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1 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC A mucosa intestinal, apesar de ser uma barreira que divide o meio externo do interno, sua finalidade funcional, no entanto, exige grande permeabilidade ativa e passiva, propiciando o trânsito bidirecional de nutrientes, água e eletrólitos, o que expõe o meio interno e ela própria à invasão de microrganismos, patogênicos ou não, exigindo uma manutenção permanente, impedindo infecções e transtornos à fisiologia do intestino. Absorção de líquidos: 10L é o aporte de líquidos diários no intestino, vindo de várias fontes: ingesta, saliva, suco gástrico, secreções biliopancreáticas e o próprio suco entérico (produzidos por suas glândulas exócrinas). A maior parte da absorção é no jejuno, junto com os nutrientes, em que apenas de 1 a 1,5L são absorvidos no cólon. Destes, 10% (100-150mL) são eliminados nas fezes. Descontrole nos mecanismos de absorção, secreção e/ou motilidade irá provocar os episódios diarreicos. Osmolaridade da luz intestinal: a osmolaridade do meio é de suma importância nos processos de transporte passivo de solventes (osmose). Pela dinamicidade da fisiologia, a intervenção no meio e nos transportes ativos e passivos, podem causar desregulação da osmolaridade. Mucosa intestinal: desde o EEI do esôfago, até o ânus, o TGI é revestido por uma única camada contínua de células, que devem se manter íntegras para manter sua função de barreira (impedir passagem de microrganismos e outras substâncias). Características físicas, como a exiguidade do espaço intercelular, e funcionais, como a secreção de imunoglobulinas, muco, defensinas, e outros produtos antimicrobianos, mantêm o equilíbrio dessa relação. A diarreia pode ocorrer por alteração dessa estrutura. Sistema nervoso entérico: camada quase autônoma do sistema nervoso, é composta por plexos mioentéricos e camadas neuronais da mucosa e submucosa. Sua função é mediada por: peptídeo intestinal vasoativo (VIP), somatostatina, NE, neuropeptídeo Y, serotonina, acetilcolina, etc. Controlam a função do músculo liso, o transporte de íons através da mucosa e os processos absortivos e secretores, função endócrina, modulação do sistema imune e controle do fluxo sanguíneo local. Alterações na estrutura podem causar hipersecreções (endócrinas ou exócrinas), distúrbios de motilidade, que podem levar a diarreia. Flora intestinal: as bactérias no intestino agem em simbiose na manutenção da mucosa intestinal e na modulação do sistema imune. Uma troca de materiais genéticos entre si, ou seleção bacteriana por uso irracional de antibióticos, quebra da continuidade da barreira (mucosa) ou diminuição da secreção ácida (protetor – mata vários microrganismos – uso de IBP), pode levar a quadros infecciosos. Motilidade intestinal: em alguns quadros como na diarreia funcional, nas diarreias causadas por doenças endócrinas (hipertireoidismo, síndrome carcinoide, vipoma) e na SII com diarreia, a aceleração da motilidade intestinal pode explicar a fisiopatologia nesses casos. Na anatomia do TGI a presença de pregas e microvilosidades ajudam no aumento da superfície absortiva da mucosa em até 600x, somando uma área superior a 300m2. Nas criptas das vilosidades, temos a presença de diversas glândulas, como as de Lieberkulnn, que secretam enzimas na sua função exócrina assim como componentes endócrinos de defesa. No intestino delgado, a absorção de gorduras se dá por transporte passivo, com difusão das micelas e formação das primeiras lipoproteínas. Já os carboidratos e proteínas, necessitam de um transporte ativo, com uma quebra inicial em partículas menores, para melhor transporte. ▪ Diarreia: aumento do volume, aumento da frequência e diminuição da consistência das evacuações. Ocorre perda excessiva de água e eletrólitos. ▪ Diarreia aguda: aumento do volume (> 200gr de fezes por dia – difícil identificação) e /ou frequência das evacuações (≥ 3 episódios/dia) de início recente, com duração de menos de 14 dias. Na maioria das vezes de origem infecciosa. ▪ Diarreia persistente: a duração dos episódios diarreicos tem duração de 14 dias ou mais. ▪ Diarreia crônica: apresenta duração de mais de 4 semanas (>30 dias), podendo ou não haver síndrome de má absorção associada. 