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Alguns conceitos preliminares
Raciocínio lógico, raciocínio indutivo e raciocínio abdutivo
O raciocínio humano pode ser de natureza lógico-dedutiva ou empírico-probabilística. Uma maneira de explicar as diferenças entre os dois é dizer que o raciocínio lógico-dedutivo parte do geral para chegar ao particular, enquanto o raciocínio empírico parte do particular para chegar ao geral. Mas o que isso significa?
O raciocínio lógico-dedutivo parte de uma ou mais premissas que não são fruto de observação e, portanto, não são necessariamente verdadeiras, mas que por alguma razão são consideradas válidas a priori, ou seja, são postuladas. Se essas premissas são verdadeiras e o procedimento lógico é aplicado corretamente, então as consequências do raciocínio também são necessariamente verdadeiras. O raciocínio lógico, partindo de premissas não demonstradas, mas aceitas, chega a conclusões 100% válidas, mas que serão verdadeiras somente se as premissas também forem verdadeiras. 
O raciocínio empírico parte da observação, ou seja, da experiência com dados observáveis, e a partir disso extrai generalizações que têm maior ou menor probabilidade de serem verdadeiras. Neste caso, as premissas são fruto de observação, e, portanto, em princípio, verdadeiras. Mas como a nossa experiência é limitada, e é sempre possível encontrar novos dados diferentes, as conclusões são de natureza probabilística.
Exemplos de raciocínio lógico-dedutivo são os seguintes:
(2) Premissa 1: Sócrates é um homem
Premissa 2: Todos os homens são mortais
Consequência: Sócrates é mortal
(3) Premissa 1: Kino é um macaco
Premissa 2: Todos os macacos gostam de TV
Consequência: Kino gosta de TV
(4) Premissa 1: Todos os alunos da UFMG querem aprender
Premissa 2: Estes alunos são da UFMG
Consequência: Todos estes alunos querem aprender
Observem que as premissas não são fruto de observação, mas são postuladas; observem também que, se aceitamos essas premissas, nós podemos colocar quantas outras premissas novas quisermos sem conseguir tornar falsa a consequência. Isso significa que, se as premissas são verdadeiras, a consequência é necessariamente verdadeira, pois não pode ser destruída com novas premissas. Nos três exemplos acima o procedimento lógico é igualmente apropriado, mas as premissas do primeiro caso parecem verdadeiras, e não temos dificuldade em aceitar como verdadeira a conclusão; no segundo caso, ao contrário, pelo menos a segunda premissa não parece verdadeira. A verdade das premissas distingue uma conclusão verdadeira de uma conclusão que é simplesmente válida, ou seja, que respeita o método lógico, mas é baseada em uma ou mais premissas falsas. Nos exemplos acima, assim como faremos nos exemplos dos outros tipos de raciocínio, estão presentes duas premissas; contudo um raciocínio qualquer pode ser baseado em uma premissa só como em mais do que duas.
Um exemplo de raciocínio lógico na linguagem é o acarretamento. Por exemplo, se for verdade
(5) João matou Pedro 
então é necessariamente verdade que Pedro morreu. Seria uma contradição dizer
(6) *João matou Pedro, mas Pedro não morreu. 
Uma contradição é um conjunto de afirmações que não podem ser todas verdadeiras no mesmo mundo.
Uma característica do raciocínio lógico é que as condições de verdade da conclusão ou consequência já estão presentes, implicitamente, nas premissas. Repetimos que as condições de verdade são as circunstâncias que devem ocorrer em um dado mundo (real ou imaginário) para poder dizer que uma asserção é verdadeira. No raciocínio lógico, o que a conclusão faz é apenas tornar explícitas as condições de verdade que já estão implícitas nas premissas. De fato, dizer (5) corresponde a dizer
(7) João causou a morte de Pedro
Portanto o fato que Pedro morreu está já presente em (5). Isso distingue o fenômeno do acarretamento lógico do fenômeno da pressuposição. Um exemplo de pressuposição é
(8) João parou de fumar
A partir dessa afirmação pode-se concluir que João fumava. E essa conclusão parece necessária. Contudo, qualquer coisa que João tenha parado de fazer (João parou de beber, João parou de trabalhar, João parou de Xar.) pressupõe que João fazia aquela coisa (bebia, trabalhava, Xava.). Isso mostra que a pressuposição depende de uma forma linguística (seja uma estrutura morfossintática, seja um elemento lexical) e não das condições de verdade veiculadas pela(s) premissa(s). 
Uma demonstração disso é que se nós negamos uma expressão como (5) com
(9) João não matou Pedro 
ou seja, se negamos as condições de verdade de (5), também a conclusão é destruída. Se João não matou Pedro, não temos nenhum elemento para concluir que Pedro morreu. Naturalmente Pedro pode ter morrido por outras razões, mas isso não decorre da premissa João não matou Pedro. 
Ao contrário, se nós negamos (8) com
(10) João não parou de fumar 
a inferência de que João fumava continua sendo pressuposta. Isso mostra que a pressuposição está colada na forma linguística (neste caso parou de) e não nas condições de verdade, já que resiste à negação, ou seja, resiste a condições de verdade opostas. Não podemos dizer que as condições de verdade de João fumava, ou João bebia ou João Xava, estão implícitas em Joaõ parou de fumar e em João não parou de Xar.
Vejamos agora um exemplo de raciocínio indutivo.
