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HEPATITES VIRAIS DE TRANSMISSÃO ENTÉRICA Prof. Cláudia Lamarca Vitral Saul Krugman (1911-1995) 1958, Saul Krugman: Investigação da história natural das hepatites virais (Willowbrook State School) Histórico das hepatites virais: estudos em voluntários humanos Baruch Samuel Blumberg Harvey J. Alter 1967, B Blumberg, H Alter, A Prince e cols: Descoberta do antígeno Australia e do vírus da hepatite B 1973, S Feinstone, A Kapikian, R Purcell: Descoberta do vírus da hepatite A Mario Rizzetto John L. Gerin 1977, M Rizzetto, J Gerin e cols: descoberta do vírus da hepatite delta Mikhail Surenovich Balayan 1983, M Balayan e cols: Descoberta do vírus da hepatite E 1987, Michael Houghton, Qui-Lim Choo e George Kuo (Chiron Corporation), em colaboração com Daniel Bradley do CDC, utillizaram uma nova metodologia de clonagem molecular para identificar um organismo desconhecido, posteriormente confirmado como um vírus (1988, Harvey Alter). Em abril de 1989, a descoberta do vírus, renomeado como vírus da hepatite C (HCV), foi publicada em 2 artigos da revista Science. Michael Houghton Qui-Lim Choo George Kuo Daniel Bradley 1989, Q-L Choo, M Houghton, G Kuo, D Bradley, H Alter e cols: Descoberta do vírus da hepatite C Hepatites virais Hepatite A Hepatite B Hepatite C Hepatite D Hepatite E Agente etiológico HAV HBV HCV HDV HEV Classificação (família) Picornaviridae Hepadnaviridae Flaviridae Não classificado Hepeviridae Transmissão entérica parenteral parenteral parenteral entérica Infecção crônica não sim sim sim não Vacina sim sim não não não Os vírus das hepatites Transmissão entérica Vírus da hepatite A (HAV) Fam. Picornaviridae Vírus da hepatite E (HEV) Fam. Hepeviridae Transmissão parenteral Vírus da hepatite B (HBV) Fam. Hepadnaviridae Vírus da hepatite C (HCV) Fam. Flaviviridae Vírus da hepatite D (HDV) “viróide” Hepatite A Prevalência de Anti-HAV Alta Intermediária Baixa Muito baixa A infecção pelo HAV no mundo Maior prevalência em países em desenvolvimento Distribuição mundial Causa mais comum de hepatite viral aguda (1,5 milhão casos/ano) Breve histórico da hepatite A 1973, identificação do HAV (Feinstone et al.) 1979, propagação do HAV em cultura celular (Provost e Hilleman) 1991, licenciada a primeira vacina inativada para hepatite A O vírus da hepatite A (HAV) Partículas de 27 a 32 nm Não envelopada Simetria icosaédrica Classificação: Família Picornaviridae Gênero Hepatovirus Organização do genoma do HAV Propagação do HAV in vitro Propaga em diversos tipos de cultivos de células de mamíferos Propagação do vírus selvagem: lenta e de baixo título Tendência de estabelecer infecção persistente sem causar CPE Ciclo de Replicação do HAV 1. Adsorção 2. Liberação do RNA 3. Tradução 6. Liberação de partículas virais 5. Formação do Vírion 4. Replicação Núcleo RNAm Poliproteína Clivagem P1 P2 P3 Transmissão do HAV Fezes contaminadas pelo HAV mãos esgoto Suprimento de água Ambientes hídricos Frutos do mar homem Tropismo do vírus da hepatite A no organismo Fezes Soro Saliva Urina 100 102 104 106 108 1010 Concentração do HAV nos fluidos corporais Dose infecciosa /ml Diagnóstico das hepatites virais 1. Diagnóstico clínico Pródromo: síndrome gripal, astenia, febre, cefaléia Fase aguda: icterícia, colúria, acolia fecal, náuseas, vômitos, hepatomegalia, dor abdominal 2. Diagnóstico bioquímico Hepatograma (ALT, AST, FA, gama GT) 3. Diagnóstico sorológico Pesquisa de anticorpos e antígenos (EIA) 4. Diagnóstico molecular Pesquisa do genoma viral (hibridização,PCR) 5. Diagnóstico histológico (biópsia