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Diversos tipos de inferência: as pressuposições e as implicaturas.
Até agora aprofundamos as inferências lógicas. Agora vamos ver dois tipos diferentes de inferência: as pressuposições e, mais brevemente, as implicaturas conversacionais, que são aprofundadas na disciplina de pragmática. 
As pressuposições
Já introduzimos rapidamente o conceito de pressuposição para mostrar como esse tipo de inferência se diferencia de uma inferência lógica. Dissemos que, mesmo se aparentemente os dois tipos de inferência parecem ambos necessários, a inferência lógica constitui uma explicitação das condições de verdade já presentes na(s) premissa(s), enquanto isso não acontece na pressuposição. Dissemos também que a necessidade da inferência lógica, dadas certas premissas, se manifesta em qualquer contexto, e antecipamos que as pressuposições constituem um tipo de inferência que é sensível ao contexto, mesmo se, a nível de sentença, essa sensibilidade pode não ser evidente. Explicamos também que as pressuposições dependem, ou seja, são ativadas, a partir de uma determinada forma linguística, seja de natureza morfossintática, seja de natureza lexical. Aqui aprofundaremos o tema da pressuposição, tanto descrevendo seus mecanismos e mostrando alguns de seus principais ativadores, quanto analisando como elas podem ser utilizadas para veicular a transmissão da informação nas interações linguísticas.
Ao longo da exposição o leitor poderá observar como certas pressuposições parecem mais fortes do que outras, ou seja, como certos ativadores parecem gerar inferências menos sensíveis ao contexto, enquanto outros ativadores parecem gerar pressuposições mais facilmente destrutíveis com base em elementos contextuais. Inclusive, o mesmo tipo de ativador pressuposicional pode interagir com outros aspetos da estrutura linguística que podem enfraquecer ou cancelar a pressuposição. Nesse sentido, as pressuposições podem ser consideradas como uma família de inferências, em que cada indivíduo (ou seja, cada tipo de inferência desencadeada por um ativador específico) se manifesta com efeitos diferentes. 
Primeiro exporemos as pressuposições de natureza mais convencionalizada, ou seja, aquelas desencadeadas por expressões e estruturas linguísticas específicas. Depois problematizaremos o conceito de pressuposição.
5.1. Como se reconhece uma pressuposição
Tradicionalmente as pressuposições são distintas de outros tipos de inferências como aquelas inferências que resistem a alguns testes, os principais dos quais são a negação e a interrogação. Em 
(1) João parou de fumar
parece necessário pressupor que João fumava. Mas se negamos essa asserção com (2)
(2) João não parou de fumar
continua se mantendo a mesma pressuposição de que João fumava. E o mesmo acontece se perguntamos
(3) João parou de fumar?
Os exemplos (1)-(3) possuem três condições de verdade diferentes, sendo que aquelas de (1) e (2) são opostas, ou seja, as condições de verdade delas se excluem. Não pode ser verdade contemporaneamente (1) e (2). Mas apesar disso, em ambos os casos a pressuposição de que João fumava é uma inferência forte, se não necessária.
Portanto, para identificar se uma inferência constitui uma pressuposição (e não outro tipo de inferência) podemos negar (ou transformar em interrogativa) a asserção que a gera e ver se a mesma inferência se mantém. Em caso afirmativo, se trata de uma pressuposição. Em caso negativo se trata de outro tipo de inferência.
Um outro teste interessante é a modalização (sobre o conceito de modalidade, veja-se o módulo 3). De fato, as pressuposições resistem à modalização, enquanto as inferências lógicas não, como mostram os exemplos (7) e (8):
(4) O professor de matemática reprovou três alunos
A partir de (4) podemos dizer que (5) é uma pressuposição e (6) é uma inferência lógica:
(5) Existe um professor de matemática
(6) O professor de matemática reprovou dois alunos
Se (4) for modalizada, por exemplo em (7) ou (8), a pressuposição continua presente enquanto a inferência lógica não
(7) É possível que o professor de matemática tenha reprovado três alunos
(8) O professor de matemática deveria ter reprovado três alunos
Outros testes que mostram como as pressuposições se mantêm, contrariamente às inferências lógicas, são os contextos disjuntivo e hipotético (mas há circunstâncias em que as pressuposições não se mantêm):
(9) ou o professor de matemática reprovou três alunos, ou deu uma prova que permitisse a ele de alcançar a média para passar
(10) se o professor de matemática reprovou três alunos, então eles deverão repetir o ano
5.2. Ativadores pressuposicionais
Levinson (1983 [2007]) lista, com base em Karttunen, uma série de ativadores pressuposicionais que é importante conhecer, sem a pretensão de exaurir a lista possível. Nós retomamos aqui parte dessa lista com alguma integração.
As descrições definidas
(11) João viu o cachorro / João não viu o cachorro
Em (11), tanto a versão afirmativa quanto a versão negada da sentença ativam a pressuposição de que há um cachorro.
Ao contrário, em (12) não podemos pressupor que há um cachorro
(12) João não viu um cachorro
Portanto a pressuposição da existência do cachorro em (11) é ativada pelo artigo definido. O artigo indefinido não ativa nenhuma pressuposição de existência. De fato, utilizando um artigo indefinido na forma afirmativa se assere (não se pressupõe) a existência do cachorro, ou seja a inferência de que há um cachorro é de natureza lógica, e portanto não resiste ao teste de negação nem ao teste da interrogação; negando a asserção a existência do cachorro não se mantém como pressuposta.