(11) Premissa 1: Observei 1.000 homens
Premissa 2: Todos eles tinham 5 dedos em cada mão
Consequência: todos os homens têm 5 dedos em cada mão
Nesse caso, as premissas são fruto de experiência, são concretamente observáveis e, portanto, não são postuladas. Elas permanecem verdadeiras independentemente da verdade da conclusão. Contudo, a consequência não será nunca necessária (nem mesmo se a conclusão do exemplo for tirada a partir de um número muito maior de dados observados), mas sempre mais ou menos provável. De fato (independentemente de quantos são os homens observados) será sempre possível colocar uma nova premissa que torne falsa a consequência, como:
(12) Premissa 3: o homem 1001 tinha 6 dedos
Um outro exemplo de raciocínio indutivo pode ser construído mudando a ordem das proposições que constituem o raciocínio lógico em (4):
(13) Premissa 1: Todos estes alunos querem aprender
Premissa 2: Todos estes alunos são da UFMG
Consequência: Todos os alunos da UFMG querem aprender
A conclusão pode ser destruída acrescentando uma nova premissa:
(14) Premissa 3: aquele outro aluno também é da UFMG e não quer aprender
Um outro tipo de raciocínio probabilístico, mas de natureza diferente daquele indutivo, é o raciocínio abdutivo. Um exemplo é o seguinte diálogo entre A e B, que constitui as premissas):
(15) A: Quem vai cozinhar hoje à noite?
B: Eu estou cansada!
Conclusão: B não vai cozinhar hoje à noite
No caso deste exemplo, que é corriqueiro na nossa comunicação do dia-a-dia, B poderia acrescentar uma nova premissa, como
(16) mas vou fazer um esforço 
e a conclusão seria destruída. Portanto a conclusão não é absolutamente necessária, mas apenas probabilística. Contudo, esse tipo de raciocínio é diferente do raciocínio indutivo. Enquanto o raciocínio indutivo apresenta premissas com dados que levam na direção de uma certa conclusão e que são coerentes entre elas (as premissas levam informações da mesma natureza), o raciocínio abdutivo apresenta premissas aparentemente não correlacionadas entre elas a não ser que se estabeleça uma ponte através da própria conclusão. Às vezes, como no exemplo mostrado, a ponte parece natural; outras vezes ela pode ser muito menos óbvia. Um raciocínio abdutivo pode ser construído utilizando novamente as proposições dos exemplos (4) e (13) e colocando elas em uma ordem ainda diferente:
(17) Premissa 1: Todos estes alunos querem aprender 
Premissa 2: Todos os alunos da UFMG querem aprender 
Consequência: Todos estes alunos são da UFMG
De fato, não parece ter nenhuma relação entre a primeira e a segunda premissa. A relação é estabelecida através da conclusão (que, naturalmente, pode ser ou não verdadeira).
Vimos então três tipos de raciocínio, cada um com propriedades diferentes:1. O raciocínio lógico-dedutivo se caracteriza por (i) aceitação de premissas não observadas, mas postuladas, que, se verdadeiras, levam a uma conclusão necessariamente verdadeira (atenção: a conclusão é formalmente válida mesmo se as premissas não são verdadeiras. Precisa distinguir entre a validade formal do procedimento e a verdade das conclusões); (ii) explicitação na conclusão das condições de verdade que já estão implícitas nas premissas. Isso significa que a contribuição de novidade informativa é limitada; no caso da conclusão Pedro morreu a partir da premissa João matou Pedro, vimos que matar significa causar a morte de; essa paráfrase mostra como as condições de verdade da conclusão já estão contidas na premissa; (iii) ser válido sempre, independentemente do contexto, em virtude do ponto (ii). É importante não confundir o raciocínio lógico com a pressuposição. Veremos (cap. 5) como a pressuposição, que a nível de sentença parece necessária, é na realidade sensível ao contexto.
2. O raciocínio empírico indutivo se caracteriza por (i) fornecer conclusões mais ou menos prováveis mas baseadas em premissas observadas, e, portanto, em princípio, seguras; (ii) fornecer uma contribuição informativa maior do que o raciocínio lógico, já que a conclusão não está implícita nas premissas, mas que sempre pode ser revista a partir de novos dados, ou seja de novas premissas. Contudo, as premissas “induzem” uma certa conclusão; (iii) é sensível ao contexto.
3. O raciocínio abdutivo é ao mesmo tempo o mais arriscado e o mais informativo. Por basear-se em premissas aparentemente não correlacionadas, mas de natureza diferente, e por ter que estabelecer uma ponte entre elas, a abdução pode facilmente não levar a conclusões corretas, mas também pode representar um passo extremamente criativo e novo, capaz de resolver problemas de maneira original e com saltos cognitivos extremamente poderosos; também é sensível ao contexto. Ele possui em comum com o raciocínio indutivo a capacidade de fazer conclusões capazes de ir além do conteúdo lógico das premissas (por essa razão suas inferências são não necessárias). Contudo a abdução possui, implícita ou explicitamente, uma capacidade explanatória, enquanto a indução não possui essa capacidade. Na indução existe apenas a força que deriva da observação da frequência dos dados, coisa que é possível também em um raciocínio abdutivo.
Observamos também como os três tipos de raciocínios podem ser realizados utilizando as mesmas proposições, mas colocando elas em ordens diferentes.
