureza, 
todos são “magistrados”, isto é, todos têm o “poder executivo” da lei de 
natureza, se alguém transgredi-la, qualquer pessoa pode puni-lo. Isso ocorre 
porque, no estado natural, o direito de governar aparece como um direito 
natural e individual, afinal os homens são livres e iguais em poderes, além 
disso, todos têm um direito “judicial” que lhes permite proceder à execução da 
lei natural (da razão). O problema dessa ordem das coisas humanas é que não 
há nada que diga que a execução da lei é feita da maneira adequada e 
proporcionalmente correta. As reações ou sansões desproporcionais podem 
gerar o caos e guerra, degenerando o estado de natureza. 
O grande problema é que não existem leis escritas, tudo está nas 
mentes dos indivíduos, os quais são, de certa forma, legisladores e executores 
 
 
 
 
 
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da lei (o que nós chamaríamos hoje de juízes). Esse fato torna difícil convencer 
uma pessoa errada de que está indo contra a lei natural. 
O erro dos indivíduos – que significa a transgressão da lei natural e da 
razão – pode vir das paixões ou de interesses pessoais que geram incidentes 
(como a guerra10) indesejáveisno estado de natureza. Para evitar esses 
inconvenientes, surge o governo comunal, ou a sociedade civil. 
Os acidentes gerados pelos desejos humanos e os incidentes nos 
estado de natureza fazem com que, ainda que o estado de natureza seja bom, 
o surgimento do estado civil seja uma regra para todas as sociedades. É 
importante observar, todavia, que o estado de natureza já é social e político, o 
que surge com o contrato social não é a sociedade em si, mas o governo civil, 
a sociedade civil – que podem ser entendidos como sinônimos. Em todo caso, 
o que importa é que as sociedades sempre evoluem para o estado civil. 
Trata-se de um imperativo da razão. 
Essa afirmação tão categórica é sustentada pela grande inovação 
conceitual de Locke: o conceito de propriedade. 
 
 
 
4.3. Propriedade 
 
 
O direito aos produtos da natureza é concessão divina, os homens 
possuem-nos como espécie, não como indivíduos. Estaríamos diante de um 
comunismo original. Porém, cada homem tem uma propriedade em sua própria 
pessoa11, de modo que, o trabalho de seu corpo e a obra de suas mãos são 
seus. Daí surge a propriedade privada, da intervenção humana sobre a 
natureza, por meio do trabalho. 
 
 
 
Surgimento da propriedade privada: 
 
 
Produto Natural 
Comunismo 
Original dado 
 
 
 
Trabalho e 
ação 
humana 
 
 
 
Propriedade 
privada 
 
10 
por Deus que o estado uma guerra constante. 
11 É uma contradição do pensamento de Locke , pois os homens, inicialmente, não seria dono 
nem de si mesmo. Mas a argumentação caminha nessa direção para justificar a idéia de 
propriedade privada. A posse sobre si mesmo é necessária porque Deus no concede a 
possibilidade de tratar de nossa própria existência. 
 
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Uma advertência importante: a propriedade privada, para Locke deve 
servir ao consumo de família, sem desperdícios, e não pode ser usada para 
subordinar a outrem. 
Mas qual a ligação entre propriedade privada e a necessidade do 
contrato social? Pois bem, a propriedade individual não se originou do 
consenso, o que levou a comportamentos não cooperativos e irracionais. Esses 
comportamentos degeneraram o estado de natureza, de maneira que, diante 
do caos, os homens abandonaram o estado de natureza em busca de uma 
organização social e política com poder capaz de regulamentar e preservar a 
propriedade. 
Por fim, apesar de Locke partir da concepção segundo a qual a 
propriedade privada é originária do trabalho, para explicar a finalidade da união 
dos homens em comunidade, ele amplia o conceito de propriedade para 
abarcar “as vidas, as liberdades e as posses”. Logo, a sociedade civil, ou o 
governo civil, surge não apenas para proteger a posse de bem materiais. O 
governo também tem a função de proteger a liberdade e a vida dos indivíduos 
 
(outra crítica à Hobbes). 
 
 
 
4.4. Constituição do governo civil 
 
 
A constituição do corpo político é feita pela união consensual dos 
homens. Não é por direito divino12, não é pela sua maioria, não pode ser por 
conquista13. Apenas o consenso é base de legitimação para a forma de 
governo. Assim a monarquia absoluta não pode ser legítima, pois não faz 
sentido homens iguais e livres se colocarem em situação pior que aquela do 
estado de natureza. 
 
 
 