Verbos factivos
São chamados de verbos factivos aqueles verbos que pressupõem a verdade da subordinada por eles regida:
(13) Luis lamenta por ter gritado durante o jantar / Luis não lamenta por ter gritado durante o jantar
Em ambos os casos, na versão afirmativa e na negativa de (13) está pressuposto que é verdade que Luis gritou durante o jantar. Os verbos ou outros predicados factivos são vários: estar triste por / não estar triste por; se dar conta de / não se dar conta de; saber que / não saber que; ter consciência de / não ter consciência de; etc.
Se observe que as pressuposições de alguns verbos factivos são sensíveis à pessoa verbal. Tomamos o caso da forma negativa do verbo saber. Nos enunciados você não sabe que Luis chegou ou Ele não sabe que Luis chegou, a pressuposição que Luis chegou é ativada. Mas não se pode dizer Eu não sei que Luis chegou, porque se nega o fato que o falante saiba o que ele afirma, gerando uma contradição.
Verbos implicativos
Os verbos implicativos são aqueles predicados que pressupõem outros predicados. Por exemplos (14) pressupõe (15)
(14) Massa conseguiu correr com a Ferrari / Massa não conseguiu correr com a Ferrari
(15) Massa tentou correr com a Ferrari
Outros exemplos de predicados implicativos são (16), que pressupõe (17); (18), que pressupõe (19); (20), que pressupõe (21): 
(16) O professor esqueceu de dar a prova / O professor não esqueceu de dar a prova
(17) O professor deveria ter dado a prova
(18) Ao Marcos aconteceu de fazer um acidente / Ao Marcos não aconteceu de fazer um acidente
(19) Não era esperado que Marcos fizesse um acidente
(20) Marcos evitou de fazer um acidente / Marcos não evitou de fazer um acidente
(21) Era esperado que Marcos fizesse um acidente
A impressão aqui é que a pressuposição ativada em (18) e (20) seja mais fraca do que aquela ativada em (14) e (16).
Verbos de mudança de estado
São aqueles predicados (como o exemplo (1)) em que a mudança de estado ou a sua negação pressupõem que antes o estado era outro: 
(22) João começou a beber / João não começou a beber
pressupõe que João antes bebia.
(23) João entrou / João não entrou
pressupõe que João estava fora.
Outros predicados dessa natureza são: continuar a / não continuar a; partir / não partir; acordar / não acordar; chegar / não chegar; etc.
Expressões iterativas
(24) Maria nos convidou novamente pra jantar / Maria não nos convidou novamente pra jantarEm (24) a expressão novamente ativa a pressuposição de que Maria já havia nos convidado pra jantar anteriormente. Isso acontece tanto afirmando quanto negando a asserção. Existem diversas expressões que ativam a mesma pressuposição de que o conteúdo da asserção já havia se verificado anteriormente. É o caso dos verbos que incorporam o prefixo iterativo re-, como repetir, retornar, reescrever, reafirmar, etc. E é o caso também de outras expressões como mais uma vez, uma outra vez, pela enésima vez, de novo, etc.
Verbos de julgamento
(25) Alan criticou Ana por ter saído / Alan não criticou Ana por ter saído.
Em (25) é possível afirmar que o uso de um verbo como criticar pressupõe que o falante acha ruim o conteúdo da subordinada. A pressuposição, nesse caso, se refere a um julgamento que o sujeito possui sobre o conteúdo da subordinada.
Outras expressões dessa natureza são acusar, elogiar, parabenizar, etc.
Expressões temporais
(26) Antes que o ladrão entrasse, Maria avisou a polícia / Antes que o ladrão entrasse, Maria não avisou a polícia.
(26) pressupõe que o ladrão entrou.
(27) Enquanto Saussure fundava a linguística sincrônica, o resto dos linguistas se preocupava com assuntos históricos / Enquanto Saussure fundava a linguística sincrônica, o resto dos linguistas não se preocupava com assuntos históricos.
Em (27) se pressupõe que Saussure fundou a linguística sincrônica.
(28) Desde que Marcos foi embora falta um bom mecânico no bairro / Desde que Marcos foi embora não falta um bom mecânico no bairro.
Em (28) se pressupõe que Marcos foi embora.
Outros elementos de natureza temporal que desencadeiam pressuposições são quando, durante, depois, no momento em que, etc.
Se observe que o tempo verbal parece ter efeito sobre a força da pressuposição. Se comparem (29) e (30)
(29) Depois que você terá se formado faremos uma festa / Depois que você terá se formado não faremos uma festa.
(30) Depois que você se formou fizemos uma festa / Depois que você se formou não fizemos uma festa.
Em (29) a pressuposição de que você vai se formar parece muito mais fraca do que aquela que você se formou em (30).
As construções clivadas e pseudo-clivadas
A construção clivada mais típica se obtém emoldurando um sintagma entre o verbo ser conjugado e o que (nesse caso não se trata nem de um uso relativo nem de um complementador). Se partimos de uma sentença como
(31) Carlos comeu a torta com as mãos
Podemos formar diferentes clivadas dependendo do sintagma isolado na moldura ser...que:
(31a) Foi Carlos que comeu a torta com as mãos
(31b) Foi a torta que Carlos comeu com as mãos
(31c) Foi com as mãos que Carlos comeu a torta
Dessa maneira um sintagma é focalizado, ou seja, é colocado em evidência. As estruturas clivadas desencadeiam uma pressuposição relativa a um referente da mesma natureza do elemento focalizado. Assim nos casos de (31) as pressuposições são respectivamente
(32a) Alguém comeu a torta com as mãos
(32b) Carlos comeu algo com as mãos
(32c) Carlos comeu a torta de alguma maneira
Essas inferências, de fato, sobrevivem também se negamos (31). Por exemplo, negando (31a) e dizendo Não foi Carlos que comeu a torta com as mãos, a pressuposição de que alguém comeu a torta com as mãos é preservada.
