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Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. AGRAVO DE INSTRUMENTO O agravo de instrumento é o recurso cabível das decisões interlocutórias, independentemente de seu conteúdo. Conceito de decisões interlocutórias: são aquelas que se dão no curso do processo, não extinguem o processo de conhecimento (a fase cognitiva). São proferidas em qualquer tipo de procedimento e também na jurisdição contenciosa voluntária. A lei traz o conceito de decisões interlocutórias no artigo 203, §2º: Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 , põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º. Ou seja, para a lei decisão interlocutória é tudo aquilo que não for sentença, mas que possui cunho decisório. *Relembrando que se não for não tiver cunho decisório, será apenas despacho. PRINCIPAL ARTIGO: Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; (a parte não concorda com o litisconsórcio) VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art487 Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; (Embargos à execução são a resposta do executado ao processo de execução – vamos estudar no 6º período) XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ; (Existem algumas demandas em que a parte pode requerer a inversão do ônus da prova. Em Direito do Consumidor, por exemplo: o consumidor entra com uma ação contra fornecedor e ele pede na petição inicial a inversão do ônus da prova. Normalmente, a parte que alega, é quem deve provar o que alegou. Mas, no direito do consumidor, você pode pedir a inversão do ônus da prova, então mesmo que você alegue que aquele produto ou serviço tem um vício/ defeito, quem vai ser obrigado a provar aquele vício/defeito é o fornecedor. Ele que vai ter que nomear um perito para analisar se o vício/ defeito do produto foi causado pelo consumidor ou não. Porque se foi causado pelo consumidor, teremos a responsabilização do consumidor, excluindo a responsabilidade do fornecedor. Ex.: alguém joga o próprio smartphone na privada. No Direito Trabalho também é assim). XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. (Caberá agravo de instrumento independentemente da matéria) PROCEDIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO O que deve constar na Petição de Agravo de Instrumento? Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, por meio de petição com os seguintes requisitos: I - os nomes das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo. Observação: O Agravo de Instrumento é dirigido diretamente ao Tribunal competente, ele não passa primeiro pelo juiz como ocorre na Apelação. Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art373%C2%A71 Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; V - outra forma prevista em lei. Em resumo, na petição de agravo de instrumento, o advogado tem que anexar obrigatoriamente esses documentos do inciso I, se faltar, no processo, algum desses documentos, o inciso II diz que tem que declarar que não anexou aquele documento específico que era obrigatório, porque não existe. Se ele não fizer essa declaração, terá responsabilidade perante a OAB. E no inciso III – “facultativamente” quer dizer que o advogado não precisa anexar somente essas peças do inciso I, se ele entender que outras peças são úteis, ele também tem a faculdade de anexá-las § 4º Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original. § 5º Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos incisos I e II do caput , facultando-se ao agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia. Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que instruíram o recurso. • Na verdade, o agravante, DEVERÁ requerer a juntada desses documentos, porque se ele não fizer isso, o agravo de instrumento se tornará inadmissível (punição) Por que o agravante deverá requerer a juntada desses documentos se o processo for físico? R.: Porque o juiz deve ter a oportunidade de se retratar (juízo de retratação) § 1º Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. Esse parágrafo é uma justificativa para o agravante ter a obrigação de anexar as cópias desses documentos, porque o juiz não está sabendo de nada. O agravante interpôs o agravo de instrumento diretamente no Tribunal, então o juiz não tem conhecimento disso. Como ele vai passar a saber do agravo de instrumento? Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. R.: Com a anexação dos documentos do caput do art. 1.018 aos autos do processo principal, aí sim o juiz vai receber aqueles documentos e ver o agravo de instrumento, podendo reformar sua decisão. Se o juiz optar por se retratar, o que vai acontecer? O §1º responde: se ele quiser se retratar vai comunicar isso ao relator do tribunal sobre a modificação da sua decisão, não tendo mais o que se julgar no agravo de instrumento - “prejudicado o agravo de instrumento”. § 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência prevista no caput , no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento. Essa juntada de documentos deve acontecer no prazo de 3 dias, caso o processo não seja eletrônico. § 3º O descumprimento da exigência de que trata o § 2º, desde que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo de instrumento. Se ele não anexar esses documentos nos autos do processo principal, quando o agravado for intimado a oferecercontrarrazões ao agravo de instrumento e perceber isso, ele vai alegar isso ao relator e o agravo de instrumento será julgado inadmissível (PUNIÇÃO). ❖ Art. 1.017, § 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. Por que somente PORTE DE RETORNO? Como o agravo de instrumento é interposto diretamente no Tribunal, não há porte de REMESSA, só há o porte de RETORNO. Então, quando o Tribunal julgar o agravo de instrumento, a decisão do Tribunal vai retornar para o juiz singular reformar sua decisão, configurando o porte de retorno. Isso somente ocorre nos processos físicos, porque se for PJE não haverá nem porte retorno, só haverá as custas. $$$ § 2º No prazo do recurso, o agravo será interposto por: I - protocolo realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo; (O advogado que atua em Recife, por exemplo, tinha uma maior facilidade do que os que atuam no interior, já ia lá no TJ e protocolava seu agravo de instrumento. O pessoal do interior precisar se deslocar até Recife se for realizada diretamente no Tribunal.) II - protocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias; (Com esse inciso, fez com que não fosse mais necessário se deslocar para Recife – “protocolo integrado”) III - postagem, sob registro, com aviso de recebimento; (AR) IV - transmissão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; (Se for interpor por fax, tem que anexar também os documentos originais) V - outra forma prevista em lei. Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. Art. 1.017, § 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o disposto no art. 932, parágrafo único . Então, o relator não vai considerar o recurso inadmissível de imediato. O advogado vai ter a chance de no prazo de 5 DIAS, fazer a complementação da documentação. (PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS). Pergunta que ela esperou que os alunos fizessem? SE O ADVOGADO PERCEBE QUE AQUELA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE O JUIZ PROLATOU NÃO SE ENQUADRA NO ROL DO ART. 1.015, O QUE O ADVOGADO IRÁ FAZER? ... Como se sabe, o agravo retido que existia anteriormente foi extinto do Novo CPC. Que antes, ele era a regra para todas as hipóteses de decisão interlocutória e o agravo de instrumento somente para aquelas causas que gerassem dano grave ou de difícil reparação para o agravante. Com o Novo CPC, foi extinto o agravo retido e trouxe um ROL EXEMPLETIFICATIVO de hipóteses de cabimento do agravo de instrumento, mas se uma decisão não se enquadrar nesse rol, o advogado não vai poder interpor o agravo de instrumento. Então, o que ele pode fazer? • Se NÃO FOR O CASO DE UMA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE VÁ CAUSAR À PARTE DANO GRAVE OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO: - o advogado vai esperar a decisão final do juiz (sentença) e vai interpor o RECURSO DE APELAÇÃO, se ele for a parte sucumbente. E neste recurso de apelação, vai abrir uma preliminar e vai tratar aquela decisão interlocutória que foi dada no curso do processo. - se ele não for sucumbente, e a outra parte interpuser o recurso de apelação, ele vai apresentar uma preliminar nas contrarrazões do recurso de apelação para tratar sobre aquela decisão interlocutória. Para melhor entender: “Art. 1.009, § 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. § 2º Se as questões referidas no § 1º forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas.” “Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível.” http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art932p Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. A priori, se sabe que o agravo de instrumento tem o rol do art. 1.015, se o juiz interpor uma decisão interlocutória