 
12 Filmer. 
13 Hobbes. 
 
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Para instituir o governo civil, os homens precisam abrir mãos de dois 
poder: o de legislar e o de executar a lei. Mas não transferem esse poder a 
outro homem, que ficaria acima deles. Esse poder é transferido para o governo 
civil, o qual tem como instituição mais importante o parlamento. 
Nesse sentido, o supremo poder é o legislativo, o que torna o 
parlamento soberano no governo civil. Contudo, o legislador não pode prever 
nem prover todas as situações, logo, é necessário deixar algumas resoluções 
para a discrição de quem tem o poder executivo, isto é, deve existir a 
prerrogativa real, permitindo que o governante (que pode ser um ou vários) 
tenha capacidade de governar. Além disso, o legislativo não precisa está 
sempre reunido, a fabricação constante de lei pode levar a edições 
desnecessárias que poderiam desestabilizar o governo. 
Todavia, tanto o poder do legislativo quanto a discrição do executivo não 
podem ultrapassar os limites do bem público e os estabelecidos pela lei natural 
– que continua em vigor mesmo após a instituição do governo civil. Caso essas 
instituições fujam do interesse públicos os súditos podem desabilitá-las. Isso 
porque Locke assume que os detentores do poder são depositários da 
confiança do povo, caso não cumpram seus mandatos adequadamente, cabe 
ao povo julgá-los. De forma que, contra a força “sem autoridade” (que Locke 
aproxima ao conceito de legitimidade), o povo pode empregar a força. É 
formulado então o direito de insurreição. Inadmissível para Hobbes. 
Entretanto, o direito à insurreição não pode gerar perpétua anarquia. 
Aliás, esse perigo nem deve ser tomado seriamente, pois o povo é 
naturalmente inerte, só se move quando a situação se torna insuportável. Em 
todo caso, a inércia não deve ser absoluta, tão pouco a sujeição, pois o preço 
da ordem não pode ser a paz dos cemitérios, a obediência passiva pode levar 
a males piores que a revolução. 
Conclusão: como resultado desse conjunto de idéias, Locke aparece 
como um individualista defensor do liberalismo político, enquanto Hobbes um 
individualista que propõe o absolutismo. 
 
 
 
5. Rousseau 
 
 
 
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Para Rousseau, o estado de natureza é essencialmente bom. A imagem 
que este autor tem desse estágio da humanidade é a de um Jardim do Éden, 
uma espécie de paraíso no qual o homem vive em um estado amoral, no qual 
não há bem e nem mal. O homem, no estado de natureza, é uma figura 
bondosa e pacífica. Essa visão levou Rousseau a formular o que ficou 
conhecido futuramente como mito do „bom selvagem‟14. 
Esse mundo pacífico e tranqüilo é degenerado por meio do surgimento 
da propriedade privada. Segundo Rousseau, no momento que a primeira 
pessoa cerca um pedaço de terra e diz que esse espaço é propriedade dele, 
surge o ódio e a ganância, e a paz é corrompida, dando lugar ao medo e ao 
ódio mutuo. Rousseau defendia que, se esse indivíduo tivesse sido 
imediatamente desmascarado como um mentiroso corrupto, o mundo ainda 
viveria em paz. 
Sendo assim, é a posse da propriedade privada que degenera o estado 
de natureza (bom e pacífico) para a sociedade civil, naturalmente corrupta. 
Esse é o estado do homem “hoje" (época de Rousseau!). A formação da 
sociedade civil – é preciso observar que, para este autor, sociedade civil e 
sociedade políticas são duas coisas distintas, como veremos adiante – é um 
golpe contra a humanidade e contra a igualdade entre homens. Representa 
uma usurpação e uma mentira, contra a qual Rousseau proporá o contrato 
social. 
A crítica de Rousseau contra a sociedade civil dirige-se, basicamente, ao 
seu fundamento: a propriedade privada. E ela a raiz da desigualdade e da 
exploração entre os homens (em seus últimos texto, Rousseau terá outra visão 
da propriedade privada, aceitando-a como algo sagrado dentro do contrato 
social legítimo, mas vamos voltar ao assunto). Como o primeiro contrato, o da 
sociedade civil, surgiu para proteger uma mentira, a propriedade de quem dela 
não era dono,este primeiro contrato social é um instrumento de injustiça, feito 
entre desiguais, para a exploração de um grupo (os “proprietários”) por outro 
 
 
 
 
14 Os homens no estado de natureza viveriam como os índios das Américas, em paz e 
tranqüilidade, vivendo para comer, dormir e se reproduzir. Nada mais idílico e irreal! 
 
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(quem comeu mosca!). Dessa forma, a sociedade civil não é um acordo entre 
iguais, mas um golpe dos ricos e poderosos para lhes garantir: 
 
– Proteção; 
 
– Legitimidade; 
 
– E ordem. 
Ora, se a ordem social é construída sobre essas bases, é natural que o 
Estado apareça, na obra de Rousseau, como uma obra dos ricos para 
preservar a desigualdade. O Estado, na sociedade civil, torna-se o símbolo 
então da desigualdade social e política. 
 
 
 
5.1. O Contrato Social 
 
 
Diante desse quadro negativo, a experiência concreta vivida pela 
sociedade, torna-se necessário um novo contrato social. Nesse momento, 
Rousseau parte para uma especulação filosófica que pretende estabelecer as 
características de um novo contrato social que permita à sociedade construir 
um Estado justo e igualitário. 
Para a consecução desse novo contrato, Rousseau parte de um 
pressuposto que compartilha com Locke, a idéia de que a fonte do poder reside 
no povo, o qual renuncia, por meio do contrato social, à sua liberdade em favor 
de um estado que seja guiado pela vontade geral, conceito central na análise 
rousseauniana. Importante frisar que a idéia de renúncia de liberdade aqui terá 
desdobramentos completamente distintos da renúncia em Hobbes. Poder não 
será transferido para uma entidade toda poderosa (representada por um ou 
mais indivíduo) que confunde com o Estado, mas para um Estado que deve 
respeitar a vontade geral, na verdade, deve ser guiado por ela, não por sua 
própria vontade. Mas o que é, afinal, a vontade geral? 
A noção de vontade geral que se extrai dos escritos de Rousseau é a de 
uma vontade que representa a suprema direção da sociedade. Mas que não 
pode ser confundida como o somatório das vontades individuais. Antes disso, 
“a vontade geral é aquela que traduz o que há de comum em todas as 
vontades individuais, ou seja, o „substrato coletivo das consciências‟”. É a 
 
 
 