Parece que também as chamadas de construções pseudo-clivadas desencadeiam as mesmas pressuposições (mesmo tendo propriedades em parte diferentes daquelas das clivadas). As equivalentes pseudo-clivadas de (31) são os exemplos em (33):
(33a) Quem comeu a torta com as mãos foi Carlos / quem comeu a torta com as mãos não foi o Carlos → (= pressupõem) Alguém comeu a torta com as mãos
(33b) O que Carlos comeu com as mãos foi a torta / O que Carlos comeu com as mãos não foi a torta → Carlos comeu algo com as mãos
(33c) O jeito com o qual Carlos comeu a torta foi com as mãos / O jeito com o qual Carlos comeu a torta não foi com as mãos → Carlos comeu a torta de algum jeito
As mesmas pressuposições podem ser ativadas também prosodicamente (veja-se o cap. 7). Imaginemos que (31) seja realizada das seguintes maneiras
(34a) CARLOS comeu a torta com as mãos
(34b) Carlos COMEU a torta com as mãos
(34c) Carlos comeu A TORTA com as mãos
(34d) Carlos comeu a torta COM AS MÃOS
Nos exemplos (34) o maiúsculo indica o sintagma que recebe uma proeminência prosódica. Observamos que através da prosódia fica mais fácil também gerar uma pressuposição focalizando o verbo: em (34b), como na sua negação, se pressupõe que Carlos fez alguma coisa com a torta utilizando as mãos (por exemplo, a partiu em pedaços).
As relativas não restritivas
As relativas não restritivas são aquelas construções introduzidas por um pronome relativo que não servem para restringir a classe de referência de um descriptor. Nos dois exemplos seguintes, (35) mostra uma relativa restritiva e (36) uma relativa não restritiva.
(35) as pessoas idosas que têm dificuldade de andar não precisam fazer a fila
(36) as pessoas idosas, que têm dificuldade de andar, não precisam fazer a fila
No primeiro caso, somente os idosos com dificuldade de locomoção não fazem a fila. A classe “as pessoas idosas” é, portanto, restrita através da relativa a uma sub-classe. No segundo caso, a relativa (não restritiva) gera a pressuposição que as pessoas idosas (todas elas) têm dificuldade de andar. (37) mostra um outro exemplo:
(37) Os Romanos, que conquistaram grande parte da Europa, divulgaram a própria língua 
(37) pressupõe que os Romanos conquistaram grande parte da Europa. De fato, mesmo negando que os Romanos divulgaram a própria língua, permanece pressuposto que eles conquistaram grande parte da Europa.
As hipotéticas contrafactuais
As hipotéticas são aquelas construções formadas por uma apódose e uma prótase, como em
(38) se Maria me ligar, sem dúvida irei à festa
Em (38) a primeira parte da construção é a prótase, e expressa uma condição, enquanto a segunda, que funciona como principal, é a apódose.
Tradicionalmente se distinguem três tipos de períodos hipotéticos: um primeiro tipo, chamado de hipotética da realidade, como é o caso de (38); um segundo tipo, chamado de hipotética da possibilidade; e um terceiro tipo, chamado de hipotética da impossibilidade ou da irrealidade. Os três enunciados seguintes exemplificam os três tipos:
(39) se eu encontrar com o Mario, te aviso 
(40) se eu encontrasse com o Mário, te avisaria
(41) se eu tivesse encontrado com o Mário, teria te avisado
Este último tipo é chamado também de contrafactual, porque expressa um estado de coisas diferente daquele que se dá no mundo. De fato, no caso de (41), as coisas aconteceram de outra maneira, e nós apenas estamos tratando uma eventualidade que poderia ter se dado mas sabemos que não se deu. Esse tipo de hipotética é um ativador pressuposicional. No caso de (41) a pressuposição ativada é: eu não encontrei com o Mário. Se negamos a principal (se eu tivesse encontrado com o Mário, eu não teria te avisado), continua pressuposto que eu não encontrei com o Mário.
Mais um exemplo: 
(42) Se eu tivesse pensado melhor, não teria estudado letras 
pressupõe que eu não pensei melhor.
As perguntas 
Para os nossos objetivos, podemos distinguir as perguntas em perguntas totais, perguntas parciais e perguntas alternativas. Cada uma delas ativa uma certa pressuposição.
As perguntas totais são aquelas perguntas que esperam uma resposta sim ou não. Por isso, a pressuposição de uma pergunta total é que a asserção correspondente ou é verdadeira ou é falsa.
(43) (não) existe um especialista de lógica na UFMG? 
pressupõe que ou existe ou não existe um especialista de lógica na UFMG.
As perguntas parciais são aquelas perguntas que contêm um elemento WH- (segundo a formulação inglesa, ou QU- segundo aquela portuguesa). Esses elementos são as formas do tipo quando, quanto, que, por que, como, onde. Às perguntas introduzidas por essas formas não se espera uma resposta sim ou não, mas sim uma resposta coerente com o âmbito semântico da forma que introduz a pergunta.
Em (44) se ativa a pressuposição que alguém viajou para Belém
(44) Quem(não) viajou para Belém? 
Em (45) se ativa a pressuposição de que há um motivo para viajar para Belém
(45) por que (não) viajou para Belém?