Os três tipos de raciocínio geram conclusões explícitas a partir de processos inferenciais, ou seja, a partir de algo implícito. Falamos assim de inferências lógicas, quando elas já estão implícitas nas premissas, de inferências indutivas, quando elas são apenas prováveis e induzidas pela experiência, e de inferências abdutivas, quando elas são fruto de uma intuição que coloca em relação observações que aparentemente não possuem relação entre si. Como vimos, cada tipo de raciocínio possui pontos de força e limites. Não há um raciocínio melhor, mas apenas um raciocínio mais apropriado dependendo dos objetivos e das circunstâncias. Na maior parte dos exemplos demos exemplos de raciocínios com duas premissas e uma conclusão, mas isso foi feito apenas por conveniência didática. Às vezes a premissa é somente uma (como no caso de João matou Pedro) e às vezes as premissas podem ser mais e até muito mais do que duas.
Observe-se agora a seguinte afirmação:
(18) A maior parte dos alunos foi à aula
A partir dela nós podemos tirar duas conclusões, ou seja, podemos fazer duas inferências:
(19) Consequência 1: então alguns alunos foram à aula
(20) Consequência 2: então alguns alunos faltaram à aula
A inferência em (19) é lógica; ela é necessariamente verdadeira, porque se é verdade que a maioria dos alunos foi à aula, então é necessariamente verdade também que alguns alunos foram à aula. A inferência em (20) é apenas probabilística, já que o fato de todos os alunos terem ido à aula (ou seja, o fato de ninguém ter faltado) não torna falso o fato de a maioria ter ido à aula, mas torna falso o fato de alguém ter faltado. De fato, é possível dizer, sem gerar contradição 
(21) a maioria dos alunos, se não todos, foi à aula. 
Mas não é possível dizer que é verdade que a maioria foi à aula e ao mesmo tempo que não é verdade que alguns alunos foram à aula.
Contudo, quando alguém nos diz que a maioria dos alunos foi à aula, nós nos sentimos autorizados a concluir que alguém faltou. Podemos até perguntar diretamente: quem faltou? Isso acontece porque a nossa comunicação se baseia amplamente em inferências de natureza probabilística e experiencial, e não lógica, como veremos mais a fundo no cap. 6. De fato, a experiência nos ensina que quem usa a expressão a maioria geralmente o faz quando não tem os elementos para usar a expressão todos. Isso nos parece tão normal que não pensamos que ao ouvir que a maioria agiu de uma certa maneira não podemos deduzir logicamente que alguém não agiu daquela certa maneira. Em outras palavras: as condições de verdade de (19) estão contidas tanto em (18) quanto em (22)
(22) todos os alunos foram à aula
Por isso podemos dizer (21) sem gerar contradições. Mas as condições de verdade de (20) não estão contidas em (18). Por isso não podemos deduzir logicamente que se for verdade (18), então é verdade (20).
A filosofia da linguagem ideal e a filosofia da linguagem ordinária
A filosofia da linguagem ideal
A expressão "filosofia da linguagem ideal" se refere ao modo de conceber a análise da linguagem dos fundadores da filosofia da linguagem contemporânea como Frege, Russell e o primeiro Wittgenstein. Segundo eles, as linguagens naturais são geralmente ambíguas e isso seria um problema, um defeito. O filósofo, portanto, deve individualizar uma linguagem simbólica "ideal" que não gere ambiguidades. Por que as línguas naturais seriam ambíguas e imperfeitas? Consideramos o exemplo seguintes:
(x) Todas as meninas odeiam um rapaz
Esse enunciado possui um significado ambíguo enquanto pode significar duas coisas:
(x1) Cada menina odeia um rapaz diferente
(x2) Todas as meninas odeiam o mesmo rapaz
Os filósofos da linguagem ideal acham que precisa distinguir entre a forma gramatical de um enunciado e a sua forma lógica. De fato, a forma gramatical mascara a real forma lógica. Para expressar a forma lógica é necessário utilizar uma linguagem lógica e formalizar as proposições utilizando variáveis individuais, como "x, y, z" para indicar os indivíduos genéricos, e símbolos como Ǝ, para indicar o quantificador existencial (= existe),∀para indicar o quantificador universal (= por cada), Λ para a conjunção "e", V para a disjunção "ou", → para indicar condicional "se...então".
Assim, as duas interpretações do enunciado acima seriam:
∀ x [(Menina x → Ǝy (Rapaz y → Odeia x, y)]
Ǝy [Rapaz y → ∀ x (Menina x → Odeia x, y)]
Desse jeito a uma forma gramatical ambígua corresponderiam duas formas lógicas não ambíguas. 
Um outro exemplo sobre o significado de ser.
Cada filósofo é mortal
Kant é um filósofo
Kant é o autor da Crítica da razão pura
Nos enunciados acima, ser tem significados diferentes: inclusão, pertencimento e identidade. Eles têm 3 formas lógicas diferentes:
∀x [(Fx → Mx)
Fk
k=a
ƎxFx
Então, somente através da explicitação da forma lógica seria possível dar conta do significado dos enunciados. Quem segue essa visão, como os semanticistas referenciais, acha que o estudo da linguagem deve ser o estudo da sua forma lógica.
A filosofia da linguagem ordinária
A filosofia da linguagem ordinária nasce em Manchester e Oxford entre os anos de 1930 e 1950 graças a filósofos como J. Austin e P. Grice que se inspiram no segundo Wittgenstein e na ideia do "significado como uso". Em contraste com os filósofos da linguagem ideal, eles defendem que a linguagem ordinária (ou seja, a linguagem que usamos comumente no dia-a-dia) representa um objeto de análise autônomo. 