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vontade geral o fator unificador da multiplicidade dos contratantes, 
representando, dessa forma, o coração da democracia no Contrato social. 
Na sua apresentação da importância da vontade geral como guia do 
Estado e da sociedade, Rousseau condena todo o tipo de facções, por 
deturparem a vontade geral. Segundo ele, a vontade geral não pode ser 
identificada nas decisões majoritárias que, num contexto só aparentemente 
democrático, encerram o debate político, logo, as decisões tomadas em clima 
de facções devem ser desconsideradas. Segundo Rousseau, quando se 
estabelecem facções, associações parciais a expensas do interesse comum, a 
vontade de cada uma dessas associações torna-se geral em relação a seus 
membros, e particulares em relação ao Estado. 
É preciso salientar ainda que vontade geral e vontade de todos não são 
a mesma coisa. A vontade geral prende-se somente ao interesse comum, ao 
passo que a outra, atrela-se ao interesse privado, não passando de uma “soma 
das vontades particulares”. O objeto da vontade geral é o interesse comum, 
bastando, porém, que um interesse, por generalizado que seja, se mostre 
menos geral do que o da sociedade inteira, para deixar de ser o interesse 
comum. “Assim, o interesse comum não é o interesse de todos, no sentido de 
uma confluência dos interesses particulares, mas o interesse de todos e de 
cada um enquanto componentes do corpo coletivo e exclusivamente nesta 
qualidade, advindo daí o perigo de predominar o interesse da maioria, pois, se 
é sempre possível conseguir a concordância dos interesses privados de um 
grande número, nem por isso assim se estará atendendo ao interesse comum”. 
Só se pode, portanto, falar em vontade geral, quando, apesar das 
divergências inevitáveis entre os componentes do corpo social e das 
discussões legítimas que se devem travar entre eles, exista um ou vários 
elementos comuns capazes de movê-los na mesma direção, de imprimir um 
impulso positivo ao conjunto da sociedade, devendo-se entender por isso que a 
vontade geral não é geral por ser de todos mas por ser a mesma o que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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generaliza a vontade é menos o número de votos do que o interesse comum 
que os une.15 
No momento em que é firmando o contrato social que estabelece a 
sociedade política – organização sócio-política justa, fraterna e igualitária que 
surge do bom contrato social, para substituir a sociedade civil – o indivíduo 
perde a liberdade natural, mas ganha a liberdade civil, a qual está calcada na 
limitação (liberdades positivas e negativas). 
Outro valor fundamental para o novo Estado é a igualdade. Por 
representa a Vontade Geral, é natural que o Estado trate todos como iguais, 
afinal seria parte do substrato das consciências humanas não ter ninguém 
superior a elas, definindo-lhes a existência. 
Se todos são iguais, nada mais adequado ao sistema político da 
sociedade política do que cada homem representar a si mesmo. Apesar de 
Rousseau tomar firme posição contra o sistema representativo16, o autor não 
aprofunda o argumento. Todavia, uma questão é fundamental na temática da 
igualdade. Apesar de todos os homens serem iguais, nem todos os cidadãos 
são iguais, não existem classes sociais nem classes de pessoas ao nascer, 
mas existem classes de cidadãos. Essas classes seriam classes abstratas nas 
quais os homens se colocam por mérito. Pelo seu aprimoramento como 
cidadão e indivíduo ao longo da vida. Repare que ele fala de classe de 
cidadãos de modo bastante abstrato, Rousseau evita o que nós chamaríamos 
de classes econômicas, pois, para eles elas são naturalmente conflituosas. Em 
relação a elas, o dever do Estado é trabalhar no sentido de evitar o conflito e 
promover a paz social. 
Acompanha a idéia de classes de cidadãos e da necessidade de os 
indivíduos se representarem diretamente um alto valor para educação. O culto 
rousseauniano à educação será desenvolvido com mais cuidado em sua obra 
 
 
 
 
 
15 Para uma excelente discussão sobre o conceito de vontade geral ver. Pinto, Márcio Morena. 
A noção de vontade geral e seu papel no pensamento político de Jean-Jacques Rousseau. 
Cadernos de Ética e Filosofia Política. 7, 2/2005, p. 83-97.USP.São Paulo. 
16 Tenha em mente também o tipo de representatividade que Rousseau conhecia: os 
estamentos franceses. 
 
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“Émile, ou L‟Educacion”. Segundo ele, não funcionando a educação e a 
vontade racional geral, a tirania domina. Observe, ainda, que, juntamente com 
sistema eficiente de educação, deveriam ser criados mecanismo anticorrupção; 
Voltando à questão da propriedade, na sociedade política, a 
propriedade privada passa a ser sagrada (não é culpa nossa, reclama com o 
Rousseau!), mas, para respeitar o pacto social, o Estado deve evitar os 
extremos de pobreza e riqueza. Regulando, assim, a desigualdade, para 
promover a igualdade. Dessa forma, a definição de Estado é a de uma 
 
entidade interventora. 
 
 
 
6. Hegel 
 
 
Primeiro é o primeiro autor a formular oconceito de sociedade civil 
separado do Estado político, para ele: 
1. Sociedade civil = sistema de relações recíprocas que permitem (1) o 
suprimento das necessidades materiais, ex. mercado, e (2) a 
administração da justiça e dos interesses antagônicos. 
2. Estado político = esfera de interesses públicos e universais na qual os 
antagonismos estão superados. É o símbolo da unidade social e a 
mais alta expressão da liberdade e da razão. Nesse sentido, é preciso 
abstrair até compreender que não há nada realmente político fora do 
Estado, que é a materialização da razão da vontade universal, portanto, 
não pode ser uma criação do indivíduo. O Estado é a expressão de um 
povo (ex. Guerra). 
 