na fase de conhecimento e o advogado verificou que não está no rol do art. 1.015, o advogado vai ficar quieto, porque essa decisão interlocutória não será coberta pela preclusão (perda do direito pelo decurso do tempo), isso quer dizer que o advogado pode impetrar um recurso contra essa decisão interlocutória em um momento depois. • Se o cliente foi sucumbente, mas não está no rol do art. 1.015 e não é uma decisão vai causar um dano irreparável agora: o que fazer? Interpor recurso de apelação e na preliminar abordar sobre essa decisão interlocutória. • Se o cliente for ganhador na sentença, e a outra parte interpôs o recurso de apelação: o que fazer? Alegar essa preliminar sobre a decisão interlocutória nas contrarrazões da apelação. (Inclusive, na preliminar o advogado deve apresentar esse art. 1.009 para demonstrar que o relator verifique que ele possui esse direito). O relator vai mandar intimar a outra parte, para apresentar contrarrazões da preliminar. – Se isso não ocorrer, isto estaria impedindo o princípio do contraditório e da ampla defesa. O advogado deve deixar claro que está abrindo uma preliminar e mencionar o art. 1.009, §1º para que não fique confuso para o relator que vai receber esses autos. EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO AGRAVO SÓ TEM EFEITO DEVOLUTIVO. Isso quer dizer que o agravo não vai suspender os efeitos da decisão recorrida. Por exemplo, você foi condenado em decisão interlocutória do art. 1.015 – antecipação dos efeitos da tutela/ tutela de urgência – para pagar alimentos provisórios (determinados pelo juiz no curso processo, ainda não houve a sentença). Quando a parte está precisando dos alimentos com urgência, ela vai demonstrar a boa fumaça do direito (fumus boni juris) e o perigo da demora (periculum in mora), requerendo os alimentos provisórios (aqueles que o réu deve ir pagando até a sentença) e os alimentos definitivos (estes são após a sentença). Questão recorrente: E se na sentença o juiz desobrigar o réu a pagar os alimentos. Aqueles alimentos que ele pagou no curso do processo, que foram determinados por decisão interlocutória, serão devolvidos? NÃO. Porque os alimentos tem uma característica, que está no Código Civil, de que eles são irrepetíveis. Isto é, os alimentos uma vez pagos, não serão devolvidos. Isso ocorre também com os alimentos gravídicos. (Artigo que fora vetado – não entrou em vigor: se autora indicasse um falso pai. Aquela gestante que indicou o falso pai, tinha que indenizá-la). Se a mulher está gestante e ela interpõe uma ação de alimentos gravídicos. O juiz vai proferir uma decisão chamada “decisão sob cognição rarefeita”, isto é, o juiz não tem certeza de que aquele é pai, mas ele o faz, por meio de provas colacionadas aos autos. Victória Thalita do Nascimento Pereira, acadêmica de Direito. Requerimento do Efeito Suspensivo Mesmo quando não há efeito suspensivo a parte pode REQUERER este efeito. “Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;” Então, o advogado do agravante pode fazer um requerimento ao relator para que atribua efeito suspensivo, comprovando que aquela decisão pode causar um dano grave ou de difícil reparação. CONTRARRAZÕES: “II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído,ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso;” Então, o agravado é intimado pelo relator (já que o agravo de instrumento foi interposto diretamente no tribunal) através do AR. Se os autos forem eletrônicos, a intimação vai chegar para o advogado constituído. Caso não tenha advogado constituído, o agravado será intimado pessoalmente para constituir advogado e apresentar as contrarrazões. “III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.” O que protela muito feito é a necessidade de manifestação do MP. EXISTE PRAZO PARA O JULGAMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO? Sim, o prazo de 1 MÊS. Art. 1.020. O relator solicitará dia para julgamento em prazo não superior a 1 (um) mês da intimação do agravado. Por que na Apelação não teve prazo e no Agravo de Instrumento tem prazo? R.: Como regra geral, o Judiciário não tem prazo. Mas no Agravo de Instrumento tem sim, pois se trata de uma decisão interlocutória que pode causar um dano grave ou de difícil reparação para a parte prejudicada. Então ele deve ser julgado de forma célere. Há casos em que o agravo de instrumento não foi julgado. Então, o advogado deve impetrar um mandado de segurança, porque não foi cumprido o prazo previsto em lei.
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