A ideia central é que a linguagem da lógica nãopermite entender o real significado dos falantes no uso diário. Por ex. os conetores lógicos não seriam capazes de capturar o significado das expressões linguísticas correspondentes. Do ponto de vista lógico, o conector "e" teria sempre o mesmo significado nos enunciados seguintes:
João colocou o calção e entrou na piscina
João é bonito e inteligente
João não estudou e foi reprovado
Mas nós interpretamos e, em um caso como e depois, em outro como e, e em outro como e portanto. Se no segundo caso podemos inverter os membros, não parece possível inverter os membros do primeiro e do terceiro caso, sem que mude o significado. Do ponto de vista lógico, a forma é sempre a mesma: p Λ q ou q Λ p
Em lógica uma conjunção é verdadeira somente se são verdadeiros ambos os conjuntos, independentemente da ordem. Na linguagem do dia-a-dia nem sempre é assim, e é por isso que a conjunção lógica parece não ser capaz de dar conta do significado da linguagem natural. O mesmo com a disjunção ou com o conector "se...então":
se a Itália está na Europa então 2+2=4
p→q
Esse enunciado do ponto de vista lógico é perfeitamente normal, pois um condicional é verdadeiro se for verdadeiro o antecedente e verdadeiro o subsequente. Mas na linguagem natural a expressão "se...então" veicula uma relação de causa efeito.
A conclusão dos filósofos da linguagem ordinária é que, já que a lógica não é capaz de dar conta da complexidade da linguagem natural, o estudo dessa última não pode ser feito através da lógica. Por isso, Austin defende que o método para a análise da linguagem natural não deve ser a busca da verdade ou falsidade lógica das expressões linguísticas, mas se o que falamos é ou não é apropriado para a situação em que o falamos.
Assim, em quanto uma sentença como O Trump é de pedra é claramente falsa semanticamente do ponto de vista do código, pois não podemos predicar de um substantivo humano o fato de ser feito de pedra, no uso essa sequência linguística pode se dar perfeitamente, sem que o interlocutor ache que não faça sentido. O que o interlocutor faz é buscar esse sentido na interação entre o código e o contexto, operando inferências, ou seja completando o percurso semântico que leva a entender o que o falante quer dizer afirmando algo claramente falso.
Outro exemplo. Consideremos a interação seguinte. Se alguém que tem 5 filhos diz 
Eu tenho 3 filhos
do ponto de vista do código está afirmando algo de verdadeiro, pois se ele tem 5 filhos é automaticamente verdade que ele tem 3. Mas na comunicação real nós, em ausência de um motivo em contrário, entendemos o enunciado no sentido de Eu tenho exatamente 3 filhos. Portanto o que semanticamente é verdadeiro acaba funcionando como uma mentira na comunicação normal.
Com esses exemplos deveria ficar claro que existe um significado do código e um significado do falante; ou seja, precisa distinguir entre o que uma determinada sequência linguística expressa semanticamente e o que se pretende realmente significar com aquela sequência. Na comunicação real, o significado do código interage sempre com o contexto, e essa interação pode mudar o sentido linguístico ao ponto até de realizar um sentido comunicativo oposto àquele que a sequência linguística tem no código. 
Em um outro plano descritivo, um enunciado como Meu pai, ele não trabalha nunca[footnoteRef:1], perfeitamente normal no uso comunicativo diário, não é analisável sintaticamente, pois teria que possuir dois sujeitos co-referentes. Então a sequência deveria ser agramatical. Mas de fato ela é amplamente usada sem que se crie algum desconforto entre os falantes e com uma eficiência comunicativa indubitável. Isso, segundo muitos, significa que a relação entre meu pai e o resto da sequência deve ser explicada em termos não sintáticos. [1: A virgula entre meu pai e ele tem que ser interpretada como uma tentativa de imitar a entonação da oralidade, pois entre essas duas unidades nós produzimos uma fronteira entonacional que carrega um valor funcional (veja-se XXX).] 
Portanto, o estudo do significado pode ser abordado de maneira semântica e de maneira pragmática. A semântica se concentra no estudo do significado com base no código linguístico, enquanto a pragmática se concentra no estudo do significado no uso comunicativo da linguagem, em que código e contexto interagem sempre.
Uma possível definição de pragmática é então: a disciplina que estuda a competência comunicativa, entendendo com competência comunicativa a habilidade que os falantes têm de usar a língua de maneira apropriada em diferentes contextos para exigências comunicativas de vário tipo. 
Sentença e enunciado
É útil distinguir entre sentença e enunciado. A sentença é uma unidade gramatical, sintática e semântica, enquanto o enunciado é uma unidade pragmática. Isso significa também que a sentença é uma unidade do código, independente de um contexto específico; ao contrário o enunciado pode ser definido como a menor unidade comunicativa. Para a sentença, independentemente da definição, o verbo é um elemento fundamental. Segundo as pesquisas de corpora os enunciados sem verbo são mais ou menos um terço; se a eles se somam os enunciados sem função verbal ou em que o verbo não é o núcleo (como sempre é na sentença), chegamos a ultrapassar a metade.
Um exemplo de enunciado sem função verbal é a resposta do exemplo seguinte:
F: Você nasceu no Brasil?
I: nasci.
O verbo nesse caso funciona como uma afirmação. Em outras línguas não é gramatical significar sim através da retomada do verbo usado pelo interlocutor. Um enunciado em que o verbo é presente, mas não constitui o núcleo é um enunciado nominal como uma qualquer expansão verbal, como o segundo enunciado do exemplo seguinte:
F: Qual carro deseja ver?
I: Um carro que não gasta muita gasolina.
Isso significa também que o enunciado carrega sempre o que é chamado de “ilocução”, ou seja realiza uma ação verbal, enquanto a sentença não pode ser interpretada acionalmente, por não estar em um contexto comunicativo.