 
O Estado, que mais nos interessa aqui, pode ser compreendido, grosso 
modo, como o desenvolvimento da razão, de uma idéia racional. Conforme a 
sociedade/coletividade evolui, o Estado evolui. Esse idealismo e visão 
“romântica” Estado vão ser objetos de duras críticas de k. Marx, como veremos 
mais adiante nessa aula. 
O esforço conceitual de Hegel o aproxima-se de Maquiavel por sua 
concepção do Estado como uma experiência histórica, todavia, sua leitura 
 
 
 
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inova ao percebê-lo como o traço distintivo da evolução civilizatória. Na 
verdade a forma distintiva da racional existência social do homem. 
 
 
 
7. John Stuart Mill (1806-1873) 
 
 
J. S. Mill é um dos pensadores mais importantes para compreender o 
desenvolvimento do pensamento político clássico (preferiríamos moderno) e do 
próprio sistema político contemporâneo, principalmente se tivermos como foco 
da análise o sistema democrático liberal, de democracia formal ou 
representativa. 
Mill é contemporâneo do apogeu da Revolução Industrial inglesa, 
também assistiu de perto o avanço da burguesia industrial e financeira, das 
primeiras reformas eleitorais na Grã-Bretanha, do movimento operário e do 
movimento democrático – com destaque para a Primavera dos Povos, em 
 
1848. Suas grandes influências no pensamento filosófico e político são James 
 
Mill, seu pai, e Jeremy Bentham, ambos utilitaristas. 
 
 
 
7.1. John Stuart Mill, um liberal utilitarista 
 
 
As bases do pensamento de Mill são o individualismo, o liberalismo, o 
utilitarismo e a democracia, entendida por ele como a representação da 
evolução do espírito humano. Diferente dos autores anteriores, ele não irá 
beber na fonte do jusnaturalismo para explicar a estruturação da sociedade, 
pelo contrário, rejeita a leitura contratualista e parte para uma análise mais 
 
“pragmática” da realidade política. 
Como esses conceitos já devem ser do domínio de vocês. Reter-nos- 
emos apenas no utilitarismo. 
Segundo Bentham, o princípio do utilitarismo é aquele que aprova ou 
desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem de aumentar ou a 
diminuir a felicidade da pessoa cujo o interesse está em jogo, ou, o que é a 
mesma coisa em outros termos, segundo a tendência a promover ou a 
comprometer referida felicidade. A idéia básica é do utilitarismo, ligada ao 
 
 
 
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liberalismo e ao individualismo, obviamente, é a de que os indivíduos são 
capaz de agir em prol de seus interesses, para maximizar sua utilidade. Logo, 
deve ser-lhes dada a liberdade de realizar essa busca. Com a busca da 
utilidade individual e seu aumento, a utilidade de toda a sociedade iria 
aumentar. Entenda a idéia de utilidade como algo semelhante a satisfação, ou 
felicidade mesmo. 
No que tange ao liberalismo, Mill entendia que a liberdade individual é a 
mola propulsora do desenvolvimento, havendo liberdade individual, a 
sociedade evolui necessariamente, pois é da natureza humana a busca do 
desenvolvimento. Ou seja, somos remetidos novamente à idéia da busca da 
realização individual como o caminho para o desenvolvimento da sociedade. 
A aposta de Mill no individualismo e tal monta que chega a afirmar que a 
democracia e o liberalismo (vistos pelo prisma do individualismo e do 
utilitarismo) seriam os caminhos para a promoção de uma sociedade justa e 
equitativa, pois seriam instrumentos para o aumento da soma das boas 
qualidades coletivas e individuais. Neste ponto reside a utilidade dos dois 
fundamentos (democracia e liberalismo). 
A crença e a defesa desses pressupostos levaram Mill a afirmar que o 
capitalismo estava reduzindo progressivamente a desigualdade. Esta, por sua 
vez, era vista essencialmente como algo herdado do período pré-capitalista e 
um dos principais fatores inibidores da participação de todas as pessoas no 
sistema político. 
Diante desse quadro, qual seria o papel do Estado em relação à 
desigualdade? 
A resposta de Mill é bastante frustrante. Para ele, é necessário aceitar a 
desigualdade, trata-se de um fato problemático que só será resolvido 
gradualmente, pelos mecanismos expostos acima. Portanto, as leis não têm 
que combater o problema da desigualdade, mas proteger o povo do poder 
estatal – potencial limitador das capacidades da ação individual. 
No que diz respeito à inibição da participação, Mill vai mais além. Para 
ele, essa limitação está relacionada a um problema gravíssimo e ocupa um 
espaço central em seu pensamento: dada a necessidade de assimilar o povo 
 
 
 
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no processo democrático, como fazê-lo sem que os conflitos sociais 
desagreguem o Estado ou venham a ferir a liberdade individual? 
Na realidade, Mill demonstra um grande temor em relação ao sufrágio 
universal. Para ele, as massas poderiam não saber esperar a melhoria gradual 
do bem-estar de todos por meio do comportamento individual. Assim, Mill nutre 
um enorme medo das massas, principalmente, no que diz respeito às suas 
tendências revolucionárias. Abre-se então a questão: como inserir as massas 
no sistema de representação, sem levá-lo à falência? Nesse momento, 
conhecemos um Stuart Mill bastante moderado do ponto de vista democrático. 
 