2 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC ▪ Disenteria: Presença de sangue nas fezes, podendo haver presença de muco ou pus. Essa classificação temporal é importante na avaliação das diarreias infecciosas, no sentido de “triar” alguns agentes, ou grupos de agentes mais prováveis. Na diarreia aguda as bactérias (ou toxinas bacterianas) e os vírus são os agentes mais prováveis. Na diarreia persistente as bactérias podem estar envolvidas, porém aumenta a frequência de protozoários como a Giárdia lamblia e Entamoeba histolytica. Na diarreia crônica os protozoários como Cryptosporidium, Isospora belli, Giardia, Cyclospora e Entamoeba histolytica são os agentes mais prováveis. Obs: Toda diarreia crônica teve início com um quadro agudo, insidioso ou exuberante, e, dependendo da regressão espontânea ou das respostas as medidas terapêuticas utilizadas, pode se prolongar. O agente/fator etiológico indicará muito essa evolução. Anamnese e Exame físico: • Questionar: características das fezes (escala de Bristol), AF (DM2, doenças pancreáticas, intolerância à lactose, hipertireoidismo, imunossupressão, cirurgias digestivas amplas)., consumos de carne crua ou mal cozidas, ingestão de produtos não pasteurizados, passagem por áreas endêmicas/epidêmicas de cólera ou outras afecções, início e duração dos episódios, número de evacuações, volume das dezes, aspecto geral das fezes (consistência, coloração, presença de gordura, restos alimentares, odor, presença de muco, pus ou sangue; dor abdominal, febre, emagrecimento. • EF: Deve ser completo, caracterizar, se presente, o grau de desidratação e desnutrição. Possui febre? Taquicardia/hipotensão? Toque retal – sangue, muco ou pus na luva (muitos pacientes não se atentam as características de suas fezes). • Geralmente a diarreia aguda é autolimitada e em 3-5 dias o paciente se recupera, com hidratação; • Uso de ATB deve ser criterioso; • Sinais de alarme? • Maior importância na pediatria; • 2ª causa de morte em crianças < 5 anos; • Em países em desenvolvimento, crianças com até 3 anos de idade apresenta três episódios de diarreia por ano; • 60-70% das mortes se devem à desidratação; • Maioria das vias de transmissão: via oral-fecal, principalmente pela água, alimentos, mãos e objetos contaminados. Quando os enterócitos estão lesados, há uma dificuldade em absorção das moléculas que necessitem de um transporte ativo, como carboidratos e proteínas, pois, o enterócito inflamado, possui sua atividade limitada e sua energética afetada. Logo, até o período de regeneração do epitélio e restabelecimento de novos enterócitos funcionais, a borda em escova deve ser poupada de maiores estresses e o paciente deve ser nutrido com alimentos que facilitem a digestão e não cause um quadro de desnutrição, ou potencialize este. Sendo a desnutrição um grande fator de piora do quadro e persistência, aumentando a inflamação e comprometendo o estado geral do paciente. Crianças mais jovens/neonatos, possuem uma barreira mais imatura, assim como uma regeneração do epitélio intestinal mais lenta, podendo ter quadros de diarreia mais grave por isso. As diarreias podem ocorrer por quebra no balanço absorção-secreção, por deficiência no transporte de eletrólitos (gera um gradiente osmótico desfavorável – como inibição da absorção de sódio ou secreção ativa de cloro), ou lesão direta, morte dos enterócitos, atrofia dos enterócitos e/ou hiperplasia de criptas. 