Essa distinção entre sentença e enunciado nos permite notar que as mesmas sequências de elementos do código, ou seja, as mesmas sentenças, podem de fato realizar significados acionais muito diferentes. O enunciado
Um leão!
pode ser interpretado como se prepare, está chegando um leão em uma interação entre dois caçadores na África, ou como olha, tem um leão, na interação entre duas crianças em um jardim zoológico, ou ainda como ele é realmente forte e guerreiro, em uma interação entre dois espectadores de uma competição de luta, ou de muitas outras maneiras em contextos diferentes. 
Isso significa que os mesmos elementos do código podem ser usados para realizar ações muitos diferentes. Nos exemplos acima podemos dizer que os três enunciados realizam respectivamente um aviso ou um alarme, como uma expressão de maravilha ou uma dêixis, e como um julgamento, dessa vez utilizando leão com valor metafórico.
Considerações desse tipo levaram alguns autores a concluir que as palavras não seriam as portadoras dos significados mas poderiam ser dobradas a (quase) qualquer significado. Somente os enunciados carregariam realmente o significado. O código então seria um instrumento para potencializar um aspecto prioritário da comunicação linguística, ou seja, mostrar a própria intenção, e não o contrário.
Contudo, também a construção e a troca dos enunciados é algo convencionalizado nas línguas, ou seja, algo sujeito a regras. Podemos dizer que essas regras são o objeto de estudo da pragmática.
Modelo do código e modelo inferencial
Segundo uma tradição que vem de Aristóteles e que no século XX foi formalizada por Shannon e Weaver, a comunicação linguística consiste em um processo de codificação e decodificação de mensagens, conhecido como modelo do código. 
Um código pode ser descrito como um sistema de correspondências. Por exemplo, no código Morse é um sistema de correspondências entre sinais sonoros e visuais (os pontos e as linhas) de um lado e as letras do alfabeto do outro. As línguas naturais associam as palavras e osenunciados de um lado aos conceitos e às representações mentais de outros.
Segundo esse modelo, quem fala (ou escreve) codifica os próprios pensamentos nas expressões da língua, e quem escuta (ou lê) decodifica essas expressões tendo assim acesso aos pensamentos do falante. Dessa maneira os falantes têm acesso aos pensamentos dos interlocutores. Portanto a comunicação pode falhar somente se o processo de codificação ou decodificação está errado, se algum tipo de ruído no canal impede que a mensagem chegue integra ao destinatário, ou, naturalmente, se os interlocutores não compartilham o mesmo código (ou seja, a mesma língua).
Shannon e Weaver (1949) propuseram um modelo inspirado nas telecomunicações (Figura 1). Nesse modelo um falante (fonte de informação) emite uma mensagem codificando as próprias representações mentais em forma de ondas sonoras; a mensagem passa através do canal (o ar) e alcança o ouvido do interlocutor que a decodifica no próprio cérebro. A mensagem durante seu caminho ao longo do canal pode ser comprometida por um ruído (por exemplo um barulho externo que cobre o sinal linguístico). Se isso não acontecer, a comunicação é bem sucedida.
Tudo isso significa que o sucesso da comunicação linguística, ruído a parte, depende unicamente do conhecimento do significado convencional das expressões do código por parte dos interlocutores.
O modelo do código, contudo, não consegue explicar os processos da comunicação linguística, como observado por Grice. Imaginemos o enunciado seguinte:
Carlos e Maria casaram e tiveram três filhos
Para decodificar esse enunciado o destinatário deve completá-lo com diversas informações:
a) Carlos e Maria casaram entre eles. Isso não é dito. Seria possível que Carlos tenha casado com Ana e Maria com Luis.
b) Eles tiveram os filhos juntos. Com base no código seria também possível que cada um deles tivesse três filhos com outros parceiros.
c) Os filhos são somente três. Em princípio eles poderiam ser mais, porque se eles tiveram quatro filhos seria também verdadeiro que tiveram três.
d) A ordem dos acontecimentos é essa. Em princípio seria possível que eles primeiro tiveram três filhos e depois casaram.
Essas informações necessárias para um correto entendimento do enunciado não são adquiridas através do código, mas através de processos inferenciais que se apoiam em conhecimentos de mundo e na experiência que os falantes têm. Por exemplo, se sabemos que Carlos e Maria são irmãos, a interpretação mais provável seria que ele não casaram e tiveram filhos juntos.
O modelo inferencial se origina da reflexão do filósofo britânico Paul Grice. A ele devemos a importante distinção entre o significado da expressões linguísticas (ou seja, do código) e o significado do falante, ou seja, o que um falante quer dizer usando certas expressões linguísticas.Segundo o modelo inferencial o acesso aos pensamentos dos falantes não depende só da decodificação das expressões linguísticas convencionalizads, mas disso e dos processos inferenciais gerados pela interação das expressões com elementos contextuais. Assim, a comunicação linguística pode falhar pelo processo de codificação e decodificação das expressões, mas também por erros no processo inferencial./
Semântica
A semântica é o setor da linguística que estuda o significado. Mas não existe uma definição compartilhada de “significado”. Ou seja, não existe um acordo sobre qual é o objeto de estudo da semântica. Deveremos, portanto olhar para diferentes definições do conceito de “significado”.
Como primeira aproximação, poderíamos dizer que o significado é a informação transmitida por uma expressão linguística ou o conteúdo associado a uma expressão linguística. Mas assim encontramos outras expressões nebulosas como “informação” e “conteúdo”, que também não são facilmente definíveis. 