 
 
7.2. Stuart Mill: Democrata Moderado 
 
 
Na sua maturidade intelectual, Mills defende o liberalismo democrático, 
incluindo sufrágio universal, e chega a defender políticas sociais para reduzir 
mazelas da industrialização. 
Como caminhos para garantir o desenvolvimento, Mill defende que o 
sistema político deve ser defensor e promotor da liberdade, da diversidade e do 
conflito moderado e racionalizado. Esses pontos são fundamentais porque são 
as bases para a evolução da sociedade. 
O pilar do seu pensamento democrático (que não é radical), contudo, é a 
participação institucionalizada (representação), por isso, será considerado uns 
dos principais ideólogos da democracia representativa. Mill defendia que forma 
de governo ideal seria o governo representativo (sinônimo de democracia 
formal ou liberal). O qual, para funcionar de verdade deveria frear qualquer 
possibilidade de haver captura da sociedade política por interesses classistas. 
Que, em uma situação extrema, representaria a ditadura da maioria. 
Mas como deveria funcionar esse governo representativo? 
Concretamente, Mill propõe a adoção de duas instituições fundamentais: 
1. O voto proporcional: a idéia desse sistema é garantir a representação de 
minorias, justamente, evitando a chamada “ditadura da maioria”; 
2. Votos com pesos diferentes: Mill acreditava que a elite cultural deveria 
ser mais valorizada, para ser o fiel da balança na luta de classes. Pois 
 
 
 
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quando os pobres fossem assimilados ao sistema político, tenderiam 
entrar em conflito aberto com as classes proprietárias. A elite cultural, 
então, mediaria o conflito para evitar a desestabilização do sistema 
sócio-político. 
Essas foram as bases do sistema representativo americano por muitas 
décadas, quando, em vários estados, o voto de um eleitor branco valia vários 
votos de cidadãos negros, considerados de segunda classe. Ademais, por suas 
propostas, é possível dizer que Mill é um dos precursores mais importantes do 
pluralismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 POLÍTICA, CLASSES SOCIAIS E ECONOMIA 
 
 
 
Introdução 
 
 
Trabalhar de forma objetiva e esquemática três conceitos pilares da 
teoria política e as relações existentes entre eles é um grande desafio e implica 
simplificar todo um escopo teórico estudado desde o século XIX por inúmeros 
pensadores e pensadoras. Em teoria política, analisar as classes sociais e suas 
relações econômicas e políticas requer, necessariamente, uma boa 
compreensão dos principais conceitos do pensamento de Marx e Engels e de 
seus seguidores. Para facilitar a compreensão acerca desse debate, essa aula 
foi dividida em duas partes. 
Na primeira parte a relação entre classes sociais, política e economia é 
analisada através de sua principal vertente teórica, o marxismo, uma das 
principais tradições do pensamento político que balizou as discussões 
posteriores de forma significativa e marcante, seja através de autores e autoras 
que criticaram os pressupostos e conclusões marxistas, seja por aqueles que 
retomaram seus conceitos e análises de forma a demonstrar a atualidade e 
pertinência do pensamento marxista ao longo do século XX. 
A segunda parte da aula se dedica a analisar as relações entre 
economia, política e classes através da perspectiva de autores posteriores a 
Marx, classificados na teoria política contemporânea como pós-marxistas como 
Gramsci, Althusser, Milliband, Poulantzas e Offe. 
 
 
 
Parte I. Política, classes sociais e economia: a análise marxista 
 
 
Karl Marx nasceu em 1818 na Alemanha e presenciou, ao longo de sua 
vida, importantes acontecimentos do séc. XIX como a emergência da burguesia 
e do proletariado, o surgimento do capitalismo industrial e a consolidação das 
 
 
 
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nações e estados modernos. Influenciado ainda pelo pensamento de Hegel, 
paradigma dominante no pensamento alemão da época, Marx em parceria com 
Engels produz obras importantes sobre filosofia, religião, economia e política 
que influenciaram de forma marcante o pensamento político e social produzido 
depois deles. A seguir serão apresentadas algumas das idéias que compõem o 
cerne da teoria marxista. 
 
 
 
1. Idéias centrais da teoria marxista 
 
 
 
1.1. As relações sociais se impõem aos indivíduos. 
 
 
Isso implica dizer que os indivíduos entram em determinadas relações, 
necessárias, que são independentes de suas vontades. Dessa forma, para 
entender a história, é preciso entender as estruturas das sociedades, as formas 
de produção econômica e social que nos permitem compreender os indivíduos 
que surgem dessas estruturas e não o contrário, ou seja, entender os 
indivíduos para só então entender a realidade social. 
 
 
1.2. Toda sociedade pode ser definida pela existência da infra-estrutura e 
da superestrutura. 
 
 
A infra-estrutura, ou a base econômica (mercado), é constituída por 
forças e relações de produção e a superestrutura é composta pelas 
instituições políticas e jurídicas, assim como as formas de pensar, as 
ideologias, as religiões e os valores. A infra-estrutura dá origem à base material 
da sociedade, enquanto a superestrutura abriga as formas ideológicas17 da 
sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 Relação com conceito de ideologia enquanto conjunto de idéias. 
 
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Antes de passarmos para os próximos pontos e compreendermos melhor as 
discussões que se seguem, é necessário definir alguns conceitos importantes 
em todo pensamento marxista: 
- Forças de produção: capacidade de produzir de determinada sociedade, 
relacionada com conhecimentos tecnológicos e científicos, aparelhos técnicos 
e organização do trabalho coletivo (divisão social do trabalho). 
- Relações de produção: são, essencialmente, as relações de propriedade e a 
forma com que a renda é distribuída entre os membros da sociedade. 
- Meios de produção – ferramentas, terra, prédios e maquinários que 
trabalhadores usam para produção dos bens materiais. 
- Modo de produção – combinação das forças produtivas e relações de 
produção entre pessoas numa determinada época – socialismo, capitalismo, 
feudalismo, etc. 
- Revolução (ou período revolucionário): período de crise em que se chocam 
as relações e as forças de produção e que provocam rupturas e 
transformações de alcance global na sociedade. 
 