Em (46) se ativa a pressuposição de que há uma maneira para viajar para Belém
(46) como (não) viajou para Belém?
Em (47) se ativa a pressuposição que há um tempo para viajar pra Belém
(47) quando (não) viajou para Belém?
No caso de quanto precisamos de um exemplo diferente, como (48), em que é ativada a pressuposição de que há uma quantidade, nesse caso uma quantidade de dinheiro, para adquirir o carro
(48) quanto (não) custa comprar o carro? 
As perguntas alternativas são aquelas perguntas que colocam duas ou mais alternativas possíveis, como em
(49) Você vai estudar física ou matemática?
Elas pressupõem que apenas uma das alternativas é correta. No caso de (49) a pressuposição é que o interlocutor ou vai estudar física ou vai estudar matemática. Analogamente, em (50) se pressupõe que Roma ou está na Itália ou está na França.
(50) Roma está na Itália ou na França? 
Pressuposições e contexto
A sensibilidade ao contexto
Até aqui tratamos as pressuposições como inferências feitas a partir de expressões linguísticas descontextualizadas. Isso faz com que as pressuposições pareçam inferências necessárias. Observamos agora o que acontece quando estruturas linguísticas que normalmente carregam pressuposições se encontram em contextos específicos que entram em conflito com a pressuposição normalmente carregada por uma expressão. Os contextos podem ser de natureza discursiva, como em (52), (54) e (55-60), ou devidos a conhecimentos extralinguísticos, como em (61 e 63). 
Vejamos um exemplo relativo às expressões temporais, em que a pressuposição ativada em (51) é destruída no contexto discursivo de (52):
(51) Luciana viajou antes de te ligar
Pressupõe que Luciana te ligou
(52) Luciana morreu antes de te ligar.
Observamos um outro exemplo utilizando a pressuposição gerada pelas clivadas:
(53) Não foi João que te denunciou
(53) pressupõe que alguém te denunciou. Mas imaginemos que esse enunciado seja parte do seguinte contexto discursivo:
(54) Você acha que você foi preso porque uma das pessoas que estava com você durante o crime te denunciou. João, Carlos e Francisco eram as únicas pessoas que estavam com você. Certamente não foi João que te denunciou, não foi Carlos que te denunciou e não foi Francisco que te denunciou. Ninguém te denunciou. Você foi descoberto por outra razão.
Inserido no contexto (54), o enunciado (53) não gera mais a pressuposição que alguém te denunciou.
E por fim observemos um caso de desaparecimento da pressuposição tentar gerada pelo verbo conseguir. Um enunciado como (55) pressupõe (56)
(55) João (não) conseguiu passar na prova
(56) João tentou passar na prova
Nos contextos discursivos seguintes (56) é destruída ou fica suspensa:
(57) João não conseguiu passar na prova, aliás ele nem tentou
(58) João não conseguiu passar na prova, se é que ele tentou
(59) Ou João não tentou passar na prova ou tentou e não conseguiu
(60) João não conseguiu passar na prova. Todo mundo foi promovido sem prova
Há diversos casos em que contextos linguísticos específicos destroem as pressuposições normalmente veiculadas por uma expressão linguística.
Consideremos agora o seguinte exemplo:
(61) Pelo menos João não vai se arrepender de ter vendido o carro.
Arrepender-se é uma expressão factiva que carrega a pressuposição de verdade da subordinada. Portanto, em (61) estaria pressuposto que João vendeu o carro.
Mas imaginemos o seguinte contexto: 
(62) João considerava a possibilidade de vender o carro, mas estava muito indeciso e tinha medo de se arrepender da venda depois. Enquanto ainda estava pensando sobre o assunto, seu carro é roubado. Nesse contexto, alguém que sabia da indecisão de João e está ciente do roubo, profere (61). 
É evidente a falante e interlocutores que João não vendeu o carro. Portanto a pressuposição de que ele o vendeu é bloqueada e o enunciado será interpretado sem considerá-la. Isso mostra que a pressuposição é sensível ao contexto. Portanto não pode ser considerada uma inferência necessária e semântica, mas deve ser considerada uma inferência pragmática. 
Mais um exemplo:
O tenista italiano Matteo Berrettini está jogando em Paris no torneio Roland Garros. A namorada dele, Ajla Tomljanović., também è uma tenista e também está em Paris para o torneio. A um certo ponto, a Tomljanović é eliminada. Entrevistado sobre isso, Berrettini profere
(63) Não é porque Ajla foi eliminada que eu quero ir embora de Paris
Uma estrutura clivada como essa gera a pressuposição de que há um motivo para ele querer ir embora de Paris. Contudo, é evidente contextualmente que o que o Berrettini quis dizer é que não há algum motivo pelo qual ele pode querer ir embora de Paris, nem mesmo a eliminação da namorada.
Mesmo em casos como as expressões de mudança de estado, que parecem carregar pressuposições muito fortes, é possível imaginar contextos que as bloqueiam. Imaginemos que Lúcio e Roberto estejam falando de um amigo de Lúcio, Caio, e Roberto esteja confundido Caio com outra pessoa. Roberto pode perguntar
(64) ele parou de fumar?
Lucio pode responder com 
(65) Não, porque Caio nunca fumou.
O contexto, de novo, bloqueia a pressuposição.
As pressuposições, como vimos, podem ter origens diferentes. Por exemplo, se duas pessoas estão discutindo se Carlos ganhou o financiamento para seu projeto de pesquisa, as conclusões poderão ser diferentes, mas muitas informações serão pressupostas em qualquer caso, como o fato de que Carlos tem um projeto de pesquisa, que ele pediu um financiamento para o projeto, que ele trabalha com pesquisa. E essas informações serão pressupostas também para alguém que esteja escutando de fora e não conheça o Carlos, desde que conheça o mecanismo de funcionamento de um trabalho de pesquisa, ao qual a noção de financiamento é ligada.