Essa dificuldade depende do fato que a noção de significado fica na interseção da relação entre linguagem, pensamento e realidade. Perguntar-se o que o significado é significa perguntar-se como os seres humanos podem usar a linguagem para falar do mundo extralinguístico e para expressar seus pensamentos.
Os diversos modos de entender a semântica e o significado nascem das diversas concepções da relação entre linguagem, pensamento e realidade. 
	
O esquema proposto por Ogden e Richards mostra as possíveis relações entre símbolo linguístico, pensamento e referente. Uma primeira leitura do esquema pode ser aquela segundo a qual uma expressão linguística (A) se refere a uma entidade extralinguística (C) através da mediação de um conceito (B). Segundo uma outra leitura a relação entre a expressão linguística e a realidade extralinguística seria direta, sem intermediações do pensamento. Segundo outros, não somente é irrelevante C (a entidade extralinguística) mas o próprio pensamento (B) não existe como entidade autônoma sem a expressão linguística, já que os conceitos tomarim forma somente através da linguagem. 
A primeira abordagem é a abordagem cognitivista, que prevê a mediação conceitual entre a expressão linguística e a realidade. A segunda é a abordagem referencialista, que prevê uma relação direta entre linguagem e realidade extra-linguística. A terceira é a abordagem estruturalista, que prevê que não há relação entre a linguagem e a realidade e que o pensamento se estrutura somente através da linguagem. 
Dependendo da abordagem escolhida mudam muitos dos fenômenos que são considerados objeto da semântica.
Abordagem referencialista
Começamos pela abordagem referencialista, de origem filosófica e a mais antiga de todas. Olhamos para alguns dos problemas postos por uma concepção, de matriz lógica, que sustenta que a linguagem apenas “denota” diretamente a realidade, ou seja, o referente da expressão linguística no mundo. 
Um problema é que com uma abordagem desse tipo não teria diferença entre a expressão Machado de Assis e a expressão O autor de Dom Casmurro. De fato as duas expressões denotam o mesmo referente. Outro problema é que não saberíamos qual significado dar a expressões que não possuem referente extralinguístico, como, por exemplos, os marcianos. 
Devido ao primeiro problema, Frege introduziu, dentro de uma abordagem referencialista, a diferença entre “sentido” e “significado”, que veremos mais à frente. Outros autores formularam a noção de “mundo possível” para enfrentar o segundo problema.
De toda maneira, a referência continua central nessa abordagem. O significado das asserções linguísticas consiste em descrever “estados de coisas” que serão verdadeiros ou falsos com relação ao mundo ao qual se referem. O que conta é que podemos estabelecer em princípio quais condições tornam uma frase verdadeira ou falsa. Ou seja, quais condições devem ser satisfeitas para que podemos atribuir à frase um valor Verdadeiro ou Falso. 
A base dessa semântica própria da escola da linguagem ideal é avaliar se a proposição expressa por uma sentença é verdadeira ou falsa. É a possibilidade de dizer se algo é verdadeiro ou falso que representa a alma do conceito de significado. Para poder dizer se uma sentença é verdadeira ou falsa precisa saber quais condições a tornam tal.
Segundo a semântica referencialista, conhecer o significado de uma frase significa saber quais condições a tornam verdadeira. Nesse sentido podemos dizer que o significado de uma frase são as condições de verdade dela. O conceito de valor de verdade (verdeiro/falso) que algo binário e de condições de verdade é portanto basilar na semântica referencial. Por isso ela é chamada também de semântica veri-condicional.
Segundo essa abordagem, o objetivo da semântica deve ser elaborar uma teoria da verdade, ou seja, uma teoria que descreva as regras graças às quais as expressões de uma linguagem se conectam de maneira verdadeira ou falsa ao mundo ao qual se referem. Para isso são usados os instrumentos da lógica formal. Pelo seu caráter de sistema a lógica binária, esse é o tipo de semântica que também inspirou Chomsky e é útil em linguística computacional.
Nessa abordagem, mas somentenela, é especialmente importante o conceito de proposição. Simplificando, a proposição é o que se extrai da sentença e sobre o qual acontece o julgamento de verdade. A mesma proposição, que é um nível semântico mais profundo, pode ser expresso com sentenças diferentes. É o caso dos exemplos seguintes:
a) Carlos comeu a maçã
b) Quem comeu a maçã foi Carlos
c) A maçã foi comida por Carlos
d) Acho que Carlos comeu a maçã
e) Gostaria que Carlos comesse a maçã
Essas sentenças compartilham o mesmo conteúdo proposicional, que é algo mais profundo do que o conceito de sentença (que apenas uma possível estrutura gramatical da proposição). O que elas têm em comum é a estrutura lógica do evento representado. Este evento vê sempre um agente (Carlos) realizar uma ação (comer) sobre um paciente (a maçã). Este conteúdo proposicional é presente em todas essas sentenças. Retomaremos a distinção entre elas mais à frente.
A semântica estruturalista
A semântica estruturalista nasce no início do século XX com Ferdinand de Saussure, fundador da Linguística Geral. O fundamento da sua teoria semântica é que o significado seja uma entidade puramente linguística, ou seja, algo que nasce remetendo a algo externo à linguagem (os objetos ou os conceitos), mas que se cria dentro do sistema linguístico no momento em que a linguagem organiza um pensamento que por si não é estruturado.
Essa concepção do significado é a direta consequência da arbitrariedade do signo linguístico. Para Saussure, não existe primeiro o objeto e depois o signo que o indica; para ele, os objetos não jogam nenhum papel na origem dos signos. Um signo linguístico não une uma coisa a um nome, mas é o produto da associação entre duas entidades, que Saussure chama primeiro de conceito e imagem acústica e depois de significado e significante. 