 
1.3. O motor da história é a contradição entre forças e relações de 
produção. 
 
 
Nesse sentido, usando as palavras de Aron (2004) “a dialética da 
história se constitui pelo movimento das forças produtivas, entrando estas em 
contradição, em certas épocas revolucionárias, com as relações de produção, 
isto é, ao mesmo tempo as relações de propriedade e a distribuição das rendas 
entre os indivíduos ou grupos da coletividade” (ARON, 2004, p. 47). 
 
 
1.4. A luta de classes é resultado da contradição entre as forças e 
relações de produção 
 
 
Em momentos revolucionários, uma classe (conservadora) se apega às 
relações de produção antigas que se tornaram um obstáculo ao 
desenvolvimento das forças produtivas, enquanto uma outra classe 
 
 
 
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(progressista) representa as novas relações de produção que favorecem o 
crescimento dessas forças produtivas. Aplicando essa fórmula ao capitalismo, 
para Marx, a burguesia estaria ligada à propriedade privada dos meios de 
produção e com isso a uma determinada divisão da renda nacional. Enquanto o 
proletariado, pólo oposto da sociedade, defenderia, por exemplo, uma nova 
forma de propriedade dos meios de produção. 
A luta de classes é o tema central do Manifesto Comunista. Segundo 
Marx: “A história de todas as sociedades, até hoje, tem sido a história das lutas 
de classes”. Dessa forma, estariam contrapostas duas classes essenciais: a 
burguesia e o proletariado. A burguesia deteria os meios de produção e 
exploraria a classe proletária para garantir sua manutenção e o processo de 
acumulação capitalista. 
Nesse sentido, a inovação de Marx, segundo ele mesmo, se deu, de 
forma significativa, em sua teoria das classes sociais. Nas palavras do próprio 
Marx: 
“O que eu trouxe de novo foi demonstrar: 1. que a existência das classes 
só vai unida a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção; 
2. que a luta de classes conduz necessariamente, à ditadura do proletariado; 3. 
que esta ditadura, em si mesma, não é mais do que o trânsito para a abolição 
de todas as classes e para uma sociedade sem classes.” 
 
 
1.5. A dialética das forças e relações de produção sugere uma teoria das 
revoluções 
 
 
As revoluções não seriam „acidentes históricos‟ e sim a expressão de 
uma necessidadehistórica, produzidas quando determinadas condições estão 
presentes. As relações de produção capitalistas, por exemplo, se 
desenvolveram dentro da sociedade feudal e de forma semelhante, no interior 
da sociedade capitalista estariam se formando as relações de produção 
socialistas. 
 
 
 
1.6. Existe uma oposição entre realidade social e consciência 
 
 
 
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Além da distinção entre infra-estrutura e superestrutura, Marx também 
opõe a realidade social e a consciência dos indivíduos. Para ele, não é a 
consciência dos indivíduos que determina a realidade e sim a realidade social 
que determina a sua consciência. Nesse sentido, só é possível, em Marx, 
explicar a maneira de pensar dos indivíduos se analisarmos as relações sociais 
nas quais eles estão imersos. 
Através dessa contraposição, Marx se diferencia do pensamento 
hegeliano e assume que as relações existentes na infra-estrutura (base 
material) determinam as relações existentes na superestrutura (mundo das 
idéias) e não o contrário. Em Marx, a existência social é que determina a 
consciência dos indivíduos e suas formas de perceber o mundo. 
 
 
 
1.7. A história da humanidade pode ser dividida em etapas (etapismo) 
 
 
A divisão da sociedade em etapas, para Marx, tem como base os 
diferentes regimes econômicos já existentes. Marx define, então, quatro modos 
de produção: asiático, antigo, feudal e burguês. 
Os quatro modos podem ser divididos, segundo Aron (2004), em dois 
grupos: 
 
 
A. Etapas da história ocidental: modos de produção antigo, feudal e 
burguês. 
 
 
Esses três modos de produção se sucederam na história ocidental e se 
diferenciam através dos tipos de relações existentes entre os indivíduos que 
trabalhavam, ou seja, dos modos de exploração dos indivíduos pelos 
indivíduos: 
 
¾ Modo de produção antigo: escravidão 
 
¾ Modo de produção feudal: servidão 
 
¾ Modo de produção burguês: trabalho assalariado 
 
 
 
 
 
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O modo de produção burguês seria a última formação social antagônica, 
na teoria de Marx, porque o modo de produção socialista, a próxima etapa, não 
comportaria mais a „exploração do homem pelo homem‟, nem a subordinação 
dos trabalhadores manuais a uma classe detentora dos meios de produção e 
do poder político. 
 
 
 
B. Etapas da oriental: modo de produção asiático 
 
 
Definido não pela subordinação de escravos, servos ou assalariados e sim 
pela subordinação de todos os trabalhadores ao Estado. 
 