hepática) Histopatologia e imunohistoquímica Aspectos clínicos da hepatite A • Período de incubação : 15 a 50 dias (média de 30 dias) • Período sintomático: 6 dias a 6 meses ou mais • Infecção crônica: não Variantes clínicas da infecção pelo HAV Infecção assintomática (inaparente ou subclínica): . Crianças < 6 anos, > 95% . Criancas 6-14 anos, 40-50% Infecção sintomática (anictérica ou ictérica): . Adultos e crianças > 14 anos, 70-80% Espectro clínico da infecção aguda pelo HAV Inaparente: anti-HAV IgM + sem sintomas e elevação de ALT Subclínica: sem sintomas mas anti-HAV IgM + e com elevação de ALT Anictérica: sintomas sem icterícia, anti-HAV IgM e com elevação de ALT Ictérica: sintomas com icterícia, anti-HAV IgM e com elevação de ALT Sintomas no pródromo da infecção aguda pelo HAV Sintoma Anorexia Mal estar, fadiga Febre Dor-de-cabeça Mialgia, artralgia Sintomas TR superior Frequência 58% - 98% 48% - 79% 32% - 75% 17% - 72% 52% - 69% 0 – 20% Sintomas na fase aguda da infecção aguda pelo HAV Sintoma Colúria Anorexia Icterícia Náusea, vômitos Mal estar, fadiga Febre Dor abdominal Diarréia Acolia fecal Frequência 58% - 96% 41% - 90% 41% - 88% 26% - 87% 48% - 79% 32% - 75% 37% - 65% 17% - 58% 24% - 58% Variantes na doença hepática na hepatite A aguda Hepatite A colestática (colestase) - Bb > 10 mg/dL mais 12 semanas (icterícia marcante), prurido, febre, diarréia, perda de peso (por até 8 meses) - Resolução lenta mas completa Hepatite A recorrente - Uma ou mais elevações de ALT, aumento da Bb e retorno dos sintomas - Pode recorrer por 12-18 meses a partir do estabelecimentos dos sintomas Hepatite A fulminante Hepatite A fulminante • Hepatite A: principal causa de falência hepática aguda (FHA) • Fatores que aumentam o risco de hospitalização, doença grave e hepatite A fulminante: idade < 5 anos e > 49 anos Uso crônico de álcool Outras hepatopatias correntes Uso de acetaminofen durante a fase prodrômica da hepatite A aguda Hepatite A fulminante • Argentina: principal causa de FHA e transplante hepático em crianças (1982 – 2002: 210 pacientes com FHA, 87% < 10 anos, 67% HAV) • Paquistão: infecção aguda pelo HAV em < 15 anos: – 232/2735 (8,5%) hospitalizadas – 30/232 (13%) tiveram hepatite fulminante • 83% tiveram encefalopatia; 48% grau 4 (coma) • 37% morreram Curso sorológico típico da infecção pelo HAV Epidemiologia da Hepatite A estabilidade da partícula viral eliminação nas fezes, em grandes quantidades, no período de incubação infecção assintomática em crianças Ampla disseminação do HAV no ambiente Condições sanitárias precárias Padrões epidemiológicos da Hepatite A Regiões sub-desenvolvidas Infecção universal entre crianças que desenvolvem a doença assintomática e acima de 10 anos a maioria da população é imune (surtos raros) Regiões desenvolvidas Barreiras ambientais impedem o contato com o vírus na infância, grande número de adultos suscetíveis (surtos comuns) Regiões em desenvolvimento Com melhorias nos padrões sanitários há um deslocamento da infecção pelo HAV da infância para faixas etárias mais elevadas (surtos comuns) O impacto das melhorias sócio-econômicas na prevalência da infecção pelo HAV CDC, 1999 CDC, 2006 Alta prevalência de anti-HAV Prevalência intermediária de anti- HAV 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Pr ev al ên ci a (% ) cord sera 1-3* 4-6* 7-9* 10 - 12* 2** 3** 4** 5** 6** Idade (meses*/anos**) Prevalência de anti-HAV de acordo com a idade em crianças e adolescentes, 1978-1995 Vitral et al. Mem Inst Oswaldo Cruz, 93: 1-5, 1998 0 10 20 30 40 50 60 70 Pr ev al ên ci a (% ) <3 4-5 6-7 