Para Saussure, o pensamento não é estruturado fora da linguagem. Antes que a linguagem intervenha, pensamento e som são duas massas amorfas. É a língua que dá forma a essas massas indiferenciadas, criando as unidades fono-conceituais que são os signos linguísticos. A relação entre linguagem e pensamento não consiste no fato de que a língua é um meio para expressar os conceitos já presentes na mente, mas no fato que a língua organiza o pensamento e o obriga a se estruturar.
A operação com a qual a língua articula as duas massas amorfas do pensamento e do som é arbitrária no sentido que as distinções que ela introduz tanto no plano do som quanto no plano do pensamento não dependem de características intrínsecas dos sons ou dos conceitos ou de outros fatores externos à língua. Não há motivos externos à língua pelos quais em uma língua devam existir determinados significados e não outros. Cada língua faz um recorte dos seus signos de uma maneira própria dela mesma, e que pode ser diferente daquela de outra língua.
Um caso clássico é o setor das cores. A área conceitual que em latim se articula nos pares albus/candidus (respectivamente “branco opaco” e “branco brilhante”) e ater/niger (respectivamente “preto opaco” e “preto brilhante”) é articulada em português somente pelo par branco/preto. Analogamente em inglês existe a diferença entre finger e toe (respectivamente “dedo da mão” e “dedo do pé”) enquanto em português existe somente dedo. Ao contrário, à diferença do português entre bosque, madeira e lenha corresponde em francês somente bois. 
Cada língua cria portanto o seu próprio repertório de significados articulando arbitrariamente a massa amorfa do pensamento. Nesse sentido, o significado é uma entidade puramente linguística: não existem significados antes ou fora ou independentemente da língua. Quando dissemos que uma palavra tem um determinado conteúdo nos estamos referindo não a uma entidade (ideia, conceito) que existe antes e que tem uma validade prescindindo do sistema linguístico, mas a um valor criado pelo sistema linguístico. O conceito de “branco” não existe. É um valor determinado pela relação com outros valores. Não podemos assim atribuir ao conceito de “branco” (ou a qualquer outro conceito) um significado independente da relação com os outros elementos do sistema linguístico. E cada sistema linguístico organiza essas relações da sua própria maneira, criando uma estrutura que é sempre única.
A semântica cognitiva
A semântica cognitiva, mais do que uma teoria unitária é um conjunto de estudos desenvolvidos dentro da vertente da linguística cognitiva a partir dos anos de 1980, com linguistas como Lakoff, Langacker, Talmy, Fillmore e outros. 
A linguística cognitiva deve seu nome ao assunto base que a caracteriza, ou seja, a ideia de que exista uma relação imprescindível entre a linguagem e outros aspectos da cognição humana. Nessa abordagem, a linguagem não é vista como uma entidade autônoma, como um sistema autossuficiente e governado por princípios de funcionamento próprios, mas como uma faculdade mental, cujas características são ligadas ao funcionamento complexo da mente humana.
Consequentemente, a linguística cognitiva acha que os fenômenos linguísticos não sejam analisáveis permanecendo dentro da dimensão linguística, mas podem ser descritos somente relacionando-os às outras faculdades cognitivas e aos outros processos mentais.
Os processos de compreensão, os mecanismos com os quais se formam os conceitos, a maneira com a qual são organizados mentalmente os nossos conhecimentos, são todos aspectos que devem ser levados em conta para uma descrição da linguagem. A compreensão da linguagem requer, portanto, que se entre em setores extralinguísticos. 
A semântica seria o âmbito no qual a relação entre o plano linguístico e o plano extralinguístico é maior e mais direta. Para os cognitivistas o significado tem uma natureza conceitual (pensamento, vértice B do triângulo). Atrás dos significados linguísticos estariam conteúdos mentais e a análise semântica seria inseparável da análise dos processos com os quais esses conteúdos se constroem.
Por exemplo, descrever o significado de branco não pode consistir somente em comparar esse significado com aquele de preto ou de outras cores, mas necessita que se faça referência à maneira com a qual se forma o conceito de cor, aos fatores perceptuais que permitem de distinguir as cores, aos princípios cognitivos com os quais se organiza na nossa mente a categoria de cor, etc. 
Essa abordagem mentalista distingue a semântica cognitiva das abordagens estruturalista e referencialista. Com relação à semântica estruturalista a perspectiva é invertida: enquanto o estruturalismo considera que o plano linguístico é totalmente autônomo do plano conceitual e prioritário com relação a ele (já que os conceitos não existiriam antes da sua estruturação linguística), a semântica cognitiva acha que os significados linguísticos sejam uma das formas com as quais se manifesta um pensamento que pré-existe e é estruturado já antes da sua expressão linguística.
Também é grande a distância entre a semântica cognitiva e a semântica referencial. Essa última considera o significado algo de objetivo, independente dos estados mentais, e que se define com base na relação com uma realidade extralinguística também objetiva. Ao contrário, a semântica cognitiva acha que o significado seja uma construção mental e que a noção de verdade não tenha um papel central. Usamos com sucesso as expressões linguísticas não porque elas sejam verdadeiras ou falsas com relação a uma realidade objetiva, mas porque a nossa compreensão dessas expressões é coerente com a nossa experiência da realidade, ou seja, porque tem uma ligação coerente entre o funcionamento da nossa mente, o funcionamento da nossa linguagem e a maneira com a qual percebemos o mundo.