3 Gastroenterologia/ Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC Ânion-gap fecal A força osmótica exercida pelo conteúdo luminal deve ser igual à força osmótica exercida pelas células da mucosa, dessa forma, existe um equilíbrio osmótico entre os dois lados da mucosa intestinal. A diarreia aguda de origem infecciosa deve na verdade ser abordada clinicamente como doença gastrintestinal infecciosa, já que o quadro clínico pode conter outros sinais e sintomas gastrintestinais além da diarreia, como náuseas e vômitos. O acometimento predominante do trato gastrintestinal alto pode apresentar-se com predomínio de náuseas e vômitos, comuns nas gastrenterites virais ou como uma enterite. OBS: Diarreias bacterianas ou por protozoários também podem ser acompanhadas de vômitos, porém há tendência no predomínio da diarreia. Alguns sinais e sintomas, além de aspectos da história clínica podem ajudar a detectar se o predomínio do acometimento é no intestino delgado (enterite) ou do cólon (colite). Intestino Delgado (enterite): • Evacuações volumosas • Maior presença de evacuações noturnas (“o cólon dorme durante a noite”) • Fezes claras, brilhantes ou espumosas • Odor pútrido • Pode haver eliminação de grande quantidade de gazes dando um caráter explosivo às evacuações • Presença de restos alimentares • Síndrome de má absorção • Dor abdominal periumbilical Intestino grosso (colite) • Diarreia de menor volume de evacuações e maior frequência • Presença de tenesmo e urgência evacuatória • Presença mais frequente de pus, muco ou sangue nos quadros inflamatórios • Dor em região infraumbilical e hipogástrio É importante lembrarmos que essa divisão didática é muitas vezes impossível de ser realizada pela superposição de sinais e sintomas de ambos os segmentos do trato intestinal. Além disso, alguns agentes infecciosos podem acometer com frequência tanto o intestino delgado como o cólon. A disenteria é uma denominação dada à diarreia inflamatória associada a cólicas e fezes muco- sanguinolentas, podendo ser acompanhadas de febre. Síndrome Disentérica: diferencia-se pela presença de muco ou sangue nas fezes. Quase sempre associado a tenesmo (sensação dolorosa retal com vontade de evacuar, mesmo que o reto esteja vazio). Traduz lesão orgânica do reto e cólon distal. Algumas etiologias: Shiguellose, amebíase, retocolite ulcerativa, proctite. 90% das diarreias agudas são de origem infecciosa. A principal forma de contaminação se da por uma quebra de barreiras protetoras do hospedeiros e potenciais dos fatores patogênicos dos microrganismos. É comum nas diarreias, os mecanismos coexistirem em um único quadro, a depender do patógeno e do organismo afetado. Obs: o reflexo gastro-cólico aumentado nem sempre é reflete em uma diarreia. O paciente pode apresentar uma aceleração motora, mas não apresenta um quadro diarreico. 1. Diarreia Osmótica Existe alguma substância osmoticamente ativa e não absorvível pelo epitélio intestinal. Uma quantidade maior de água obrigatoriamente será retida na luz do tubo digestivo (tentativa de equilibrar a osmolalidade de seus conteúdos inabsorvíveis com a do meio extracelular). Tanto o delgado quanto o cólon não conseguem evitar que o equilíbrio entre os dois lados da mucosa seja atingido! Aproximadamente 3,5L de água são perdidos para cada 1 mOsm de aumento na osmolalidade intraluminal. 4 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC A diarreia osmótica cessa completamente com o jejum, logo, não há diarreia noturna, ao contrário das secretórias! A suspensão do gatilho (ex.: lactose) também melhora rapidamente o quadro. Como a absorção de eletrólitos está intacta na osmótica, os níveis de sódio e potássio estão reduzidos nas fezes, levando a um gap osmolar fecal ELEVADO (>125 mOsm/L) – o cálculo leva em consideração os níveis de sódio e potássio. *A diminuição da absorção dos açúcares → resulta em aumento da fermentação deles pela flora intestinal → causa maior eliminação de flatus, cólicas e distensão abdominal. *A diminuição do pH fecal pode levar a um eritema perianal. 