A comunicação em geral é repleta de pressuposições. Uma característica comunicativa das informações implícitas em geral e da pressuposição em particular é o fato que elas são assumidas como verdadeiras sem serem asseridas. Isso faz com que uma pressuposição seja mais facilmente aceita e não seja objeto de análise crítica. Por essa razão ela é especialmente presente no discurso da propaganda, seja no âmbito da publicidade, seja na política, seja em certos textos jornalísticos. Por exemplo no caso de um exemplo como
(66) Não é pela sua atitude frente à China que o presidente se mostrou inadequado, mas por toda a sua atuação política.
o que está em primeiro plano é o motivo pelo qual o presidente seria inadequado, mas o fato que há um motivo por ele ser inadequado é pressuposto. O fato dele ser inadequado pode passar sem ser objeto de objeto de discussão, como algo óbvio. Um leitor desatento pode mais facilmente aceitar acriticamente essa informação e prestar atenção somente ao que é diretamente objeto de discussão, ou seja, o motivo pelo presidente ser inadequado. 
Durante a última campanha eleitoral americana, um jornal conservador, o American Spectator titulou da seguinte maneira a respeito da candidata a vice-presidente: «Porque deveria se importar com quem foi pra cama Kamala para chegar ao topo». Em um título como esse há muitas informações pressupostas, mas a mais importante é
(67) Kamala chegou ao topo porque foi para a cama com alguém.
Como se vê, a verdadeira acusação não está asserida, mas é apresentada como pressuposta, subtraindo-a ao escopo da negação. 
Todas as informações pressupostas são automaticamente tratadas como parte do common ground. As pressuposições, portanto, enriquecem o CG. Fazendo isso, entre outras coisas, elas agem também sobre o status cognitivo dos referentes, já que uma vez pressupostos, determinados referentes podem se tornar identificáveis.
A acomodação
A consequência dessas características da pressuposição sobre o common ground é que mesmo se nós não compartilhamos uma informação com o interlocutor, se essa informação constitui uma pressuposição de algum enunciado do discurso, nósa incorporamos no common ground. Esse processo se chama de acomodação.
Se, por exemplo, nós não sabemos que João tem filhos e escutamos 
(68) João teve que levar o filho mais novo ao médico
Imediatamente incorporamos no common ground a informação de que João tem pelo menos dois filhos. De fato, (68) carrega a pressuposição de que João tem filhos e de que João tem mais de um filho. Essa informação não fazia parte do common ground antes do proferimento de (68). E quem proferiu (68) não asseriu que João tem filhos. Essa informação é simplesmente pressuposta. Mesmo assim ela enriquece o common ground por acomodação.
Para um aprofundamento sobre a pressuposição, que apresenta muitas questões interessantes, principalmente na interação entre duas proposições, veja-se o site@.
Algumas informações sobre as implicaturas
As implicaturas conversacionais são inferências claramente probabilísticas. Aqui não as aprofundaremos, mas daremos apenas alguns elementos para distingui-las das inferências lógicas e das pressuposições.
Imaginem a sequência
(1) A maior parte dos alunos estava presente
A partir dessa sequência são possíveis, entre outras, as inferências
(2a) Alguns alunos estavam presentes
(2b) Alguns alunos não estavam presentes
A inferência (2a) é lógica. De fato, se for verdade que a maior parte dos alunos estava presente, necessariamente é verdade que alguns alunos estavam presentes, já que as condições de verdade de (2a) são parte das condições de verdade de (1).
Mas a inferência (2b) é apenas probabilística. Isso é demonstrado pelo fato que podemos acrescentar uma nova premissa a (1) e destruir a inferência (2b):
(3) A maior parte dos alunos, se não todos, estava presente
Não há nenhuma contradição em dizer (3), já que as condições de verdade com base em que todos os alunos estavam presentes contém nelas as condições de verdade de que a maior parte estava presente.
Contudo observem que a partir de (1) nós somos imediatamente levados a inferir (2b), ao ponto que uma vez escutada (1) podemos tranquilamente perguntar 
(4) Quem faltava?
As implicaturas conversacionais são extremamente comuns no uso comunicativo da linguagem, apesar de não serem inferências seguras. Seguem aqui outros exemplos de implicaturas:
(5) A: que horas são?
B: o carteiro acabou de passar
Em (5) podemos tratar os enunciados de A e de B como duas premissas que levam à inferência de que são as horas em que o carteiro normalmente passa (horário que, supostamente, ambos sabem e sabem que o outro sabe).
Observem que não existe nenhuma relação semântica entre a primeira e a segunda premissa. A relação é estabelecida inferencialmente. Se trata de um típico procedimento abdutivo. Como todos os procedimentos abdutivos, uma nova premissa pode mudar completamente a conclusão. Se B continuasse dizendo
Mas ele estava atrasadíssimo
A inferência de que são as horas em que o carteiro normalmente passa é destruída. 
Observamos agora um outro exemplo:
(6) A: você convidou Luis e Mário?
B: convidei Luis
A partir da resposta de B, A conclui que B não convidou Mário. Mas essa inferência não é parte das condições de verdade do enunciado de B. A inferência se baseia no fato que se B tivesse convidado ambos, não teria motivo para dizer que convidou somente uma das duas pessoas que eram objeto da pergunta. Contudo, é muito fácil destruir a inferência com uma nova premissa, B poderia por exemplo continuar dizendo: e falei com ele pra chamar o Mário também.
