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Reflexo Inato e Lie to me

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OS REFLEXOS INATOS E O ESTUDO DAS EMOÇÕES: UMA ANÁLISE DO EPISÓDIO PILOTO DA SÉRIE LIE TO ME
1. INTRODUÇÃO
	Segundo Leonardi e Nico (2019), é de suma importância entender o comportamento respondente, também chamado de comportamento reflexo, para que seja possível a compreensão do comportamento humano, mesmo que os reflexos sejam apenas uma pequena parte do repertório comportamental dos organismos. Sendo assim, os seres humanos, assim como as demais espécies animais, possuem comportamentos chamados de reflexos inatos, os quais servem como uma preparação para que seja possível o início da interação do organismo com o ambiente em que ele está inserido, aumentado suas chances de sobrevivência (MOREIRA, 2019).
	Sendo assim, tais comportamentos ocorrem desde o nascimento e são chamados de reflexos por se referirem à relação que ocorre entre um estímulo (S) e uma resposta (R), ou seja, uma mudança no ambiente (S) que elicia uma mudança no organismo (R), essa associação também pode ser nomeada como relação reflexa (MOREIRA, 2019). Por exemplo, o estímulo do fogo próximo à mão elicia a resposta de contração muscular do braço, assim como um bebê já nasce sabendo vários movimentos de sucção, visto que ele necessita mamar. 
	Isto posto, essas relações respondentes possuem atributos. Dois deles denominam-se “intensidade” e “magnitude” e estão relacionados à força do estímulo e da resposta, respectivamente (MOREIRA, 2019). Ademais, de acordo com Leonardi e Nico (2019), conforme citado por Catania (1999) e Skinner (1938/1991,1953,1965), o limiar diz respeito ao mínimo de intensidade que o estímulo precisa apresentar para que possa eliciar uma resposta, já a duração é o tempo que a resposta se mantém e a latência é o período de tempo entre a exibição do estímulo e a eliciação da resposta. 
	Além disso, conforme Moreira (2019), assim como os seres humanos nascem preparados para entrar em contato com o seu meio, eles também nascem aptos para exibir respostas emocionais, de acordo com a apresentação do estímulo ambiental. Desse modo, as emoções podem ser definidas como condições complexas que ocorrem como respostas às experiências afetivas, sendo compostas pela experiência subjetiva, pelas respostas corporais, pelas cognições acerca das emoções, pela expressão facial, pelas reações e pelas tendências de ação (ATKINSON, 2002).
	Assim, a experiência subjetiva está relacionada aos sentimentos ligados à emoção, já a reação corporal se refere à fisiologia do organismo, principalmente ao sistema nervoso autônomo, enquanto as cognições são o agrupamento de crenças e ideias que condizem com a emoção e que aparecem de modo automático (ATKINSON, 2002). Além disso, algumas expressões faciais são universais, ou seja, nos diferentes lugares do mundo, uma mesma emoção pode ser demonstrada da mesma maneira, o que indica que elas são programadas pelos genes de cada indivíduo, logo, são inatas (DAVIDOFF, 1983). Ainda, as reações às emoções estabelecem a maneira como o sujeito verá o mundo, gerando comportamentos que são apresentados conforme a emoção experienciada pelo sujeito (ATKINSON, 2002).
	De acordo com Davidoff (1983), consoante os estudos do psicólogo Richard Salomon, as experiências provocam emoções e sua magnitude dependerá das características ambientais apresentadas. Portanto, se houver determinada quantidade de perigo, por exemplo, ele eliciará uma resposta de medo ou terror em maior ou menor magnitude. Desse modo, ocorre a chamada excitação emocional, que irá ativar o sistema nervoso autônomo e, na maioria das vezes, preparar o organismo para produzir energia e para operações de emergências, principalmente em casos de medo e cólera, assim como algumas dessas mesmas respostas podem ocorrer durante a excitação sexual ou de alegria. Todavia, durante outras emoções, como tristeza, esses processos são amenizados (ATKINSON, 2002). 
	À vista disso, pode-se explicar o porquê de as emoções serem difíceis de controlar, uma vez que são relações reflexas e ocorrem conforme os eventos ambientais são apresentados, o que inclui os acontecimentos internos, como pensamentos e lembranças. Todavia, os comportamentos emocionais também podem ser modificados a partir da interação do sujeito com o ambiente (MOREIRA, 2019). 
	Ademais, os reflexos inatos, além de serem percebidos no cotidiano dos seres humanos, são abordados em filmes, séries, novelas, dentre outras obras cinematográficas, assim como a que será abordada posteriormente. 
2. LIE TO ME 
Lie to me é uma série de drama e investigação policial estrelada por Tim Roth e Kelli Williams, idealizada por Samuel Baum e com exibição original pela emissora norte-americana FOX. Conta com 3 temporadas entre os anos de 2009 e 2011. O seriado traz em cada um de seus episódios as consultorias do Dr. Cal Lightman (personagem fictício baseado no Dr. Paul Ekman, psicólogo especialista em linguagem corporal) em parceria com sua sócia, a psicóloga Dra. Gillian Foster, e outros membros de sua equipe. Os protagonistas são especialistas em analisar a micro expressões, linguagem corporal e verbal e utilizam essa técnica na detecção de mentiras e inverdades em casos diversos, indo de suspeitas de homicídios até problemas conjugais. 