2. Diarreia Secretora Algum fator, geralmente uma toxina, droga ou substância neuro-hormonal, está estimulando a secreção ou inibindo a absorção hidroeletrolítica pelo epitélio intestinal. Podendo ser uma diarreia alta ou baixa, ou as duas concomitantes. A diarreia secretória vai apresentar um gap osmolar baixo (<50 mOsm/L) – pela riqueza de Na e K nas fezes – e não cessa com o jejum.s *O volume é bem maior do que a osmótica. *Isotônica com o plasma: evacua o que está recebendo. Ocorrem mais frequentemente em segmentos do delgado. Raramente contém muco ou sangue. Possui um excesso de íons secretados para a luz intestinal. 3. Diarreia Inflamatória/Invasiva Mecanismo depende do local da inflamação. Decorrente da liberação de citocinas e mediadores inflamatórios por lesão direta da mucosa intestinal e o aumento da motilidade. Ocorre ruptura da integridade da mucosa com exsudato ou ulceração; pode não estar associado a exsudação (baixa absorção lipídeos, baixa absorção hidroeletrolítica, hipersecreção e hipermotilidade. O marco desse tipo de diarreia é a presença de sangue, muco e pus nas fezes, podendo ser chamada de disenteria. Pode ser infecciosa ou não infecciosa (ex.: doença inflamatória intestinal). 5 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC OBS: O exame que avalia a presença de sangue, pus e muco nas fezes é o EAF (Elementos Anormais nas Fezes)... A lactoferrina fecal (marcador de ativação leucocitária) também está aumentada nas disenterias. É a causa mais frequente de episódios de diarreia aguda em todo o mundo. A gastroenterite viral aguda acomete indivíduos em todas as idades com predomínio de crianças e lactentes, caracterizando-se por episódios de diarreia aquosa e/ou náuseas e vômitos, podendo acompanhar-se de febre, perda de apetite e adinamia. Nos casos mais graves pode ocorrer diarreia profusa com desidratação, podendo levar ao óbito especialmente nas crianças. A gatroenterite viral aguda tende a ocorrer em surtos, principalmente nos meses de inverno nos países desenvolvidos. Entretanto a ocorrência da doença pode ser de forma esporádica em qualquer período do ano nos países em que as estações não são muito bem definidas, como no Brasil. Os surtos familiares de gastrenterite viral aguda geralmente estão associados com a presença de uma criança infectada no lar, sendo a infecção adquirida durante os cuidados prestados à criança. 1. Rotavírus Os Rotavírus são subdivididos de acordo com as especificidades antigênicas em grupos, subgrupos e sorotipos. Os grupos são divididos em 7 componentes (A, B, C, D, E, F, G), sendo o grupo A o de maior frequência e importância clínica. A doença gastrintestinal por Rotavírus é a causa mais comum de internação por diarreia em crianças em todo o mundo. As infecções predominam em crianças abaixo de 2 anos de idade (maior incidência entre 6 meses e 2 anos – 33% das internações) e tendem a ser menos sintomáticas em adultos (outra diferença em relação aos norovírus). Entretanto infecções sintomáticas severas podem ocorrer em adultos. Apesar desse dado, deve-se ter o conceito de que a doença gastrintestinal por Rotavírus é predominante em crianças abaixo de 5 anos de idade. Até os 4 meses de idade as infecções assintomáticas podem ser frequentes refletindo a papel protetor dos anticorpos maternos transferidos passivamente durante o aleitamento. A via de contaminação principal é a fecal-oral a partir de um paciente contaminado (geralmente uma criança), com a contaminação de água e alimentos assumindo um papel secundário, porém relatado. O período de incubação é de 48-72 horas e a infecção pode durar28 dias. Principal mecanismo fisiopatológico