Mais um exemplo:
Imaginemos que nós perguntamos para o Eduardo quantos filhos ele tem, e que o Eduardo responda 
(7) Eu tenho 3 filhos
Alguns dias depois, nós vamos visitar a família do Eduardo e descobrimos que ele tem 5 filhos. Ele mentiu para nós? Do ponto de vista lógico não mentiu, porque se é verdade 5 então é verdade também 3. Mas de fato a resposta dele havia nos induzidos a pensar que ele tinha exatamente 3 filhos, e qualquer um se surpreenderia (e se sentiria enganado) descobrindo que ele tem mais filhos do que ele falou. Inclusive, é natural pensar que o Eduardo sabia que ao dizer que ele tinha 3 filhos nós pensaríamos que ele tem exatamente 3 filhos, e não um número logicamente compatível com 3 (ou seja 3 ou mais).
Mas a inferência de que ele tem exatamente 3 filhos é nossa, não faz parte das condições de verdade da resposta de Eduardo. Essa inferência, absolutamente normal na fala do dia-a-dia, é uma implicatura, muito parecida com o aquela do exemplo (1) e do exemplo (3). Nós partimos do pressuposto que o interlocutor nos dá o máximo de informação que ele pode dar: se diz a maior parte é porque não pode dizer todos, se diz que convidou Luis, é porque convidou somente Luis e não Mário. Se diz que tem 3 filhos é porque não pode dizer um número maior. 
Mas esse mecanismo interpretativo não é lógico, mas baseado na experiência segundo a qual normalmente se fornece toda a informação possível, e não apenas uma parte.
Observem como todas essas inferências são baseadas em informações de natureza extralinguística, ou seja informações ligadas ao contexto. Nos exemplos (1), (6) e (7) a inferência é devida à experiência que todos nós temos pela qual, em condições normais, recebemos todas as informações que nos interessam e não somente uma parte. O interlocutor responde reconhecendo que a nossa intenção é saber se algum aluno faltou à aula, se tanto Luis quanto Mário foram convidados e quantos são exatamente os filhos. Contudo, o contexto pode mudar a interpretação do intenção do outro e mudar as razões que levam a dar uma resposta.
Vejamos alguns exemplos disso.
Imaginemos que uma nova norma estabeleça que em um determinado município os donos de pelo menos 3 vacas tenham direito a um incentivo econômico. Gustavo, que possui dezenas de vacas, chega na prefeitura para pedir o incentivo e diz
(8) Eu tenho três vacas
Nesse caso, o que importa não é o número total de vacas que Gustavo possui, mas que ele possua pelo menos 3 vacas. Nesse contexto, não é esperado que Gustavo dê o número total das vacas, mas somente que ele diga que possui o número de vacas necessário para conseguir o incentivo.
Imaginemos agora que Anna e Luisa estejam preparando um churrasco. Elas tiram a carne da geladeira, as colocam na mesa da cozinha e saem um momento para procurar uma boa faca que está guardada em outro lugar. Ao voltar a carne não está mais na mesa e acontece o diálogo seguinte:
(9) Anna: quem pegou a carne?
Luisa: o cachorro está com uma cara feliz!
A inferência provável a partir dessa interação é
(10) O cachorro comeu a carne
Mas essa inferência é possível nesse contexto específico. Imaginemos um contexto diferente: Anna e Luisa voltam para casa depois de um fim-de-semana fora. Ao chegar acontece o diálogo seguinte:
(11) Anna: será que alguém deu comida pros bichos?
Luisa: o cachorro está com uma cara feliz!
Aqui a inferência provável é outra: sim, parece que alguém deu comida pros bichos.
A estrutura argumental
A sentença é o maior constituinte sintático e seu núcleo é o verbo. Podemos mostrar isso em uma sentença como
(1) Lúcia comprou uma casa
Pelo fato que podemos dizer
(1a) Lucia comprou
(1b) Comprou uma casa
(1c) Comprou
Mas não podemos dizer
(1d) *Lúcia uma casa
A sentença representa um evento, e cada participante ao evento é representado por um nome que possui uma certa relação sintática e semântica com o verbo. Essas relações podem ser marcadas de diferentes maneiras, dependendo das línguas. As principais estratégias são a ordem das palavras (geralmente em português o sujeito vem antes do verbo e os objetos depois do verbo), as preposições (que marcam diferentes relações entre objetos e verbo), os casos (afixos que marcam nos nomes o tipo de relação com o verbo, em línguas como o latim, o alemão, o russo).
Mesmo em uma sentença como (1c), que apresenta apenas um verbo, é necessário conceber o evento com pelo menos dois participantes: quem compra e o que é comprado. Mesmo se não expressos, para que haja um evento de compra é necessário conceber esses dois participantes. Os elementos que expressam participantesnecessários para que o evento se dê são chamados em sintaxe de argumentos. Podemos ter mais participantes além dos argumentos, como por exemplo em 
(1e) Lúcia comprou uma casa com o dinheiro da herança
Nesse caso, além dos dois argumentos temos também um outro elemento (com o dinheiro da herança). Ele contudo não é necessário para que o verbo tenha o poder de expressar o evento, e é chamado de adjunto. Nós observaremos aqui somente a estrutura argumental do verbo, ou seja, como o verbo se combina com os participantes necessários. Se trata de um setor de estudo em interface entre sintaxe e semântica.