Esse último ponto, ou seja, a ligação com a experiência extralinguística, nos leva a um segundo assunto fundamental da semântica cognitiva, relativo à natureza do sistema conceitual que está atrás da linguagem. Trata-se da hipótese segundo a qual as estruturas cognitivas se originam do complexo das experiências humanas e principalmente das experiências corpóreas,físico-perceptuais. 
A linguística cognitiva assume de fato que não exista separação entre a mente e o corpo, e que a dimensão mental seja profundamente arraigada naquela física, porque o núcleo essencial do sistema conceitual nasce diretamente da experiência corpórea. Esta não seria caótica (se não, não conseguiríamos funcionar como organismos viventes e interagir com sucesso com o ambiente), mas intrinsecamente organizada e estruturada até antes da emergência dos conceitos. O fato de termos um corpo, de sermos capazes de movimento, de poder manipular objetos, e em geral toda a nossa interação físico-perceptual com o ambiente gera uma série de esquemas “pré-conceituais de base” que constituem a fundamentação do sistema conceitual.
Exemplos desses esquemas são os esquemas de contentor-conteúdo ou de parte-todo. Eles se originam do fato que percebemos nosso corpo como um contentor e como um todo dotado de partes. O próprio esquema de percurso (originado pelo fato que somos dotados de movimento), os esquemas de atrás e de em frente, conectados à orientação espacial, etc. Esquemas desse tipo contêm “pacotes” de informações cruciais para a nossa existência, e representam a fundamentação dos conceitos. As estruturas semântico-conceituais que encontramos na linguagem seriam “encarnadas” (embodied) na dimensão física. A hipótese da semântica cognitiva é que também os conceitos abstratos derivem originariamente da experiência corpórea através de percursos imaginativos como a metáfora. Por exemplo, um conceito abstrato como o conceito de “conhecimento” pode ser representado metaforicamente em termos visuais, como mostram expressões como não vejo o problema, a questão está clara ou obscura, ter uma visão restrita, etc. O conceito de tempo é frequentemente representado em termos espaciais: chegou o verão, o Natal está perto, estamos indo em direção ao outono, etc. Ou seja, a representação de um conceito abstrato como o tempo são imaginados como algo concreto como espaço. 
Veja-se o texto sobre as diferentes visões cognitivas.
Significado e sentido
Os linguistas e os filósofos distinguem entre significado e sentido, segundo uma distinção devida a Frege entre Sinn (sentido) e Bedeutung (significado).
O ponto de partida da análise de Frege é resolver um aparente paradoxo relativo às afirmações de identidade. É evidente que duas afirmações como A=A e A=B são diferentes. Mas qual é essa diferença e como a podemos explicar? Vejamos um exemplo:
A=A
Machado de Assis é Machado de Assis
A=B
Machado de Assis é o autor de Dom Casmurro
Já que Machado de Assis e o autor de Dom Casmurro são a mesma pessoa, poderíamos dizer que as duas expressões dizem a mesma coisa, já que, em uma perspectiva referencialista, elas têm o mesmo referente no mundo e portanto têm o mesmo significado. Mas é evidente que elas dizem coisas diferentes. A primeira frase se limita a expressar a identidade de uma pessoa com si mesma. É um exemplo do que em lógica chama-se de tautologia, ou seja uma expressão de identidade que é verdadeira a priori e que não acrescenta nada aos conhecimentos que já temos. Ao contrário, a segunda frase possui um conteúdo informativo, porque expressa algo que poderíamos não conhecer (poderíamos não saber que Machado de Assis é o autor de Dom Casmurro), e que não poderíamos tirar da simples análise lógica da frase.
Exatamente para dar conta dessa diferença, Frege introduz a distinção entre sentido e significado. A diferença de valor informativo das duas frases depende do fato que elas têm o mesmo significado (já que elas se referem a ou denotam a mesma entidade), mas sentido diferente, porque nos apresentam essa entidade de maneira diferente.
O significado de uma frase (na perspectiva referencialista) é o objeto que o signo linguístico designa. Portanto, Machado de Assis é o indivíduo Machado de Assis; o significado de um nome comum como gato é a classe dos gatos; o significado de uma expressão como a montanha mais alta do mundo é o Everest. O sentido é a maneira com a qual o objeto nos é apresentado e que nos permite de individualizá-lo como o objeto que apresenta certas características. Portanto, expressões como o autor de Dom Casmurro, o maior escritor da literatura brasileira, o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras individualizam a mesma entidade mas seguindo percursos diferentes. A mesma entidade pode ser pensada em maneiras diferentes, mesmo correspondendo a ela o mesmo significado. Podemos então chegar a um significado através de sentidos diferentes.
Um ponto importante é que o sentido, como entendido por Frege, é algo objetivo e não deve ser confundido com uma concepção subjetiva que cada um de nós pode ter de uma certa entidade. O próprio Frege introduz um termo novo para designar o aspecto subjetivo: o termo é representação (Darstellung). Cada um pode associar a uma entidade uma representação mental subjetiva. Por exemplo, a entidade gato pode ser associada por alguns a uma entidade do tipo “animal fofo e brincalhão” e por outros a uma entidade do tipo “animal desconfiado e inquietante”. Essas representações, segundo Frege, pertencem à esfera psíquica e devem ser mantidas distintas do sentido, que é inter-subjetivo e compartilhável entre mais indivíduos. O sentido de uma certa expressão pode sempre ser compreendido também pelos outros, o que garante a compreensão comum da linguagem.
AsímboloCreferentepensamentoB
 A
símbolo
 C
referente
 pensamento
 B

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