 
 
1.9. Críticas ao capitalismo e a definição de socialismo 
 
 
O capitalismo, para Marx, pode ser definido por duas contradições. Na 
primeira estão contrapostas forças e relações de produção. A burguesia cria 
constantemente meios de produção mais poderosos e as relações de 
distribuição dos bens não acompanha esse processo. Dessa forma, a miséria 
permanece como condição da maioria a despeito do crescimento da riqueza. 
Dessa divergência entre riqueza e distribuição resulta a segunda contradição 
em que ocorrerá, mais cedo ou mais tarde, uma crise revolucionária em função 
da diferença entre a progressão da riqueza e miséria crescente. Da crise 
revolucionária, virá a tomada da consciência do proletariado enquanto classe e 
tomada de poder que transformará as relações de produção com a ascensão 
do socialismo em que as classes chegarão ao seu fim. Para Marx: 
“A luta de classes vai se inclinar a uma simplificação. Os diferentes 
grupos sociais se polarizam, uns em torno da burguesia, outros em torno do 
proletariado, e é o desenvolvimento das forças produtivas que será o propulsor 
para o movimento histórico, culminando este, por intermédio da proletarização 
e da pauperização, na explosão revolucionária, e no surgimento, pela primeira 
vez na história, de uma sociedade não antagonista” (MARX, K. apud ARON, R., 
 
2004, 53). 
 
 
 
 
 
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Segundo Aron (2004) alguns pressupostos podem ser observados 
apontando a análise presente no Manifesto. Em primeiro lugar, as leis 
econômicas são entendidas como leis históricas que não podem ser 
expandidas para todos os sistemas econômicos, nem podem ser consideradas 
como leis gerais. Dessa forma, Marx busca estabelecer leis que sejam válidas 
para um regime historicamente singular diferentemente da tradição econômica 
clássica inglesa. 
O segundo pressuposto apontado por Aron (2004) é de que o 
capitalismo é uma totalidade histórica e com base nisso precisa ser 
compreendido como um todo. Em terceiro lugar, a injustiça inerente ao 
capitalismo é a causa da sua destruição futura. O antagonismo capitalista se 
configura na exploração incessante dos assalariados e esta será a causa maior 
da destruição do regime capitalista quando a revolução proletária tiver lugar na 
luta de classes. 
A tríade de sustentação do capitalismo poderia, então, ser definida da 
seguinte forma: 
1. Propriedade privada dos meios de produção: a classe burguesa como 
detentora dos instrumentos de produção. 
2. Força de trabalho: os trabalhadores (proletariado), não possuindo nenhum 
meio de produção, venderiam sua força de trabalho no mercado em troca de 
um salário. 
3. Exploração: a classe burguesa e os lucros obtidos através da propriedade de 
máquinas, fábricas, e outros meios de produção, é sustentada pela força de 
trabalho vendida pelos trabalhadores em troca de salários injustos, o que 
determina as formas através das quais a riqueza será distribuída entre a 
burguesia e o proletariado nas sociedades. Dessa forma, o capitalismo 
possuiria um mercado de capital, onde a classe dominante vende e compra 
recursos (capital) que geram lucros e um mercado de trabalho, onde os 
dominados vendem sua força de trabalho. 
 
 
 
2. A passagem para o socialismo 
 
 
 
 
 
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Em função das contradições apontadas por Marx e consideradas por ele 
como inerentes ao capitalismo, o socialismo se apresentaria com a próxima 
etapa na história do conflito entre classes e entre relações e forças de 
produção. Com o aumento da pauperização e da proletarização, uma crise se 
estabeleceria trazendo as condições necessárias para um período 
revolucionário em que o proletariado tomaria o poder das mãos da burguesia e 
estabeleceria um novo regime econômico e político, o dos “proprietários 
associados”, em que a propriedade privada dos meios de produção seria 
abolida e, conseqüentemente, seriam abolidas as classes sociais e a economia 
baseada na exploração dos indivíduos pelos indivíduos. 
A proposta socialista enunciada por Marx gerou muitas críticas e dúvidas 
em torno da forma assumida pelo Estado, pela sociedade e pelo mercado no 
socialismo. É preciso ressaltar que Marx não descreveu de forma exaustiva a 
forma que seria assumida pelo socialismo, entretanto ao longo de suas obras 
podemos observar alguns aspectos descritos por ele que definiriam o regime 
socialista. 
Para Marx, após a revolução, o Estado (a máquina estatal) não seria 
totalmente destruído (muitos críticos de Marx acreditam, equivocadamente, que 
ele propunha a total extinção do Estado já nessa fase), muitas das funções 
administrativas do Estado permaneceriam, agora em poder do proletariado. 
Nesse sentido, num primeiro momento após a revolução, ao invés de ser 
enfraquecido o Estado seriafortalecido através da ditadura revolucionária do 
proletariado, o Estado enquanto Estado de classe desapareceria, mas não 
enquanto instrumento de poder. Num segundo momento, haveria o 
estabelecimento de uma sociedade sem classes, em que a sociedade passaria 
do “reino da necessidade para o reino da liberdade”, haveria a supressão da 
divisão entre cidade e campo e entre o trabalho intelectual e material de forma 
a evitar as desigualdades na distribuição da renda, assim como não haveria 
mais a figura do Estado como aparato da classe dominante para submeter as 
classes dominadas. 
 
 
 
3. Teses da obra “O Capital” 
 
 
 
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As reflexões econômicas de Marx relacionam-se claramente com os 
pressupostos clássicos da economia política inglesa. Seja para criticá-la, 
estabelecer revisões em prol de análises mais sofisticadas, ou mesmo para 
convergir com ela em certas questões, o pensamento econômico de Marx foi, 
em grande medida, influenciado pela produção intelectual dos "economistas 
burgueses". As análises de classes e os questionamentos referentes à Teoria 
do Valor, por exemplo, são pontos importantes tanto nos estudos da economia 
clássica, quanto na obra de Marx. 
 
