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DRGE E DOENÇAS ÁCIDO-PÉPTICAS: CLÍNICA E TRATAMENTO DRGE Afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, acarretando um espectro variável de sintomas/sinais esofagianos/extra-esofagianos, associados ou não a lesões teciduais. A mucosa gástrica é preparada para lidar com as características ácidas do suco gástrico. DRGE não se inicia devido a hiperacidez gástrica. Na transição esôfago-estômago, temos uma estrutura que existe para bloquear/reduzir a níveis mínimos o refluxo de conteúdo gástrico/duodenal para o esôfago, porém ocorrem falhas nesse mecanismo com frequência. Epidemiologia 12-20% população urbana brasileira, o que corresponde a 20-36 milhões de pessoas com DRGE. 66% relatam pirose no passado ou atual; 20% pirose retroesternal; 12% pirose 1 ou mais vezes/semana. Principais barreiras e fatores de proteção Quando as barreiras de proteção se encontram vulneráveis → aumento do refluxo. Ângulo de Hiss é um ângulo agudo que gera uma dificuldade no retorno do conteúdo gástrico. O EEI, presente na porção terminal do esôfago, é uma região muscular mais desenvolvida com contração tônica que mantém o nível de pressão distinto nessa região. A saliva vai limpando resíduos que possam se fazer presentes no esôfago. O esvaziamento gástrico no tempo adequado reduz a tendência de refluxo gástrico. O diafragma se fixa num ponto específico ajudando a formar um estreitamento e reduzir a chance do conteúdo gástrico retornar. Normalmente pensam que tomar café aumenta acidez do estômago causando azia, quando na verdade a xantina presente no café relaxa o EEI → causando refluxo e, consequentemente, pirose. Causa mais comum Hérnia hiatal: ocorre um relaxamento diafragmático (ele abre um pouco) e um pedaço do estômago sobe para o interior da caixa torácica, empurrando o EEI, perdendo sua estrutura valvar que bloqueava o refluxo do conteúdo gástrico. As hérnias, mesmo pequenas, podem fomentar refluxos muito intensos, incomodativos e de difícil tratamento. Fatores que favorecem o DRGE Inspiração forçada fazem alterações pressóricas que facilitam o refluxo por aumento de pressão intra-abdominal, levando a expiração forçada (tosse), além do excesso de alimento. Problema principal: relaxamentos transitórios e prolongados do EEI, não a hipersecreção de HCl (ainda que o sintoma seja principalmente por ele causado). A presença de ácido é fundamental para a ocorrência de sintomas e desenvolvimento de lesões. O ataque ácido enfraquece as junções celulares conduzindo ao alargamento dos espaços intercelulares com penetração adicional de HCl-. Ao reduzir a hiperacidez do estômago, quando o líquido reflui, tem menor impacto e agressividade no esôfago → diminui as chances de lesões. Diagnóstico É baseado na sintomatologia e exames (cuidado com os falsos negativos – uma EDA normal não descarta diagnóstico – 70% são normais). Sintomas típicos: pirose, regurgitação, dor torácica (Heartburn – era considerado sintoma atípico) Sintomas atípicos: extra-esofágicos, respiratórios principalmente (tosse, pneumonia de repetição, asma/bronquite, distúrbios do sono); esofágicas (dor torácica não cardíaca, disfagia, globus); ORL (rouquidão, pigarro, laringite crônica, sinusite crônica, otalgia); dentárias (desgaste do esmalte, halitose). Exames Endoscopia digestiva alta (esofagite erosiva x esofagite não erosiva), pHmetria 24 horas, impedanciopHmetria. Comorbidades Em 600 pacientes pesquisados, observou-se grande proporção de comorbidades (mais de 60%), incluindo obesidade, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, diabetes e artrose. Perfil clínico: adulto (>15 anos), tosse seca ou produtiva por pelo menos 