é de uma diarreia osmótica: destruição das bordas em escova das células epiteliais do topo das vilosidades que tem função digestiva absortiva, promovendo a perda de enzimas digestiva. Há também o mecanismo secretor, em que a proteína viral NSP4 leva a um aumento do cálcio intracelular. O quadro clínico é variável podendo ocorrer diarreia aquosa, náuseas, vômitos, dor abdominal, irritabilidade e febre. Os vômitos podem surgir antes do desenvolvimento da diarreia, e são mais frequentes nas infecções por Rotavírus do que em gastroenterites por outros agentes. A diarreia habitualmente é aquosa e autolimitada, com duração habitual de 3 a 8 dias. Entretanto pode ser grave o bastante para provocar desidratação, distúrbios eletrolíticos, crises convulsivas e até mesmo óbito. Outra preocupação nos casos de vômitos, é aspiração e consequentes complicações respiratórias. 1. Salmonella sp. Infecção pode ser por S. typhi ou paratyphi. Essa patologia infecciosa caracteriza-se como uma doença febril sistêmica com manifestações abdominais que acomete predominantemente crianças e adultos jovens Incidência é maior em <5 anos. O período de incubação pode ser de 6-48 horas, até de 10 dias. E é uma das causas mais frequentes de surtos associados a intoxicação alimentar que podem causar disenteria. Podem continuar excretando bactérias por cerca de 5 semanas até 1 ano após a infecção. Manifestações clínicas: sintomas gerais como febre, calafrios, cefaleia e mal-estar geral, presentes na primeira semana de doença. Geralmente abre um quadro de enterocolite, com um uma diarreia, dor abdominal, vômitos transitórios, podendo ter febre por alguns dias. 6 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC A partir desse período surgem manifestações abdominais como dor abdominal difusa ou em topografia ileocecal (a Salmonella typhi penetra na mucosa intestinal e atinge os fagócitos mononucleares das placas de Peyer no íleo, e posteriormente os linfonodos mesentéricos), distensão abdominal e meteorismo. Como o homem pode tornar-se um portador após uma infecção aparente ou inaparente, ele pode ser a fonte de novas infecções ao contaminar alimentos e água. Assim os mais diversos alimentos podem tornar- se infectados e servir como fonte de novos casos. 2. E. coli Enterotoxigênica (ETEC) Produzem toxinas denominadas enterotoxinas LT (termolábil) e SS (termoestável) que provocam alterações na absorção e secreção de eletrólitos na luz intestinal, com a ocorrência de acúmulo líquido e diarréia. A E. coli enterotoxigênica adere à mucosa intestinal, porém não possui capacidade invasiva, caracterizando-se por provocar infecção superficial da mucosa intestinal e diarréia aquosa sem muco, sangue ou leucócitos fecais. Está em entre as causas de morbidade e mortalidade mais freqüentes de diarréia por bactérias, sendo o agente mais freqüente da “diarréia dos viajantes”. É uma infecção autolimitada (5 dias), podendo chegar até 3 semanas. Prevalente em países em desenvolvimento, surtos, e pode acometer todas as faixas etárias. Junto com o rotavírus, corresponde a mais de 25% dos casos de diarreia aguda. 3. Shigella sp. Bastonete Gram-negativo, transmitido por via fecal-oral e por meio de alimentos e água contaminados. Produz citotoxinas e neurotoxinas (48h após) potentes, além de penetrar nas células colônicas, provocando degeneração do epitélio e inflamação da lâmina própria, o que resulta em descamação e ulceração. Os sintomas surgem após um período de incubação de um a dois dias. A fase inicial, de enterite, manifesta-se por diarreia aquosa, seguida por colite, com diarreia mucossanguinolenta. O clássico é de uma disenteria baixa/colônica: pouco volume e muita frequência, tenesmo e cólica. Possui risco de disseminação hematogênica, e de desenvolver anemia microangiopática → síndrome hemolítica urêmica e púrpura trombocitopênica. A