8-9 10-11 12-13 >14 Idade (anos) 520 neonatos e crianças, nível sócio-econômico baixo: 1978 720 crianças e adolescentes, nível sócio-econômico baixo: 1995 98,1% 19,7% 0 10 20 30 40 50 60 %anti-HAV 1986 1996 2007 Year Prevalência da hepatite A em universitários da área da saúde (UFF, RJ), 1986 - 2007 54.3% 31% 9.4% Vitral et al., Journal of Viral Hepatitis,2008, 15 (Suppl.2), 22-25. Facilidade de execução Redução de riscos (durante o uso e no descarte) Menor custo e mais segurança na coleta, transporte e armazenamento Obtenção de amostras de sangue em papel de filtro (DBS) para estudos epidemiológicos Vantagens do DBS Secar a T.A. Eluir em 350 µL PBS 0,2% Tween 20 5% BSA por 16h a 4-8°C Estocar os eluídos a –20°C até o momento do ensaio Coleta de sangue capilar e depósito em papel de filtro Pequeno furo no dedo médio com um lancetador Sangue capilar depositado em um círculo (12,5 mm) de papel de filtro (Whatman, grade 903) Prevenção e controle da hepatite A Saneamento básico Higiene Imunoglobulina Vacina Altamente imunogênicas Eficácia pré- e pós-exposição Proteção contra todas as amostras de HAV (1 sorotipo) Incidência da hepatite A nos EUA rate per 100,000 0-4 5-9 10-19 >=20 DC NYC 2002 rate per 100,000 0-4 5-9 10-19 >=20 DC NYC 1987-1997 > = 20 10 - 19 5 - 9 0 - 4 Taxa por 100,000 Imunização infantil contra hepatite A A vacinação de crianças representa o meio mais eficaz de reduzir a incidência da hepatite A com o tempo e de potencialmente eliminar a infecção. PAÍS INÍCIO ESQUEMA DIM TAXA INCID % COBERTURA OBS USA 2006 Vacinação universal Vacinação universal UCRÂNIA 2011 ARGENTINA 2005 1 dose/12 meses 28,3/2006 para 7,76/2007 60-90 ARÁBIA SAUDITA ITALIA (região de Puglia) 1998 Crianças e adolescentes 22 – 0,7 (Puglia) 20% (crianças) – 60% (adolesc) ISRAEL 1999 2 doses/18 e 24 meses 50 – 2,3 (2002) e 1,1 (2006) 90% (1a dose) 85% (2a dose) 98% redução na incidência ESPANHA/CAT ALONIA 1998 Vacinação universal (A/B): preadolesc 5,51 – 2,98 *redução na incidência: herd immunity AUSTRÁLIA 2005 Grupos de risco Crianças indigen *sob > risco infecção CHILE 2003 Controle surtos Lab. privado Redução para 6 (alta-média end) Vigilância desde 1975 MÉXICO Lab privado CORÉIA DO SUL CHINA Será implantada em dez 2007 Vacinação infantil universal 52 (1990) – 5 (2006) 16 milhões doses, vacina viva e inativada, prod local 2008 Vacinação universal Lab privado Hepatite E Breve histórico da hepatite E ~ 1980, investigação sorológica retrospectiva da epidemia de hepatite de Nova Dehli (1955/56): novo agente de hepatite de transmissão entérica ?? 1983, identificação de PVs em fezes de voluntário por IME (Balayan e cols, 1983) e transmissão para cynomolgus; 1990, clonagem (Reyes e cols) e posterior sequenciamento do genoma. Desenvolvimento de testes de diagnóstico e investigação epidemiológica da hepatite E: caráter endêmico em diversos países (Ásia e África), mais de 50 epidemias reportadas. Hepatite E quinta letra do alfabeto entérica endêmica/epidêmica enigmático Vírus da hepatite E (HEV) Hepatite Enigmática Baixa transmissão para contatos Maiores taxas da infecção em adultos jovens Alto índice de hepatite fulminante em mulheres grávidas Detecção de anti-HEV em populações fora de áreas endêmicas Detecção de anti-HEV em animais: zoonose ? Vírus da Hepatite E - HEV Partículas de 32-34 nm Simetria icosaédrica Não envelopado Família Hepeviridae Gênero Hepevirus HETEROGENEIDADE GENÉTICA DO HEV 4 GENÓTIPOS ISOLADOS BURMA-LIKE (áreas endêmicas: Ásia e África) MÉXICO EUA / EUROPA / OCEANIA/ JAPÃO / ARGENTINA CHINA / TAIWAN / JAPÃO 1 2 3 4 HEV suínos/cervos/ javalis HEV suínos India, China, Taiwan Doença aguda, sem progressão a cronicidade. Espectro clínico variado: infecção assintomática, hepatite anictérica, hepatite ictérica, hepatite arrastada e hepatite fulminante Letalidade de 1-3 % em adultos e cerca de 20% em mulheres grávidas (3° trimestre) Características clínicas da hepatite E Semanas após a exposiçãoSemanas após a exposição Ti tu lo Ti tu lo Sintomas ALT IgG anti-HEV IgM anti-HEV Virus nas fezes e soro 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Diagnóstico laboratorial da hepatite E Epidemiologia da Hepatite E: áreas endêmicas Região Sudoeste e central da Ásia, África e México: inúmeros surtos envolvendo milhares de casos Cashemir (1978), 52 000 casos; China (1986 a 1988), 120.000 casos; México (1986) 10.000 casos Atualmente, a maioria dos casos agudos ocorre de forma endêmica ou esporádica Nenhum surto descrito nos EUA, Europa, Brasil etc Ocorrência de casos esporádicos, em geral relacionados com viagens para áreas endêmicas. Detecção de anticorpos em estudos de soroprevalência : infecção a partir de animais reservatórios ?? Epidemiologia da hepatite E: áreas não- endêmicas HEV EM ANIMAIS Domésticos Selvagens Fatos • Evidência sorológica e caracterização de amostras de HEV em suínos e outras espécies de animais: ratos, aves, cachorros, vaca, ovelha, cabra e macacos • Identificação de novas cepas humanas de HEV recuperadas de pacientes com hepatite E aguda (USA, Japão e Taiwan) intimamente relacionadas com HEV suínos destes países • Evidência direta de transmissão a partir de animais: Casos de hepatite E aguda após ingestão de carne crua ou mal cozida (cervo, javali, suíno) Hepatite E: Zoonose Investigação da possibilidade de infecção pelo HEV em animais domésticos e selvagens de áreas urbanas e rurais do Estado do RJ (Vitral et al. 2005) • Foram analisados inicialmente um total de 271 animais de diferentes espécies (primatas, cachorros, vacas, ovelhas, cabras, porcos, galinhas e pequenos roedores), além de manipuladores de animais (32) • Pesquisa de IgG anti-HEV por teste comercial (Biokit) modificado pela substituição do conjugado por IgG anti-espécie Prevalência de IgG anti-HEV em diferentes espécies 0 5 10 15 20 25 30 F ra ng o Po rc o B ov in o M ac ac o T ra ta d or e s Espécies Anti-HEV (%) Teste Genelab Suinoculturas do Sul do Estado do Rio de Janeiro 357 animais (1 - >25 semanas) Estudo transversal SORO Pesquisa de IgG anti-HEV ORGANIZAÇÃO DOS SUÍNOS NAS FAZENDAS MATERNIDADE (Balcão I) CRECHE I (Balcão II) CRECHE II (Balcão II) BOXES (Balcão II) 0 20 40 60 80 100 IgG anti-HEV (%) 1 3 6 8 12 15 18 >21 Idade (semanas) Prevalência de IgG anti-HEV em suinos do Estado do Rio de Janeiro Estudo Prospectivo 37 filhotes marcados ao nascimento nascidos de matrizes anti-HEV positivas Amostras clínicas: Colostro e sangue (matrizes) Sangue dos filhotes (dia 0, 1, intervalos 7-15 dias até 22 semanas) Fezes frescas e sem contato direto com solo (19 amostras de animais com 4-22 semanas) Anti-HEV IgG Anti-HEV IgM e IgG HEV RNA HEV RNA 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 % An ti- HE V p os itiv os 0 1 2 5 8 11 16 18 20 22 Idades (semanas) Prevalência de anti-HEV IgG em suínos de uma granja comercial ao longo de 22 semanas Japan Swine Japan US1 USswine Canada Arkell US2 1905 (fezes) 1382 (soro) Argentina1 Austria NZ swine Italia Greece2 Spain 2 Spain 1 Greece1 New China Mexico China 1 Pakistan China15 India 2 India 1 Burma 83 94 80 33 100 100 95 67 96 25 50 82 62 57 74 29 54 28 35 41 13 0.05
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