 
 
3.1. Teoria do Valor 
 
 
As reflexões de Marx quanto ao processo de trabalho levam em 
consideração o caráter transformador dos esforços humanos. O labor humano, 
orientado a um determinado fim, atua sobre determinados objetos, 
transformando-os em produtos, mercadorias. O produto final detém valor de 
uso, derivado da transformação de um material da natureza, então "adaptado 
às necessidades humanas através da mudança de forma". Neste processo, do 
qual participa o esforço humano, o trabalho está incluído àquele objeto sobre o 
qual atuou. As análises de Marx continuam vinculadas às concepções da 
Teoria do Valor Trabalho, essenciais para a compreensão de sua economia 
política. Para Marx, a saída de um valor de uso – o próprio produto – do 
processo de trabalho indica a participação não somente daquilo 
tradicionalmente identificado como insumos da produção, mas também do 
trabalho, assim como de outros valores de uso derivados de produtos 
anteriores, sob a forma de meios de produção. As considerações de Marx 
alimentam forte aspecto político, salientando a situação tensa entre 
empregadores e empregados. Neste sentido, o processo de trabalho é 
analisado também como uma relação de consumo (produtivo) da força de 
trabalho pelo capitalista. O trabalhador está sob controle de seu contratante, ao 
qual pertence seu trabalho. O operário, como "produtor imediato", não é 
 
 
 
 
 
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proprietário do produto de seu labor, o qual pertence àquele que o contratou. 
Tal observação implica considerações políticas relevantes. 
Em sua análise sobre a natureza da mercadoria, Marx também faz 
apontamentos relacionados à natureza e aos diferentes conceitos de valor. 
Para se determinar o valor de um produto, seria necessário se encontrar algo 
comum a todas as mercadorias, que não fosse o próprio preço. Seguindo as 
concepções clássicas, mediante certos ajustes teóricos, Marx indica o trabalho 
como o único elemento comum e comparável entre todas as mercadorias, 
determinando seus respectivos valores de troca. A noção de mercadoria, para 
Marx, seria um importante elemento de entendimento da sociedade capitalista. 
A produção com o objetivo de troca e a natureza social da mercadoria seriam 
elementos importantes para a sua conceitualização nas sociedades 
contemporâneas. 
Ao buscar refletir sobre a natureza do valor das coisas, Marx defronta-se 
com os mesmos problemas de seus antecessores. Adam Smith, por exemplo, 
nunca formulou uma teoria do valor-trabalho com plena coerência, enfrentando 
problemas lógicos em seus enunciados. As formulações de Marx, visando a 
solução do problema de como "medir" o trabalho realizado em diferentes 
atividades, para se determinar valores de troca, também possuem limitações 
importantes. A sua contraposição entre trabalho útil (trabalho qualificado para 
se produzir mercadorias determinadas, não sendo passível de comparação) e 
trabalho abstrato (decomposição do trabalho útil em partículas de trabalho, em 
horas dedicadas, por meio de unidades de esforço humano) baseia-se em 
conceitos amplos e pouco operacionais. "Substância criadora de valor", 
"trabalho humano homogêneo", "condições de produção socialmente normais" 
e "grau social médio de destreza" são termos apontados – mas não tão bem 
definidos – por Marx para construir sua teoria do valor. As críticas à Teoria do 
Valor-Trabalho, em sentido amplo, levarão ao posterior abandono de seus 
postulados em favor de análises que focalizarão a dinâmica da formação 
conjuntural dos preços, com base em critérios de Utilidade. Tais formulações 
encontrarão corpo em autores da chamada escola neoclássica, ainda hoje 
importante influenciadora do pensamento microeconômico. 
 
 
 
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3.2. Definição de mercadoria 
 
 
 
A mercadoria, para Marx, é derivada de um processo de trabalho 
 
(processo de produzir valor de uso) e, ao mesmo tempo, de um processo de 
"produzir valor". Neste aspecto, a quantidade necessária à produção da 
mercadoria é importante para se entender, sob a ótica de Marx, o processo de 
produção da mais-valia. Mais uma vez, em suas considerações quanto aos 
esforços humanos e o valor das mercadorias, Marx faz uso de seu conceito de 
"trabalho social médio". Tal abstração conceitual é importante na produção 
teórica deste filósofo alemão, uma vez que a noção de quantidade temporal de 
trabalho invertida vincula-se à idéia do próprio valor das mercadorias. Porém, 
tal conceito continua pouco preciso, do que Marx se vale quando se trata de 
explicar que tipo e qual a quantidade de trabalho pode ser considerada como 
"partícula mínima" de esforço laboral, para fins comparação do valor entre as 
mercadorias. 
O caráter de fetiche da mercadoria é outra importante contribuição de 
Marx ao entendimento do processo de produção em sociedades capitalistas. A 
interação das trocas nos diversos mercados e o próprio processo de produção 
contribuiriam para a visão da mercadoria como elemento dotado de 
propriedades intrínsecas, definidoras de seu valor de troca. Tal dinâmica 
imporia um "caráter místico" à mercadoria, escondendo a natureza social da 
mesma, resultante de sucessivos processos de trabalho cristalizado e alienado. 
 
 
 
3.3. Definição da mais-valia 
 
 
Elemento importante na produção de Marx se vincula à idéia de 
remuneração da força de trabalho. A sucessão de esforços humanos é 
elemento determinante, como visto, para se determinar o valor das 
mercadorias. Todavia, como também já observado, o processo de produção é 
fortemente influenciado pelo controle capitalista, responsável pela remuneração 
do labor. Neste ponto, abre-se a oportunidade de ganhos no processo de 
 
 
 
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produção, onde a mais-valia se realiza. A mais-valia seria, portanto, a diferença 
entre aquele valor que o operário produz e aquele que ele recebe efetivamente, 
sob a forma de salário. Tal diferença seria apropriada pelo empreendedor 
capitalista, sob a forma de ganhos no processo produtivo, configurando uma

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