2 meses, imunocompetente, rx de tórax normal ou quase normal, não tabagista e não exposto a irritantes ambientais, não usa IECA → possivelmente a causa para a tosse crônica: síndrome de gotejamento pós-nasal, asma, bronquite eosinofílica não-asmática, DRGE. Diagnóstico: exames Indicações de investigação: pirose frequente (>2x/semana por +- 4-8 semanas), sintomas de alarme (disfagia, odinofagia, sangramento gastrintestinal, emagrecimento, anemia), ausência de resposta ao tratamento clínico. Radiografia contrastada do esôfago, estomago e duodeno: ▪ Indicação: anormalidades anatômicas, congênitas ou adquiridas (hérnia de hiato) ▪ Baixo custo e fácil execução ▪ Baixa sensibilidade Cintilografia gastroesofágica: ▪ Indicação: lactentes (tosse intensa a noite, piora depois da amamentação, as vezes tem regurgitação, come e se deita piora), observar RGE após dieta pH neutro ▪ Baixo custo e fácil execução ▪ Baixa sensibilidade para RGE pós-prandial tardio ▪ Período de observação curto pHmetria: ▪ Vantagem: período de observação longo, diferencia o RGE fisiológico do patológico, estabelece relação temporal entre refluxo e sintomas clínicos. ▪ Sensibilidade 87-93%. Especificidade 93-97% ▪ Indicações: sintomas extra-digestivos da DRGE, pesquisa de RGE oculto, avaliação da resposta ao tratamento clínico (esôfago de Barret ou DRGE de difícil controle), avaliação pré e pós-operatória da cirurgia anti-RGE. Impedanciometria intraluminal ▪ Detecta movimento retrógrado de fluidos e de ar no esôfago (qualquer nível e quantidade). ▪ Vantagens: (pHmetria) monitora quantidade e qualidade do material refluído Manometria esofágica → determinar necessidade de fundoplicatura ▪ Avalia o estado motor do EEI e corpo do esôfago; localização do EEI para posterior realização da pHmetria. ▪ Indicação: cirúrgica (determinar fundoplicatura parcial nos casos de hipotonia do esôfago) Teste de Bernstein modificado ▪ Reprodução dos sintomas até 30 min de infusão de HCl, sela a relação do material ácido e os sintomas. Praticamente não é feito. Endoscopia digestiva alta com biópsia: ▪ Avaliação macroscópica da mucosa gástrica possibilita a coleta para material histopatológico → complicações esofágias (esofagite, estenose péptica e esôfago de Barret). ▪ Não é usada no sentido de estabelecer diagnóstico e sim, avaliar o risco de potenciais complicações/lesões adicionais, de natureza mais grave que possam estar presentes. Apresentação endoscópica DRGE não-erosiva: presença de sintomas associados ao refluxo gastresofágico com ausência de erosões ao exame endoscópico. Forma mais frequente: 60-70%. DRGE erosiva: presença de sintomas associados ao refluxo gastresofágico com presença de erosões ao exame endoscópico. Forma menos frequente: 30-40%. DRGE com e sem esofagite: sintomas são semelhantes. Não tem impacto sobre a manifestação clínica. Impacto na qualidade de vida: grande impacto na qualidade de vida e aspecto socioeconômico, perda de produtividade no trabalho. 79% dos pacientes se queixavam de sintomas noturnos: 75% referiam que eles interferiam em seu sono; 40% informavam que prejudicava na habilidade de exercer as suas funções habituais no dia seguinte. MEDIDAS COMPORTAMENTAIS ▪ Elevação da cabeceira da cama (cerca de 15 cm); ▪ Moderação na ingestão de certos alimentos: gordurosos, cítricos, café, bebidas alcóolicas, bebidas gasosas, menta, hortelã, tomate e derivados, chocolate. ▪ Evitar refeições copiosas ▪ Evitar deita-se nas 2 horas após as refeições ▪ Redução drástica ou suspensão do tabagismo ▪ Redução do peso corporal: sobrepeso, obesidade ▪ Cuidados especiais para medicamentos potencialmente “de risco”: anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores de canais de cálcio, agonistas beta adrenérgicos, alendronato. MEDIDAS FARMACOLÓGICAS Objetivos: alívio de sintomas, cicatrização rápida, evitar recidivas/complicações, esquema posológico simples, segurança. Escalonamento inicial: ▪ Estágio I: medidas comportamentais + antiácidos e/ou H2Ras (bloqueador dereceptor histaminérgico do tipo 2) ▪ Estágio II: além das mudanças no estilo de vida, terapia intensiva com inibidores de bombas protônicas; ocasionalmente pode manter o H2RA e associar também procinético ▪ Estágio III: cirurgia videolaparoscópica, endoscopia, inibidor de bomba protônica Procinéticos Drogas empregadas nos distúrbios motores do TGI em especial DRGE e gastroparesias. Melhorar empachamento, antieméticos. Metoclopramida (Plasil), Bromoprida (Digesan), Domperidona (menor permeabilidade à BHE, possível uso a longo prazo – medicamento de escolha no DRGE). Eritromicina, Azitromicina: macrolídeos com atividade procinética. Não são utilizadas com esse objetivo. Estimula motilina, aumentando atividade do músculo liso. Mecanismo de ação: são bloqueadores dopaminérgicos (bloqueiam receptores D2 da dopamina) → estimulando liberação de acetilcolina no plexo mioentérico → ação procintética: ↑ tônus do esfíncter cárdico (evita refluxo), ↑ atividade motora gástrica (favorece o esvaziamento e pode ↑ ou ↓ a biodisponibilidade de outros fármacos) + eficaz ação antiemética. Não alteram secreções digestivas. Dose plena 3x ao dia 30 min antes das refeições. Efeitos adversos: em altas doses podem causar reações distônicas (tipo extrapiramidal); convulsão em RN; hiperprolactinemia; galactorreia; ginecomastia; diarreia; sonolência; ↑ secreção de catecolaminas (feocromocitoma). Interações farmacológicas: parassimpaticolíticos e hipnoanalgésicos inibem seus efeitos no sistema digestivo; efeitos sinérgicos (potencializa efeitos sedativos do álcool, ansiolíticos, hipnóticos); diminui taxa de absorção de drogas que são absorvidas no estômago; acelera absorção de drogas que são absorvidas no intestino. Indicações: gastroparesias diabética, pós-vagotomizados, esofagite péptica, outras desordens no esvaziamento gástrico. Atuam na base do distúrbio sem alterar no pH do estômago, associados aos medicamentos que reduzem acidez gástrica. Antiácidos Neutralizam o pH reduzido do estômago ao reagirem com o HCl para formar sal e água, determinando alívio dos sintomas dispépticos. ▪ Hidróxido de alumínio ▪ Hidróxido de magnésio ▪ Bicarbonato de sódio ▪ Carbonato de cálcio Indicações clínicas: ▪ Dispepsia: administração oral, 1 a 3 horas após alimentação e ao deitar-se ▪ Dispepsia correlacionada com DRGE: administração a cada 30-60 minutos. Únicos medicamentos que proporcionam alívio imediato dos sintomas. Suspensão apresenta uma maior capacidade de neutralização que comprimidos mastigáveis. Efeitos adversos: ▪ Bicarbonato de sódio: absorção sistêmica, alteração pH – alcalose, edema, hipertensão, liberação de CO2 – náuseas, distensão abdominal, flatulência → EVITAR ▪ Carbonato de cálcio: absorção sistêmica: hipercalcemia, aumento da secreção de gastrina – rebote ácido, liberação de CO2 – náuseas, distensão abdominal, flatulência ▪ Hidróxido de alumínio: relaxamento do esvaziamento gástrico e constipação, aumento do fosfato TGI – hipofosfatemia; insuficiência renal – acúmulo de Al+++ -, osteoporose, encefalopatia e miopatia. ▪ Hidróxido de magnésio: diarreia, hipermagnesemia. Os hidróxidos de alumínio e magnésio são os mais rotineiramente utilizados. Hidróxido de Alumínio é constipante, enquanto Hidróxido de Magnésio é laxante (a maioria das preparações associa os dois). Se forem tomados com o estômago vazio, eles rapidamente deixam local e são efetivos por pouco