maioria dos casos não necessita de exames complementares. Solicita-se quando o paciente apresentar algum sinal de alarme, quando houver evolução grave, pacientes com desnutrição grave, neonatos, lactentes e imunossupressos. A abordagem inicial dos pacientes com diarreia deve priorizar os seguintes aspectos: 01. Avaliar a gravidade do quadro clínico 02. Avaliar o grau de desidratação e forma apropriada de reidratação 03. Tentar identificar os prováveis agentes envolvidos com bases em dados clínicos e epidemiológicos. Este item apesar de difícil, já que as manifestações clínicas dos diversos agentes causadores de diarreia aguda são na maioria das vezes indistinguíveis, não deve ser desprezado e deve ser estimulado. Geralmente, não é realizado por desconhecimento dos aspectos peculiares dos principais agentes infecciosos envolvidos em diarreia. A maioria das diarreias agudas são autolimitadas, com pouca repercussão clínica e de etiologia viral. Assim não há necessidade de investigação etiológica através de exames complementares como coprocultura, parasitológico de fezes, pesquisa de leucócitos, lactoferrina ou sangue fecal, e nem hemoculturas. Essa investigação deve ser reservada para os casos de maior gravidade, com febre, desidratação severa ou sinais de diarreia inflamatória (muco, pus ou sangue nas fezes). Nessas condições deve-se pesquisar as fezes para Salmonella, Campylobacter, Shigella, e nos casos de diarreia sanguinolenta, a pesquisa de E. coli produtora da toxina de Shiga (principalmente quando nos casos sem febre). Os casos suspeitos de diarreia inflamatória devem ser confirmados com a pesquisa de leucócitos fecais ou de lactoferrina (mais sensível) nas fezes. Lembre-se que nos casos de diarreia persistente é fundamental a realização de exame parasitológico de fezes. Exames que podem ser solicitados: hemograma, bioquímica (ureia, creatinina, sódio, potássio, TGO, TGP), gasometria arterial, EPF, cropocultuta, sangue e leucócitos nas fezes. 7 Gastroenterologia / Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC Esses métodos investigativos mais específicos devem ser solicitados quando o diagnóstico não conseguiu ser fechado de outra forma, ou não está obtendo resposta ao tratamento, sendo necessário esses exames para determinar o diagnóstico. Manejo do paciente com desidratação por diarreia segundo o MS: Primeiro passo é hidratar e alimentar o paciente da forma correta. É preciso que dê um intervalo de 5-7 dias para uma melhora do quadro inflamatório da mucosa intestinal, logo, a dieta deve ser alterada para exigir menos do epitélio. Direcionado para cada paciente e causa, adota-se: • Terapia sintomática; • Correção da desidratação e de distúrbios hidroeletrolíticos; • Realimentação precoce; • Uso de antibióticos; • Uso de probióticos. *Dieta: sem lactose, sem irritantes gástricos, oferecer tipo: pães, farinhas brancas e massas, arroz branco. *Avaliar débito urinário – diurese clara e compatível com o volume infundido. *Dieta semi-elementar: a base de aminoácidos e peptídeos menores (menores partículas para melhor absorção, pois não precisa de muito esforço para digestão). Uso de antibióticos deve ser usado com cautela. Sendo indicada para os casos de: • Diarreia por cólera; • Imunossuprimidos (HIV e outras doenças), com neoplasias malignas, hemoglobinopatias; • Pacientes em tratamento imunossupressor; • Crianças <3 meses. Indicação relativa: • Diarreia do viajante; • Diarreia por C. difficile francamente sanguinolenta; • Infecção sistêmica por Aeromonas; • Shigelloses. Principais antibióticos usados: geralmente SMZ + TMP, ampicilina, eritromicina, metronidazol ou amoxicilina. Principais probióticos utilizados: S. boulardii, L. acidophillus, B. lactis, L. caseii. 8 Gastroenterologia/ Mateus Ribeiro / 5º semestre UNIFTC
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