O primeiro episódio do seriado (Piloto) traz até o Grupo Lightman a consultoria relacionada a um caso de assassinato de uma professora, tendo como suspeito um jovem membro de uma devota família de Testemunhas de Jeová. Além da trama central, também é apresentado o caso paralelo, a busca de um chefe de governo por saber a verdade acerca de um dos seus colegas de profissão, na tentativa de evitar um escândalo político. Os dois casos são assistidos pela equipe treinada em identificar mentiras, que demonstram suas habilidades em observar os pequenos movimentos e reações fisiológicas daqueles que estão envolvidos na investigação. 
Diversas cenas durante o episódio evidenciam essas habilidades das personagens. Durante o interrogatório com um suspeito de colocar bombas em igrejas (Cena 1), Dr. Lightman consegue identificar as micro expressões de satisfação e de repulsa por parte do suspeito. Estas apresentadas através de pequenos sinais que conseguiam indicar as emoções que este experienciava frente às suposições do especialista. Além disso, a personagem consegue observar a movimentação do ombro do garoto (reflexo que ocorre quando está sendo contada uma mentira).
Já no interrogatório com o jovem suspeito de homicídio (Cena 2), Dr. Lightman e Dra. Foster analisam os movimentos oculares do garoto, podendo estar associados a mentira (olhar fixo no interlocutor) ou a recordação de fatos passados (direcionamento do olhar para a esquerda). Ainda nesta entrevista, os especialistas notam a dilatação da pupila, associada à excitação com algo (Cena 3). 
Em uma das conversas elucidativas para um dos casos investigados, Dr. Lightman ainda reconhece reações fisiológicas, como o resfriamento das extremidades do corpo (no episódio evidenciada por mãos frias) e a respiração pesada (Cena 4). Estas reações podem ser indicadoras de emoções relacionadas a fuga, estresse e tensão dos indivíduos, assim como analisado pela personagem.
3. RELAÇÃO ENTRE TEMA E FILME
	À vista disso, torna-se possível fazer associações, a partir das cenas descritas, entre o episódio e os estudos acerca dos reflexos inatos. No que diz respeito a Cena 1, na qual são analisadas as micro expressões, observa-se a forma que o suspeito reage aquele ambiente/contexto, sendo estas respostas rápidas, automáticas e, na maioria das vezes, inconscientes. 
Ademais, são observadas, nas Cenas 1, 2 e 3 (movimentações no ombro, dos olhos e pupila dilatada, respectivamente) outras reações emocionais. Estas acontecem em decorrência da interação entre o indivíduo e o ambiente em situações de perigo, sustos (no filme, por exemplo, é mostrado o reflexo quando se joga um objeto em sua direção) e excitações, além de momentos em que ocorrem recordações. Nota-se, portanto, que são comportamentos de difícil controle e, em partes, compartilhados e comunsà espécie, sendo ações automáticas e que podem permanecer durante toda vida, exercendo função protetora. 
No que se refere à Cena 4, as reações fisiológicas (alterações na respiração e temperatura das mãos) são respostas involuntárias do sistema nervoso, resultantes da exposição do indivíduo a situações estressoras (medo, tensão, por exemplo), isto é, as reações do organismo mediante estímulos ambientais, assim, são reflexos naturais e automaticamente eliciados. 
Desta maneira, constata-se que os comportamentos descritos das cenas são filogenéticos, selecionados a partir da seleção natural de antepassados, a fim de garantir repertórios básicos para a sobrevivência, ocorrendo de forma rápida, involuntária, muitas vezes, sem que o indivíduo perceba, não tornando necessário serem aprendidos/condicionados, sendo, portanto, inatos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	Assim sendo, torna-se evidente que os reflexos inatos compõem o repertório comportamental das espécies desde seu nascimento (isto é, sem necessidade de aprendizagem), tornando-se, dessa forma, essencial para a sobrevivência. Esses comportamentos são respostas dos organismos que acontecem mediante algum estímulo (situações, contextos, inserção em determinados ambientes), podendo ser observados e, sobretudo, medidos através de atributos pertencentes a essa relação (S-R), tais como magnitude, intensidade, latência e limiar. 
Ademais, os reflexos são manifestados a partir de reações emocionais, psicomotoras e fisiológicas, ou seja, muitas das emoções sentidas pelos sujeitos são respostas reflexas e que surgem em função de situações e de contextos, a partir dos quais ocorrem mudanças na fisiologia do organismo. Dessa maneira, essas emoções são universais e, portanto, inatas, sendo possível notá-las e realizar análises destas, tal como nas cenas do episódio piloto da série Lie to me. Assim como apresentado no seriado, a observação destes reflexos inatos pode auxiliar em análises diversas dos indivíduos, não apenas no que se refere a enunciação de mentiras, mas também referente aos efeitos associados a determinados estados emocionais. 
5. REFERÊNCIAS
ATKINSON, R. L. Introdução a Psicologia de Hilgard. Artmed, 2002.
CATANIA, A. C. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.
DAVIDOFF, L. F. Introdução a Psicologia. 1983.
LEORNADI, J. L.; NICO, Y. Comportamento respondente. In: BORGES, N. B. et al (Org.). Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 18-23. 
MOREIRA, M. B. Princípios básicos de análise do comportamento. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
SKINNER, B. F. Science and human behavior. New York: Free Press, 1965. (Trabalho original publicado em 1953)

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