tempo. Se tomados junto às refeições podem prejudicar a digestão. Tomar após 1h das refeições → aumenta duração do efeito (2-3h). Tomar sempre antes de dormir. Interações medicamentosas: antiácidos alteram o pH gástrico e da urina, podendo interagir com diversos fármacos (hormônios tireoidianos, alopurinol, antifúngicos imidazolidínicos) por modificação da dissolução e absorção, biodisponibilidade e eliminação renal. Antiácidos contendo Al e Mg são agentes quelantes. Antiácidos devem ser administrados 2 horas antes ou após a administração de outros fármacos. Anti-histamínicos H2 Cimetidina, Ranitidina, Famotidina, Nizatidina. Mecanismo de ação: antagonismo competitivo H2. Principais ações: bloqueia a secreção de ácido clorídrico, mais efetivos na secreção basal e menos na secreção induzida por alimentos, hipoglicemia e estímulos vagais. Particularmente eficazes em inibir a secreção noturna de HCl; promovem cura da úlcera péptica e duodenal em 75-80% dos pacientes em 8 semanas. Farmacocinética: rápida absorção por via oral, podem ser usados por via venosa, pequeno percentual se liga as proteínas do plasma, de 10- 35% de uma dose sofre metabolismo hepático; excreção renal. Primeira droga para tratar refluxo leve; droga usada no step down; no paciente refratário pode suplementar o inibidor de bomba de prótons na administração noturna. Reações adversas da Cimetidina: inibe o citocromo P450 (potencializa as ações de hidroxicumarina, fenitoina, propranolol, Diazepam, teofilina, carbamazepina, tricíclicos); produz efeitos antiandrogênicos reversíveis (ginecomastia nos homens e galactorreia nas mulheres; diminuição da libido e impotência nos homens); candidíase por redução da acidez gástrica. Ranitidina, Nizatidina e Famotidina: atuam como a cimetidina. Vantagens: isentos de efeitos antiandrogênicos e não interferem com o citocromo P450. Indicações clínicas: tratamento a curto prazo e profilático (úlcera ativa duodenal, úlcera gástrica), estados hipersecretórios; terapia do DRGE. Inibidor de bombas de prótons (IBP) Mecanismo de ação altamente seletivo. Inibe a secreção de H+ ao ligar-se covalentemente a enzima H+, K+ATPase de modo irreversível. Ação dose-dependente. Propriedades: inibe tanto a secreção basal (menos efeitos que bloqueadores H2) quanto a estimulada independentemente do estímulo. Mais eficaz do que os antagonistas H2. O início de ação é rápido e duração de efeito prolongada (dias). Atenção: antes de iniciar o tratamento afastar a possibilidade de câncer gástrico; pode mascarar também esofagite eosinofílica. Reações adversas do Omeprazol: bem tolerado, reações adversas são geralmente leves e reversíveis. Casos isolados de fotossensibilidade, eritema, alopecia, artralgia, fraqueza e mialgia. Efeitos centrais: cefaleia e mais raramente tonturas e sonolência e isoladamente, confusão mental, depressão, agitação e alucinação. Encefalopatia em pacientes com insuficiência hepática grave pré-existente. Endócrinos: isoladamente ginecomastias. Hipomagnesemia? Acentuação de osteoporose (a longo prazo pode reduzir massa óssea → todo paciente com idade avançada deve ser acompanhado para osteoporose, então não se sabe se tem algum significado clínico). Interações: de um modo geral o omeprazol não exerce interações com a maioria dos medicamentos e alimentos. Reduz a atividade do citocromo P450, prolonga o tempo de ação de alguns fármacos. Os pacientes devem ser monitorizados e a posologia a princípio reduzida. Pantoprazol Magnésico pode ser ingerido fora das refeições, tendo meia-vida e potência muito maiores se comparado ao Pantoprazol comum. Além disso, oferece melhor custo-benefício entre Rabeprazol e Esomeprazol Escalonamento: Omeprazol → Pantoprazol, Lansoprazol (custo relativamente baixo, efetividade razoável) → Rabeprazol, Esomeprazol, Pantoprazol Magnésico (mais potentes e efetivos, meia- vida maior, capacidade inibitória maior) Esomeprazol: apesar de não estar liberado em bula, é o medicamento com mais experimentação em gestantes. Foi identificado como um potencial medicamento útil para diminuir a replicação viral de qualquer vírus → redução da penetração viral das células. Dexlanzoprazol: congênere mais recente lançado no Brasil. Dose única diária (30 ou 60mg). Absorção não é alterada com alimentos. Custo mais elevado. Indicações: estados patológicosda secreção de HCl; tratamento de úlceras gástricas e duodenais aguda e crônicas; esofagites – DRGE; síndrome de Zollinger-Ellison. Vonoprazan: antagonista que compete diretamente com o potássio na hidrogênio- potássio ATPase. Esse medicamento atua em qualquer meio, qualquer pH → bloqueia diretamente, competindo com o K Os ensaios mostram velocidade mais rápida de resposta clínica, tanto de melhora quanto resolução em pacientes com esofagite não-erosiva e esofagite erosiva. Demonstrou também melhora de sintomas de dor epigástrica e desconforto pós-prandial. Fez com que o paciente demorasse mais tempo a apresentar episódios de heartburn. Diminuiu a incidência de resangramento pós- procedimento logo nos primeiros dias e eliminou o sangramento mais precocemente → cicatrização da mucosa gástrica mais acelerado. CONDUTA TERAPÊUTICA Estágio I: pirose esporádica não complicada, frequentemente associada a fatores precipitantes conhecidos. Em geral não é queixa principal. Menos de 2-3 vezes/semana → Modificar estilo de vida (dieta, alterações posturais, perda de peso) + Antiácidos e/ou Antagonistas H2 Estágio II: sintomas frequentes com ou sem esofagite. Mais de 2-3 episódios semanais → Inibidores da bomba de prótons são mais eficazes do que os antagonistas H2 Estágio III: sintomas crônicos e incessantes; com recidiva imediata sem tratamento. Complicações esofágicas (estenose – metaplasia de Barret) → cirurgia? (alertar o paciente que muitas vezes a cirurgia fracassa) + Inibidores da bomba de prótons 1-2x/dia (dose dobrada) → pode associar antagonista H2 noturno ou o Vonoprazan que entra como alternativa ao IBP Tratamento cirúrgico Objetivos: reestabelecer competência do esfíncter. Fundoplicatura de Nissen (mais frequente). Indicações: pacientes que não respondem ao tratamento medicamentoso; complicações graves (apneia, esofagite erosiva grave). OUTROS MEDICAMENTOS Citoprotetores Potencializam os mecanismos de defesa ou formam uma barreira protetora. Sucralfato + HCl em pH <4 torna a molécula mais aniônica que sofre intensa polimerização formando um gel muito viscoso que adere a área ulcerada. Protege a mucosa do ataque por HCl e pepsina: se liga as proteínas da superfície celular → liga H+ → liga pepsina e sais biliares → suprime o crescimento da H. pylori. Reações adversas: constipação e boca seca. Só é ativo por via oral. Muito pouco absorvido. Excretado pelas fezes. Apresenta taxas de cura comparáveis à Cimetidina. Diminui a absorção de substâncias: quinolona, teofilina, tetraciclinas, digoxina, amitriptilina, ciprofloxacina. Não deve ser ingerido com antiácidos ou bloqueadores H2. Algumas vezes é usado para tratar úlceras na boca ou no cólon. Indicações: úlceras gástricas; DRGE; profilaxia da úlcera de estresse; colite (empregado como enema); úlceras na cavidade oral e esofagiana. Bismuto coloidal Utilizado em esquemas de combinação no tratamento de infecção por H. pylori na úlcera péptica, pois produz efeito tóxico para o bacilo. Impede sua aderência à mucosa. Inibe suas enzimas proteolíticas. Admite-se também que