Os argumentos do verbo, vistos do ponto de vista semântico, são chamados também de papeis temáticos. Uma lista (discutida) de possíveis papeis semânticos é a seguinte:
Agente: a entidade que começa uma ação. Por ex. em João matou Pedro dizemos que João é o agente
Experienciador: a entidade que sente ou percebe algo. Por ex. em João ama Maria, dizemos que João é o experienciador
Tema/paciente: a entidade que se submete ou suporta uma ação, um movimento ou que é experenciado ou percebido. Em um caso como João matou Pedro, dizemos que Pedro é paciente; em um caso como João ama Maria ou como João teme a violência, dizemos que a violência é tema.
Meta: a entidade em direção da qual acontece o movimento. Em João enviou a carta para Carla, para Carla é a meta.
Recebedor: se trata de uma subclasse de metas que envolve a mudança de posse. Em João vendeu a casa para Lúcia, para Lúcia é o recebedor.
Fonte: a entidade de onde se origina o movimento. 
Locativo: onde o evento acontece
Instrumento: objeto com o qual a ação é realizada. Por ex. em João abriu a porta com a chave, com a chave é instrumento.
Beneficiário: a entidade para o qual benefício o evento acontece. 
Alguns defendem que todos os argumentos dos verbos podem ser descritos com base nessas categorias. 
Tomemos como exemplo o verbo matar. Este verbo seria armazenado na memória de longo prazo e a sua entrada lexical seria: matar <agente, paciente>. Pode-se dizer que o verbo matar prevê alguém que inicia a ação e alguém que a suporta, é submetido a ela. Se diz portanto que esse verbo subcategoriza os papeis temáticos de agente e paciente. O mesmo acontece por verbos como acertar, abraçar, dirigir.
Consideremos agora temer. Quem teme não pode ser considerado o iniciante ou o “fazedor” de uma ação, que implicaria um grau de controle sobre o evento. Portanto o primeiro participante não é um agente mas um experienciador. A coisa experienciada é um tema.
Em receber temos uma estrutura do tipo: receber <recebedor, tema>. Em por, uma estrutura por <agente, tema, meta>. Este último caso mostra que a estrutura argumental não deve necessariamente ser composta por dois papeis temáticos: temos estruturas argumentais com zero argumentos/papeis (chover e em geral os verbos atmosféricos), com um argumento/papel (morrer, nascer), com dois argumentos/papeis (amar, matar), com três argumentos/papeis (dar) e, segundo alguns, com quatro argumentos/papeis (como transportar – alguém transporta algo de um lugar para o outro). Um mesmo verbo pode ter mais de uma construção, e portanto cada construção possui a sua estrutura argumental: é o caso de afundar (o navio afundou; os americanos afundaram os navios alemães) e outros.
Foi formulada uma hierarquia possível para a relação entre os papeis temáticos e as funções sintáticas dos argumentos. A hierarquia seria: agente > beneficiário/experienciador > instrumento > tema/paciente > meta/fonte/locativo.
Essa proposta prevê que se entre os argumentos há um agente, ele ocupa a posição de sujeito; em ausência de um paciente, o sujeito será ocupado pelo beneficiário ou experienciador, etc.
Vejam-se alguns exemplos:
O ministro ajudou o rei (agente > beneficiário)
O ministrou informou o rei (Agente > experienciador)
O ministro usou o telefone (Agente > instrumento)
O ministro acumulou ouro (Agente > tema)
O ministro entrou/abandonou/ocupou (n)o palácio (Agente > Meta/Fonte/Locativo)
Contudo há verbos aos quais é difícil atribuir os papeis.
A caravana hospeda uma família inteira
Nuvens significam chuva
O livro pesa meio quilo
O comitê confirmou o encontro
Esse trabalho pede competências
Seria naturalmente possível inventar novos papeis temáticos, mas isso enfraqueceria muito a teoria, que tem a ambição de ter encontrado uma generalização (uma regra) forte na língua.
Não somente não foi possível atribuir os papeis temáticos de modo não ambíguo para todos os verbos, mas a hierarquia desses papeis tem se mostrado elusiva e mutável com base na língua, ao ponto que se começou a duvidar que essa hierarquia realmente exista. Mas mesmo se tivesse uma hierarquia temática aceitável interlinguisticamente, ainda assim existiriam os assim chamados de predicados simétricos como igual, ser parecido com, estar perto de, assemelhar, pesar quanto. Nesses casos é evidente que a hierarquia temática não é o único elemento que decide a seleção sintática, já que por definição os dois argumentos compartilham o mesmo papel temático. Com Carlos está perto de Maria ou Maria está perto de Carlos se descrevem o mesmo evento.
Agora se considere o seguinte caso:
Maria possui o livro
O livro pertence a Maria
Ou ainda
Isso preocupa João
João teme isso
Esse tipo de fenômeno é muito frequente nas línguas. Veja-se:
Eu gosto disso/isso me agrada
Eu temo isso/isso me espanta
Eu perdi o que ele disse/o que ele disse me escapou
Se trata de duas construções linguísticas do mesmo evento, em um caso respeitando a hierarquia temática e em outro não. Os casos à esquerda não são problemáticos porque respeitam a hierarquia, mas os da direita violam essa hierarquia, e o falante precisa aprender a estrutura deles um a um, sem poder se basear em uma regra.
De fato, a construção daqueles verbos que se comportam com base na hierarquia pode ser aprendida utilizando princípios gerais, com um custo cognitivo limitado. Ao contrário, a construção dos verbos que não se conformam à hierarquia deve ser aprendida individualmente.