proteja a mucosa por revestir a úlcera, adsorver pepsina, aumentar síntese de PGI e estimular secreção de bicarbonato. Muito utilizado nos EUA para tratamento de doença associada a H. pylori. ÚLCERA PÉPTICA Papel do H. pylori: bactéria gram-negativa espiralada que coloniza apenas a mucosa gástrica com grande afinidade pelas células produtoras de muco localizadas no antro gástrico. Com o passar do tempo, pode migrar para regiões mais proximais do estômago. Produz urease, que é uma enzima capaz de produzir um meio alcalino protetor em volta do bacilo. H. pylori diminui a secreção de somatostatina; pode ser fator que favorece o desenvolvimento de câncer gástrico (adenocarcinoma gástrico e linfoma gástrico); sua erradicação racional – promove cura e reduz recorrências. Forte indicação para tratar: úlcera péptica (ativa, cicatrizada, complicada); linfomas tipo MALT de baixo grau; dispepsia funcional; dispepsia não investigada (“test and treat”); quem vai iniciar o uso de AINEs por longo tempo. Indicações aceitáveis: após ressecção de adenocarcinoma gástrico; gastrite atrófica; parentes de primeiro grau de pacientes com câncer gástrico; tratamento de longo prazo com IBPs; forte desejo de ser tratado. Indicações “definidas”: úlcera péptica, maltomas de baixo grau, dispepsia não investigada (“test and treat”), pós-ressecção de câncer gástrico precoce. Indicações “discutíveis”: dispepsia funcional, atrofia e metaplasia gástrica, parentes de pacientes com adenocarcinoma gástrico, anemia ferropriva sem outra causa definida. Indicações: úlcera gastroduodenal ativa/cicatrizada, linfoma MALT de baixo grau, pós-cirurgia/ressecção endoscópica de câncer gástrico, gastrite histológica intensa. Outras situações: pacientes de risco para UP antes do uso de AAS/AINEs, pacientes de risco para câncer gástrico. Esquemas mais utilizados no Brasil – 7, 10 ou 14 dias PRIMEIRA ESCOLHA Omeprazol (ou outro IBP) + 20mg/dia Claritromicina + 500mg 12/12h Amoxicilina 1g 12/12h SEGUNDA ESCOLHA Omeprazol (ou outro IBP) + 20mg/dia Claritromicina + 500mg 12/12h Furazolidona 200mg 8/8h TERCEIRA ESCOLHA Omeprazol (ou outro IBP) + 20mg/dia Tetraciclina + 500mg 6/6h Furazolidona 200mg 8/8h Falhas na erradicação: efeitos colaterais (diarreia com ATB longo prazo), baixa adesão ao tratamento, resistência bacteriana, esquemas terapêuticos ineficazes, tempo de tratamento, tipo de doença associada ao H. pylori (úlcera x dispepsia funcional) – úlcera responde melhor ao tratamento, parece ter mais associação à bactéria. Após falência de um dos tratamentos iniciais propostos pelo Consenso, recomenda-se mais duas tentativas de tratamento, com duração, de 10 a 14 dias, não se repetindo ou estendendo o esquema inicial. Os esquemas a serem utilizados dependem do tratamento inicial: Se foi utilizado IBP + Amox + Claritro OU IBP + Fura + Claritro: ▪ Primeira opção: IBP (dose plena) bid + sal de bismuto 240mg bid + Furazolidona 200mg bid + Amoxicilina 1g bid (podendo ser substituída pela tetraciclina) ▪ Segunda opção: IBP (dose plena) bid + Levofloxacina 500mg uid + Amoxicilina 1g big (podendo ser substituída por Furazolidona 400mg uid) Se o esquema inicial foi IBP + Fura + Tetra: ▪ Primeira opção: IBP (dose plena) bid + Amoxicilina 1g bid + Claritromicina 500mg bid ▪ Segunda opção: IBP (dose plena) bid + Furazolidona 200mg bid + Sal de Bismuto 240mg bid + Amoxicilina bid (podendo ser substituído por Tetraciclina). Fatores importantes: alguns consensos autorizam o tratamento por 7 dias, outros não; grande resistência do Hp na América do Sul; após erradicação do Hp a chance de recidiva cai de 60-70% para menos de 10% em relação a úlceras.
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