Frente a essa situação poderia ser mais simples dizer que a construção de todos os verbos deve ser aprendida individualmente. E que em muitos casos eles parecem se comportar de maneira parecida, mas não o suficiente para termos uma regra.
Os defensores da hierarquia respondem que assim se ignoraria uma generalização importante. Além disso, parece que a escolha entre as duas construções é possível somente com um certo tipo de verbo: os verbos psicológicos, ou seja aqueles verbos que subcategorizam experienciador e tema. O fato que os verbos que se constroem de modo não hierárquico são uma classe específica ou exceções significaria que somente nesses casos a aprendizagem seria individual. A hierarquia temática serve também para explicar outros fenômenos gramaticais (que não mencionamos aqui).
Foi proposta então uma nova e mais sofisticada solução ao problema. Os papeis dos diferentes participantes ao evento não seriam categorias discretas, mas conjuntos conceptuais, como se fossem protótipos. Isso significa que a fronteira entre os diferentes papeis seria fluida: um argumento não seria classificado como ou um agente ou, por exemplo, um instrumento, mas seria mais ou menos agentivo.
Essa proposta argumenta que os papeis temáticos são baseados em implicitações do significado do verbo. Por exemplo, se considere um sujeito como Marcos e os verbos assassinar, nomear e interrogar:
Marcos assassina/nomeia/interroga o presidente
Esses verbos compartilham as implicitações seguintes:
- VOLIÇÃO: Marcos age voluntariamente;
- INTENÇÃO DE REALIZAR O ATO DO VERBO: Marcos tem a intenção de matar/nomear/interrogar o presidente. Isso não acontece como efeito colateral do que ele está fazendo;
- CAUSAÇÃO: Marcos causou o acontecimento de um evento com relação ao presidente;
- MOVIMENTO OU MUDANÇA EXTERNA: Marcos ou se moveu ou mudou em alguma maneira externa (não em estado mental) ao realizar o evento.
Nesse caso, Marcos seria classificado como agente nos três casos. Contudo, nem todos os sujeitoscompartilham essas implicitações:
- a volição não é implicitada em matar (o trânsito mata sem volição)
- a intenção de realizar o ato não é implicitado em convencer (eu posso convencer alguém sem ter essa intenção, simplesmente ao dizer algo)
- a causação não é implicitada em olhar
- movimento ou mudança externa não são implicitadas em entender.
Esses argumentos faltam de algumas implicitações agentivas. 
A proposta de solução do problema seria portanto a seguinte: existiriam dois proto-papeis, o proto-agente e o proto-paciente. Cada proto-papel seria identificado por um número de propriedades que o verbo implícita. Quanto mais propriedades o argumento implícita, tanto mais ele pertence a um dos proto-papeis. As propriedades são:
Para o proto-agente
- envolvimento volicional no evento ou estado
- sensação e/ou percepção
- causação de um evento ou de uma mudança de estado em outro participante
- existência (independentemente do evento do verbo)
Para o proto-paciente
- passa por mudança de estado
- é um tema incremental (veremos em breve do que se trata)
- é causalmente afetado por outro participante
- é estacionário com relação ao movimento de outro participante
- não existe (independentemente do evento do verbo)
Tema incremental é uma expressão que mostra um aspecto do verbo em estruturas como:
Construir uma casa, escrever uma carta, tocar uma música, comer um sanduíche, avaliar um ensaio.
A ideia de base do tema incremental é que o objeto é “incrementalmente”, ou seja, progressivamente, afetado pela ação do verbo ao longo do evento. Eventos como construir uma casa, escrever uma carta, e de todos os verbos na última lista, fazem com que a casa seja construída aos poucos, a carta seja escrita durante um certo período, etc. Portanto, em momentos diferentes do evento a casa estará mais ou menos construída e a carta mais ou menos escrita.
Ao contrário, exemplos de temas não incrementais são os predicados resultativos como alcançar o cume, acertar o alvo, etc. 
Como vimos, as implicitações são independentes uma da outra e nem todos os verbos apresentam todas elas. Um exemplo de como as implicitações são independentes é o seguinte:
Apenas volição: João está sendo gentil com/ está ignorando Maria; o que ele fez foi comer por duas semanas
Sentiência/percepção: João vê/teme Maria
Causação apenas: O desemprego causa criminalidade
Movimento apenas: A água encheu o tanque
Um exemplo de como um verbo possua todas as implicitações prototípicas, tanto com relação ao sujeito proto-agentivo quanto com relação ao objeto proto-paciente, é construir.
Essa proposta conclui que o argumento que possui o maior número de implicitações agentivas será o sujeito e aquele que apresenta o maior número de implicitações de paciente será o objeto.
Este princípio se acompanha a dois corolários:
1. É possível que dois argumentos compartilhem o mesmo papel, que não tenham papel ou se qualificar parcialmente, mas igualmente, para os dois proto-papeis;
2. Se dois argumentos satisfazem o mesmo número de implicitações de proto-agente e proto-paciente, então podem ser codificados como sujeito ou como objeto. Esse é o caso dos verbos psicológicos. Se pegue João teme a festa / A festa espanta João. Nesse caso, os dois argumentos possuem cada um uma implicitação: João tem a implicitação proto-agentiva de sensação, e a festa tem a implicitação proto-agentiva de causação. Isso explicaria o fato que ambos os argumentos tem a mesma chance de aparecer como sujeito ou como objeto.
A mesma explicação é dada para outros casos duplos como João deu o livro para Maria e Maria recebeu o livro de João. Para cada verbo é inclusive possível mostrar em uma tabela as implicitações presentes e ausentes para cada proto-papel.

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